A missão escrita por camibsva


Capítulo 9
Um de nós




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As reuniões periódicas da missão na Grifinória nem sempre eram contagiantes. Apenas ouço e fecho os olhos pra sentir o quente da lareira passear em meu corpo, com uma sensação tremendamente diferente da ventania cruel de outono lá fora. Naquela reunião, entretanto, eu sabia que uma carcaça subversiva apodrecia em algum lugar na brisa, e isso foi o suficiente para que meus olhos se mantivessem fixos. Bem no fundo, entre o crepitar da lareira, eu pude ouvir, como se estivesse escorrendo pelas minhas costas, o som do grito no beco.

Então no meio do discurso de Gina Weasley levantei rápido. O rosto pálido, frio, passei por um grupinho de alunos, separando seus corpos com o toque de minhas mãos fantasmagóricas. Ajoelhada na privada, entre lágrimas e estocadas do meu próprio estômago, eu vomitei horror. Um subversivo devorado vivo em plena Hogsmead.

"Força, Helena. Estamos com você".

Senti o toque amigo de Cho no meu ombro, como se fosse um chamado para realidade. A calidez de seu gesto dissolveu os sons de Greyback, e eu olhei para cima oferecendo meu melhor sorriso. A garota tinha um rosto castigado, mas seus olhos transmitiam um tal brilho animador, que eu sem querer o admirei, enquanto fui carregada para fora do banheiro. De repente, estava de volta a minha poltrona negra, tomando água num cálice que Chang me arrumou.

Gina Weasley, claro. Ela estava discursando. Deu notícias de Potter, da ordem da fênix, e sobre os boatos do regime de Voldemort.

"Basicamente, parece que agora os comensais estão desenvolvendo um teste sanguíneo, pra saber qual a porcentagem de não-maji você tem. Com base nisso, você sabe." — Simas Finnigan de repente se achegou, sentando no braço da poltrona. Tentava contrair o tom de descontração, mas seu corpo mentia. Estava rígido. — "Eu não estou nas listas porque sou mestiço, mas com minha porcentagem e a de Dino, nós certamente seríamos..."

Um silêncio pairou entre nós.

"Bom, mas não vai chegar a esse ponto, não é? Gina está crente que Potter vai acabar com isso antes" - Chang arriscou dizer, temerosa.

Suspirei. Em todo aquele tempo não havia me sentido tão esgotada. Meus pensamentos estavam nublados em branco, e este vazio, por incrível que pareça, era mais assustador que o próprio medo. Finnigan então me eletrocutou. Ele sorriu e estalou os dedos para me chamar a atenção.

"Vai dar tudo certo." Comentou, antes de ser interrompido. "Mas que diabos está acontecendo?".

Um burburinho começou na ponta da sala, próximo ao quadro da mulher gorda. Simas e Cho levantaram, surpresos e sacaram a varinha imediatamente.

"Por Merlim, estou proibido de circular pelo sétimo andar?".

Era Blásio Zabini.

Foi arrastado pelo colarinho até o centro da sala e jogado numa poltrona por Dino Thomas. Levantei. Não compreendia. O que o sonserino estava fazendo ali?

"O que diabos você quer espreitando a Grifinória desse jeito?" — Thomas cuspiu. Ele forçava a própria varinha na bochecha de Zabini, esparramado sem defesas em seu assento. Mais perto, Gina Weasley assistia a ação, atento. — Não é possível que você nos subestime assim, Zabini. Acha que não notamos sua movimentação?".

"Certo, mais um justiceiro grifinório...".

"Cala a sua boca!"

A última frase de Thomas foi gutural. Já o sonserino lutava por uma última chance de manter sua dignidade frente aquela situação absurda. 

"Vocês se acham tão discretos a ponto de esconder do verdadeiro poder dessa escola que vocês tem um grupinho?"

"Se você continuar com isso…”.

"Faça o que quiser, Thomas. Vá, vire um torturador, afinal, o que exatamente é revolucionário em vocês? — questionou. A boca borbulhava para cuspir, em borbotões, seu desprezo. — "Eu não sou a droga de um espião. Sou escalado todo dia como vocês!".

Gina Weasley subitamente afastou a pegada de Dino Thomas e permaneceu em silêncio, como um sinal para que o imperador verde prosseguisse. 

"Francamente — ele pareceu entediado. — Eu descobri que não me alinho aos interesses dos comensais da morte, tudo bem? O meu sangue está longe de ser puro. Minha família precisou esconder os não-majis. — Ele pausou, cruzando os braços. — Aliás, se já não sabem da mais nova engenhoca desses psicopatas, fiquem sabendo." — O sonserino se ergueu, encarando o grupo de grifinórios. — "Sabe que se fizerem um teste em mim ou em qualquer um de nós aqui, a metade vai parar na vala. Eu não sou estúpido para cavar a minha própria cova".

"Parece convincente." Gina Weasley sorriu. "Eu posso esperar que alguém como você mude por egoísmo. É deplorável, mas compreensível." Gina levantou uma das sobrancelhas e imediatamente olhou-me nos olhos. Então, era esse o motivo? "Eu sei que foi você a dar a dica para salvar os livros do halloween. A missão agradece".

"O que pensa que tá fazendo, Weasley?"

"Não me questione, Thomas. Zabini tem um ponto. Eu não sei se todos vocês sabem, há dois dias, o que aconteceu em Hogsmead. A missão não esteve lá. A missão não pôde evitar."

"E você espera que estejamos a todo instante prontos para salvar o dia?"

"Não, eu não espero, Thomas. Nosso campo de atuação é limitado, mais resistimos que revidamos, estamos tentando manter a chama acesa aqui enquanto a verdadeira pessoa resolve o problema! Qual é o seu primeiro papel se não dar apoio aos que também estão presos ao regime? E se Zabini realmente não quer mais fazer parte, que seja. A grifinória está aqui para apoiar qualquer subversivo! Ou alguém aqui entendeu errado?".

Silêncio.

Pela primeira vez, depois do horror que assolara nossos olhos, Zabini estava perto de mim. Quando me percebeu, o imperador e eu éramos dor interligada em laços de olhar. Subversivo que fosse. Sonserino que era. Blásio e eu éramos só carcaça, sangrando do mesmo corte. 

"Weasley tem razão".

A minha voz soou, decidida.

"Zabini é um de nós".


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