Jacob.

 Observei Leah olhando pra chuva caindo lá fora, ela parecia tão serena, eu poderia ficar horas aqui apenas a admirando, mas ela logo sentiu meu olhar cravado em si e se virou para me encarar.

 -Tá olhando o que, Jacob? -perguntou.

 -Falou igualzinho a Leah rabugenta. -comentei, rindo, ela arqueou as sobrancelhas.

 -Aparentemente, todos chegaram à mesma conclusão de que eu tenho um alter ego maléfico. -falou ela.

 -Todos nós passamos por mudanças…

 -O problema é que eu mudei absurdamente e estavam todos acompanhando de camarote. -resmungou ela.

 -Você foi da doce Leah, para a megera Leah. -brinquei, Leah fez uma careta. -E agora você está transitando entre esses extremos. Isso também aconteceu comigo, eu era uma pessoa antes da Bella aparecer e conforme tudo foi acontecendo, eu fui mudando junto, por um tempo, ninguém mais estava aguentando quem eu havia me tornado.

 -Mas você é o Jake, que todos adoram e perdoam. -retrucou ela.

 -Todos também te adoram, Leah, e você não deve desculpas a ninguém, você passou por muita coisa em pouco tempo e lidou com isso da maneira que conseguiu. -argumentei.

 -Argh, até parece que eles pensam assim. -resmungou.

 -Bom, então que se fodam! -exclamei, fazendo ela rir. Levantei e fui até ela.

 Sentei ao lado de Leah em sua cama, passando minha mão em seus cabelos que haviam crescido.

 -Cada um sabe o que se passa dentro de si mesmo e ninguém tem o direito de julgar isso. Eu vi suas mudanças e estou adorando acompanhar você se redescobrindo novamente. Seja a doce Leah, a rabugenta, ou apenas a Leah, eu vou amar cada face sua. -falei, ela ergueu as sobrancelhas.

 -Amar é?

 -Sim, amar você, com certeza. -respondi, e a beijei.

 O corpo de Leah se colou ao meu, entre beijos e carícias, nós fizemos amor ouvindo o som da chuva lá fora.

[...]

 Leah e eu entramos numa pequena rotina, três dias na semana ela tinha aulas de um curso de verão, os outros dois, em sua maioria, ela aproveitava com a família ou ia resolver algo, mas todas as tardes, ela passava comigo na oficina, ajudando com o atendimento a clientes e fornecedores. Algumas vezes, eu aproveitava para ensiná-la uma coisinha ou outra de mecânica, o que me rendia muitas cenas engraçadas dela tentando reproduzir o que eu ensinara.

 -Oi Jake, cheguei! -anunciou Leah, entrando na garagem, ela estava acompanhada do irmão.

 -E ai, Jake? -cumprimentou Seth.

 Leah me deu um selinho e Seth bateu sua mão na minha.

 -E ai, garoto, o que anda fazendo? -puxei assunto.

 -Além de ser constantemente atormentado por Leah? Hã.. nada. -brincou.

 -Quando eu socar a sua cabeça na privada, não reclama! -ameaçou Leah. Seth revirou os olhos, já acostumado com o jeito carinhoso da irmã.

 -Então, quando vamos marcar o rolê em grupo nossa matilha? -perguntou Seth.

 -Não acho que esse seja o melhor momento. -respondi.

 -Não esquece que você prometeu ao Quil que iriamos sair todos juntos pra levar a Claire quando Leah viesse pra casa. -lembrou Seth, Leah riu.

 -E desde quando você é portador de voz do Quil? -zombou ela, Seth deu de ombros.

 -Alguém tinha que falar.

 -Antes de sairmos todos da Reserva, precisamos ver se eles vão voltar vivos da prova dos ternos. -argumentou Leah.

 -É, esse sim, será um bom termômetro da situação. -concordei, Seth bufou.

 -Quem teve essa ideia de jerico? Leah e Emily juntas num carro não foi perigoso o suficiente? Acho que vocês estão querendo demais da sorte. -falou Seth, indignado, foi minha vez de dar de ombros.

