Eu no seu lugar escrita por annaoneannatwo


Capítulo 15
Regras acima dos amigos?




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Katsuki tá muito confuso, e isso raramente acontece. Primeiro, ele tá ansioso pra ler os jornais que achou no prédio e ver se encontra pistas de como achar o moleque. Segundo, ele tá puto por ter sido pego nessa missão bizarra, não por um vilão, mas por um herói, herói que, pro azar dele, conhece a Uraraka e com certeza sabe que essa história tá mal contada pra caralho. Terceiro, ele tá louco pra rir da Cara de Lua, que ficou fazendo draminha sobre as besteiras que o povo da sala pensa sobre ela e ele, mas assim que o bicho pegou, foi a primeira a sugerir que eles tão, sim, de rolo. Quarto, ele tá completamente perdido, porque essa heroína, a tal Nejire-senpai, é doida de pedra, e, ao invés de delatá-los e levá-los pras autoridades, trouxe-os pro shopping e tá praticando o que só pode ser algum tipo de tortura psicológica pra puni-los por ter feito merda, porque a maluca não falou mais nada sobre o “incidente” no prédio, pagou pela refeição tanto dele quanto da Cara de Lua e agora… tá olhando vitrines de lojas na maior tranquilidade. O pior disso tudo é que ele não pode falar nada com a Uraraka, porque, mesmo que não saiba exatamente o que essa senpai tem na cabeça, uma coisa Katsuki sabe: ela tá de olho neles. E qualquer ação pode dar em uma merda muito grande.

—  Ei, ei, Uraraka-chan! Aquele vestido ali é lindo, não é?  — ela o puxa pelo braço, forçando-o a olhar pra vitrine que ela tá apontando. Katsuki murmura um “sim” sem vontade —  E aquele ali, hein? É meio curto, né? Mas é uma gracinha, né?

Ele olha rapidamente pra Cara de Lua, que evita olhá-lo diretamente. Ela parece tão confusa quanto ele, e olha que ela conhece essa menina, imagina ele que nem sabe direito quem é essa. Tá, ela era do tal Big 3 que se formou esse ano, Katsuki lembra do Kirishima e do Pikachu comentando que eles conheceram esse povo na aula e que um deles lá até saiu na porrada com eles, tsk, só de lembrar ele fica puto por ter perdido essa chance, tudo por causa do imbecil do Deku. Essa maluca aí é do Big 3  e tá trabalhando na agência daquela mulher dragão, ele se recorda de ter visto algumas notícias sobre essa daí, aparentemente, ela tem uma individualidade bem foda e tem chance de aparecer no top 15 do ranking de heróis profissionais ano que vem. Tsk, olhando pra ela babando por causa de umas roupas e conversando que nem criança, ninguém diz, mas Katsuki não é idiota, por isso sabe que é melhor não vacilar na frente dela. Uraraka deve saber o mesmo pelo jeito que fechou o bico e só a seguiu.

—  Todos lindos! Vem, vamos experimentar! —  ela o puxa com mais força — Ah, Bakugou-kun, você pode segurar nossas bolsas, né? A gente não vai demorar, né, Uraraka-chan?

—  Hã, senpai, eu não- —  porra, ele não vai experimentar porra de vestido nenhum! Que merda é essa? Uma das poucas vantagens de ser a Uraraka é que ela não tem muita roupa de mulherzinha, tirando a saia do uniforme. Se bem que… a saia nem é uma merda tão grande, é… melhor que calça… fresquinho e tal. A senpai doida o ignora, empurrando as mochilas pra Uraraka e correndo pra dentro da loja —  Eu não… tenho dinheiro pra nada disso, senpai.

