The One That Got Away escrita por Polaris


Capítulo 7
Vintage


Notas iniciais do capítulo

É sempre uma doce sensação postar um capítulo novo. Especialmente hoje, véspera do lançamento de um álbum da Taylor Swift. Talvez você esteja se perguntando o que isso tem a ver com a fic? Bom, de fato não tem, mas um fato sobre mim é que preciso de música para escrever e, as músicas da Taylor sempre me inspiram (quem já leu outras histórias minhas, pode comprovar kkk).
Enfim, apenas um desabafo de escritora torturada.
Boa leitura!



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Capítulo 06- Vintage

11 de janeiro de 1943

Quando disse à Barbara que poderia usar a sala dos soldados para treinar, nunca imaginei que levaria aquilo tão a sério. Em menos de dois meses, ela já conseguia facilmente derrubar homens com pelo menos três vezes seu tamanho e peso (obviamente, não estou incluído nesse meio) o que de certa forma, me deixava orgulhoso. Havia muita satisfação em vê-la tirando o sorriso pretencioso dos babacas que a subestimavam com as próprias mãos. 

  ✧♡✧

— OBRIGADO PELO TREINO, JANE — DISSE DORINA, ao sair do tatame, com uma toalha pequena sobre os ombros— nos vemos de novo sexta-feira?

Jane, que tirava as bandagens de suas mãos enquanto observava as outras mulheres deixando a sala, concordou com um aceno.

— Claro— disse— mesmo horário de sempre: sete horas da noite.

— Vou anotar na minha agenda — Dorina respondeu, animada. Então pegou o celular na bolsa e começou a teclar enfurecidamente e quando percebeu que Jane a encarava, emendou:— sou um pouco esquecida, sabe?

Jane concordou com um aceno, contrariada. Ela nunca entenderia o que aquele aparelho tinha de tão especial. Claro, a praticidade, comunicação e principalmente o acesso fácil à internet eram um grande ponto a favor, mas a maioria das pessoas com quem tinha contato — exceto por Anton talvez— passava boa parte do tempo vidrado naquela coisa e usava de formas que jamais entenderia. Dorina, assim como grande parte dos frequentadores da academia, por exemplo, tiravam fotos na frente dos espelhos, em poses estranhas e postavam em suas redes sociais praticamente todos os dias, e Jane não fazia a menor ideia do objetivo daquilo.

 — Não se atrase — Jane advertiu, esticando os lábios.

Dorina então tirou uma foto, como sempre fazia. E outra. Depois outra. Jane levantou uma sobrancelha. Também não era como se importasse ao ponto de perguntar a jovem, por isso se limitou a — tentar— ignorar.

— Sim senhora — Dorina prometeu, lançando uma piscadela antes de deixar a sala, ainda tirando fotos.

Sozinha, Jane começou a ajeitar os sacos de areia no fundo da sala e a organizar as luvas de boxe de volta na despensa, pensando em como seriam os próximos treinos. Precisaria repassar alguns golpes básicos com aquelas mulheres antes de avançar. Além disso, o talco para as luvas estava acabando e estava na hora de trocar as bandagens que normalmente usava para proteger as mãos. Talvez fosse melhor fazer uma lista para Anton, refletiu.  

Fazia cerca de seis meses desde que começara com aqueles treinos coletivos. Ela nem considerava aquilo como aulas, afinal, tudo o que fazia era lutar junto com algumas mulheres — também não era nenhuma educadora física ou profissional especializada, de qualquer forma. No começo, Jane apenas deixou uma ou duas mulheres se juntarem a ela enquanto usava os sacos de pancadas em sua sala, corrigindo-as de vez em quando. Só que em pouco tempo — por motivos que jamais conseguiria compreender — sua fama acabou se espalhando pelo bairro e cada vez mais começaram a aparecer, pedindo para treinar também. Quando se deu conta, já eram mais de oito mulheres treinando juntas três vezes por semana, mas ela até que gostava. Era muito boa naquilo e as mulheres da academia pareciam gostar dela. Além disso, era bom se sentir útil, para variar um pouco — ao menos era o que ela acreditava.  

Quando estava satisfeita com a organização, ela deixou a sala e seguiu em direção ao computador da recepção, que ficava no mesmo salão que a maior parte dos aparelhos. O fim do expediente, depois das aulas, costumava ser tranquilo e como Anton passava o resto das noites fora — algo sobre jogos de xadrez na praça — e Jane geralmente ficava encarregada de fechar a academia. Uma tarefa entediante, considerando que dificilmente alguém aparecia naquele horário.

Ela então se virou para a vitrine, onde praticamente ninguém passava — aquele era um bairro residencial, onde a vida noturna simplesmente não existia — e depois para os equipamentos vazios, que pareciam mais velhos do que ela — assim como a televisão de tubo que, incrivelmente, era colorida —mas que de algum jeito transmitiam um ar de conforto. Sim, os móveis e aparelhos eram visivelmente velhos e o prédio com certeza era do século dezenove, no mínimo, e mesmo assim não parecia ultrapassado. Se pudesse descrever em uma palavra, ela diria que era... qual a palavra mesmo? Ah sim. Vintage. Um jeito diferente de dizer que algo, apesar de velho, ainda era legal.

