A Química do Amor escrita por MisuhoTita


Capítulo 5
O Despertar de Rafael




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― Como está se sentindo hoje, Peter? – me aproximo de uma maca e pergunto ao menino de cinco anos que está deitado, com um cateter nasal e com um livro aberto e olhando as figuras.

― Tô bem melhor, tia Regininha! – ele me responde, sorrindo.

Me aproximo ainda mais da maca e me sento na beirada, olhando para o garotinho a minha frente.

― Isso é muito bom. – volto a dizer – Agora, será que eu posso escutar os seus pulmões e ver se realmente você está melhor?

Ao invés de me responder, Peter apenas coloca o livro que está vendo de lado. Pego o meu estetoscópio que está pendurado em meu pescoço e o posiciono, me aproximando mais de Peter, começando a escutar os pulmões dele.

Peter tem um sarcoma, por isso, está há vários meses internado e não consegue respirar sem oxigênio. Ele é um de meus pacientes mais queridos e sinto um carinho muito grande por este menino.

Termino a ausculta pulmonar de Peter, retiro e estetoscópio, voltando a pendurá-lo em meu pescoço e sorri para ele.

― Parece que seus pulmões estão um pouco melhores hoje, Peter.

― É mesmo, tia Regininha? – ele me pergunta, animado.

― Sim, meu querido. Se continuarmos com este tratamento, tenho certeza de que em breve você terá alta.

Entrego o livro para Peter e deixo o menino, indo até o postinho da enfermagem e deixando ali o prontuário do menino. Em seguida, sigo para o elevador que, por sorte, está parado em meu andar, e subo mais três andares, até chegar a UTI.

Uma semana se passou desde o acidente de Rafael, e, infelizmente, o meu irmão continua na mesma, em coma, sem qualquer sinal de melhora. Os exames neurológicos detectaram uma lesão medular em nível da coluna torácica, e, tenho medo de qual será a reação de meu irmão a esta notícia quando ele acordar, "se" ele acordar.

Chego ao andar da UTI e sigo diretamente para o quarto em que está o meu irmão, e, sinto uma angústia muito grande em meu coração ao vê-lo ali, naquela maca. Felizmente, ele foi extubado, mas, mesmo assim, continua em coma. Imediatamente meus olhos se enchem de lágrimas, as quais eu deixo que caiam livremente por minha face, um reflexo de toda a dor que eu venho sentindo.

― Ahá, Rafinha...! – suspiro, com meu coração carregado de uma tristeza profunda – Volta pra mim, meu irmão, por favor...!

Com carinho, seguro uma das mãos de meu irmão e fecho os meus olhos, fazendo uma oração silenciosa em meu coração, pedindo a Deus que poupe a vida de meu irmão, que tem uma vida inteira pela frente ainda.

Mais lágrimas começam a inundar a minha face, e, eu ainda estou de olhos fechados e segurando uma das mãos de meu irmão quando sinto um leve movimento, em minhas mãos, um leve aperto.

Imediatamente abro meus olhos e, me surpreendo ao ver Rafinha de olhos abertos, olhando para mim. Sinto meu coração começar a bater em disparada contra o meu peito, tamanha a emoção que toma conta de mim, e, volto a chorar. Mas, desta vez, eu choro de emoção. Emoção por ter meu irmão de volta.

― Rafinha...! – é tudo o que eu consigo exclamar.

Ele não me responde, apenas sorri de forma marota, como ele sempre faz. Imediatamente, toco a campainha, e, logo uma enfermeira vem, peço que ela chame o Doutor Fernandes, avidando que Rafael saiu do coma e pedindo que ele venha examinar o meu irmão, e, ela assim o faz.

Tão logo o doutor Fernandes chega, começa a examinar Rafael, e, eu pego meu celular, desbloqueando a tela e mandando uma mensagem de WhatsApp para meu pai e outra para minha mãe, pedindo para que eles venham imediatamente ao hospital, pois Rafael acordou. Em seguida, volto minha atenção para o Doutor Fernandes que, ainda examinando o meu irmão, não deixa de perguntar:

― Sente dor, Rafael?

― Não, doutor. – Rafinha responde – Só estou meio confuso, minhas lembranças estão meio vagas. Pode me dizer o que exatamente aconteceu e há quanto tempo estou aqui?

― Está aqui há uma semana, Rafael. – responde o Doutor Fernandes – Você sofreu um grave acidente de moto. O rapaz que o atropelou infelizmente não teve a mesma sorte que você.

― Não sinto as minhas pernas. – Rafael fala de repente, chamando a minha atenção.

No mesmo instante, sinto a tensão tomando conta de mim, pois, eu sabia que este momento iria chegar, e, sinceramente, não seu como meu irmão vai reagir a notícia que está prestes a receber.

― Rafinha... – começo a dizer.

― Regininha, eu não nasci ontem. – Rafael me corta – Posso não ser médico como você, mas sei que é uma lesão medular. Doutor, quanto dos meus movimentos eu perdi?

― Você sofreu uma lesão torácica, Rafael. – reponde o Doutor Fernandes – O que significa que, da cintura para baixo, seus movimentos estão perdidos. Mas, para sabermos ao fundo a gravidade da lesão, teremos que fazer alguns exames mais a fundo, só então saberemos a fundo o tamanho de sua lesão.

― Compreendo. – Rafael parece sério.

― Está tudo bem, Rafinha? – pergunto, olhando para meu irmão, e, preocupada com ele.

― Está sim, Regininha. – Rafael me encara, sério – Acho que eu só preciso digerir tudo isso. É muita informação de uma vez só. Mas, não se preocupe, irmãzinha, eu estou bem, e, feliz por estar vivo, o que eu preciso mesmo é digerir esta notícia.

Após dizer estas palavras, Rafael me encara e, sorri para mim, daquele jeito que só ele sabe fazer, com aquela cumplicidade de irmãos que eu e ele sempre tivemos, sorrio para ele com a mesma cumplicidade, querendo deixar bem claro para ele que, para o que ele precisar, que ele pode contar comigo, estarei sempre ao lado dele.

Doutor Fernandes nos deixa a sós e, estou prestes a voltar a falar com meu irmão quando vejo meus pais entrarem na UTI, acompanhados dele. Edan Vasconcellos. É claro que para mim não é surpresa nenhuma vê-lo aqui, pois, ele tem vindo todos os dias ver meu irmão, mas a presença dele me incomoda profundamente.

Principalmente quando ele me encara com aqueles olhos...! Os malditos olhos! Tão lindos e, ao mesmo tempo, tão idênticos aos olhos de outra pessoa...! Mas, agora eu não posso mostrar todo o meu desgosto por ver Edan aqui. Não por ele, é claro, mas, por meu irmão, que precisa de todo o apoio neste momento.

É em Rafael que tenho de pensar agora e, por isso mesmo, me forço a sorrir e, não perco tempo e dizer:

― Olá, Edan! Que bom que você veio, tenho certeza de que sua visita fará muito bem ao Rafinha!


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