No dia seguinte, eu estava conversando com a Iris. Os boatos tinham corrido para todos os lugares.

— Ouvi dizer que a Ambre foi para o hospital.

— A Ambre? Por quê?

— Dizem que a menina nova bateu nela e a mandou para lá.

— Não foi nada disso que aconteceu, Iris. A Ambre tentou me bater e a Mileena só a impediu.

— Mas estão dizendo...

— Eu não acredito nisso! – Reclamou Mileena vindo em nossa direção. Iris se escondeu atrás de mim.

— O que foi?

— Esse jornaleco dizendo que o projeto de Regina George está no hospital. A vadia que escreveu isso não estava presente quando essa puta ameaçou te bater!

— Mentira! – Peguei o jornal.

— Pois é. Eu duvido que alguém foi averiguar se é verdade. Melhor, eu desafio todo mundo dessa escola a ir até o hospital e me dizer qual é o quarto da Ambre! – Ela falou alto para o corredor inteiro ouvir. – Mas eu duvido que esse bando de arrombado fofoqueiro queira saber da verdade!

— Você ficou maluca?!

— Eu não. Se eu mandei a guria pro hospital, no mínimo quero ver uma foto a cores dela na maca e o número do quarto.

Minha amiga saiu furiosa pelos corredores. Por pouco ela não trombou no Castiel.

— O que deu nela?

— Isso. – Mostrei o jornal a ele.

— Mas será possível que esse povo não cuide da própria vida?!

— Acredita que ela desafiou a escola inteira a ir ao hospital procurar pela Ambre?

— Ela não mandou a Ambre para o hospital de verdade, mandou? – Perguntou Iris.

— Claro que não, Iris. – Disse Castiel. – Eu estava lá quando aconteceu e a Ambre está bem, só foi suspensa por roubar as provas. Está escrito na matéria.

— Ainda bem.

— Mileena pode parecer rude, mas na verdade ela é uma boa amiga. – Eu disse. – Ela se importa com os amigos, o suficiente para mandar alguém para o hospital. Se vocês forem amigas, ela vai te proteger dos valentões, mas também vai puxar sua orelha quando você fizer alguma coisa errada.

— Entendi, fico mais aliviada.

A aula começou. Vi que muita gente ficava receosa com a minha amiga, mas eu, Nath, Castiel e Lysandre, e agora Iris, estávamos tranquilos. Ao final da aula, ela veio falar comigo.

— Shay, você disse que essas coisas eram mágicas, não?

— É melhor falarmos sobre isso em outro lugar.

Nós fomos até o jardim, que estaria vazio àquela hora, nem mesmo Lysandre estava lá. Eu contei para ela praticamente tudo o que aconteceu.

— Caralho. Você só se fode, hein.

— O ponto não é esse. Você tem que tomar cuidado com o que deseja e treinar o seu cristal. Primeiro você...

Quando vi, ela já estava levitando bancos, vasos e pedras, abriu um grande buraco no muro da escola, pôs um telhado de madeira no terraço da escola e grafitou a parede do chão até o telhado.

— Como você conseguiu...?!

— Não é difícil. Se isso faz tudo o que eu quiser, por que não ferrar algumas coisas?

Uma lata de lixo explodiu. Reclamei com Mileena, mas ela reconstruiu a lata e desfez as coisas, menos o grafite. Gelei quando li o que estava escrito. “Faça tudo o que você quiser, mas respeite as regras. Cuidado com o que deseja. A força de vontade será a sua guia. A dúvida sua ruína. ”

— Shay, você está bem? Parece que viu um fantasma.

— O meu cristal escreveu exatamente isso.

— Que?

— Não com essas palavras, o meu escreveu que a tranquilidade seria a minha guia e o desespero a ruína. Isso tem a ver com o atributo?

— Shay, do que caralhos você está falando?!

— Noir disse que o atributo do meu cristal é a tranquilidade. Lysandre disse que ele fica opaco quando estou nervosa. Talvez com o seu seja a mesma coisa.

— Ok, você pirou.

— Mileena, você não ouviu o que eu te falei?!

— Eu acho melhor você se acalmar. Seu troço até parou de brilhar.

Um calafrio percorreu a minha espinha. Tentei de tudo para me acalmar. Mileena até trouxe água para mim. Consegui me acalmar enfim, mas o sinal da próxima aula tocou. Iríamos treinar mais um pouco depois da aula. Encontramos Nath na escadaria, ele parecia incomodado.

— Oi, Nath. – Saudei.

— Oi.

— Está tudo bem?

— Sim, por quê?

— Você está com uma cara de quem tomou no cu e pelo jeito a coisa foi feia.

Nós olhamos para ela perplexos. Céus!

— Fala aí, por que está puto?

— Foi pelo que aconteceu com a Ambre?