— Vintage — ela murmurou — que palavra engraçada.

O que mais seria vintage? Pensou em todas as coisas velhas, mas que ainda assim pareciam interessantes em sua concepção. Vitrolas com discos de vinil — principalmente quando tocavam jazz e blues —; máquinas de escrever — o barulho daquelas teclas era terapêutico, embora não se lembrasse da última vez que vira uma—; saias de pregas invertidas; e por que não o Capitão América? Refletiu com humor, olhando para a televisão, que coincidentemente mostrava uma matéria sobre ele.

 Será que um ser humano poderia ser considerado como algo vintage? Se bem que aquele homem era tremenda exceção, afinal, quantas pessoas conseguem viver por quase cem anos, sem envelhecer nada? Jane com certeza não conseguiria pensar em mais ninguém.

Ela então olhou para o monitor do computador, que mostrava uma imagem de Bucareste, com alguns ícones espalhados, refletindo se deveria abrir o navegador ou se ao menos valia a pena pesquisar sobre isso na internet, mas tudo o que conseguiu encontrar em sites de notícias eram mais manchetes sobre os Vingadores. Jane olhou para a foto que estampava a matéria com aquelas seis pessoas extraordinárias, uma delas em especial, com pesar. Não tinha tido muito progresso em sua busca sobre Tony Stark também.

Sendo completamente honesta, não estava se dedicando tanto a pesquisa quanto gostaria. Em sua defesa, tudo que encontrara desde a última vez parecia redundante ou repetitivo — como as fofocas sobre sua reputação duvidosa e os problemas com bebidas —, o que a deixava frustrada. Sua última grande descoberta foi um lugar chamado torre Stark, em Nova Iorque — que aparentemente havia sido destruído depois de um incidente envolvendo alienígenas (longa história) — e que sua localização atual, depois de um ataque envolvendo uma de suas mansões (outra história longa), era desconhecida. Mas também não era como se pudesse simplesmente largar tudo e cruzar o oceano, já que a probabilidade de conseguir ir até qualquer um desses lugares era tão baixa (senão mais) quanto encontrá-lo pessoalmente.

Que besteira, pensou ela, com a sobrancelha franzida. Estava mesmo cogitando a possibilidade de encontrar com uma pessoa que era basicamente uma celebridade? Era mais provável que a memória que teve viesse de algum noticiário antigo ou algo do tipo. Na melhor das hipóteses, Jane poderia ter trabalhado próxima a ele, de alguma maneira. Mesmo assim, nunca conseguiria confirmar sua teoria.

Ela suspirou.

— Qual é o meu problema, afinal? — ciciou para o vento.

            — Está perguntando para mim?

            Jane soltou um grito.

            — Mas que... —disse ela, com uma mão no peito — há quanto tempo você está aqui, Bucky?

            Bucky, por outro lado, não disse nada, mas sua expressão era tão arrogante que fez com Jane se questionasse há quanto tempo ele estava ali, esperando ser notado. O estranho era que sequer ouvira a porta abrindo.

— Acabei de chegar — disse ele em um tom que ela achou difícil de acreditar — então quer saber qual o seu problema? Além, é claro, do fato de estar sozinha aqui no meio da noite, distraída ao ponto de deixar qualquer um entrar?

Ela revirou os olhos. De novo aquela história?

— Pelo amor de deus, não tem absolutamente nada aqui que valha a pena ser roubado — respondeu, apontando para os aparelhos velhos pregados no chão, tentando comprovar seu argumento. — E eu posso me defender se precisar, sabia?

            Francamente, quão indefesa ele achava que ela era? Tudo bem que a primeira — e segunda — impressão que teve dela não foram das melhores, mas era irritante ser tratada como se pudesse partir a qualquer instante.

 — Claro que pode — Bucky respondeu, complacente.

Ela ignorou seu comentário. Achou melhor assim.

— Enfim — ciciou Jane — vejo que mudou de ideia.

            Sentiu a postura dele tensionando, como se finalmente lembrasse a razão de estar ali ou, quem sabe, tivesse lembrado da razão de ter fugido da última vez — ela—. Fosse como fosse, ele ainda estava ali e ela percebeu que uma parte de si gostava daquilo. Talvez não a achasse tão estranha, no fim das contas.

            Ou não. Bucky parecia bastante desconfortável.

— O que aconteceu? — Jane continuou, quando o silêncio preenchia o ambiente a tempo demais para um ser humano comum suportar — finalmente descobriu que não existem muitas academias pelo bairro?

Na verdade, aquela era a única.

Provavelmente era por isso que Anton não se preocupava em atualizar o equipamento ou fazer uma reforma significativa, Jane acreditava. Bucky concordou com um aceno contrariado e correu os olhos pelo salão, como se estivesse analisando o local. Ela o encarava com expectativa, esperando algum tipo de reação, mas era quase impossível especular o que passava pela cabeça dele com aquela expressão fechada estampada em seu rosto. Ele gostou? Odiou? Achou muito ultrapassada? Não saberia dizer. 