—  Ah, mas é só experimentar! Eu não vou te forçar a comprar! —  ela ri alegremente enquanto passeia pelos cabides da loja— Tipo… olha esse! Super combina com seu tom de pele! Haaaam, e esse? Vai ficar uma gracinha! Uhhh, e esse? Super sexy, hein? Você tem um corpão, ia ficar show! —  Que...caralhos tá acontecendo aqui? E… corpão? A Uraraka? Essa senpai deve ter bebido, fora que… quem tem corpão aqui é ela… pera, que diabos ele tá pensando? — Vem, vamos escolher alguns pra mim agora!

Katsuki dá uma olhada rápida pra Cara de Lua e porra, ela tá assustadoramente parecida com a cara que ele faria se fosse ele mesmo assistindo essa cena. Ela deve estar bem puta!

Mas só quando a doida anuncia que tá na hora de experimentar as roupas é que a Uraraka sai do transe e se manifesta.

—  C-como assim? Você… você vai experimentar essas roupas mesmo, C- Cara de Lua? —  ela parece nervosa, mas é o jeito que ela gagueja que entrega tudo: Uraraka tá incomodada pelo fato de que ele vai tirar a roupa na frente de um espelho. Porra, nem dá pra discordar dessa cisma dela.

Porque por mais incrível que pareça, ele conseguiu evitar o constrangimento de ver o corpo inteiro da Cara de Lua no reflexo de um espelho. Tomando banho sempre de olho fechado e trocando rápido pra caralho, ele não viu quase nada. Mas olhar diretamente em um espelho e ter uma visão… completa do corpo dela é outra história, seria uma imagem… difícil pra porra de esquecer.

—  Eu, hã… vou experimentar só esse. Não vou ficar olhando muito. —  ele a encara intensamente pra ver se ela entende o que ele quer dizer.

—  Vem, Uraraka-chan! Bakugou-kun, você espera aqui, ok? Ok! —  ele continua olhando pra cara desesperada da Carinha de Lua enquanto é praticamente arrastado pros provadores. Porra!

Katsuki sabe que tá fodido, só não sabe o quanto até que tá parado de frente pro espelho com uma pilha de roupas nos braços. Bochechas enormes e rosadas o encaram de volta, e isso só o faz se sentir ainda mais um merda, porque é o mesmo que ter a Uraraka parada na frente dele, olhando-o como se ele fosse um tarado. Ele respira fundo, tentando se acalmar. Não, ele não precisa fazer nada dessa porra, certo? A senpai tá no provador ao lado, ocupada com as próprias roupas, ele pode simplesmente falar que experimentou e não gostou, ou que não serviu (aquele vestido colado ali não vai passar nessa bunda enorme, Katsuki tem certeza disso) e só esperá-la. Boa!

—  Tudo certo aí, Uraraka-chan? Quando terminar de vestir, sai pra eu ver se ficou bom!  — puta que pariu! Ele tá fodido!

Como se fosse uma tortura, ele tira a camiseta e os shorts, olhando pra cortininha do provador como se fosse a coisa mais incrível do mundo, evitando o espelho a qualquer custo. Ele nem vê qual vestido pegou, só se enfia no primeiro que pôs a mão e foda-se. Quando Katsuki tá propriamente vestido de novo, ele se permite olhar no espelho. Não tá uma merda, só… não combina com a Carinha de Lua, ele… imaginaria algo bem diferente pra ela, menos justo nos quadris e com um decote mais… que porra ele tá fazendo? Katsuki empurra a cortininha com raiva e limpa a garganta pra maluca saber que ele já acabou.

—  Uaaaau, tá uma gata, hein? Vira aí pra eu te ajudar com o zíper! —  a garota o empurra de volta pro provador, e Katsuki sente o rosto pegar fogo ao ver que ela não terminou de experimentar o conjunto de saia e blusa, vestindo apenas a parte de baixo —  Então, Uraraka-chan, seu amigo das explosões… a individualidade dele é incrível, hein?

—  Ahã. —  ele concorda, em parte porque é verdade, em parte porque precisa se distrair da imagem em sua frentw: uma garota mais velha e muito gata só de sutiã apoiando a mão nas costas da Cara de Lua. Caralho! Essa já é uma imagem bem difícil de esquecer!

