A Garota Que Ficou Para Trás - EM HIATUS (JULHO) escrita por Willow Oak Acanthus


Capítulo 10
Capítulo IX - Encontros furtivos.


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é puro açúcar. Aqui a gente explora mais a relação dos dois se desenvolvendo, e eu não poupei detalhes fofos.

Aproveitem porque o próximo capítulo é tenso.

PS: Tem uma fala do Sam, se não me engano a última do capítulo, onde eu me inspirei em um trecho da música All too Well, da Tay Tay.



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Ponto de vista de Sam Winchester - 1999.

O tempo está se fechando cada vez mais, as folhas voando violentamente para todos os lados enquanto o outono vai se despedindo aos poucos, dando as boas-vindas ao inverno. Estou retornando da escola mais leve do que uma pena, mais brando que uma vela ao vento.

Andei o caminho inteiro de volta para casa com um sorriso invadindo o meu rosto.

Sorria por três motivos:

O primeiro deles é por finalmente ter dito a ela que a amo.

O segundo, por ter ouvido dos lábios dela, que também me ama.

Terceiro, porque eu consegui fazê-la gozar com a ponta dos meus dedos.

Viro a esquina da rua de casa, e a primeira coisa que vejo é Dean lavando o Impala.

O frio está começando a ficar mais rigoroso agora, e fico feliz por isso. Sei que essa temperatura facilita as coisas para Hazel, por causa das luvas. Odeio o fato de ela precisar usá-las, odeio o fato de que ela, assim como eu, sofre por culpa de um dom que mais parece uma maldição.

Pelo menos, ela não precisa mais usar elas comigo.

—E aí, Sammy? - Dean me cumprimenta. Meu irmão está com a mangueira em uma de suas mãos e uma esponja na outra, enquanto esfrega o Impala sem parecer se importar com a temperatura nada confortável para se mexer com água. Ele faria de tudo por esse carro — Como foi a escola hoje?

Dou de ombros tentando não ser óbvio com a minha felicidade. Dean cerra os olhos desconfiado, e então sorri.

— Sorrindo desse jeito eu imagino que tenha sido um dia excitante, irmãozinho. -Ele provoca, enquanto masca um chiclete com a boca semiaberta - Tem algo a ver com a nossa conversinha de ontem? 

—N-não. - Me xingo mentalmente por gaguejar. Eu poderia ser mais óbvio? Acho que não.— Quer dizer, eu estava na escola, como poderia ter feito qualquer coisa?

Puff...- Ele faz o som com a boca, como quem diz "E daí?" - Quando a vontade bate, pode ser na escola, na rua, no estacionamento do mercado...caramba, até na igreja! - Ele dá uma risadinha e ajeita a postura - Mas eu vou deixar você em paz.

Viro as costas para entrar em casa, mas quando coloco a mão na maçaneta, paro por um momento e acabo por dizer:

—Dean? - Olho para ele, meio envergonhado. Meu irmão se vira para mim.

—Sim? - Ele questiona, as sobrancelhas erguidas.

— Obrigado. Ok? - Isso é tudo o que a minha dignidade me permite dizer. Um sorriso malicioso cresce em seu rosto, e ele diz:

—Eu sabia. E, não há de quê...- Dean pisca para mim, depois volta a me dar as costas para lavar seu carro.

Entro em casa, subo as escadas e atiro a mochila em um canto do quarto, depois me jogo na cama. Fico encarando o teto, lembrando da conversa que tive com Dean ontem à noite:

Eu estava aflito com um pensamento. Hazel e eu estamos juntos há pouco mais de um mês, e à medida que o tempo passa, as coisas esquentam entre nós.

Nunca foi um mistério para mim como controlar a situação, sempre soube exatamente o que fazer ao beijá-la. Mas eu não faço ideia do que fazer quando...

As coisas esquentarem demais.

E então tomei uma decisão. Uma decisão que custou muito do meu orgulho e dignidade, mas que era a minha única saída. Bati na porta do quarto do meu irmão mais velho.

—Entra! - Ele respondeu. Quando o fiz, me deparei com Dean desmontando e limpando uma de suas armas favoritas. - Que foi?

—Eu...- Cocei a cabeça, nervoso. Parecia prestes a ter uma síncope - Preciso falar com você.

Os olhos de Dean se tornaram sérios.

— Aconteceu alguma coisa, Sammy? - Balancei a cabeça em negativa, e ele pareceu se tranquilizar. Dean está sempre em estado de alerta - Pode entrar, então. Senta aí... - Ele fez um gesto para que eu me sentasse na cama. O fiz, todo tenso – Pode falar, Sammy.

—Dean...mas é o tipo de conversa que é séria, ok? É difícil vir até aqui te pedir isso, então se você agir como um idiota eu vou embora por aquela porta, entendeu? - Minhas mãos estavam suando. Dean ergueu as sobrancelhas, e apoiou o rosto em uma de suas mãos.

—Tá. Prometo não ser um idiota. Desembucha, garoto. - Ele disse, levemente impaciente.

Meu coração acelerou, eu queria sair correndo, mas não tinha opção. Se não com meu irmão mais velho, com quem teria essa conversa?

—Ok. Bom...como você deve saber ou imaginar, eu sou, hm...- Minha voz vacilou, e eu pigarreei - Sabe, né?

Dean suspira.

—Virgem, Sam. Virgem. Não é palavrão, tá tudo bem. - Ele não disse isso em um tom de zombaria, e surpreendentemente pareceu lidar de forma madura com a situação, o que me deixou mais tranquilo, menos pilhado - Eu imaginei que ia me procurar...

