Além do Tempo: Um Conto de Natal em Três Anos escrita por Niars


Capítulo 2
Reflexões Sob as Luzes do Natal: O Encontro com o Fantasma do Passado




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Na véspera de Natal, enquanto a cidade ganhava vida com a exuberância de luzes brilhantes e a alegria contagiante da temporada festiva, Benjamin Oliveira afundava-se profundamente em seu escritório. O ambiente, marcado pela penumbra e pelo zumbido constante da cidade lá fora, refletia a densidade dos compromissos que o consumiam.

O escritório de Ben era uma mistura de papéis amontoados, pastas desgastadas e o brilho monocromático da tela do computador. À medida que a noite avançava, as luzes suaves da árvore natalina na sala adjacente tentavam romper a escuridão, mas pareciam mero adorno, uma lembrança distante de tempos mais despreocupados.

O aroma suave de pinheiro misturava-se ao cheiro de café, uma tentativa fugaz de recriar a atmosfera festiva naquele reduto solitário. Enquanto as vozes alegres ressoavam lá fora, Ben encontrava-se à margem, preso na contemplação sombria de sua própria jornada. As luzes da cidade projetavam sombras dançantes pelas cortinas, ecoando a complexidade das escolhas que o trouxeram até ali.

O clique suave da porta do escritório anunciou a presença de uma figura etérea. O Fantasma do Passado emergiu das sombras, sua presença revelada por um suave brilho dourado que se misturava com o leve aroma de lembranças antigas. Seus contornos, embora etéreos, exibiam uma elegância melancólica, como se fosse uma manifestação da própria nostalgia.

O Fantasma do Passado moveu-se graciosamente pelo escritório, deixando um rastro sutil de faíscas douradas no ar. Seu olhar, profundo e carregado de histórias não contadas, encontrou os olhos cansados de Ben. Era como se cada ruga em seu rosto contasse uma história de tempos que se perderam.

O eco silencioso das escolhas feitas e das oportunidades perdidas preencheu o espaço, como se o próprio ar carregasse o peso das decisões passadas. O Fantasma do Passado segurava nas mãos sombras do que poderia ter sido, um mosaico de momentos que Ben havia deixado para trás em sua busca implacável por sucesso profissional.

Nesse instante, o escritório pareceu se contrair sob o peso das memórias. O chiar da cadeira de couro ecoou suavemente, enquanto o Fantasma do Passado, com uma tristeza contida nos olhos, aguardava, pronto para conduzir Ben por um labirinto de lembranças enterradas e verdades adormecidas.

Ben olhou para o Fantasma do Passado com olhos misturados de surpresa e apreensão. A figura etérea emanava uma aura de melancolia, como se carregasse não apenas as sombras do passado, mas também a tristeza das oportunidades perdidas. Um silêncio pesado pairou no escritório, apenas interrompido pelo suave ruído do vento noturno.

— Quem é você? – Ben perguntou, sua voz carregada de uma mistura de curiosidade e inquietação.

O Fantasma do Passado não respondeu imediatamente. Em vez disso, começou a tecer um mosaico de memórias diante de Ben, projeções etéreas que ganharam vida no próprio escritório. Ele viu a alegria compartilhada em Natais passados, rostos sorridentes que se desvaneceram com o tempo. As imagens revelavam não apenas a distância emocional que ele havia criado, mas também a alegria genuína que escapara de suas mãos.

Ao confrontar suas próprias escolhas e as consequências dessas escolhas, Ben experimentou um turbilhão de emoções. A tristeza envolveu seu coração enquanto ele encarava as cenas do passado que ele havia enterrado sob camadas de trabalho e ambições. O Fantasma do Passado não precisou dizer uma palavra; as imagens falavam por si, ecoando em sua mente como um chamado para a reflexão.

Ben, agora imerso nas memórias ressuscitadas, começou a compreender a verdadeira extensão do que perdera. A sala ao seu redor tornou-se uma cápsula do tempo, onde ele encarou não apenas os outros, mas também a versão mais jovem de si mesmo, cheia de sonhos e esperanças antes de ser ofuscada pelo peso das responsabilidades.

A resposta à pergunta de Ben, começou a se desenrolar à medida que o Fantasma do Passado, através de suas projeções, representava não apenas uma entidade sobrenatural, mas um reflexo das escolhas não feitas e das conexões desfeitas. O confronto estava apenas começando, e Ben sentiu-se compelido a mergulhar mais fundo nas profundezas de seu próprio passado, buscando redenção e entendimento.

