O Lenda do Barão Negro escrita por Ilyric


Capítulo 2
Um Deus extremamente Travesso




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As faíscas dançam em uma valsa hipnotizante. As chamas crescem e tomam forma, rindo e zombando da cara do incinerado. A madeira é engolida em prantos, com o silêncio mais barulhento que já vi na minha vida, chega a ser diabólico de tanta crueldade. Na minha frente, um corpo totalmente preto, que foi da carne ao pó em um passe de mágica.

Todos aqueles sorrisos aos domingos à tarde. A felicidade mais pura e genuína que eu já conheci em vida, a tal família. Tudo isso foi consumido pelo fogo, apagando qualquer manifestação de paz e carinho presente naquela casa. Minha mãe, que tinha um lindo rosto com cabelos longos, e meu pai, com seu cabelo cacheado e cheio, eles cobravam muito de mim, mas nunca deixaram de cumprir o seu papel de protetor e provedor, cumprindo a sua promessa de nunca faltar amor em casa. 

Minha irmãzinha, pequena e coitada criança dos cabelinhos ondulados, cheia de futuro e sonhos. Tudo isso, junto da casa, minhas memórias e seus momentos, tudo não passa de um grande borrão cinza, uma cinza que um dia já foi um arco-íris colorido.

Eu fracassei em proteger vocês.

 

Eu falhei.

 

Sinto meu rosto quente. O sol invade a minha pele sem pedir permissão, afinal não precisa, é ele o dono desse lindo dia ensolarado. A brisa é leve, balançando as árvores e levando as folhas em seus locais aleatórios de pouso.

Levanto ainda atordoado com toda a situação e abro meus olhos após aquele sonho estranho. Será que foi realmente um sonho? Isso não importa agora. Recobro os meus sentidos aos poucos e dou uma olhada ao meu redor. Ao observar bem, vejo uma cidade pequena, com várias casas e alguns mini prédios ao horizonte.

O clima é gostoso, a brisa é fresca e as casas são muito lindas, típica cidade do interior. Ao longe avisto uma feira, com várias pessoas comprando legumes e um movimento até que bem constante.

 

O que está acontecendo? Que lugar é esse? Porque eu estou aqui? Eu não deveria estar em casa jogando?

 

Perguntas inundam a minha mente, mas antes que eu consiga  achar uma resposta, um arrepio percorreu minha espinha até sua chegada na nuca. Uma presença onipotente, divina e de uma certa forma assustadora. Beira o inacreditável de tão magnífica.

Uma sombra de um ser humano totalmente branca desce dos céus, levitando com a leveza de uma pena. Sua presença é abaladora para mim, mas as outras pessoas ao redor parecem não conseguir ver o mesmo que eu. Enfim ele pousa na minha frente, e decide soltar a sua voz grossa e aveludada.

 

— Bom dia Marcos, como foi a viagem?

— Quem é você? E o que é esse mundo? — Disse assustado

— Respondendo uma pergunta com outra pergunta — Disse de forma brincalhona — Cadê a diversão nisso?

 

Sua voz me enfeitiça, mas apesar desse mundo ser agradável, eu preciso voltar para a minha realidade.

 

— Vou repetir mais uma vez — Disse me erguendo perante o espectro soberano — Quem é você e que lugar é esse?

— Esse é o mundo Pokémon! O mesmo que você sempre jogou por tanto tempo.

— Ah, ótimo! Acho que aquele café não bateu bem, em breve eu acordo desse sonho.

— Então você não acredita em mim? — Disse fazendo expressão de beicinho - Perfeito, olhe ao seu redor e comprove por si só.

 

Agora que ele falou isso, figuras que até então estavam bloqueadas da minha mente por causa da confusão inicial finalmente começaram a aparecer. Olhando na árvore, avistei um ninho de Pidgeys aninhando seus ovos, e um pouco mais adiante, duas crianças brincando com seus Nidorans macho e fêmea.

Isso não pode ser real. Tento me beliscar, dar um tapa, mas nada me faz acordar, até que algo inesperado acontece. Um Pikachu que estava vagando pelo gramado parou na minha frente. Ele é real, o Pikachu dos desenhos realmente está na minha frente.

Faço um carinho e suas bochechas e ele retribui. Continuamos assim até que a sua dona solta um assobio do fundo, chamando o Pikachu para voltar para casa. Todas as pessoas ao meu redor estão interagindo com os monstrinhos que marcaram a minha infância.

O seu toque é real, o seu pelo é real, seus grunhidos, bochechas, expressões e tudo que envolve esses bichinhos que até então eram quadriculados, todos eles eram 100% reais, ou essa é a brisa mais doida que eu já tive.

 

— Beleza senhor Deus — Digo me virando para ele — Eu achei mágico o que você fez aqui, e muito obrigado por essa experiência incrível, mas já está na hora de voltar para casa.

— Agora que a diversão finalmente está começando - Diz ele pensativo - A resposta é não.

— Como assim? Você vai me levar de volta né?

— Mas não era você a pessoa que queria sair de vez do seu mundo? - Disse em um tom irônico, ocasionando em mais um arrepio pelo meu corpo.

 

Ele não mentiu. Minha vida não estava tomando um rumo muito bom, a faculdade e o trabalho estavam ocupando totalmente o meu tempo, fora que a solidão e o aperto financeiro são dois males que eu gostaria de extinguir da face da terra.