—Sério? Por quê? -Queria saber. Nem eu sabia que o procuraria. Ele deu de ombros.

—É a sua primeira namorada, e eu te conheço. Você está tão apavorado com a possibilidade de fazer besteira, que quase prefere morrer virgem a tocar nela desse jeito. - Ouvi com atenção - E você quer dicas, não é?

Assenti, o rosto queimando.

—Se quer ajuda, vai precisar me dar uns detalhes. Se importa com isso?

—Depende do detalhe...- Meu coração acelerou, porque vai saber como a cabeça do Dean funciona...

—Só preciso saber de umas coisas.  Primeiro de tudo...ela é virgem?

Concordei com a cabeça.

— Ok. E sabe que você é virgem?

Assenti novamente.

—Ótimo. O passo mais importante é saber essas coisas. Agora me diga, quão longe os dois pombinhos já foram?

—Eu só a beijo, Dean. Nunca toquei em nenhum lugar inapropriado, se é o que quer saber...

Dean assentiu.

—E como ela reage quando as coisas esquentam?

—Bom...bem. Reage bem. Embora eu não a toque de maneira...hm, você sabe, os beijos são...intensos.

—Ah, então já rola pegação... - Ele constatou. Dean parecia tão confortável com o assunto, é como se fosse matemática para ele - Então ela responde positivamente. E você está pretendendo fazer sexo com ela logo? - Fiz que não com a cabeça.

—Eu não planejo nada. Pode ser amanhã, pode ser daqui um ano, não importa. Só não quero estar despreparado.

E isso é a mais pura verdade. Embora a deseje até os ossos, não tenho pressa alguma. Só morro de medo de não saber o que fazer quando a hora chegar.

—Entendi. Para começar, comece a ter sempre uma camisinha por perto. Na carteira, no armário, enfim. Ela não vai carregar uma, garanto isso a você. – Assenti, quase que anotando tudo na minha mente - Sabe colocar uma?

Tinha vontade de me jogar pela janela. Não respondi, fiquei olhando para ele meio estático, então ele assumiu a resposta.

—Nesse caso, de amanhã em diante a sua lição de casa é treinar isso, entendeu? Compra algumas e vai treinando, sozinho. A última coisa que você quer, é não saber fazer isso na hora certa...

Minhas mãos estavam suando tanto que chegava a ser ridículo.

—Tá...- Fiquei quase monossilábico de repente.

—Escuta, Sammy...normalmente, as pessoas esperam para experimentar o sexo de uma vez só, e isso é o maior erro que se pode cometer, na minha opinião. Tipo, o cara nunca fez nada de diferente ou de ousado com a garota. Então...chega na hora H, e os dois ficam perdidos. Então, Sammy, antes de acontecer, vocês precisam experimentar uma coisinha chamada intimidade. Precisam conhecer pelo menos um vislumbre do que é ficar próximo assim de alguém. Dessa forma, quando for acontecer, não vão se sentir tão perdidos.

—Como assim pequenos vislumbres? – Fiz uma cara confusa e Dean ficou pensativo.

—Uma passada de mão mais ousada. Um tocar o outro... – Fiquei nervoso só de imaginar, mas apenas escutei - Se você tocar ela, aprender os caminhos, garanto que além de deixá-la com vontade de mais, vai passar confiança para ela. E vice-versa, ok?

Assenti, coçando a nuca.

—Não preciso te dizer as coisas óbvias, como respeitá-la e deixá-la te mostrar os limites, porque eu sei bem que você já é, como dizem, “um cavalheiro”. Agora, Sammy...eu vou te contar tudo o que eu sei sobre como satisfazer o corpo feminino. Você tem tempo?

Confirmei com a cabeça. Dean sorriu e abriu uma cerveja que estava em sua cômoda, dando um gole rápido. Ao limpar a boca com as costas das mãos, ele disse:

—Então, irmãozinho, é o seguinte...

E então me sentei por uma hora e meia, e só ouvi, calado.

Ouvi muito. Ouvi de tudo

Com atenção. A cada detalhe.

XXX

Como de costume, todas as noites antes de dormir, me encolho debaixo das cobertas e fecho os olhos com o máximo de força que consigo. Tudo fica preto, nem mesmo a luz da lua consegue penetrar a minha retina quando faço isso. Uma vez que me sinto envolto por escuridão, eu rezo.

Todas as noites, religiosamente. Peço por proteção, por ajuda, por vingança, por todos os motivos pelos quais uma pessoa como eu poderia rezar.

Hoje, no entanto, só peço uma coisa a quem estiver me ouvindo lá de cima.

Eu a amo. Não me deixe machucá-la.

Não me deixe perdê-la.

Mantenha-a segura.

Repito isso algumas vezes como um mantra, e por fim, adormeço.

XXX

Ponto de vista de Hazel Laverne.

Assim que entro no chuveiro, deixo a água na temperatura mais fria que consigo. Dane-se o inverno, dane-se a hipotermia.

Enfio a cabeça debaixo da água, deixando a sensação gelada agraciar a minha pele por completo.

Meu coração está ardendo por Sam Winchester, e as labaredas dessa queima violenta estão atingindo todas as extremidades do meu corpo. Eu disse a mim mesma a vida inteira que não iria amar.

O amor machuca, constatei a cada vez que o meu pai bateu na minha mãe.

O amor dilacera, me recordava ao vê-la chorando sozinha por amá-lo tanto.

O amor destrói, sabia ao ver o modo como ela ainda o olhava, os olhos cheios de brilho. Como se o tapa tivesse sido um beijo, igualzinho naquela música dos anos sessenta.

