Não me lembro ao certo a hora em que havia vindo para a casa da minha madrinha, vagamente lembro de Claire ligando para alguém no lugar de simplesmente tocar a campainha. Ouvi o barulho da movimentação no quarto onde eu estava, estava com muita dor de cabeça e o simples andar das pessoas no quarto fazia minha cabeça doer mais. Puxei minha coberta pra cima da minha cabeça.

     - Sai daqui, Claire. – falei em tom normal, o que foi péssimo para a minha dor. A pessoa no meu quarto parou de se movimentar e então ouvi o barulho das persianas abrindo, não era a minha irmã. – madrinha?— perguntei, ainda sem querer abrir meus olhos ou sair debaixo das cobertas.

    - A própria – sua voz demonstra a sua irritação. Percebi que estava no quarto de hóspedes que sempre costumava ficar quando ainda morava nessa cidade, alguém estava tomando banho, devia ser a minha irmã. – Jared me contou que beberam algumas garrafas de vinho ontem, eu te pedi pra não beber. – ela acusa, eu bufo irritada por ele ter me entregado – Nem adianta ficar com raiva dele, eu teria percebido de um jeito ou de outro, o que vou dizer a sua mãe? Ao seu pai?

      Me sento na cama, bocejo.

      - Não se preocupe, não vão ter que dizer nada a eles. A essa altura meu pai já deve estar na empresa, e mamãe tinha uma cirurgia agendada para hoje cedo, deve estar indo nesse momento pro hospital de Seattle. – falo ao verificar a hora no relógio digital próximo ao abajur. – Quando eles voltarem a noite, eu já estarei recuperada. – forço um sorriso para ela, que continuava a me olhar com reprovação.

       - Ok – ela suspira – Vou deixar passar dessa vez.

      Uma coisa sobre Rachel era que sempre conseguia contornar qualquer situação com ela. Minha madrinha não podia ter filhos, eu era a pessoa mais próxima de filha para ela nesse mundo. Me ergui da cama, a abraçando. Ela gemeu como se estivesse com nojo.

       - Você fede a vinho. – ela franziu o nariz. - - Use o banheiro social, sua irmã costuma demorar. – ela indica e eu aceito o conselho.

    Quando terminei de me arrumar fui direito para a sala de jantar, onde nosso café da manhã estava sendo servido, Claire, Jared já estavam comendo.

     - Bom dia a todos – falei sorrindo caminhando em direção a Paul, o marido da minha tia, coloquei meus braços em torno do seu pescoço, beijando sua bochecha. – Saudades de você também. – falei em tom de reprovação por ele ainda não ter ido me ver, ele acaricia a minha mão.

     - Estive muito ocupado gatinha, mas prometo recompensar você com um final de semana em Forks.

    - Se quiser pode estender o convite pro seu sobrinho também. – Jared murmura, comendo um pedaço de croissant.

     - Cuidado Paul, Jared costuma falar mais do que devia. – falei irritada, passando por Jared e o presenteando com um tapa nem tão leve no topo da cabeça.

     - Droga, Renesmee, doeu! – ele alisa o local onde bati, enquanto eu me sento ao seu lado.

     - Lembre-se disso quando for me dedurar novamente para a minha madrinha. – reclamo, Claire e Paul gargalham com a cena. Sue, me serve um pouco de suco de laranja natural, ela sabe como detesto suco de caixinha. – Obrigada Tia. – agradeci, havia adquirido o hábito de chamar ela de tia ainda na infância, mesmo não tendo qualquer vínculo familiar com ela.

      - Como se a minha tia fosse fazer ou falar algo que te prejudicasse. – ele revida

      - Vamos encerrar esse assunto antes que vocês briguem de verdade. – pediu Paul. – O que acha de irmos todos esse final de semana a Forks? Preciso mesmo de uns dias na minha reserva.

     - Eu topo, a última vez que estive em Forks foi quando tinha onze anos. – Claire demonstrou animação.

      Minha família Swan era de Forks, assim como os Black, Lahote e Clearwater. Desses apenas a família Swan não pertencia a tribo quileute. Claro que esses saíram da reserva a muito tempo, nenhum deles havia sido realmente criado na aldeia, mas gostavam de voltar as suas origens. E eu gostava da calmaria e simplicidade do lugar.

        - Vai ser ótimo. Talvez o tio Jacob queria ir também. – eu conhecia bem demais meu amigo para identificar as segundas e terceiras intenções por de trás da sua fala. Procurei o ignorar.