—  Uhum, com as explosões dele e com a sua gravidade zero, vocês podem fazer coisas incríveis juntos! —  ela diz animadamente, mas muda de tom ao se aproximar e praticamente sussurrar na orelha dele — Então por que será que vocês tavam explodindo salas de um prédio abandonado, hein?

—  O quê? E-eu já disse, senpai, a gente tava-

—  Ah, Uraraka-chan, conta outra! Você e aquele menino não estão juntos! —  ela o repreende como se ele fosse criança, que merda — Você vai mesmo mentir pra mim?

—  Eu… —  Katsuki respira fundo, como é que ela sabe? Será que ela é mais uma dessas que sabe que a Carinha de Lua gosta daquele nerd maldito? Que porra! É, não tem jeito, ele não pode contar tudo, mas tem que falar pelo menos o motivo de eles estarem lá  — Eu e ele estávamos na missão de duas semanas atrás pra pegar os caras do laboratório. A gente não conseguiu resolver nada e… queria investigar mais um pouco por conta própria.

—  Por quê?

—  Por quê? Porque… crianças estão sendo usadas como ferramentas, forçadas a ter uma individualidade que não combina com o corpo delas e a gente foi incompetente de não ter parado essa merda! Não é justo que a gente não possa fazer mais nada!

Katsuki a encara pelo reflexo do espelho, o que disse não é completamente mentira, então ele mesmo tá surpreso com o quão honesto isso foi. A senpai parece concordar, olhando-o firmemente.

—  Tenho certeza que da mesma forma que você fez tudo que pôde pelo Sir Nighteye daquela vez, você fez tudo que podia nessa missão. Não se torture, tá bom? —  Ah, o Nighteye, ex-parceiro do All Might que morreu naquela missão que o Kirishima foi ajudar ano passado… o que a Cara de Lua tem com isso? Tsk, mais coisa importante que ela deixou de contar, que porra, Uraraka! —  Eu não vou delatar vocês, mas você tem que me prometer que não vão agir assim por conta própria de novo, vocês se arriscaram demais, sabia? E se tivesse aparecido um vilão? E se a criança que está desaparecida estivesse no prédio? Ela poderia ter se machucado com aquelas explosões, não?

—  O moleque não tá mais lá, eu tenho quase certeza. Eu vi restos de comida que devem estar lá há um tempão. —  a senpai lança um olhar repreensivo — Tá, eu vou falar pra ele, a gente não vai mais fazer de novo. Valeu… por não entregar a gente.

—  Imagina! Você não é só minha kohai, é minha amiga! E eu quero você e a Tsu-chan trabalhando comigo na agência da Ryukyu-san quando você se formar, mas você tem que ficar longe de encrenca pra isso, né? —  ela sorri, e Katsuki desvia o olhar, sem graça — E o vestido tá lindo, viu? O menino das explosões vai gostar! Talvez vocês até comecem a namorar de verdade se você aparecer assim na frente dele, hein?

— D-do que você tá falando, senpai? —  ele quase engasga — Não é nada disso!

—  Por enquanto, né? Vou te falar, vocês formam um casal fofinho! Ele tem cara de delinquente, mas parece ser um bom rapaz, e você tem esse jeitinho doce e inocente, mas é durona e forte, né? Muito fofinhos!  — ela dá um gritinho de empolgação — Eu não imaginava que ele seria seu tipo, sabe que eu achei que você combinava mais com aquele outro kohai… qual o nome dele mesmo?

—  O Deku? —  ele revira os olhos, imaginando que só pode ser do Deku que ela tá falando, todo mundo só sabe falar nesse bosta quando o assunto é Cara de Lua e namoro.

—  Não, o Midoriya-kun eu lembro quem é. Tô falando daquele outro, ruivinho com dentes de tubarão!