E, mais importante, o amor interrompe. Quebra a pessoa entre o que ela era e o que ela poderia ter sido, bruta interrupção.

E, no entanto, desde que o conheci...

O amor me preenche por dentro, me incendeia e me enche de borboletas por dentro do estômago como em um maldito jardim, me mantém acordada a noite e me faz sorrir sozinha quando estou quase caindo no sono ao lembrar de todas as vezes que a sua boca toca a minha. E tudo em mim arde, todas as vezes que ele me toca.

Ele disse que me ama, e eu disse a ele que o amo.

Como uma sentença.

Por favor, destino...não nos dê o mesmo fim dado aos amantes desafortunados diante dos poemas e de toda a literatura...

Aquiles e Pátroclo. Romeu e Julieta. Tristan e Isolda.

Os nomes deles ficam quicando nas extremidades da minha mente, me perturbando.

Mesmo tremendo de frio pela água gelada, os lábios ficando roxos, permaneço por mais um tempo.

XXX

Acordo com a minha mãe me sacudindo de leve. Abro os olhos meio confusa, e ao ver o seu sorriso enorme, já sei exatamente do que se trata.

—Vem, Hazel! Acorda!  Lá do quintal já dá para sentir os primeiros flocos! – Deixo Amélie me tirar da cama como se ela fosse uma criança indo me provar a existência de algo fantástico. Durante todos os anos de minha vida, minha mãe sempre me acordou para ver o primeiro sinal de neve. Ela ama a neve.

Descemos as escadas e atravessamos a porta dos fundos, ambas de pijamas e com o cabelo bagunçado. Piso na grama molhada e fria com os pés descalços e sorrio quando vejo a primeira queda de flocos de neve tingindo o céu e o chão de branco.

Ficamos aproveitando a cena em silêncio, que se interrompe apenas por uma risada ou outra. Sempre ficamos felizes quando vemos a primeira neve do ano assim, juntas.

—Faça um pedido, principessa! Você conhece a tradição...- Minha mãe me pede. A inspeciono com o olhar, e por baixo dos olhos brilhantes, há um manto de cansaço. Pela sua pele, pequenos sinais de idade dançam em contraste com as sardinhas. Seu cabelo ruivo e selvagem é a moldura de um rosto devastado pela dor e pelo vício.

Fecho os olhos e a obedeço.

Desejo que você se liberte dos seus vícios. Nas drogas e no que você chama de amor

Faço esse desejo em silêncio e a observo fazendo o seu pedido, com os olhos fechados.

Não sei que tipo de pedido ela fez, mas torço para que o meu pedido seja atendido.

Não que eu tenha esperanças reais...

Porque não as tenho. Não mais, não depois de todos esses anos.

Mas uma garota pode desejar, não pode?

XXX

Me agasalho com um cardigã creme que sobrepõem uma blusa branca, um jeans simples e calço coturnos na cor marrom. Pego minha bolsa transversal canelada que contém algumas coisas importantes para o dia de hoje dentro dela, e caminho até o Oak Hill Cemetery, onde combinei de encontrá-lo.

Sorrio ao vê-lo parado ao lado de um salgueiro que fica perto das lápides sem identificação, onde eu havia pedido para que ele me esperasse. Sam se encosta na árvore, os braços cruzados e o olhar longínquo. Está usando um suéter marrom, uma calça jeans escura e seu velho all star preto. Paro para observá-lo assim por um momento. Os cabelos compridos vão até a nuca e algumas mexas lhe caem pelo rosto, e embora esteja rodeado de coisas mórbidas, só o que vejo quando o olho é o mais puro retrato de vida.

Quando me vê, se desencosta da árvore e sorri de lado. Caminho por entre a grama e tomo cuidado para não escorregar no musgo coberto por uma fina camada de neve. Passo as mãos por uma lápide, sentindo o mármore gelado ao meu toque, parando a uma distância de dois metros dele.

—Sabe, El...de todos os lugares possíveis para encontrá-la, jamais imaginei o cemitério como destino. – Sam anda na minha direção, parando na minha frente e segurando o meu queixo delicadamente com a mão, enquanto me olha nos olhos – Você tinha que ver a minha cara quando encontrei seu bilhete no meu armário, detalhando esse encontro...

—É? E qual foi a sua cara? – Ele ri, e beija a minha testa.

—A de espanto, e depois de diversão. Eu pensei “Ela é uma coisinha sombria e perigosa. E eu amo isso”! – Dou risada e seguro a sua mão, e é impressionante que não importe que clima esteja fazendo, sua pele sempre está quente em contraste com a minha.

—Me acha sombria e perigosa, é? – Ergo a sobrancelha. Ele segura o meu rosto com as mãos e me beija suavemente, os lábios apenas roçam os meus. Depois, sinto um sorriso crescendo na sua boca, e ele se afasta novamente.

—Acho. Mas isso é uma das coisas que mais gosto em você...- Sam Winchester segura a minha mão e a acaricia com o polegar – E então, Laverne...vai me explicar o motivo de estarmos aqui?

Aquiesço com a cabeça, e começo a conduzi-lo por entre algumas das lápides, até que me sento em uma delas.

—Estamos aqui porque queria te mostrar um lado meu que ninguém entende, mas sinto que você vai conseguir entender. Gosto do cemitério porque me sinto em paz quando estou aqui. Poucas pessoas passam por esse lugar, o que o torna...silencioso. - Suspiro e esfrego uma mão na outra para espantar o frio, enquanto me ajeito na lápide. Sam continua de pé, prestando atenção a cada palavra que sai da minha boca - Esse lugar me lembra que tudo acaba. Que a dor tem fim. Que segredos são enterrados e os ossos são corroídos pelo tempo, virgulas se transformam em pontos finais. Era nisso que eu estava pensando, naquela noite...- O olho fundo nos olhos verdes tempestuosos - Que queria ser um ponto final, como meus amigos aqui.  - Aponto as lápides ao meu redor.