Enquanto as projeções etéreas do Fantasma do Passado se desdobravam diante de Benjamin, a primeira parada era uma memória profunda, tingida pelos matizes do último Natal que passou com seu pai.

O escritório transformou-se, magicamente, em uma sala aconchegante e festivamente decorada. O aroma de biscoitos e abeto impregnava o ar. Benjamin, agora imerso na cena do passado, viu a figura de seu pai, cujo rosto irradiava calor e afeto, apesar do avanço da idade.

Eles compartilhavam risos, trocavam presentes e desfrutavam da serenidade da época natalina. A árvore de Natal cintilava com luzes suaves, e a lareira crepitava, enchendo o ambiente de calor e gratidão. Cada detalhe, desde as decorações cuidadosamente escolhidas até a risada contagiante de seu pai, era uma recordação preciosamente guardada.

À medida que Benjamin observava, uma aura familiar começou a envolver o Fantasma do Passado, que agora, na projeção, se assemelhava surpreendentemente ao seu pai. O mesmo olhar caloroso, os traços familiares e até mesmo a maneira peculiar de sorrir. A semelhança era mais do que física; era uma representação simbólica da influência e das escolhas passadas que moldaram seu presente.

Essa revelação deixou Benjamin atônito, confrontando-o não apenas com as lembranças de um Natal perdido, mas também com a impactante semelhança entre o Fantasma do Passado e seu pai. A conexão entre essas figuras começava a transcender o espaço e o tempo, desafiando Ben a mergulhar mais profundamente em sua relação com o passado e as raízes de suas escolhas.

A sala estava inundada por uma alegria palpável naquela noite de Natal, há tantos anos. Benjamin, aos seus felizes 10 anos, não conseguia conter a excitação enquanto se aproximava da árvore de Natal, brilhantemente decorada, cercada por pacotes de papel colorido e fitas festivas.

O chão estava forrado com papéis de embrulho rasgados, um testemunho do frenesi alegre que ocorreu momentos antes. A família de Ben se reunia, com sorrisos luminosos que rivalizavam com as luzes da árvore. Seu pai, uma figura amável e afetuosa, distribuía os presentes com uma mistura de antecipação e carinho.

Benjamin, com olhos brilhantes, abriu um pacote e descobriu o presente que tanto ansiava. Uma expressão de puro encantamento iluminou seu rosto enquanto segurava o brinquedo desejado há meses. Os risos alegres ecoavam pela sala, preenchendo-a com a música contagiante da celebração.

A ceia natalina foi um banquete de sabores familiares e reconfortantes. A mesa estava adornada com pratos tradicionais, e o aroma tentador de assados e guloseimas natalinas impregnava o ambiente. A família se reunia ao redor, compartilhando histórias e risadas, criando memórias que ficariam gravadas no coração de Ben por toda a vida.

A felicidade daquela noite refletia não apenas a generosidade dos presentes, mas a riqueza das relações familiares. Cada membro da família contribuía para o clima festivo, enchendo a casa com uma atmosfera calorosa e acolhedora. Para o jovem Ben, esse Natal representava uma época mágica onde a inocência da infância se misturava com a alegria compartilhada em família, criando um tesouro de lembranças que ele, anos mais tarde, aprenderia a valorizar de maneira única e profunda.

À medida que a projeção do Natal de sua infância se desenrolava diante de seus olhos, Benjamin, agora um homem feito, sentiu-se envolto por uma onda de nostalgia e emoção. Seus olhos, normalmente cansados pelo peso da vida adulta, brilhavam com uma centelha perdida no tempo.

Ao testemunhar o jovem Ben rasgando o papel do presente com uma expressão de pura alegria, a realidade do que ele havia perdido se abateu sobre ele. A cena estava repleta de inocência, calor familiar e a felicidade simples de um momento que se tornara uma relíquia em sua memória.

— Ah, como eu era feliz naquela época... – murmurou Ben consigo mesmo, tocando com reverência a projeção holográfica do brinquedo que um dia fora seu tesouro mais precioso.

Neste momento de reflexão, o Fantasma do Passado permaneceu ao seu lado, observando silenciosamente. Benjamin, agora repleto de uma melancolia saudosa, sentiu a necessidade de falar com a figura etérea que, de alguma forma, se assemelhava ao seu pai.