— Não é isso, na verdade eu tenho que agradecer o que vocês fizeram por mim. Graças a vocês, eu não vou ser expulso, mesmo que tenham roubado a chave da diretora para isso.

— Estamos aí pra isso.

— É bom saber que você não vai ser expulso. Mas então, qual é o problema?

— O meu problema é esse.

Ele nos mostrou o jornal da escola. A matéria sobre as provas sumidas e a da Ambre no hospital estampavam a primeira página.

— A diretora ficou furiosa quando soube que a história vazou e colocou a culpa em mim.

— Mas isso nem foi culpa sua! – Exclamei.

— Por um acaso você não comentou com alguém? Ou com a Peggy?

— Não, eu não falei nada com a Peggy.

— Sei nem quem é, mas já quero dar uma voadora nela.

— Mileena!

— Ué, ela escreve que eu mandei a Regina George do Paraguai pro hospital e eu tenho que ficar quieta?!

— Por falar nisso, soube que desafiou a escola inteira para ir ao hospital.

— É. Quero ver quem tem culhão para tirar essa história à limpo.

— Mileena, já pensou que isso pode causar problemas?

— Mas pelo menos vão atestar com os próprios olhos. Tem gente que só acredita quando vê ou quando se fode.

— Nesse ponto você tem razão.

Acabamos por nos despedir do Nathaniel e procurar um lugar mais tranquilo. A escola parecia não ter nenhum lugar vazio hoje. Cruzamos com o Castiel no pátio. Ele fica em algum outro lugar dessa escola sem ser no pátio? Ah é, tem o porão durante à noite.

— Fiquei sabendo que estão organizando um mutirão para ir ao hospital.

— Sério?! – Perguntei.

— Até que esse povo não é tão burro quanto imaginei.

— Na verdade, eles querem um motivo para fofocar.

— Devia ter imaginado.

— Foi um bom golpe. Você luta o que?

— Obrigada. Jiu-jitsu, kung-fu, judô, karatê, recentemente comecei a aprender kendô.

— Kendô?

— Nunca se sabe quando vai precisar.

— Eu lembro que você lutava desde que éramos crianças.

— Meu pai fritou o cérebro com jogos de luta e quis que eu aprendesse artes marciais. Minha mãe não foi contra, pois sempre achou que eu tinha que aprender a me defender.

— Seu pai é viciado em jogos de luta? – Perguntou Castiel.

— Você acha que eu tenho esse nome por qual motivo?

— Você me contou essa história. – Comentei. – Tudo piorou quando sua mãe quis um nome composto.

— Nem me lembre disso.

Acabamos nos distanciando de Castiel e indo procurar um lugar tranquilo. Não encontramos nenhum, mesmo depois das aulas, então fomos para casa.

No dia seguinte, os alunos descobriram que a história era uma farsa. Ambre não estava no hospital. Alguns criticaram o jornal e outros ficaram revoltados por ela estar bem. Eu sei que não vou com a cara da Ambre, mas não desejo que ela fique em uma cama de hospital.

— Fico aliviada que essa história seja mentira. – Confessou Iris.

— Eu também. – Concordou Violette.

— Viu? Eu disse que a Mileena não a tinha mandado para o hospital.

— Tem razão, eu devia ter confiado mais em você.

— Ainda mais porque eu estava lá. Na próxima vez, é melhor perguntar a todos os envolvidos antes.

— Pode deixar.

No intervalo, ouvi a Peggy reclamar por a chamarem de mentirosa e sobre o mutirão para ver se a Ambre estava mesmo no hospital. Acho que ela não gostou de ser desmentida.

— Oi, Lysandre, tudo bem? – Perguntei quando o encontrei.

— Sim. Você está bem?

— Sim. Fico feliz por aquele pesadelo ter terminado.

— Eu também.

— Eu contei para a Mileena sobre, você sabe.

— O que irão fazer a respeito?

— Eu não sei. Por enquanto, vamos tentar não perder o controle.

— Uma decisão sensata.

— A próxima aula é de história, né?

— É, depois vem a de literatura. Gosta?

— Um pouco. Gosto de Oscar Wildle, mas atualmente estou lendo Harry Potter. Gosto mais daquelas mais teatrais.

— Entendo. Qual a sua peça favorita?

— Sonho de Uma Noite de Verão, e a sua?

— É difícil decidir. Gosto muito de Fedra, mas também de Hamlet, MacBeth e Antígona.

— Antígona? Eu nunca ouvi falar.

— Se passa depois de Édipo Rei. Antígona é uma das filhas de Édipo. Se quiser, posso te emprestar o livro.

— Seria ótimo!

Fomos conversando até a sala de aula. Já na sala fomos, nos sentar em lugares separados, eu com as minhas amigas e ele sozinho. Castiel deve estar matando aula de novo e.... Cadê a Mileena? A aula acabou e não a encontrei pelos corredores. Só a vi na outra aula.