— Obrigada por me contar isso. Não acho que deva ser fácil falar sobre essas coisas... - Sam coça a nuca, pensativo, e então se senta ao meu lado – Qual foi a gota da água para você, El? Naquela noite? Você nunca me disse...

Suspiro e encosto a cabeça em seu ombro, me encolhendo um pouquinho.

—Naquela noite, havia testemunhado uma briga muito intensa dos meus pais. A coisa escalou tanto, ameaças foram feitas...- Me contraio só de lembrar daquela noite. Ela me assombra sempre, como um fantasma insistente – Eu só sei que em algum ponto eu me meti no meio. Comecei a gritar, e Sam...você precisa entender algo sobre mim, eu não sou do tipo que consegue falar alto ou gritar com facilidade. Mas acho que todo mundo tem um limite, né? – Suspiro, tentando afastar a sensação que queima por dentro da minha garganta tanto que dói...Sinto essa dor todas as vezes que me lembro de todas as palavras que eu não disse, palavras que eu aprisionei dentro de mim e as deixei queimar por dentro da garganta para sempre. Eventualmente, minhas prisioneiras se revoltam com sua carcereira — Meu pai nunca tinha me visto o enfrentar daquele jeito, Sam. Depois disso, foi tudo tão rápido...não vi nem de onde, mas ele pegou uma arma que eu nem sabia que ele tinha até aquele momento, e a apontou para mim. Tudo ficou silencioso. Sua boca se mexia, e eu sabia que ele estava gritando, mas eu não ouvia nada. Só um chiado. Via a boca da minha mãe mexendo também, gritando com ele, tenho certeza. E eu me senti vazia. Percebi que minha vida não valia nada para as pessoas mais importantes para mim. E se uma das pessoas que devia me amar estava disposta a apontar uma arma na minha direção, o que é que o mundo lá fora reservava para mim? Me lembro de me fazer essa pergunta obsessivamente naquele momento... – As mãos de Sam acariciam o meu cabelo enquanto eu falo, e sinto uma rajada de ar frio se intensificando ao nosso redor – Então eu só entrei no carro, Sam. Eu nem sei se eu sabia o que estava fazendo, só pensava em encontrar um fim, em morrer.

Um pequeno silencio se faz entre nós dois. Me desvencilho dele por um momento, e o encaro. Há uma expressão de dor em seus olhos, e percebo uma relutância dentro dele.

—Só de pensar que você se sentiu tão machucada ao ponto de considerar...- Sua voz morre por um momento, junto com suas palavras. Sam respira fundo, o olhar preso nos meus olhos, como se visse através de mim – Dói, El. Fisicamente. E eu desejo, do fundo do meu coração, que você nunca mais se sinta assim. Mas, El...me promete uma coisa, por favor? Caso se sinta assim algum dia novamente...me conte. Me procure, fale comigo! Mas eu te imploro, linda...nunca mais tente tirar a sua vida. Não se torne um ponto final, não antes da hora.

Me contraio ao ver uma lágrima escapar pelo seu rosto. Seus olhos transparecem uma dor que irrompe de dentro dele, e sinto uma fisgada no meu peito. O que dói nele, dói em mim.

É como se houvesse um fio nos conectando, como se fossemos um só.

—Eu prometo, Sam. Não vou virar um ponto final antes da hora. – Com o polegar, limpo sua lágrima e acaricio o seu rosto. Ele faz que sim com a cabeça devagarzinho, e se força a sorrir.

—Quero que você seja uma daquelas frases que nunca terminam, entende o que digo? Daquelas interminadas... – Sam se aproxima de mim e cola os lábios nos meus. Fecho os olhos no momento que nossas bocas se tocam, e sinto um arrepio se intensificando por toda a minha pele quando sinto o gosto da sua língua na minha. Começo a me inclinar para trás enquanto ele me beija acariciando a minha nuca, mas então ele interrompe o beijo, claramente contrariado – Não, não...não vou dar uns amassos com você no cemitério. Caramba, El...a gente está se beijando em cima da lápide de alguém, pelo amor de deus...

Damos risada, e eu passo as mãos pelos seus cabelos.

—Confesso que, quando você me beija desse jeito, eu perco a noção das coisas e dos lugares onde estou... – Coloco uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, e já sinto meu rosto se tingindo de carmesim – Como ontem, por exemplo...eu perdi a cabeça.

Sam sorri para mim, e me disfere um olhar que dança entre a ternura e o desejo.

—É, eu vi você perdendo a cabeça, e foi a coisa mais linda que eu já presenciei...- Sam se levanta, e me puxa pela mão, colocando as mãos na minha cintura de maneira firme. Enquanto estamos abraçados ele leva a boca até a minha orelha – Você não sabe o que faz comigo, linda.

Suas palavras e a proximidade da sua boca entre a minha orelha e o meu pescoço faz com que minha pele se arrepie por completo. Ele traça um caminho de beijos delicados que vão passando do pescoço ao queixo, devagar, até que chega na minha boca. Suas mãos estão acariciando a minha nuca, e ele move os lábios de maneira devagar.

