Surfando na Mudança escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 3
Concessões




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—Isso foi horrível - Tiago desabafou, longe das crianças.

—Eu sei, mas seguindo seu próprio conselho, esse sentimento vai melhorar com o tempo - Natália segurou a mão dele, sentando-se ao seu lado.

—Eu sei que você não tá bem com essa história também - ele percebeu a apreensão e tristeza da esposa.

—Eu? Bem... - ela suspirou fundo - não consigo esconder nada de você, não é, Ti?

—15 anos é muito tempo pra te conhecer bem - ele tentou brincar.

—Pois é, eu lembro de quando eu te conheci - ela sorriu - soldadinho teimoso, que não parava quieto, não seguia minhas instruções.

—Até você me dar aqueles tapas na cabeça - ele riu - disso eu lembro.

—Ah mas se não fosse por isso, você não faria os exercícios e não se recuperaria - ela deixou claro.

—Você tava lá quando eu dei meus primeiros passos - Tiago se lembrou com gratidão e nostalgia - é, Nat, eu estaria aqui se não fosse por você.

—Eu sei, e foi aqui que você me conheceu, em Omaticaia, onde eu nasci e cresci - aqui, Natália deixou escapar uma lágrima - deixar tudo que eu conheço pra trás não é fácil, eu entendo as crianças justamente por isso, nós temos isso em comum.

—Eu sei, eu sempre me senti meio forasteiro - Tiago confessou - o cara da cidade grande, que tinha morado na Venezuela, que tinha sofrido aquele acidente que quase me deixou sem andar.

—São experiências demais pra alguém passar - ela concordou - eu vejo algo assim todo dia no hospital, mas... você acha que se todos formos novos numa cidade, pode aproximar nossa família ainda mais? Pode ser bom pro Lucas?

—Pois é, eu pensei exatamente nisso - seu marido concordou - nosso filho é um bom menino, é só que parece que ele faz as escolhas erradas o tempo todo, talvez estar num lugar diferente o ajude a pensar com mais cuidado.

—Eu concordo - ela suspirou outra vez - bom, seus argumentos são bem convincentes. Só não prometo ficar totalmente feliz com isso.

—Eu entendo e não vou pedir mais nada além disso - ele prometeu.

Grato pela conversa e pela mulher incrível que Natália era, Tiago a beijou rapidamente. Ia ser um começo difícil, mas ao menos estariam juntos.

—---

Nos próximos dias, Natan e as irmãs foram para a escola normalmente, enquanto Lucas ficou em casa, sem muito o que fazer. Sentindo a falta dele na escola, Spider foi atrás dos Suli para saber o que tinha acontecido.

—E aí, gente, o Lucas se deu mal depois daquela história da bomba? - perguntou o amigo deles.

—O que você acha? Pegou uma suspensão dessa vez - Natan respondeu.

—Nossa, que mal - Spider reagiu com certa pena do amigo - mas olha, vocês tão com umas caras nada boas, é só por causa do Lucas?

—A gente vai se mudar, Spider - Karla contou de uma vez, com um pouco de indignação, mas também tristeza.

—O que? Não, isso não pode ser verdade - ele não pôde acreditar - a sua mãe tem um trabalho aqui e o seu pai também, por que eles iam sair daqui agora?

—Meu pai só disse que recebeu uma boa proposta de emprego, sem mais nem menos, a gente não teve muita escolha - Natan explicou.

—Mas isso não pode ficar assim, vocês não podem falar com ele pra ficar? - Spider quase implorou.

—A gente tentou, mas não adiantou muito - Natan deu de ombros.

—Eu sei que é uma droga, Spider, mas não tem muito que fazer - Karla chegou a chorar - eu não queria me mudar, sério, desde que eu soube fico pensando que eu não vou poder vez você todo dia...

—Foi o que eu acabei de pensar também - ele abaixou a cabeça, comovido com a consideração dele.

—Olha, Spider, se serve de consolo, você podia ir lá em casa todo dia, até a gente se mudar - Natan sugeriu, tentando acabar com a tristeza dos dois.

—Eu até topo, mas será que o meu pai e a sua mãe vão deixar? Você sabe o quanto eles não se dão bem - o menino deu de ombros, um tanto desanimado com a ideia.

—Que isso, você vai quase toda semana jogar vídeo game com os meninos - Karla tentou animá-lo - e minha mãe nunca falou nada.

—Você sabe que uma vez por semana e todo dia é bem diferente - Spider apontou.

—Mas é uma situação diferente - Natan explicou, sorrindo com gentileza para o menino - eu vou tentar convencer minha mãe.

—Espero que você faça o mesmo - Karla recomendou ao amigo, um pouco mais animada - vou falar pro Lucas que você vai lá, ele vai gostar.

—Valeu, diz pra ele que eu desejo... - Spider parou de falar, pensando na melhor maneira de se expressar sobre a suspensão do amigo - uma boa suspensão? Se isso lá existe.

—Dá pra entender o sentimento, vou passar pra ele - Karla chegou a rir e Spider sorriu de volta.

Eles nem queriam começar a pensar de novo em morarem em cidades diferentes, sendo que eram tão próximos. Depois da aula, cada um voltou para sua respectiva casa. Assim, Spider se incumbiu da missão de convencer o pai a deixá-lo visitar os Suli todos os dias até sua mudança.

—----

Ocupada com os últimos detalhes do trabalho, finalizando o que podia pelo computador, Vanessa parou o que estava fazendo quando ouviu o enteado chegando.

—Oi, Ravi, tudo bem na escola? - ela se levantou para cumprimentá-lo.

—Oi, Vanessa, tudo bem, quer dizer... meu pai tá aí? - ele disse meio distraído, enquanto abria a geladeira atrás de pão e presunto e refrigerante.

—Ele ainda não chegou - ela se sentou com ela na mesa da cozinha - você disse que tá tudo bem, mas eu acho que não tá.

—Sério, tá sim, eu só precisava falar com ele, não queria te preocupar com essas coisas - ele suspirou.

—Eu sei que eu não sou sua mãe e eu nem quero substituí-la, mas eu sou sua amiga, pode desabafar comigo - Vanessa foi gentil e solícita com ele.

—Mesmo que você seja uma amiga adulta e mulher do meu pai? - ele cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.

—Pode ser - ela deu uma risadinha.

—Tá bom - Spider decidiu contar - o Natan e a Karla me contaram hoje que a família deles está de mudança.

—Sério? Pra outra cidade? - Vanessa se surpreendeu com a notícia - que pena, vocês são tão amigos.

—Pois é, eu nem gosto de pensar, mas essa é a realidade agora - o menino continuou - então, eu tava pensando se não podia ir na casa deles, até eles irem embora, pra aproveitar o tempo que ainda temos.

—Ah sim, por mim tudo bem, é saudável passar esse tempo com seus amigos - a mulher ponderou - mas tem o seu pai, agora entendi porque tava tenso, ele ainda tem aquela rixa boba com o Tiago, não é? Por causa do tempo que seu pai era coronel dele.

—E você sabe como a Natália não suporta o meu pai - Spider acrescentou.

—Entendi - ela assentiu - bom, meu jovem amigo, só resta eu ser a ponte da apaziguação entre os dois lados.

Spider riu pelo jeito que ela falou, o que Vanessa considerou uma vitória. Ela sabia que a tarefa de ser madrasta de um adolescente, ainda mais como Ravi, ou melhor Spider, não era nada fácil, mas aos poucos, as coisas se tornavam mais simples. Ela tomou para si a missão pessoal de convencer Marcos a deixar o menino passar um pouco mais de tempo com os Suli.


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