 -A ideia não foi minha, só estou tentando ser útil no casamento da minha irmã. -respondi.

 -Não vai ser nada útil eles perderem um ou os dois padrinhos, Jake. -retrucou ele.

 -Eu posso me controlar, Seth.

 -Não é questão de controle, é questão de bom senso. Parem de forçar a barra, ela já tá desgastada faz tempo! -explodiu o garoto. Abri a boca para responder, mas Leah foi mais rápida.

 -Ele tem razão, Jake, não há motivo algum para vocês irem juntos. Não tem como ser uma viagem agradável, pra dizer o mínimo. -argumentou ela, suspirei.

 Eu sabia que eles tinham razão, não havia porque insistir numa situação fadada ao fracasso. Agora eu só precisava que minha irmã e meu cunhado também vissem isso.

 Seth foi embora e ficamos apenas eu e Leah. Ela foi pro computador, resolver algumas pendências e eu continuei no que estava fazendo.

 -Eles vão entender. -falou Leah, de repente. Olhei pra ela, esperando que continuasse. -Rachel e Paul, eles vão entender.

 -Eu sei, mas eu não queria que o casamento deles sofresse com essa sombra. -desabafei.

 -A culpa não é sua, Jake, e todos sabem disso.

 -Não faz eu me sentir muito melhor. -admiti. -As vezes eu penso que talvez fosse melhor deixar Sam assumir o comando e só ir embora, traria menos problemas pros garotos, pra nossas famílias.

 -E deixar o Sam transformar esse lugar numa pequena ditadura? -questionou ela, com as sobrancelhas arqueadas. -Jacob Black! Nem pensar, o povo desse lugar merece coisa melhor, pelo amor de Deus.

 -Perai, Leah, o Sam nem sempre foi essa pessoa… claro que ele cometeu erros, mas ele defendeu bem esse lugar, ele era um bom lider. -argumentei.

 -Sim, ele era, mas não está sendo nesse momento e a comunidade não pode sofrer com isso. -rebateu ela, abri minha boca, mas ela prosseguiu. -O que não quer dizer que ele não possa voltar a ser um bom líder no futuro. -cedeu ela, assenti.

 -Talvez ele sinta que perdeu seu propósito. -pensei alto, Leah me encarou. -Os lobos existem para proteger La Push dos vampiros, mas que serventia nós temos se não há mais vampiros? Forks no geral tem estado em paz desde que os Cullen partiram, e eu nem estou falando que eles eram a ameaça, não tivemos nenhuma “visita” inesperada de outros.

 -Faz sentido. -concordou Leah. -Mas não justifica ser babaca.

 -Claro que não! -falei e rimos.

 -Espero que tudo isso se resolva em breve, não queremos um casamento sangrento igual Game of Thrones. -brincou Leah, a olhei horrorizado.

 -Suas referências às vezes me assustam.

 -É uma questão de perspectiva. -respondeu ela e piscou pra mim.

 -Vamos torcer pra ser apenas isso mesmo. Paul e Rachel merecem um momento feliz e tranquilo.

 -As coisas vão melhorar, todos estão empenhados em fazer dar certo. -disse Leah.

 -É bom ver que os meninos estão se enturmando.-concordei.

 -Jared também parece mais próximo. -comentou ela. -O que parece bem estranho pra mim, ele e Kim sendo legais comigo.

 -Não julgo ele ter ficado ao lado de Sam, ele estava apoiando o amigo, o que não quer dizer que eles concordavam sobre tudo. Paul foi mais aberto conosco, talvez porque havia uma maior convivência. -argumentei.

 -A verdade é que não sabemos, ainda terei meus dois pés atrás com eles.

 -Tudo bem, você tem o direito de agir conforme se sentir melhor. -cedi, ela fez uma careta.

 -Ok, psicólogo Jake. -zombou.

 Levantei e fui até ela.

 -Pra encerrarmos, recomendo alguns beijos em seu namorado, paciente Leah. -falei, fazendo ela gargalhar.