Solto um suspiro, a respiração ficando pesada. Sinto a sua língua roçando a pontinha da minha, de maneira provocadora. Suas mãos traçam um caminho até o meu rosto e os seus dedos me acariciam. Sentir o seu carinho faz com que eu me sinta fraca, no melhor sentido da palavra, como se eu estivesse derretendo por dentro. O sol cálido irrompe das nuvens por um momento, e é gostosa a sensação que isso provoca na minha pele. Ele desce as mãos para os meus ombros e então interrompe o beijo. Seus olhos encontram os meus, e ele sorri docemente para mim.

—Estamos juntos a pouco mais de um mês, sabia? – Ele desce as mãos até a minha cintura, me apertando de leve com suas mãos fortes. Sam apoia sua testa na minha e solta um suspiro demorado, fechando seus olhos por um momento e os reabrindo em seguida – Sabe o que eu queria? Te levar para longe. Ir com você para algum lugar onde eu pudesse segurar a sua mão sem medo de algo de ruim te acontecer...

Seus olhos ficam nebulosos de repente.

—Eu queria que você me levasse para longe. Eu odeio essa maldita cidade...e estou cansada de viver a minha vida com medo..., mas não temos esse poder. - Disfiro um olhar triste para ele.

Ele sacode a cabeça em negativa, frustrado e com o corpo tenso. Vejo até seu maxilar se tensionar.

—El, não há um dia que eu durma em paz por saber a ameaça que o seu pai representa a você. Tenho pesadelos onde ele te machuca e eu não posso fazer nada, e não há uma vez que nos encontramos em que meus olhos não percorram seu corpo inteiro a procura de um hematoma. - Ele acaricia o meu rosto, e seus olhos transmitem tanta dor e raiva que chega a doer nos meus ossos - Já se passou um tempo, e eu fiz do seu jeito. Me deixa falar com o seu pai...

Começo a sacudir a cabeça em negativa, mas ele segura o meu rosto delicadamente, me fazendo olhá-lo nos olhos.

—Espera, El. Me escuta, por favor...eu não aguento mais manter isso em segredo, por mais cuidadosos que sejamos, em algum momento, vamos deixar algo escapar. Você não acha muito pior, ele descobrir por outras pessoas? Ele vai surtar, linda. Se eu falar com ele, pode até ser que fique irado e talvez pode ser que a situação saia de proporção a primeiro momento, mas resta a ele aceitar, El. Ele tem que aceitar a gente...- Ele segura minhas mãos nas suas, com um certo desespero no olhar - Eu vou fazê-lo aceitar a gente.

—Me dá só mais um tempo, por favor...- Fecho os olhos, e fico trêmula. Ele segura meu rosto em suas mãos, e eu reabro os olhos, encarando-o - Você não sabe do que ele é capaz, Sam. Eu preciso de mais algum tempo, e eu vou reconsiderar, eu prometo. Mas por favor...

Meus olhos se enchem de água, e meu corpo não para de tremer.

—Só a ideia de confrontá-lo te deixa nesse estado...- Ele constata, percorrendo os olhos por mim, angustiado - Mas eu prometo a você que, eu o enfrentaria. Se precisar, você fica comigo em casa. Se precisar eu faço qualquer coisa, linda...

Meu corpo inteiro dói.

Porque ninguém tem a mínima noção de como é ser filha dele. Ninguém nunca vai entender o que é amá-lo e temê-lo. Como é sentir sua fúria por suas mãos e ser tomada pelo pavor no escuro da noite.

—Eu preciso de mais um tempo, Sam...por favor.

Minha voz sai falhada. Enfio o meu rosto no seu peito, buscando um abraço, o choro preso na garganta. Sinto seus braços ao meu redor, acariciando as minhas costas, os lábios beijando o topo da minha cabeça.

—Tudo bem. - Sua voz sai baixa e falha - Eu vou esperar mais um pouco, Hazel.

Ficamos em silêncio por um tempo, eu me aquecendo em seu abraço protetor, ouvindo no seu peito os batimentos descompassados.

Sei que ele está ardendo em fúria. Sei o que esse segredo tem feito com ele.

E me odeio por isso.

Mas odeio muito mais a ideia do que pode acontecer a ele caso faça as coisas do seu jeito.

— Caminha comigo? Tem mais uma coisa que eu queria te mostrar...

Ele assente, ainda contrariado. Mas segura sua mão na minha e me deixa guiá-lo.

XXX

Paramos em frente ao túmulo de Charlie Harrison, o garoto que supostamente se matou em uma ponte. O sol já sumiu por trás das nuvens, e o frio desliza por entre o cemitério como um espectro. Vejo ao longe o vento fazendo as árvores dançarem, e então vasculho minha bolsa atrás de uma reportagem de jornal.

— Aqui, leia isso...- Entrego a ele. Sam franze o cenho, confuso, e olha da lápide para a reportagem – Charlie Harrison? Conheci o cara. Era brigado com metade de Lawrence...vivia bêbado por aí...- Sam me devolve o jornal, e torna a olhar para a lápide e então me olha confuso - Hazel, se importa de me explicar...?

— Desde que vi essa matéria no jornal, eu tenho muitos motivos para acreditar que ele foi assassinado. Na verdade, fiz uma pesquisa...- Retiro o meu velho caderno de investigação da bolsa e entrego em suas mãos - E tenho quase certeza de que estou certa.

Sam revira as páginas do caderno, o olhar mesclado entre o espanto e a admiração.

— El, tem um monte de pesquisa sobre gente morta aqui...

Ele folheia por mais um tempo, os olhos percorrendo as palavras sem parar.