—  O Kirishima?!  — ele fica realmente surpreso, imaginar a Cara de Lua com o Cabelo de Merda é mais bizarro do que imaginar… o Deku… com ela —  Tá louca? O Kirishima é gay!

—  Ai, mentira!  — ela se afasta em choque —  Gente, juro que não percebi! E olha que eu tenho faro pra isso, eu sabia que o Mirio e o Tamaki iam acabar juntos antes deles saberem! —  ela ri antes de abrir o zíper do vestido pra ele.

—  Peraí, senpai, se você só queria me dar bronca, por que pagou comida pra gente e me trouxe pra cá? Você podia ter dado bronca na frente do prédio mesmo.

—  Sim, né? Mas eu queria mostrar que não tô brava, só te lembrando de ter juízo. Além do mais, é muito mais legal tomar um sermão experimentando roupa bonita, né? —  ela sorri alegremente, deixando-o sozinho no vestiário de novo.

Katsuki continua desviando o olhar enquanto veste a roupa que tava usando, ainda muito confuso. Ele devia estar bem puto por concordar em parar de investigar o prédio, e até tá um pouco puto, sim. Mas… tem algo a mais, aquele sensação estranha de novo sempre que ele percebe que a Uraraka é cercada por gente maluca, mas que confia muito nela, nessas horas ele fica… aliviado, de certa forma, porque se era pra trocar de corpo com alguém, melhor que tenha sido com ela. E porra, que corpo, hein? Não tá no nível dessa senpai ainda, mas… é um puta de um corpão.



***

Ochako está tão tensa que tá até com dor de barriga. Ou talvez seja o curry apimentado que ela comeu como cortesia da Nejire-senpai. Ela gosta muito da senpai, mesmo com aquele jeitinho levemente sem noção, ela é extremamente prestativa e gentil, além de ser muito humilde pra alguém que é tão poderosa e linda! Tudo isso é tão óbvio que até o Bakugou parece ter concordado… ela viu como ele tava usando o corpo dela pra babar na senpai, garoto sem vergonha! É… ela queria saber qual era o tipo dele, parece que descobriu, né? Por algum  motivo, Ochako sente uma pontada no estômago só de pensar nisso… ugh, aquele curry foi uma péssima pedida, não foi?

Mas o pior nem é isso, o problema é que ela não tem a menor noção do que a senpai realmente está pensando, Ochako sente que ela não vai entregá-los, a integrante do Big 3 nunca foi do tipo “regras acima dos amigos”, ela não vai delatar sua kohai e o amigo dela, então… por que esse trabalho todo de trazê-los ao shopping, pagar uma refeição pra eles e comprar roupas? A Nejire-senpai é meio doidinha, mas isso já é demais, não?

Bom… não tem nada que ela possa fazer a não ser se preocupar e esperar pelas “duas” garotas. Ela tentou se aproximar um pouco dos provadores femininos, mas a moça que recolhe as roupas ficou olhando estranho, então Ochako se afastou, tentando se distrair ao fingir que se interessa pelas roupas na ala masculina da loja.

A camisa branca de listras azul claras ficaria perfeita no Iida, ele até deve ter uma parecida. O suéter marrom escuro com gola alta é a cara do Todoroki, mas a camisa azul escura também combina com ele. Já essa jaqueta verde-musgo praticamente tem o nome do Deku escrito, não tem jeito, verde é a cor dele! Se bem que… seria legal vê-lo usando algo diferente como… a camisa roxa de mangas pretas e compridas, Ochako não se lembra de já tê-lo visto usando roxo… ela dá uma risadinha, sabendo que deve estar tão vermelha quanto aquela jaqueta ali, que, aliás, ficaria ótima no Kirishima.

