Latitute of Home escrita por Ly Anne Black, Indignado Secreto de Natal
Nos meses que se seguiram, Regulus viu pouco de Remus em casa, à medida que ele deixou a coordenação de missões e assumiu posto de espião entre os lobisomens, à mando de Dumbledore. Sirius continuava passando longos períodos de tempo fora de casa, sobre os quais ele evitava falar com o irmão, justificando que quanto menos ele soubesse, mais seguro era para ambos.
Secretismo parecia ser a palavra de ordem ultimamente – dividir pouco, suspeitar muito – e Regulus podia ver o impacto que causava entre os três. Nas poucas vezes que se cruzavam pelo apartamento, eram como estranhos, silenciosos e taciturnos como se Voldemort pudesse ouví-los ali dentro, como se já tivesse alcançando o interior de suas cabeças.
Mas com mais frequência, Regulus se achava sozinho no apartamento abarrotado de livros, assombrado pelos seus próprios demônios e sonhos que quando não o acordavam suando de horror, o despertavam rijo de um inapropriado e impossível anseio pelo ausente dono da habitação.
Certa noite em meados de setembro, ele foi acordado por uma discussão entre Sirius e Remus, aos gritos, nas primeiras horas da manhã.
— COMO VOCÊ NÃO PODE CONFIAR EM MIM? Em mim, Sirius?
— Isso não é sobre confiança, é sobre o tipo de pessoa com quem você precisa lidar por causa da sua missão, e sobre como a lua cheia o deixa vulnerável!
— É porque eu sou lobisomem, então?! Por que eu não posso me controlar, e vou deixar os meus amigos morrerem se me pegarem na lua cheia?
Regulus entrou na sala e encontrou os dois coléricos, dedos apontados, faces lívidas. Eles nem mesmo notaram a sua presença até Regulus perguntar:
— O que diabos?
— Conte a ele! — Remus apontou para Regulus, feral como o rapaz nunca o vira antes. Era assustador, mas incrivelmente excitante. Ele guardou aquele pensamento no fundo de sua mente, mais preocupado com a expressão fatalista no rosto do irmão.
— É melhor não envolvermos Regulus nisso.
— Ah, não me diga que você também não confia nele? Qual a desculpa agora, que ele é um ex-comensal?
Depois de mais alguns gritos e acusações, e do surpreendente fato de que Regulus parecia ser a pessoa mais racional entre os três no momento, ele conseguiu entender a causa da discussão: aparentemente havia uma profecia que colocava o filho de James e Lily na mira de Voldemort, e eles precisavam de um fiel do segredo de sua localização. Remus se oferecera para ser o fiel, uma vez que Sirius questionara que ele seria a escolha mais óbvia, e Sirius lhe dera a entender que não era uma boa ideia, por conta da constante presença de Remus em meio a lobisomens, que estavam se alinhando às fileiras de Voldemort, e como a sua mente se tornava vulnerável durante a lua cheia. O fato de que parecia haver um traidor entre eles – evidenciado pelo vazamento de segredos da Ordem e a morte e tortura de famílias bruxas associadas à luta contra Voldemort com assustadora frequência nas últimas semanas— colocava mais peso à escolha.
— Eu concordo com o Sirius. Vocês são ambos escolhas óbvias e estão emocionalmente envolvidos demais com a questão — disse Regulus.
Remus olhou para ele ultrajado – o que machucou um pouco – e Sirius com uma expressão de dramática gratidão no rosto.
— Finalmente alguém está me ouvindo nessa casa! Eu tenho uma ideia de quem pode ser o fiel do segredo, já até mesmo convenci Dumbledore de que…
— Eu o farei — Regulus o interrompeu. — Eu vou ser o fiel do segredo de James e Lily. Voldemort jamais desconfiariam de mim, entre todas as pessoas nas quais vocês confiariam.
O jeito com que Remus o olhou naquele momento – como se visse uma pessoa completamente nova, surpreendentemente corajosa tomar a pele do irmão caçula do seu melhor amigo – fez a oferta de Regulus valer ainda mais a pena do que ele poderia ter imaginado.
* * *
Demorou um pouco, mas enfim Regulus convenceu o irmão a usá-lo como o fiel do segredo, e com a benção de Dumbledore e dos Potter, eles completaram o encantamento no fim daquela semana. Quando o dia das bruxas daquele ano chegou, o pequeno Harry e seus pais o comemoraram em casa, sem receber visitas – nem a dos amigos, e nem a do Lorde das Trevas que, incapaz de achar o fiel da localização dos seus inimigos, não pode invadir a casa e assassiná-los naquela Dara emblemática.
No final de novembro, Sirius enfim descobriu o traidor entre eles – e foi pessoalmente responsável pela prisão de um dos seus outrora melhores amigos, Pedro Petigrew, ao flagrá-lo tentando descobrir a identidade do guardião do segredo dos Potter para que pudesse entregá-los a Voldemort.
* * *
— O que acontece agora? — Perguntou Regulus, o rosto sujo e coberto de suor, as mãos ainda tremendo. O irmão o olhou, arfando e pálido, ainda sob efeito das imagens que o medalhão lhe mostrara, antes que eles as destruíssem com a espada de Griffyndor.
Era dezembro novamente – um ano inteiro desde que Regulus desertara, Sirius o salvara do lago de Inferi, e eles tinham iniciado a busca pelos outros pedaços da alma de Voldemort. Pelo ardor insuportável em sua cicatriz, Regulus sabia que Voldemort sentira a destruição do seu pedaço de alma. A contagem regressiva se iniciava. O Lorde sabia que alguém mais conhecia o seu segredo e não descansaria até destruí-los, ou ser destruído… o que viesse primeiro.
Sirius ergueu a espada dos destroços do medalhão, sorrindo apesar da palidez e da exaustão.
— Agora a gente acha os outros pedaços do rato imundo e manda ele pro inferno de onde veio, o mais rápido possível.
Regulus sentiu o peito se encher de esperança. Era bom ter um plano. Era bom ter uma família, e a certeza de que ele estava lutando por alguma coisa maior do que a sua própria sobrevivência. Alguma coisa boa.
A imagem de Remus surgiu em sua mente com o pensamento. Alguma coisa boa.
Ele jurou que a primeira coisa que faria, depois que destruíssem os outros pedaços de Voldemort e a guerra chegasse ao fim, seria chamar o lobisomem para um encontro.
Forever is composed of Nows
Tis not a different time–
Except for Infniteness
And Latitute of Home
(O Para Sempre é Composto de Agoras
Esse não é um tempo diferente
Exceto pela Infinitude
E pela Latitude do Lar)
— Emily Dickinson
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