Mestre do Poço dos Desejos escrita por Sorima


Capítulo 8
Bianca


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Senti meu coração na garganta ao mesmo tempo em que soltava um gritinho agudo de susto. Quem era aquele? Minha visão borrada não conseguia distinguir o homem que parecia ter se materializado perto de nós.

— Quem é você? – ouvi Pedro perguntar.

— Eu sou o guardião dessa clareira!

— Guardião? Essa é... era a terra dos meus avós. E agora é minha – ele retrucou indignado e confuso.

Ouvi um suspiro do homem desconhecido. Pisquei os olhos algumas vezes tentando clarear a visão.

— Então eles devem tê-lo avisado que o Poço não pertencia a eles.

— Ãh... o Poço dos Desejos?

Finalmente minha visão tinha voltado e o que vi me deixou um tanto perplexa.

— O Poço dos Desejos devia ser tão grande assim?

Havia um círculo de pedras gigantesco no chão a minha frente e não havia uma profundidade visível dali. Dei um passo adiante tentando ver melhor, porém uma mão me segurou com firmeza pelo ombro, me impedindo de prosseguir.

— Ainda não, filha – falou o homem que tinha se identificado como guardião daquele lugar.

Olhei para ele, o que me deixou ainda mais intrigada com a situação. Por acaso tínhamos viajado no tempo? Se não... alô policial? Temos um caso de quase nudez aqui. 

O homem magro usava apenas uma tanga amarrada por uma corda na cintura, cobrindo os órgãos genitais, fora isso ele usava um colar que parecia ser feito de ossos e um cocar de penas brancas com pontas pretas. Para completar a sua pele parecia bronzeada pelo sol, o que o tinha deixado com uma aparência misteriosa junto a pintura avermelhada que estava em sua face, os olhos escuros e sérios passavam o sentimento de serenidade e algo mais que não consegui descobrir o que era. Só fiquei ali, encarando-o, muda.

— Isso é alguma pegadinha? – Pedro perguntou perplexo encarando o homem de olhos arregalados.

— Eu não gosto de pegadinhas. O assunto aqui é sério – rebateu o homem.

Em meio a toda aquela situação inusitada senti meu estômago roncar. Tantos momentos para sentir fome e justamente nesse momento... Pigarreei, chamando a atenção dos outros dois para mim.

— Olha, independente do que for isso tudo, eu estou com fome. Você pode nos explicar toda essa situação enquanto a gente come, senhor?

Pedro parecia que ia questionar mais alguma coisa, mas a um olhar de alerta meu ele se calou e concordou. O sujeito estranho nos observou enquanto pegávamos a comida e sentávamos no chão para comer e escutá-lo, atentos.

Porém, ficamos apenas encarando-o enquanto ele se sentava e fechava os olhos. Comecei hesitante:

— Se você puder nos explicar o que está acontecendo enquanto a gente come...

O homem sorriu, sem abrir os olhos.

— Concentrem-se na comida que comem, na textura e na sensação que ela lhes passa, no sabor e na saciedade que vai chegar.

Aquela fala me desconcertou, mas apenas fiz o que ele disse depois de outra troca de olhares com Pedro. Comemos dois sanduíches de atum cada, tomamos mais um pouco de água e então guardamos tudo esperando que o homem nos explicasse o que estava acontecendo. Eu estava me sentindo um pouco mais tranquila quando o dito Guardião abriu os olhos e nos encarou com suavidade.

— Agora sim, podemos conversar. Por que vocês vieram ao Poço dos Desejos?

O porquê... Aquela simples pergunta me deixou perdida. Eu parei por um instante tentando me lembrar do motivo que me fez caminhar até ali aquela manhã.

— Eu quero... Conseguir conquistar meu sonho de criança. Quero poder cantar para um monte de gente, ser muito feliz fazendo isso e, claro, ter bastante dinheiro para viver confortável.

Sim, eu adoraria poder esfregar isso na cara de quem dizia que eu não teria futuro naquele ramo, ou que eu me arrependeria de seguir esse caminho.

O Guardião assentiu com a cabeça e então se virou para Pedro:

— E você?

Pedro o encarou de olhos arregalados, por um momento parecendo desesperado. Seu olhar seguiu para todos os lados parecendo procurar a resposta no céu, nas árvores e nas folhas no chão. Ele engoliu em seco antes de se responder de cabeça baixa:

— Eu... não sei o que quero.

O Guardião assentiu novamente como se esperasse aquela resposta.

— Então vou passar algumas tarefas para vocês refletirem sobre o que querem. Você, Bianca – franzi a testa quando ele me chamou pelo nome -, deve montar uma imagem mental exata do que você quer alcançar, os cheiros, cores, sons e sensações, devem estar presentes na sua imagem mental. Já você, Pedro, você deve refletir sobre o que te traria paz e realização, não importando se por algum acaso for algo pequeno, ou algo tão grande que você não consiga se imaginar em um primeiro momento. Descubram o que vocês desejam, vocês estão na fonte dos desejos original, tudo é possível. E lembrem-se: se sentirem medo... não passa de uma ilusão da sua mente, não deveria existir.

Dizendo isso o homem se levantou e seguiu para a borda do poço, sentando-se ali.

— Como ele sabia nossos nomes? – Pedro perguntou a expressão desconfiada.

— Eu não faço ideia – admiti e acrescentei nervosa – mas acho que consigo fazer a tarefa que ele me disse para fazer. E você? Vai ficar bem?

Pedro parecia abalado com a tarefa que lhe fora passada. Ele só deu de ombros e falou distraído:

— Vou andar um pouco para espairecer, logo mais estarei de volta.

Deixou a mochila encostada em uma árvore e seguiu para o meio das árvores, desaparecendo. Eu simplesmente me realoquei para ficar de costas para o tronco de uma árvore e fechei os olhos tentando me acalmar. Eu já tinha tentado visualizar o futuro que queria algumas vezes, mas apenas pequenas partes eram visualizadas a cada vez.

Já era a hora de unir todos aqueles elementos. As luzes, a banda, a multidão, a música, o figurino... Senti a ansiedade me tomando. Eu já tinha ouvido que a ansiedade era uma das facetas do medo. Me lembrei da ponte, do medo que tive ao atravessa-la. E da forma que contornei o medo. Sorri, aquela era a resposta! Eu podia apostar.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo está agendado para dia 01/02/2024.



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