Para que viver ?

Sim , meus pais são um motivo . Mas ... depois de algum pranto ou dor , talvez eles não sofressem mais .

Minhas amigas , depois de algum luto , também poderiam retomar suas vidas .

E Peter ?

“ Nem ouse pensar nisso .”

DE QUE DISTÂNCIA VOCÊ PODE ESCUTAR A MINHA CABEÇA ?

“ Alguma.”

Respire , expire ... Não pode ficar pior .

“Na verdade ... pode sim . “

Ignore .

Continuando ... E Peter ?

Ele sofreria e depois retomaria sua vida normal ? Ele sequer ficaria de luto ? Ele sequer teria dor?

Por que estou me importando com ele mesmo ... ?

“ Porque eu sou perfeito e você me ama .

Eu ri . Amá-lo ?Somente se eu fosse louca . E quem falou em perfeição ?

“ Digamos que quando você chega perto de mim eu vejo como sou bonito . “

Meu Deus ,  que ego .

“Estou brincando !”

Sei .

Aliás , onde ele está para conseguir ouvir meus pensamentos ?

- Embaixo da sua cama ,se quer saber .

Pulei .

- O que ... – tentei . – Como ...  Onde ... Por que...

Eu não conseguia nem formar frases completas .

- Você estava distraída ... – ele disse calmo . Resolvi olhar para baixo . E lá estava , a uma distância de cinco centímetros do meu pé , a cabeça de Peter Fintynni .

Uma  pancada leve não iria doer muito ...

- Nem ouse . – ele disse , e pegou meu tornozelo.Antes que eu sequer piscasse eu estava no chão , com ele sentado em minhas costas .

- Sai de cima de mim ! – Reclamei . Era desconfortável demais .

- Não estou com vontade . – ele falou fazendo só Deus sabe o que no meu cabelo .

- Eu não estou passando cola no seu cabelo! – disse-me . Eu podia sentir o sorriso em sua voz .

- Aquarela ou chiclete ? – tentei .

Ele riu . Tentei notar algo diferente em meu cabelo , mas não sentia nada .

- Meu sangue já está ficando fora de circulação ... – brinquei .

Ele soltou uma última risada pelo nariz e disse :

- Você vai sobreviver .

E não era sobre isso que eu estava pensando antes ?

Continuando ...

- Não ! Você . Não . Vai . Continuar . – ralhou . A  voz dele estava tão firme que pensei como ela as vezes podia se tornar doce . Parecia impossível .

E o que eu poderia fazer ali, deitada obrigatoriamente no chão do meu quarto ?

- Muitas coisas ... – ele falou . Senti ele se abaixar até minha orelha .

Quando ele encostava em pedaços não cobertos por pano , meu sangue parecia queimar nas veias .

-Você não tem nenhuma idéia ? – ele sussurrou , seu hálito fazendo o trabalho de me arrepiar .

Me lembrei que eu tinha pensado algo sobre lua de mel .

Em um instante , e não me pergunte como fiz isso , eu já estava de pé novamente .

- Não era isso ... – ele riu . Não era ? Mas parecia .

- Saia daqui ... – disse com a voz tremida .

- Tudo bem ...  – ele ainda estava rindo.

Depois que vi ele sair pela porta , tranquei-a e as janelas .

Vejamos , no que eu estava pensando ?

Ah sim .

Que mal faria morrer ... ?