— Você fez um trabalho impecável, sabia? Devia entrar para o jornal da escola. Caramba, devia era entrar para porra do jornal mais famoso do mundo! - Um sorriso se forma em seu rosto, e não consigo evitar um orgulho que se instala em meu peito. Poucas coisas me fascinam mais do que uma pesquisa bem feita e uma investigação bem conduzida. Sei que sou amadora, mas também tenho plena consciência do meu talento - A pergunta é...o que deseja fazer com isso?

— “Concluí que, para descobrir as causas da vida, temos de recorrer à morte” - Cito minha frase favorita do meu livro favorito como resposta, e pego o caderno de volta, segurando-o contra o meu peito - Investigar a morte e revirar a verdade procurando retaliação me dá uma paz inexplicável. Eu estava me contentando com palpites, mas...depois que você me disse que fantasmas são reais...

Sam parece entender aonde desejo chegar, e imediatamente sacode a cabeça em negativa enquanto cruza os braços.

—Não, não e não. Você não pode estar falando sério, El.

—Calma, me deixa elaborar. Não estou falando que queria fazer como você me contou que fazem os caçadores com os fantasmas. Estou falando de dar uma chance ao espírito, uma segunda chance.

Troco o peso do corpo de uma perna para a outra, enquanto sinto seu olhar preocupado sobre mim.

—El...vem aqui...- Sam me puxa para mais perto, acariciando o meu rosto - Eu te acho genial, eu acho mesmo. Mas isso é loucura...suicídio ou assassinato, Charlie Harrison morreu de forma violenta. Tenho certeza absoluta de que se caso seu espírito esteja preso na terra, não vai querer bater um papo com a gente.

—Você já tentou? Ouvi-los ao invés de combatê-los? - Sam me olha muito sério quando eu digo isso.

—Na verdade, . Pode te surpreender o que vou te dizer, mas eu...tem algo dentro de mim que sempre faz com que eu queira entender os monstros, por assim dizer. Devo me identificar com eles por algum motivo bizarro...mas noventa e nove por cento das vezes isso é um grande erro. O último fantasma que eu tentei...ajudar, quase me matou.

Seus olhos se enegrecem, e ele dá um grande suspiro antes de continuar:

— Sei que parece mais simples do que realmente é, Hazel. Mas caçar de verdade, se meter com o sobrenatural...nunca dá certo, El. E eu jamais permitiria que você entrasse nisso. – Seu olhar protetor recai sobre mim.

—Eu não queria "entrar nisso". Só que...desde que você me disse que essas coisas são reais, fiquei me perguntando, sabe? O que aconteceria caso pudéssemos falar com as vítimas? Caso os mortos pudessem contar a verdade?

—Não se pode mexer com os mortos e esperar que as coisas deem certo, Hazel. Eu sinto muito. – Solto um suspiro com raiva, e cruzo os braços o encarando.

—Não podemos ao menos tentar? Só dessa vez, Sam? - Ele balança a cabeça em negativa, os ombros rígidos, a postura impassível.

Ele não vai ceder.

—Não, Hazel. Nunca mexeria com o sobrenatural e te envolveria com isso. Nunca. - Ele frisa mais uma vez - Pode ficar brava comigo se quiser, El. Eu vou entender. Mas não vou mudar de ideia.

—Você é um cabeça dura, sabia? - Falo, levemente irritada.

A verdade é que não é só sobre descobrir sobre Charlie Harrison. A verdade é que desde que descobri com Sam que há um mundo sobrenatural pulsando em nossa realidade, fiquei tentada.

Porque...de alguma forma, por consequência das minhas visões, nunca me senti normal. Nunca pertenci.

Talvez no sobrenatural eu pudesse encontrar respostas.

Mas ao mesmo tempo, talvez eu seja muito ingênua. Sam viveu o sobrenatural de maneiras inimagináveis, enquanto para mim é tudo apenas uma ideia, um conceito.

Ele com certeza sabe do que está falando. E me dói admitir isso, porque quando quero respostas, tendo a roer a paciência das pessoas até os ossos.

Mas vou deixar isso de lado...temporariamente. Um dia irei convencê-lo.

— Eu, cabeça dura? - Sam sorri, acariciando a minha bochecha. Sei que devo estar fazendo uma cara contrariada, tendo a ficar muito séria quando me sinto assim -Você é a pessoa mais cabeça dura que eu conheço...E com essa carinha de brava que está fazendo, me dá vontade de te beijar até você esquecer o motivo de ter ficado irritada comigo, para começo de conversa...

Ele olha para a minha boca de maneira provocadora, e eu fico na ponta dos pés pronta para beijá-lo, mas ele faz que não com a cabeça, levemente.

—Não vou beijá-la aqui, tenho ideia melhor de onde fazer isso do jeito certo....

XXX

Uma semana depois.

Estou sentada ao seu lado durante a aula. Gosto de me sentar próxima à janela, porque consigo ver as árvores balançando lá fora enquanto a neve cai. E isso me acalma.

A presença dele também me acalma.

Srta. Watson está falando sobre a revolução francesa, e embora eu adore essa parte da história, não consigo tirar os olhos dele.

Sam está com o rosto apoiado em sua mão, completamente focado em cada palavra. Vez ou outra, ele para e faz uma anotação.

As vezes, começa a roer a unha do indicador quando o assunto se torna muito complexo. É inevitável sorrir ao observar todos os seus detalhes. A cada minuto que passa, me apaixono mais pelas pequenas coisas que, em conjunto, formam ele.

—Quem pode me citar uma obra de ficção que contemple esse assunto? - Srta. Watson pergunta, se encostando em sua mesa de mogno.

—Os miseráveis, Victor Hugo. - Respondemos, Sam e eu, ao mesmo tempo. Todo mundo na sala parece nos encarar por um momento, e eu acabo abaixando a cabeça sutilmente, por reflexo.