Ochako continua fuçando por entre as araras e se depara com uma jaqueta jeans em um tom muito próximo do preto e imediatamente a retira do cabide, é linda! E ficaria incrível no… Bakugou? Hum… será? Olhando para um lado, depois para o outro, ela veste a jaqueta e confere a si mesma rapidamente em um dos espelhos grudados nos pilares da loja, dando uma mini voltinha. É, fica incrível nele mesmo! Se bem que ele não deve ter que se preocupar com isso, Ochako teve a chance de ver o guarda-roupa dele, e o Bakugou não tem uma peça de roupa que não seja estilosa! Ele pode ser um safado, mas um safado de bom gosto. E bota bom gosto nisso, já que ele gostou tanto da Nejire-senpai… hum.

Ela balança a cabeça e, como quem não quer nada, dá uma olhada nas roupas da ala feminina. Ela precisaria deixar de comer por uns 3 meses para ter dinheiro o suficiente para botar o pé nessa loja, mas olhar não vai machucar o bolso, né?

Até que ela para de frente para um manequim usando o que deve ser o yukata mais lindo que Ochako já viu na vida. Com uma estampa de estrelas e planetas e um tom entre roxo e azul, ela só trocaria o obi azul-claro por um rosa, e talvez um broche pequeno e simples. Suspirando, ela sente que ficar olhando pra essa maravilha  pode não machucar o bolso, mas com certeza machuca a alma por saber que não pode ter uma roupa assim tão cedo.

—  Bu! —  ela pula e posiciona as mãos em modo de explosão ao sentir uma rajada de ar quente próximo à nuca, e se vira, deparando-se consigo mesma. A esse ponto, ela nem se choca mais.

—  B-Bakugou-kun! Não me assusta assim! Eu não tenho controle do seu poder, posso acabar fazendo besteira!

—  Você parecia bem no controle lá no prédio, Bochecha. Para de drama, vai.

—  Cadê a Nejire-senpai?

—  Deu no pé. Disse que não gostou de nada e que já tava atrasada pra encontrar alguém e blá blá blá. —   ele revira os olhos.

—  Bakugou-kun, você… comprou alguma coisa? —  ela nota a sacola na mão dele.

—  Tsk, eu não falei que ia comprar um sutiã esportivo que presta? Como eu não entendo nada dessa merda, perguntei pra senpai, e ela falou que esse aqui é o melhor. —  Ochako torce o lábio em desgosto só de imaginar a senpai falando qual tipo de sutiã esportivo ela usa e o Bakugou babando.

—  Tá! —  ela resmunga —  Tem uma jaqueta preta ali que é a sua cara, você devia dar uma olhada quando voltar pro seu corpo e parar de comprar sutiãs com garotas bonitas. Se você ainda tem alguma coisa pra fazer aqui, até mais, eu tô indo embora. —  ela balbucia secamente, dando meia volta e andando rumo à saída.

—  Que bicho te mordeu, Cara de Lua? —  ele corre pra parar na frente dela, olhando pra trás e vendo o yukata, depois se vira de novo pra ela.

—  Nada! Eu só… tô cansada, a comida não me desceu bem, e minha cabeça tá doendo, eu não tô acostumada com o cheiro forte da nitroglicerina. —  ela empilha um monte de desculpas, evitando encará-lo — Me chama de fresca se você quiser, eu não… eu não ligo.

—  Eu não ia te chamar de fresca, vai se catar! —  ele devolve no mesmo nível de educação e gentileza —  Só pra você saber, sua senpai maluca não vai dedurar a gente. Ela armou esse circo todo só pra me falar isso.

Ochako fixa o olhar nele, sentindo-se ridícula por estar agindo assim sabe-se lá porquê quando devia estar preocupada é com a possibilidade de perder sua licença provisória de herói ou coisa pior.

—  Não vai?

—  Não, ela não quer foder com a nossa vida, só pediu pra gente não fazer de novo. As granadas que você jogou no prédio não causaram muito dano e não atrapalham em nada já que já investigaram e o prédio não é mais uma cena de crime, a agência dela só fica voltando lá porque tá atrás do pivete, mas ele não tá lá.