 

— Você está certo, realmente a minha vida era uma droga, mas isso não quer dizer nada. Eu não vou desistir só por causa de uma fase ruim, ou você acha que eu sou tão fraco assim? — Disse devolvendo a ironia — Eu realmente fiquei feliz com o encontro com os pokémons e toda essa magia, mas já chega, quero voltar para o meu apartamento.

— Acho que você entendeu as coisas errado, Marcos. — Disse com um olhar diabólico — Você não tem escolha nenhuma aqui, a partir do momento que você comprou aquele console, você já estava fadado a ficar preso nesse mundo.

— Eu posso ser solitário, mas ainda sim tenho amigos muito importantes que se preocupam comigo escutou? Qual é o joguinho dessa vez?

— Aaaah, um jogo? Vejamos bem…. Ah.

— O que você propõe?

— Vamos fazer o seguinte, se você vencer a copa do mundo de Pokémon, eu deixo você sair desse mundo, e ainda te dou uma bela compensação econômica na vida real.

— Estamos falando de quanto exatamente?

— Milhões Marcos, milhões…

— Você é só um empresário vagabundo que não tem nada melhor para se ocupar, não é?

— E você é muito esperto para estar nessa situação, não acha? Encare isso como um jogo, se você vencer, você ganha a sua liberdade e dinheiro, não deve ser muito difícil para um hábil jogador de pokémon como você, estou errado?.

 

Mais uma vez preciso concordar com ele. Zerei todos os jogos da franquia e assisti a maioria dos episódios dos animes, eu era muito viciado na adolescência. Conheço todos os golpes, tipagens, treinamentos e etc. Não acho que vá ser tão difícil assim, afinal, são todos Npcs.

 

— Eu concordo então, já que não tenho escolha.

— Ótimo! Perfeito! Maravilhoso — Disse extremamente empolgado — Mas calma, possui algumas regras antes, para você já estar ciente e não dizer que eu não avisei:

 

1° Regra: Tudo isso aqui é real. Seu corpo é real, as pessoas a sua volta são reais e os Pokémons também. Não estamos em nenhum videogame, isso aqui é um universo alternativo, um mundo paralelo. A tecnologia para que isso aconteça permanecerá em segredo.

 

2° Regra: Se você morrer aqui, também vai morrer no mundo real.

 

3° Regra: Seus Pokémons podem morrer e todos a sua volta também. Ninguém aqui é um código programado, são almas revestidas de carne e osso.

 

4° Regra: Você está na cidade de Pallet, onde tudo começa e onde vários treinadores iniciantes começam a sua jornada, 97% deles desistem, mas você não é uma delas. Não existe botão de save ou de deslogar, se você está de saco cheio de tudo isso, sinta-se a vontade de tirar a sua própria vida;

 

5° Regra: Você começará com 3 poções, 5 pokébolas comuns e 1 pokémon inicial dos 3 disponíveis a sua escolha.

 

6° Regra: Você só sairá desse mundo após ser campeão mundial, sem nenhum termo ou interpretação a mais nessa fala.

 

7° Regra: Se você preferir, pode simplesmente viver o resto da sua vida neste mundo sem problema algum, apenas esperando pela sua morte.

 

— Concorda com esses termos? Spoiler aqui, você não tem essa autonomia — Disse soltando uma longa risada.

 

É um turbilhão de informações em pouquíssimo tempo, mas não sou uma pessoa tão lerda assim, peguei tudo o que está acontecendo aqui bem rápido e entendi a situação. 

Em resumo, sou apenas mais um ser humano nesse novo universo do mundo pokémon, e para sair daqui, eu preciso me tornar o maior campeão de todos. Não vai ser fácil, mas com o meu conhecimento eu posso ter mais facilidade no início. Isso não deve ser tão difícil quanto apertar botões em um GameBoy.

 

— Concordo senhor Deus.

— Excelente! Agora vamos a escolha do inicial, qual você prefere? Squirtle? Charmander? Bulbasaur? Vamos! Escolha com sabedoria.

 

Se eu quiser aumentar as minhas chances de sobrevivência nesse mundo, preciso pensar racionalmente. Nos jogos Fire Red que eu já zerei, criei 3 saves onde eu peguei cada um dos 3 iniciais. Cada um tem a sua especificação, mas como o foco aqui é terminar essa região o mais rápido possível e voltar para casa, preciso escolher um pokémon que torne a minha evolução fácil e rápida. Um pokémon que possa me auxiliar bem até eu pegar o jeito desse mundo totalmente a par do que eu estou acostumado.

 

Tomei a minha decisão

 

— E então jovem? Qual vai ser? — Disse após eu dar um passo à frente.

— Vou querer o Bulbasaur, do tipo grama e veneno.

— Seu desejo é uma ordem! — Em um estalar de dedos, tudo fica branco — Diga olá para o seu novo companheiro, e adeus para o seu ser divino.

 

Que cara maluco das ideias.

 

Após o grande clarão se apagar, percebo que caio no sono mais uma vez. O céu já está escuro, e a grande lua dourada reina no ponto mais alto das nuvens. Ao esfregar os olhos e recobrar os sentidos, vejo um pequeno bulbo de planta verde na minha frente, olhando com uma cara de muita desconfiança.

 

— Bulba?

 


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