XXX

Estamos no refeitório, e eu me sento em uma mesa que fica ao lado da sua. Dói, fisicamente, não poder me sentar ao lado dele. Estamos fazendo de tudo para encobrir qualquer rumor sobre nós dois, especialmente porque já ouvi alguns boatos sobre haver algo entre nós. Não importam os esforços, existe uma tensão densa perdurando no ar sempre que estamos no mesmo ambiente. Só não enxerga quem for completamente cego.

Sam se levanta e passa pela minha mesa, derrubando sutilmente um papelzinho dobrado, bem perto dos meus pés. Me agacho e pego o papel, e o vejo desaparecendo pela porta do refeitório. Desdobro o bilhete e me deparo com algo que faz meu coração arder.

"Vediamoci in biblioteca, bellissima”

 

Ps: Levei uma década para conseguir escrever isso, então espero que não haja nenhum erro absurdo "

XXX

Me esgueiro por entre o corredor estreito, coberto de livros empilhados pelas prateleiras antigas. Poucas pessoas estão na biblioteca, e há um silêncio gritante no ambiente. Meu coração acelera ao vê-lo, encostado na prateleira, as mãos nos bolsos da jaqueta de couro preta, os cabelos lhe caindo sutilmente pelo rosto. Está com uma expressão séria, mas assim que pousa os olhos sobre mim, sorri devagarzinho. Sinto minha pele arder enquanto ele me devora com os olhos, o olhar percorrendo meu corpo inteiro enquanto ando na sua direção.

Paro em sua frente, e ele olha ao redor, sondando se alguém está olhando para a gente. Há um garoto do sexto ano parado na outra ponta do corredor, mas parece distraído.

Sam roça o seu dedo mindinho no meu, suavemente, enquanto parece procurar algum livro.

Assim que o garoto sai do corredor, Sam retira uma caneta de dentro de sua jaqueta, junto a um papel amassado. Abre a caneta com a boca, a tampa entre seus dentes enquanto ele escreve:

"Pode ficar depois da aula hoje? Descobri que a biblioteca fica ainda mais abandonada que o ginásio "

Sorrio, olhando para baixo, timidamente. Faço que sim com a cabeça, e ele sorri de lado, vitorioso. Sam pega um livro da prateleira e me entrega, e antes de se retirar e se sentar em uma das mesas, sussurra no meu ouvido:

—Página treze.

Franzo o cenho, e o observo se sentando, e permanece sem tirar os olhos de mim. Abro o livro na página que ele mencionou, e percorro o texto com os olhos a procura de algo.

Meus olhos finalmente se prendem em uma frase, que foi grifada em vermelho:

Se, a princípio, nos desencontrarmos, não desanimes.

Se não me achares aqui, procura-me ali;

em algum lugar estarei esperando por ti – Walt Whitman.

Meu rosto se tinge em bordô, e passo a ponta dos dedos pela página, como se pudesse sorver as palavras para dentro de mim.

O olho, e me contraio por um breve momento, sentindo amplamente um duelo interno entre a dor e o alívio. Me agarro a palavras como botes salva vidas desde o momento que aprendi a ler.

Encontrá-lo, sabendo que ele enxerga o súbito alívio que sinto assim que leio algo desse tipo, me faz sentir elétrica.

Ele entende. Ele sabe. Ele sente.

XXX

A bibliotecária deixa a biblioteca sem sequer checar se havia alguém para trás. Ouço-a trancando a porta, assim como ouço o barulho dos seus sapatos batendo no piso de linóleo, sumindo à medida que ela se afasta. Sam e eu nos escondemos atrás de uma das estantes maiores, e foi mais fácil do que eu pensei que seria.

— Essa escola é uma piada, sinceramente...- Constato, andando em direção a ele.

— É, e tomara que permaneça dessa forma para sempre...- Sam entrelaça a mão na minha, e caminhamos juntos até uma das mesas, e nos sentamos lado a lado.

—Como você está se sentindo, El? - Ele coloca uma mecha dos meus cabelos para trás da minha orelha, os olhos verdes oceânicos me fitando.

—Hmmmm, deixe-me pensar...Felicia Wallace te devorou com os olhos durante a aula de álgebra inteirinha, e eu não estou em uma boa semana para ser provocada. - Sam dá uma risada que revela suas covinhas.

— Eu nem sei quem é essa, El. E elas podem olhar o quanto quiserem...eu já tenho dona. - Sam dá de ombros, e eu coro.

—Sei disso e você sabe disso, mas elas não sabem disso. - Resmungo, enciumada. Sam acaricia a minha mão, sem tirar os olhos dos meus.

—Os idiotas que te olham indiscretamente também não sabem. Quase me descontrolo umas três vezes por dia, no mínimo. - Sam beija a minha mão, delicadamente pousando seus lábios na minha pele por um breve momento - E por que não está em uma boa semana?

—Estou, hm...sabe? - Fico tímida de repente, e ele faz uma cara confusa por um momento. Mas então seus olhos transmitem um entendimento.

—Ahhhh. Sei sim. Por falar nisso...- Sam abre sua mochila a procura de sua agenda, e assim que a encontra, a abre na mesa na página do calendário - Se importa de dividir comigo as informações do seu...ciclo? - Minhas bochechas queimam e ele se apressa a dizer - Eu quero saber quais semanas você vai estar triste, irritada, precisando de doces ou coisas do tipo. E não tenho como saber nada disso se não souber do seu ciclo, então...

Seu olhar todo preocupado me faz sorrir. Qualquer pingo de constrangimento deixa o meu corpo imediatamente.