—  Como você sabe?

—  Porque eu achei umas coisas antes de a gente ser pego e acho que a gente tem outra pista, mas não vamo falar disso aqui, vai que a senpai não foi embora porra nenhuma e ainda tá de olho na gente —  ele olha pros lados rapidamente — Menina maluca dos infernos!

—  Maluca, mas você tava secando ela que eu vi! —  epa! Ela acabou falando o que tava pensando… droga!

—  Tava, e daí? —  ele dá de ombros, esse… safado! —  Ela é gata, mas é louca pra caralho! Eu já tenho você na minha vida pra isso, não preciso de mais uma. —  Ochako sente o ar sumir de seus pulmões por um segundo, o que foi que ele disse? Ele… não chamou ela de “gata”, chamou? Bakugou também parece perceber o quão esquisito isso foi —  V-você é doida e me enche o saco, e eu só aguento uma doida que me torra a paciência, foi isso que eu quis dizer!

—  É, f-foi isso que eu entendi! —  ela retruca. Esse… esse curry realmente tá fazendo muito mal pra ela, não tá? É, com certeza, é o curry! Ela segue  o Bakugou em silêncio rumo à estação de metrô.



***

O joelho dele bate levemente no dela quando o trem balança um pouco. Ambos mexem no celular — os aparelhos destrocados enquanto não estão na U.A. — silenciosamente . Katsuki tá só o pó, mas precisa ficar acordado, ele deu uma cochilada e a cabeça levemente pendeu pra se apoiar no ombro dela, o que foi… esquisito pra porra.

—  Aí, Uraraka.

— Hum?

—  Qual é a história com o Nighteye e por que caralhos você continua não contando as merdas que são importantes de verdade?

—  Eu…  — ela arregala os olhos e levanta a cabeça pra olhá-lo —  …eu só achei que você soubesse. Todo mundo sabe que eu… era a responsável por tirar o Sir Nighteye dali depois que ele foi ferido.

—  Tá. E por que a senpai me falou que não tem porque você se sentir culpada e o escambau?

—  Ah, porque… porque, sei lá, Bakugou-kun, se eu fosse um pouquinho mais rápida, talvez ele não tivesse… sabe. —  ela diz quietamente — O Aizawa-sensei me consolou muito na época, os senpais do Big 3 vivem me dizendo que poderia ter sido pior se eu não estivesse lá, que ele teria morrido lá mesmo sem a chance de fazer as pazes com o All Might, mas… sei lá, seria melhor se eles tivessem feito as pazes e ele estivesse vivo, né?

—  Você se sente culpada. —  ele afirma, e Ochako não consegue esconder a surpresa por ele conseguir notar como ela se sente tão facilmente —  Sentir culpa por coisas que você não pode evitar só dá merda, esquece o que você “podia ter feito” e foca no que você pode fazer pra que não aconteça de novo.

—  Eu… tento. Quer dizer, eu vou tentar mais… obrigada, Bakugou-kun. —  ela sorri um pouco, ele só responde com um clássico “tsk”.

—  Me agradece sendo honesta, e não escondendo essas coisas que me deixam boiando quando eu vou conversar com seus amigos, caralho.

—  Ah, olha quem fala! —  ele a encara — Você vive falando isso, mas nunca me conta nada! Você quer que eu confie em você, mas você não confia em mim!

—  Para de falar merda!

—  Merda? —  ela olha ao redor, notando que eles tão falando um pouco alto demais, e se inclina para cochichar —  Pelo que você acabou de me falar, parece que você sabe bem o que é se sentir culpado… — ele arregala os olhos.

—  Uma vez. —  ele murmura —  Mas eu já superei, que é o que você devia fazer e-

—  Me fala sobre isso. —  ela diz firmemente — Ou você não confia em mim?