— Onde você estava?!

— Matando aula.

— Você ficou maluca?!

— Dá pra ficar calma? Eu recupero a matéria depois.

— Para onde você foi?

— Você não é a minha mãe para ficar me perguntando isso. Mas já que você quer tanto saber, o Castiel me levou para conhecer a cidade.

— QUE?!

— Não foi um encontro, se é o que essa bosta na sua cabeça está pensando.

— Está me chamando de cabeça de merda?

— É o nome que dou para fofoqueiros.

— Eu não sou fofoqueira!

Ela fez uma cara tão sarcástica de quem fingia que acreditava que eu fiquei desacreditada. Eu não sou fofoqueira! Ok, um pouco, mas não sou como ela pensa. Não pude falar mais nada, pois o professor Faraize entrou na sala para dar início à aula de geografia. Depois da aula, juntei minhas coisas e fui falar com ela.

— Mileena, eu estava pensando em irmos para o parque depois da escola. Para treinar.

— Show. Eu tenho que levar o Wilson para passear mesmo.

— Wilson?

— Meu cachorro.

— Ok, a gente se vê mais tarde.

Depois da escola fui para casa. Só fui almoçar, organizar algumas coisas e depois fui para o parque. Fiquei apreciando a paisagem até avistar a MK com um cachorro grande da raça boxer. O cachorro dela se jogou em cima de mim e começou a me lamber.

— Wilson! Quieto. – Ele se afastou, mas não deixava de exibir a enorme língua.

— Está tudo bem. – Fui fazer carinho nele. – Você é o Wilson, certo? Quem é um bom garoto?

— Vamos para um lugar mais tranquilo?

Nós andamos até uma parte mais vazia do parque. Esse lugar é enorme, mas é bom andar em meio a tantas árvores. Nós pegamos nossos cristais e começamos a treinar.

— Você explodiu uma pedra?! – Perguntei chocada.

— Ué, você não? Se bem que eu já explodi uma lixeira na escola mesmo.

— Você encolheu uma árvore?!

— E daí?

Ela estava descobrindo mais coisas para fazer além de levitar coisas ou bater portas.

— O que mais você consegue fazer?

— Fica olhando.

Ela tacou um jato de água no Wilson e depois surgiu sabão. No minuto seguinte, ele estava limpo e seco. O cachorro começou a correr de um lado para outro que nem um condenado.

— Ele sempre faz isso quando toma banho. Não fica me olhando com essa cara, não sou um ET.

— Você acabou de dar um banho nele?!

— Eu também limpei meu quarto assim.

— Isso é possível?!

— É a vontade de não pegar no pesado e procrastinar.

— Imagino. Então, você e Castiel....

— Depois reclama quando te chamo de fofoqueira.

— Eu só estou curiosa! Castiel não me parece do tipo que convida os novatos para passear.

— Quem disse que convidou? Ele matou aula, eu matei aula, estávamos sem porra nenhuma pra fazer, falei que não tinha conhecido a cidade, ele tacou o foda-se, pulei o muro e ele veio atrás. Então me mostrou a cidade e voltamos pra escola.

Eu fiquei meia hora tentando processar o que ela me disse. Como assim?! Ela começou a rir da minha cara. Qual é! Minha cara não é tão engraçada assim!

— Como isso é possível?!

— Sendo, ué.

— E você me fala com a maior cara lavada!

— Às vezes acontecem coisas sem explicação.

— Mas....

— Por um acaso você está interessada no Castiel?

— Não! De onde você tirou isso?!

— Desse seu interesse todo.

— Olha, eu não estou interessada nele.

— Está bem.

Ela só deu de ombros e não me fez mais perguntas. Pelo menos ela não é daquelas garotas que insistem em saber de quem você gosta a todo custo.

— É melhor irmos. Wilson está cansado e ainda tenho que andar até em casa.

— E também já está escurecendo. Até amanhã.

— Até. Aproveita e me adiciona.

— Claro.

Peguei o e-mail dela e cada uma foi para um lado. Já em casa no computador, decidi adicioná-la e criei um chat que eram ela, Calien e eu.

ShayV1D4L0K46342: Caly, você não vai acreditar em quem adicionei.

Calygatinha82S2: Quem?

MKPQP69: Mas que porra é essa, Sharena?!

ShayV1D4L0K46342: Mileena, você se lembra da Calien, certo?

MKPQP69: Claro que sim! Sua puta, onde esteve?!

Calygatinha82S2: Você quem sumiu. Por onde andou?

MKPQP69: Estava fazendo intercâmbio nos EUA.

Calygatinha82S2: Que legal!

Conversamos por muito tempo. Só saí do computador quando meus pais me mandaram ir dormir. Tentei ligar para o Ken para contar tudo que aconteceu, mas sempre caía na caixa postal. Faz um bom tempo que não temos contato.