—Você não existe, sabia? - Dou risada e anoto todas as informações no seu calendário, e devolvo a ele. - Pronto. Agora já sabe quando não pode me irritar.

Ele sorri, e beija a minha bochecha.

—Ótimo. Informações como essas valem ouro. - Ele guarda o calendário em sua mochila, e depois segura as minhas mãos - Como estão as coisas na sua casa, Hazel?

Sempre que me pergunta isso, seu olhar se torna denso. Quer deixar bem claro que se eu mentir, ele vai saber.

—Meu pai andou usando cocaína demais, então estou o evitando mais do que o normal. Já brigou no trabalho umas quatro vezes, então...- Dou de ombros, suspiro e continuo, sustentando o seu olhar - Minha mãe está firme, tentando ficar limpa para valer. No mais...é isso.

Sam assente, apoiando seu rosto em sua mão.

—E na sua casa, Sam? - Ele dá um longo suspiro e fica pensativo.

— Acho que Dean está sobrecarregado. Ele gosta da vida da estrada, gosta de estar em movimento. Embora saia para caçar algo nos fins de semana, não parece ser o suficiente. - Ele dá de ombros, e passa uma de suas mãos nos próprios cabelos. Ah se ele soubesse o que isso faz comigo...— E John liga quando pode. Nada de novo...

Assinto, pensando sobre como ele deve se sentir dividido entre viver a vida como julga correto e entrar em conflito sobre as expectativas do seu pai sobre ele. Sam se levanta e eu faço o mesmo, me recostando na mesa.

—Você acha que ele vai entender? Quando você contar a ele seus planos? - Sam fica tenso. Já conversamos sobre o nosso futuro umas trezentas vezes. Vamos nos matar de estudar, entrar em Stanford e viver a vida como achamos correto.

— Não. Eu acho que eu vou quebrar o coração dele, quando a hora chegar. - Seu olhar é pesaroso, por um breve momento - Mas ei, já sou uma decepção para ele de qualquer maneira, não há novidade nisso.

Faço que não com a cabeça, e acaricio sua nuca com a ponta dos dedos.

—Não é não. Eu sei que você e o seu pai tem questões...- Digo isso com cautela - Mas garanto que ele não está decepcionado com você, Sam. Você tem dado duro na escola, e não é um desses idiotas que fica fazendo merda por aí. O que mais um pai pode querer de um filho?

—Não faço ideia...honestamente, acho que nunca vou entender o que se passa na cabeça dele. – Sam contrai os lábios e dá de ombros. Ficamos em silêncio por um breve momento, e então Sam passa a mão pela minha nuca, me acariciando de leve. – Independente do que aconteça, tudo fica mais fácil com você em minha vida, El. - Ele então se aproxima de mim e cola os nossos lábios, se movendo primeiro devagar, e depois intensificando os seus movimentos quando as nossas línguas se provam. Sam Winchester percorre o meu rosto com suas mãos firmes enquanto me beija com voracidade. Sinto as batidas do meu coração entoando um ritmo acelerado e descompassado enquanto minha respiração pesa drasticamente. Suas mãos descem do meu rosto até a minha cintura, apertando-a suavemente, e então continuam o seu caminho até as minhas coxas, erguendo-as para que eu me sente na mesa, as pernas ao redor do seu corpo.

—Tudo o que eu mais quero é poder segurar as suas mãos livremente...- Ele sussurra no meu ouvido, uma corrente elétrica passando pelo meu corpo ao ouvir sua voz tão próxima assim de mim – E te beijar em qualquer lugar sem que isso represente um perigo para você. Quero levá-la ao cinema, ao parque, para a minha casa...

Abro a boca para responder, mas ele volta a me beijar com sua respiração intensa e quente, suas mãos cravadas docemente na minha cintura. Minhas pernas o pressionam para mais perto de mim quase que involuntariamente. Eu o quero tanto dentro de mim, que chega a ser urgente. Mas vou me conter.

A hora certa vai chegar.

Me inclino para trás conforme o beijo se intensifica, ficando quase selvagem. Sam interrompe o beijo por um breve momento, os lábios vermelhos carregados por desejo. Ele dá uma olhada quase que analítica para a mesa em que estou sentada e joga todos os livros no chão.

A próxima coisa que me dou conta é que estou completamente deitada na mesa, com ele por cima de mim, uma de suas pernas no meio das minhas, seu peito muito próximo ao meu.

Percorro seus ombros com as mãos, enquanto ele me domina por completo.

—Ontem eu esqueci de te dizer uma coisa muito importante, Hazel...- Assim que separa nossos lábios, Sam me diz isso. Ele acaricia o meu rosto e penetra o meu olhar com o seu – Você me disse que é minha. Mas eu preciso que você não tenha dúvida alguma de que eu sou seu também, El. Só seu.

Algo sobre nossa posse um pelo outro faz com que eu sinta uma fisgada por dentro das minhas entranhas. Algo sobre pertencer assim a alguém, tão violentamente, faz com que eu me sinta completa.

Eu sou dele, e ele é meu.

—Sei que nos amamos em segredo, contra todas as ameaças...- Ele sussurra, aproximando a boca da minha – Mas não te guardo como um segredo, El. Te guardo como uma promessa. – Seus lábios roçam os meus quando ele diz essa frase, e eu caio subitamente por cada uma de suas palavras.

 


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Notas finais do capítulo

Gente eu ri muito escrevendo a parte da "conversinha" do Dean com o Sam kk

Enfiiiim, espero que tenham gostado de todo esse açúcar.
Comentem ok ♥

XOXO



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