Kurogane pensou que a razão da sua vida era de retornar ao seu país e terminar o que começara a fazer: tornar-se forte o bastante para proteger Nihon Koku, todos os civis e, principalmente, a princesa que, curiosamente, era também sua mestra.

Mas as coisas não saíram como pensou, ao viajar ao lado de Syaoran e os outros, Kurogane se viu cada vez mais enlaçado na vida desses. Não compreendia o motivo, já que sempre fora um cara focado, mas em algum momento as preocupações de seus companheiros se tornaram suas também.

Talvez o altruísmo de todos fora o gatilho do desvirtuamento de seus pensamentos. Achava engraçado Syaoran fazer de tudo por Sakura, de doar-se totalmente a princesa, embora ela demonstrasse ser muito forte. Seu sorriso transmitia uma força que assegurava a todos que estava tudo bem, mas pronta para se sacrificar a qualquer instante.

As coisas mudaram de vez com outro sorriso, um muito falso e pertencente ao mago do grupo dos viajantes. Havia algo de errado em Fai, Kurogane não conseguia baixar sua guarda diante dele. Observava aquele mago franzino e de cabelos dourados sempre desconfiado.

 E talvez por ter o observado tanto com um pé atrás, os nós do enlaço se tornaram os mais apertados.

Ele viu que Fai era como ele. Ambos tinham como objetivo não se envolverem com aqueles dois para continuarem livres a seguir em frente, mas, quando menos esperavam, estavam mudados em prol a eles.

Kurogane, sempre observando Fai de perto, viu-o mudar por usar magia. Fai também estava apaixonado por Syaoran e Sakura, quando queria protegê-los mesmo colocando em risco seus princípios e até mesmo sua vida. Exatamente como ocorreu a Kurogane.

Era engraçado, Fai brincava de vez em quando que eram uma família — provavelmente pensando que nunca cederia aos encantos dos pirralhos —, até que um dia pensava neles não como um grupo de viajantes, e sim como uma família.

E Kurogane pensava assim também.

Por isso teve força o suficiente de compreender os seus erros e de não matá-lo. Na verdade, passou a amá-lo quando viu que a razão de estar ali era porque as respostas de suas perguntas não pertenciam a Nihon Koku. A pessoa mais importante para Kurogane seria, infelizmente, aquele implicante excêntrico e folgado, mas também inseguro e melancólico, porque ele faria o ninja entender o que era a verdadeira força.