— Quer experimentar? — arriscou perguntar.

— O quê?

— Os aparelhos — Jane explicou — quer experimentar os aparelhos?

— Eu posso?

Ela sorriu.

— Não é como se estivessem ocupados no momento. Me segue.

Jane então deu a volta pelo balcão e saiu em direção ao salão, seguida por Bucky em seu encalço. Três passos de distância, sendo mais específica. Longe o suficiente para que não fosse tão estranho e não tão perto para não soar invasiva. Mas também não era como se o lugar fosse muito grande, ainda que enquanto caminhava com barulho do assoalho rangendo sob seus pés, sentia como se estivesse atravessando a cidade. Ele a deixava assim, percebeu. Inquieta. Estava de costas, mas sentia o olhar dele queimando em seu pescoço.

— Desse lado temos os equipamentos para treinar braços e alguns pesos — ela pigarreou, apontando para a esquerda — deck peck, pulley, extensores e é ali onde geralmente fica a mesa do supino. Do outro lado, ficam os de perna como o leg press, cadeiras, mesas extensoras e, claro, as esteiras. 

— E aquela sala? — Bucky perguntou, o que Jane levou como um grande avanço. Ele estava interessado, pelo menos.

— Ali ficam os equipamentos de boxe e o tatame que usamos para treinar.   

 Ela abriu a porta, repentinamente empolgada. Aquela sem dúvidas era sua parte favorita da academia. Era ali que se refugiava quando precisava pensar. Onde descontava suas frustações e, principalmente, onde ficava quando sentia que precisa de espaço.

Quando chegou em Bucareste, três anos antes, aquela sala estava completamente abandonada e cheia de teias de aranha que parecia não ter nenhuma utilidade — Anton dizia que ninguém a usava, portanto não valia a pena gastar energia para mantê-la— então Jane viu aqueles sacos velhos da coleção dele e sentiu uma vontade incontrolável de socá-los. Estava sozinha, sem memórias, sem dinheiro e sem um lugar para ficar, ela não era ninguém. Mas por alguma razão, lutar a fazia se sentir um pouco melhor. E seu corpo parecia saber exatamente o que fazer, como se movimentar e o que precisava para tornar a sala funcional. Por isso, em poucos meses, aquela sala velha e empoeirada foi ganhando forma até chegar ao que era agora, o que a deixava bastante orgulhosa.

Bucky parecia ter notado também, porque ele olhava para a sala com uma expressão estranha, mas Jane poderia jurar que havia certo encanto escondido em suas irises azuis — ou poderia ser apenas uma impressão tola de sua parte. Ele mirou nos sacos pendurados no teto e depois nas prateleiras de madeira onde Jane guardava as luvas minuciosamente, como se houvesse algo de fascinante naquele caos organizado.

— Confesso que é meu lugar favorito da academia — ela comentou — e não digo isso porque fui eu mesma quem decorou. Ok, talvez um pouquinho.

Ele se virou.

— Você fez isso?

— Mais ou menos. Os sacos e as luvas já estavam por aí, mas no resto precisei dar um jeito. Estava caindo aos pedaços.

Jane encostou na parede de tijolos gastos, acendendo o segundo interruptor e mais duas lâmpadas amareladas clarearam o ambiente. Bucky tocou no saco de couro que ficava bem no meio sala — agora com um pequeno remendo improvisado por ela, depois do rasgo feito a poucos dias — e ficou ali por um tempo.  Não entendeu muito bem o que ele estava fazendo, mas por alguma razão achou que não deveria se intrometer.  

— Jane — ele murmurou depois de um tempo em silêncio. Sua voz estava rouca.

— Sim?

— Aquela oferta ainda está de pé? Posso mesmo treinar aqui?

Ela sentiu o coração falhar uma batida.

— Claro.

            — Mas antes — Bucky continuou — você acharia estranho se eu fizesse um pedido?

            Jane inclinou a cabeça.

— Que tipo de pedido?

            Bucky mordeu o lábio inferior de um jeito hesitante, que quase a fez repensar a proposta. Em que diabos aquele homem estava pensando?

            — Sei que é abusar muito da sua boa-vontade, mas será que posso usar a sala sozinho? Nesse horário mesmo, se possível.

            Ela piscou algumas vezes. Ainda não tinha entendido bem onde ele queria chegar com aquilo.  

            — Sozinho? Por quê?

            — É complicado.

            Jane suspirou. Tudo sobre ele, aparentemente, era complicado. Talvez Bucky estivesse certo quando disse que não deveria se envolver com ele. Mas por algum motivo, quando seus olhos azuis, quase suplicantes, se encontraram com os dela, ela se viu tentada a ajudá-lo, ainda que ele não parecesse disposto explicar seus motivos e que o bom senso gritasse que aquilo era péssima ideia.

—E quando você pretende começar? — disse ela, mais empolgada que o necessário (e prudente).      

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