É isso que eu odeio em mim mesma .

Eu nunca sei o que é sonho e o que é realidade . Quando algo em meus devaneios é bom ou agradável , se desejo que seja real , eu acordo . Se eu estou em alguma enrascada muito grande e desejo que seja somente um sonho , nada acontece . Eu não acordo em minha cama fofinha .

Mas por mais que eu saiba disso , nunca se custa tentar .

Que seja um pesadelo , que seja um pesadelo ...

Abro meus olhos . Nada .

O lindo parque que eu ia quando criança continuava escuro . E aquela figura de capa negra ainda estava de costas segurando seu instrumento de tortura preferido .

Um pessoa normal sairia correndo , não importava que a saída estivesse fora de seu campo de visão . Só fugiria .

Mas eu não sou normal , como eu já devo ter comentado .

Eu fiz algo que mesmo o maior dos idiotas acharia estúpido : eu pulei .

Não me pergunte por quê fiz isso . Foi ... instintivo .

A sensação de estar no ar foi ótima . Eu não precisava de apoio .Eu era livre .

Sentia-me capaz de comandar um exército . De ser um exército . Eu me sentia como se fosse mais forte que um milhão de homens armados com fuzis e metralhadoras .

Eu sentia que se quisesse locomover um avião eu faria . De ser melhor que um avião . De ser mais rápida que tudo . Menos de Peter . Ele era rápido demais .

Sabia que se quisesse fugir eu poderia . Sabia que se quisesse lutar eu poderia . Sabia que se quisesse sobreviver eu poderia . Não morrer . Mesmo estando no território do inimigo , em seu poço de escuridão , eu podia vencê-lo .

Achar e saber . Duas coisas tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes . De qual eu estava falando ?

Eu ainda estava no ar . Havia a muito fechado meus olhos . Não sabia por quê ainda não tinham me atacado .

Eu senti . Senti quando a escuridão de minhas pálpebras ficou ainda mais profunda . Eu estava no escuro . Nas sombras .

Mas não veio . Não veio a imagem do menino decapitado . De alguma maneira alguém estava me protegendo .

Tomei coragem e abri os olhos . Fiquei surpresa com o que vi . No momento em que minhas pálpebras se separaram , um luz havia aparecido .

A luz vinha de mim . De mim !

A Morte havia se virado . Mas eu não via satisfação em seus olhos . Havia raiva , decepção e principalmente : temor . A Morte estava com medo de mim !

Eu não sou tão poderosa . Sou ?

Eu estava no único lugar iluminado de todo o parque . Não conseguia ver nada que não estivesse no circulo daquela iluminação estranha . Era uma sensação estranha . Não ver nada . Quase nada , digo .

Como eu havia visto os olhos da Morte ? Movi meus olhos até onde ela estava . Um luz irradiava dela também . Mas não era dessa brancura espetacular como a minha . Um luz negra , quase sutil , mas que destacava-a .

Aquilo tinha que ser um sonho ! Seres humanos não brilham !

Então o que eu sou ? Um ET ?

Talvez ...

E ocorreu .

Minha luz se expandiu . Muito mais rápido do que as sombras dos Medos . Em questão de apenas um segundo , todo o parque estava iluminado novamente .

- NÃO ! –ouvi da voz rouca daquela assassina –VOCÊ IRÁ PAGAR DELE ! E VAI SER COMO ANTES ! VOCÊ LEMBRA ?

Ela sumiu . Como assim vai ser como antes ?

Meus olhos percorreram todo o perímetro do parque , procurando meu salvador . Mas não havia ninguém olhando para mim . Todos continuavam suas atividades como se nada tivesse acontecido .

Então entendi . Mas parecia impossível . Não era Peter que estava lá , com um sorriso meio arrogante por ter me salvado outra vez . Não .

Não havia ninguém .

Eu havia me defendido . Eu era poderosa .

Apesar de ninguém visível parecer notar , eu ainda flutuava .

Ainda mais alto que antes .