Katsuki pensa muito sobre contar ou não, até que ela manda essa pergunta na cara dele. Se ele confia nela? Porra, não é de hoje que ele confia nela! E mesmo se isso já não fosse um fato, teria se tornado um depois de hoje, quando ela foi tão foda usando a individualidade dele e formando um plano pra eles fugirem.

—  Lembra de Kamino ano passado? —  ele começa — Quando o All Might lutou com o All for One? Eu fiquei pensando que… se eu não fosse tão imbecil e não tivesse sido sequestrado lá no acampamento, o All Might não teria vindo me salvar e não teria se aposentado depois de ter usado toda a força dele contra aquele filho da puta.

—  Entendi. —  ela diz seriamente —  E como você… superou?

—  O All Might me disse que não era culpa minha, que ele perder a força e se aposentar ia acontecer de qualquer jeito. —  ele mexe com as alças da mochila dela em nervosismo, mordendo o interior da boca, é o máximo que ele pode falar, a partir daí ele estaria revelando o segredo do nerd de bosta e o One for All —  É isso.

—  Nossa… —  é tudo que ela consegue dizer —  Bakugou-kun, sobre o acampamento ano passado...

—  É, eu já sei que você não queria ajudar a me resgatar.

—  C-como você sabe?

—  A Caga-Regra falou. —  ele a olha, notando como ela tá corada.

—  Me… me desculpa.

—  Tsk, tá pedindo desculpa por que se você tava certa, sua idiota? —  ela o encara, surpresa, ele desvia o olhar, incomodado.

—  Bakugou-kun, quando você… falou de ter trauma do escuro…? Não foi só uma mentirinha pra reforçar a nossa história pra senpai, foi?

—  Não por completo. —  ele dá de ombros — Eu não tenho medo de escuro nem nenhuma merda assim, mas às vezes… ficar no escuro me lembra como foi passar no portal daquele cara fumaceiro lá. —  há um breve, mas cortante silêncio entr eles — Já falei demais, Cara de Lua, se você ainda acha que eu não confio em você depois dessa, você pode ir se fod-

—  Não, não, é mais do que o bastante. —  ela se apressa em tranquilizá-lo — Obrigada por… me contar tudo isso. —  sorrindo serenamente, ela mexe com as alças da mochila dele.

—  Tsk, e olha que eu nem tinha que ter te falado nada disso porque eu nunca falei dessa porra pra ninguém!

—  Sim, eu imaginei. Mas sabe, Bakugou-kun… ficar guardando tanta coisa dentro de si mesmo pode te fazer muito mal, você tem amigos com quem pode se abrir. Se você contasse isso pro Kirishima-kun, tenho certeza que… te faria bem. Ele ia ficar em te ouvir tão feliz quanto eu fiquei agora.

—  O Cabelo de Merda já sabe disso tudo, a gente não precisa ficar falando sobre toda merda que acontece na nossa vida igual vocês meninas fazem. —  ele debocha, depois faz outro “tsk”, mas que soa como uma risadinha — Falando em Cabelo de Merda, sabia que a senpai doida acha que você devia dar uns pegas nele?

—  C-como é que é? —  ela ruboriza, como ele imaginou que ela faria —  O Kirishima-kun é gay, como assim?

Alguns minutos depois, eles chegam à estação e andam até a U.A. preguiçosamente. Ambos exaustos física e emocionalmente, mas, sabe-se lá o porquê, com a sensação de que fariam tudo de novo se fosse necessário.


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Notas finais do capítulo

Pessoalmente, eu sou muito mais fã de Bakugou ciumento do que Ochako ciumenta, mas... às vezes é até divertido escrevê-la assim huhushuahs

Esqueci de mencionar, mas o próximo capítulo é basicamente o que fez essa fic ser "conhecida", não dá pra pensar nela sem lembrar desse capítulo hauahauahs

Obrigada por ler! Espero que esteja curtindo!



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