— Você... Você parece familiar, como alguém que conheci em um Natal distante. Quem é você? – indagou Ben, sua voz carregada de uma mistura de tristeza e curiosidade.

— Eu sou um reflexo, Benjamin. Um eco das escolhas que fizeste e das lembranças que construíste. Sou a sombra do passado que ainda vive em ti. – O Fantasma do Passado, mantendo seu semblante sereno.

Ben, com um olhar perspicaz, começou a entender que aquele Fantasma do Passado não era apenas uma entidade misteriosa, mas uma representação viva das escolhas que o moldaram. Era como se o próprio passado estivesse se manifestando para guiá-lo através de uma jornada introspectiva, forçando-o a confrontar verdades dolorosas e, talvez, descobrir redenção na trajetória de sua própria vida.

— O que estamos fazendo? Lembro-me tão claramente desse Natal. No ano seguinte, em março, meu pai foi vítima de um acidente de carro. Desde então, jamais experimentamos um Natal semelhante. A árvore, que antes irradiava luz e alegria, tornou-se mais sombria. As luzes perderam seu brilho, e os presentes, que outrora eram fonte de encantamento, perderam toda a graça.

— Neste Natal, Benjamin, foi a última vez que você realmente sentiu o calor festivo. Desde então, seus sorrisos se esconderam das celebrações. – A ilusão que envolvia Benjamin começou a se desfazer diante de seus olhos.

Agora, um ano à frente, a atmosfera havia mudado. A árvore não emanava mais alegria, e sua mãe, sentada no sofá, fitava sem entusiasmo um frango sem graça na mesa. Benjamin, já com 11 anos, olhava para o presente envolto em papel fosco diante dele. Uma melodia suave preenchia o ambiente, mas o ar estava carregado de uma densidade silenciosa.

Com a ilusão do Natal passado desmoronando ao seu redor, Benjamin, agora mais velho e carregando o peso do tempo, sentiu uma tristeza profunda ecoar em seu peito. Observou, com olhos melancólicos, a transformação da alegria efervescente de sua infância para a atualidade sombria e desoladora.

Com passos lentos, Benjamin dirigiu-se até sua mãe, que encarava o frango à mesa com olhos distantes. Ele se aproximou, hesitante, mas determinado a oferecer algum consolo. Colocou uma mão gentil sobre o ombro dela, tentando transmitir através do toque o carinho e a compreensão que suas palavras talvez não pudessem expressar.

— Eu sei que os Natais não são mais os mesmos desde... aquele ano. – começou ele, buscando as palavras certas para acalentar o coração entristecido de sua mãe. – Mas estamos juntos, não é? E talvez, mesmo nas memórias mais difíceis, possamos encontrar um pouco de luz.

A mãe, perdida em suas próprias lembranças dolorosas, não percebeu o movimento do pequeno Ben. Ele, com um olhar determinado e um coração cheio de esperança, estendeu a caixa à sua mãe, como se estivesse oferecendo um fragmento de alegria.

— Olha, mãe. – disse o pequeno Ben com uma voz suave. – Papai havia comprado para o Dia das Mães... eu guardei...

A mãe, ainda envolta em sua melancolia, olhou para baixo e notou a caixinha nas mãos do filho. Seus olhos encontraram os olhos do pequeno Ben, e por um instante, uma centelha de reconhecimento pareceu brilhar ali.

— Vamos, mãe, abra. Talvez, dentro desta caixinha, encontremos algo especial que nos faça sorrir novamente. – continuou o pequeno Ben, sua voz inocente carregada de uma esperança sincera.

Apesar da mãe não perceber a presença do Ben mais velho, este observou, com um nó na garganta, a cena comovente do pequeno Ben tentando trazer um pouco de luz ao Natal sombrio. O presente tornou-se um símbolo de esperança, um gesto simples, mas carregado de significado, na tentativa de curar as feridas de um passado doloroso e, talvez, iluminar o caminho para um futuro mais luminoso.

Benjamin, mesmo sem a capacidade de interagir fisicamente com sua mãe mais jovem, sorriu com ternura ao testemunhar a cena comovente do pequeno Ben. Era como se uma faísca de esperança tivesse sido acesa no canto mais escuro de seu ser.

Ao voltar sua atenção para o Fantasma do Passado, Benjamin notou que a entidade observava o cavalheirismo inato do pequeno desde sempre. Um reconhecimento silencioso passou entre eles, uma compreensão compartilhada de que, mesmo nas sombras do passado, havia momentos de luz e generosidade que resistiam ao teste do tempo.