       Na sexta-feira a tarde, eu estacionei na frente da casa do Paul e da minha madrinha. Os Black já estavam prontos para a viagem, toda a família iria dessa vez. Claire desceu do meu carro, indo falar com Hope – que era minha convidada e já havia chegado antes da gente. Eu acenei mas fui conversar com Sam, meu padrinho, queria saber se teríamos que esperar mais pessoas. Se houvessem mais, não teria casas o suficiente na reserva para abrigar a todos por um final de semana inteiro.

      - Hmm... Emily que se cuide, meu padrinho é como vinho, fica melhor com o tempo. As mulheres de Seattle serão suas concorrentes  – não exagerei, a família Black tinha ótimos genes.

      - Falou a garota que arrasou corações em Paris. – eu sorri – Fiquei sabendo sobre um tal de Alec. – sua expressão muda para um olhar mais severo. – Ele não veio até mim antes, tem que passar pela minha avaliação e depois a de Edward.

      - Nem a do meu pai, nem a sua. – respondi, tocando a ponta do nariz dele. – É a minha boca que ele quer beijar.

      - Renesmee! – minha madrinha reclama. Emily me encarando boquiaberta. – Isso é jeito de falar com seu padrinho?

     - Rachel, seu irmão sabia bem que tipo de resposta teria. – respondi fazendo beicinho.

      Sam retirou o braço de cima do ombro de Emily, seu olhar entregava o que ele queria fazer. Eu dei alguns passos para trás, esbarrando em alguém.

      - Não se atreva! – apontei para ele. Ignorando a pessoa em quem tinha esbarrado, olhos fixos nas mãos de Sam.

      - Garota atrevida, merece ser punida.

       Tentei correr mais ele foi mais rápido. Ele era ágil, e sem muito esforço me colocou sobre seus ombros, fazendo com que minha cara ficasse colada nas suas costas, eu dei vários tapinhas nas costas dele, mas só serviu como combustível para que ele acelere o ritmo ao girar comigo naquela posição ridícula. Ele fazia isso desde que eu era criança, no início era fofo e divertido, mas logo ficou constrangedor.

      - Eu odeio você! – esbravejei tonta quando ele me colocou no chão.

     - Eu amo você também. – ele implica, bagunçando meu cabelo. – Só falta o Jacob, e já iremos.

      Jared se sentou no banco do passageiro ao meu lado, Hope e Claire no banco de trás. Eu coloquei música para tocar, ainda estava irritada pelo recente comportamento de Jared, ele nunca havia me entregado para ninguém. E eu não entreguei ele para os pais dele. Ele desligou assim que saímos da cidade.

     - Ainda está com raiva?

    - O que você acha?! – resmunguei

    - Raiva de que? – Hope se inclina para frente, a fim de se integrar na conversa.

     - Jared contou a Rachel que Renesmee e ele beberam algumas garrafas de vinho da adega Black. – Claire encurtou a conversa. Hope olhou indignada para Jared.

     - Linguarudo! – ela exclama, ele vira o rosto, mordendo o lábio inferior.

     - Bem que você gosta da minha língua grande. – eu não consigo conter o riso. Hope bate no ombro dele.

    - Deixa de ser ridículo. – olho para Hope pelo retrovisor.

   - Isso que dar ficar com um amigo. – murmurei. Jared repousa sua mão sobre a minha coxa, apertando. – Tira sua mão daí! – ordenei, irritada novamente.

    - O que foi, Renesmee, Black errado?

         Claire arfou. Hope se sentou direito no banco novamente, eu desviei o olhar para Jared. Depois voltei a olhar para a pista. Liguei a seta do carro, avisando que iria estacionar no acostamento. Assim que parei, o encarei, seu rosto era imparcial. Ele até podia estar com ciúmes, ele até podia estar com raiva por ter entendido mal a minha confusão com os quartos, eu sabia bem das brigas recorrentes que ele tinha com o tio, mas ele não tinha o direito de falar dessa forma comigo.

      - Sai do meu carro! – gritei.

      - Renesmee. – Claire falou baixinho, um pedido para que eu me acalmasse.

     - Sai já do meu carro! – ele retirou o cinto, e falou enquanto abria a porta.

    - Com prazer.

       Sam, o pai dele, estacionou atrás e ele entrou lá. Eu segui viagem fumaçando de raiva pelo modo como ele agiu.