Ponto Final escrita por Honeyzinho


Capítulo 1
Ponto Final


Notas iniciais do capítulo

oiê, gente! escrevi esse conto há bastante tempo, mas só agora estou postando aqui no nyah.

me inspirei na música
https://www.youtube.com/watch?v=1ric3yCCe6c&ab_channel=Talosespero que gostem!



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OUÇA AQUI ♫

        You ignored all the darkest of warnings
        Found our end in the silence of morning
        It fell beneath the cold

        I'll take the desert, you take the coast
        But to each his own

 

Aquele deveria ser só mais um domingo como qualquer outro, mas as coisas ficaram diferentes quando recebi sua mensagem já no fim da tarde.

Fazia tanto tempo desde que havíamos nos falado pela última vez... e embora eu ainda visse suas atualizações no Instagram, não pensei que algumas poucas palavras pudessem mexer comigo daquela maneira.

Fiquei ansiosa, admito. Mas não de um jeito exatamente eufórico e feliz.

Olhei para as paredes do meu apartamento em busca de um norte, de uma resposta, mas tudo o que encontrei foram motivos para sair dali.

Peguei meu casaco, bolsa e calcei sapatos confortáveis. Decidi ir andando até minha cafeteria favorita. Seriam quase 15 minutos a pé até poder apreciar meu tão amado cappuccino tradicional, coberto pelo melhor chantili que já havia experimentado na vida.

Sei que muita gente tem medo da própria companhia, mas eu não. Desde muito cedo aprendi que eu sou, sempre fui e sempre serei meu próprio lar.

Me levar pra sair, no entanto, foi um hábito que adotei depois de grande.

Por conta dele, inclusive.

Eu me apeguei. Por anos. Desde que estávamos no colégio, comecei a colecionar memórias, sentimentos e ilusões. A gente que é meio melodramático tem a péssima mania de idealizar tudo, e de se apaixonar por aquilo o que criamos.

Mas como o mundo dá voltas, cedo ou tarde você vê a realidade e percebe que precisa andar pra frente.

Que frio— pensei alto enquanto me arrependia por não ter escolhido um casaco mais grosso.

O inverno havia começado há pouco tempo, e justamente naquele dia só serviu como mais uma lembrança do meu romance caótico.

Tentei conter um riso cínico, mas acabou escapando quando me dei conta de que, ironicamente, fora também num domingo de inverno que tudo, absolutamente tudo, mudou entre nós.

Por que aquele infeliz estava me mandando mensagem? Era isso o que eu me questionava incessantemente, tentando focar na vida que acontecia ao meu redor ao invés de me preocupar com alguém que nunca, jamais, me valorizou por igual.

Qual é, só podia ser brincadeira.

Ele sabia o que eu sentia naquela época. Sabia o que representava na minha vida. Sempre soube, porque nunca gostei de deixar ninguém no escuro quando o assunto é relacionamento.

E, poxa, a gente se dava bem de um jeito surreal.

Porém, não sei. Talvez fosse, de fato, só coisa da minha imaginação.

Talvez eu tenha me agarrado demais a essa ideia de energia, almas gêmeas, reencontro cármico, ou qualquer coisa assim. E eu, honestamente, não desejava cometer o mesmo erro de novo - ainda que minha cabeça insistisse em indagar o óbvio.

Peguei o celular da bolsa e, pela milésima vez, abri sua conversa.

 E aí! Tudo bem?
        Tô na sua cidade.

Ele não havia dito muito. Nem me chamado pra sair, na real.

Como sempre, não tinha tomado nenhuma atitude. Era sempre isso. Deixava a isca na esperança de me pescar. E de fato pescou. Sucessivas vezes. Eu seria muito idiota se topasse me encontrar com ele de novo, por mais legal que ele conseguisse ser em nossos encontros.

Por mais que nossa amizade nunca tivesse se rompido oficialmente.

Até porque ninguém nunca fez questão de romper nada. Menos ainda de começar.

Faltava pouco para chegar ao meu destino. A brisa estava cada vez mais cortante, então acelerei os passos. O pouco esforço que fiz foi suficiente para afastar aqueles pensamentos por alguns minutos.

Carros. Buzinas. Pessoas.

Luzes.

Morar na cidade grande não é fácil, mas me mantinha acesa por muito mais tempo do que quando eu ainda estava no interior. E era sempre bom poder levar presentes legais para a família quando decidia passar o fim de semana na casa dos meus pais.

De longe, avistei uma xícara iluminada. Corri mais um pouco, finalmente completando a missão.

Empurrei a grande porta de vidro e o aroma de café me acertou em cheio. Lá dentro estava mais quentinho. Segui até uma mesa no canto, tirando meu casaco e abrindo o cardápio apenas por tradição.

Eu já sabia o que queria.

Acho que, no fundo, todos nós sabemos o que queremos.

Fechei meus olhos por um breve momento, curtindo a melodia que tocava para deixar o ambiente mais aconchegante. Casais e alguns pequenos grupos de amigas conversavam e riam nas mesas ao meu lado. Tentei prestar atenção, mas também tentei organizar as ideias que vagavam pela minha mente.

Tudo tinha corrido muito bem nos dois primeiros dias daquela viagem insana. Até as 23h59 de sábado, nós com certeza teríamos sido o casal do século.

Porém, quando acordei no dia seguinte, preocupada por ter dormido demais e perdido o trem, não encontrei conforto em seu olhar. Nem felicidade por podermos ficar juntos algumas horas a mais. Nem nada próximo disso.

Ele estava distante, preso ao seu celular.

Tinha recebido um convite para uma festinha com seus amigos endinheirados, e como eu só partiria depois do almoço e não tinha onde ficar, acabei indo com ele - quase como uma irmã mais nova e inconveniente.

Outra risada acabou me escapando, mas dessa vez não era cinismo. Eu tinha sido tão boba por tanto tempo e, agora, por conta de algumas palavras certamente digitadas às pressas, lá estava eu surtando em vão, e até quem sabe considerando ser feita de boba mais uma vez.

Minha memória foi reconstruindo tudo pouco a pouco. Era tão nítido. Naquele dia ele não me encarou direito, e suas palavras, cheias de entusiasmo e calor se perderam com o nascer do sol, deixando muito claro que sempre fomos mundos distantes.

Não houve beijo de despedida. Nem abraço. Nem muita consideração para saber se eu tinha chegado bem. Era quase como se aquele fim de semana não tivesse existido.

Mas, para o azar dele, existira sim. E me ensinara muito.

— Olá! Você já quer pedir? - uma das atendentes apareceu de repente, me tirando dos meus devaneios por alguns instantes.

— Ah, sim! Vou querer o número três do cardápio, por favor.

Enquanto a moça anotava meu pedido em seu tablet, catei novamente o celular e abri a conversa sentindo as mãos trêmulas. Respirei fundo antes de digitar e, com a convicção de estar, pela primeira vez, agindo certo com relação ao que tivemos, enviei.

Enviei nosso ponto final.


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Notas finais do capítulo

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