O sorriso de Benjamin, um reflexo de gratidão e admiração pelo espírito perseverante de sua infância, foi também um reconhecimento da importância de preservar esses lampejos de bondade em meio às adversidades. O Fantasma do Passado, ainda silencioso, parecia aprovar a maneira como o pequeno Ben representava a essência do Natal, não apenas na alegria de receber, mas na generosidade de dar, mesmo quando as circunstâncias eram sombrias.

Os dois, Benjamin e o Fantasma do Passado, compartilharam um olhar significativo, como se estivessem conectados por um entendimento mais profundo da jornada que estava se desenrolando. O presente, ainda não aberto, simbolizava não apenas uma caixinha física, mas um portal para redescobertas e renovação. O Natal sombrio estava prestes a ser iluminado, não apenas pela luz das decorações festivas, mas pela chama do amor e compaixão que resistiam ao teste do tempo.

Benjamin, ao observar o esboço de um sorriso no rosto do Fantasma do Passado, que permanecia como uma presença etérea e atenta, começou a compartilhar suas reflexões.

— Você viu, não viu? Como o pequeno Ben tentou resgatar a alegria, mesmo na tristeza. Essa lição vai além do que eu poderia ter imaginado.

O Fantasma do Passado acenou com uma expressão de compreensão, como se soubesse que a jornada tinha mais a revelar do que simplesmente lembranças passadas.

— É incrível como uma simples caixa pode representar tanto. – continuou Benjamin, referindo-se ao presente não aberto ainda em mãos de sua mãe mais jovem. – Um gesto tão pequeno, mas cheio de significado. É como se o Natal fosse mais sobre dar do que receber, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.

— As lembranças que cultivamos podem ser como estrelas que iluminam os dias mais escuros. Às vezes, é preciso um olhar profundo para redescobrir a magia que reside dentro de nós mesmos. – O Fantasma do Passado, com sua presença serena, acrescentou

— É como se cada visita ao passado fosse uma jornada de autodescoberta, uma oportunidade de aprender e crescer. Este Natal, ao contrário dos anteriores, pode tornar-se uma semente para algo novo. – Benjamin assentiu, absorvendo as palavras do Fantasma.

— O passado é um guia, mas o presente é onde moldamos o futuro. Que esta jornada seja apenas o começo de algo extraordinário. – O Fantasma do Passado, com um brilho de sabedoria em seus olhos etéreos, concluiu.

Benjamin, inspirado por essa perspectiva, olhou para o presente ainda não aberto e para o que o futuro reservava. A conversa com o Fantasma do Passado tornou-se não apenas uma reflexão sobre o Natal passado, mas um diálogo revelador sobre as lições que moldariam os dias por vir.

A mãe de Benjamin, ainda absorta em suas próprias lembranças dolorosas, pegou a pequena caixa envolta em papel fosco das mãos do pequeno Ben. Seus dedos hesitaram por um momento, como se estivessem prestes a tocar algo mais do que um simples presente. Com um suspiro, ela desfez o papel, revelando uma caixinha simples.

Ao abrir a caixa, uma luz brilhante e acolhedora emanou dela. Era como se o próprio presente guardasse não apenas um objeto, mas uma promessa de renovação e esperança.

A luz tomou forma, revelando um portal brilhante que parecia transcender o tempo. Em um piscar de olhos, Benjamin sentiu-se envolto por essa luz resplandecente, transportado de volta ao seu presente. À medida que a cena do Natal desaparecia, uma nova paisagem se formava ao seu redor.

Diante dele, surgiu o Fantasma do Presente, uma figura radiante que parecia personificar a alegria e as possibilidades do momento atual. O Fantasma, com olhos brilhando de entusiasmo, saudou Benjamin com um aceno caloroso.

— Benjamin. – disse o Fantasma do Presente, sua voz ressoando com otimismo. – Bem-vindo ao agora. Há tanto a ser explorado neste momento presente. Vamos juntos descobrir as alegrias e desafios que ele reserva para nós.

Benjamin, agora de volta ao seu presente, sentiu um misto de gratidão e antecipação. A luz que emanava do presente não só o trouxera de volta ao tempo atual, mas também simbolizava a possibilidade de um novo começo, uma chance de encontrar alegria e significado no presente e além. Ele olhou para o Fantasma do Presente, pronto para embarcar em uma nova fase de sua jornada natalina.


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