Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 69
Futuro - Uma (quase) despedida


Notas iniciais do capítulo

Alerta lencinho... (Traz logo o rolo de papel higiênico todo) acredite, vai precisar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/809277/chapter/69

Shara abriu os olhos lentamente, dado a posição que se encontrava ela sabia bem, como, por que e onde estava, qualquer movimento, por mais sutil que fosse poderia compromete-la já que ele ainda estava dormindo ali, ela notou estar com a cabeça apoiada sobre uma almofada confortável, na lateral da poltrona, onde ambos haviam adormecido e pelo que ela se lembrava não era bem assim que ela havia deitado, será que ele a havia ajeitado melhor no meio da noite e ainda assim optado em ficar com ela ali? Shara estava com as pernas por cima das dele, e pela primeira vez, ela tinha acordado antes dele, honestamente ela preferia que não tivesse, afinal aquela situação toda além de ser constrangedora a deixava sem saber como agir, o quarto estava completamente escuro, na verdade ele sempre era escuro, mas algo lhe dizia que já era de manhã, dado a sua total falta de sono e isso tornava tudo ainda mais estranho que o habitual, afinal, ele era extremamente regulado com horários, ele poderia perder o horário dessa forma? e ao pensar nisso algo lhe ocorreu, será que ele estava vivo?

Num impulso ela se acomodou, sentando, sem se preocupar muito com os movimentos agora, embora ainda permanecesse com parte do seu corpo sobre o dele, mas assim que achou que tinha algum equilíbrio ela levantou uma das mãos, se aproximando do rosto dele lentamente, e assim que chegou perto o suficiente, ele o agarrou com força abrindo os olhos e a assustando.

—O que pensa que está fazendo? – ele perguntou em tom mortal fazendo com que o seu coração quase saísse pela boca, ela sequer conseguiu segurar aquele pequeno grito, que parecia estar preso na garganta, o assustando também, mas como é que ele fazia isso? ela tinha certeza de que ele estava dormindo.

—Eu... apenas ia checar sua respiração senhor – ela respondeu depois de tentar regular a sua própria ali – eu apenas achei que pudesse, sei lá, quem sabe… não estar vivo – ele a encarou surpreso.

—Merlin... saia de cima de mim Epson – ele pediu, e ela puxou as pernas contra si, o liberando – que horas são? – agora ele parecia atordoado, enquanto passava a mão no cabelo e suspirava, ele havia acionado um relógio de pulso que veio voando de uma das gavetas – estou atrasado – ele resmungou irritado enquanto se levantava com pressa, comprovando ali as suspeitas sobre já ser de manhã.

—Eu posso fazer o café – ela se prontificou, se levantando, aquilo seria fácil para ela e ajudaria de alguma forma.

—Sem tempo para isso -  ele disse ainda mais irritado – saia... – ele pediu novamente.

—Bem não é um problema pra mim….  

—SAIA – ele elevou a voz, ela havia dito algo errado? Ela nunca sabia.

—Eu sinto muito… se eu não tivesse... – ela parou no instante em que o viu se aproximar, ele a puxou pelo braço e a empurrou porta a fora depois de a fechar atrás de si, talvez ele só precisasse de um pouco de privacidade, mas ainda assim, ele tinha sempre que ser tão mal humorado? Shara encarou a sala de estar, suspirando… estava mesmo uma bagunça, e olhar para aquilo a fez lembrar do que precisava ser feito, mas por hora ela se concentraria apenas no café, afinal ela amava café, nada como começar o dia com uma boa xicara de café. Em pouco menos de 10 minutos, Shara ouviu a porta do quarto sendo aberta outra vez, já que ele não costumava ser muito discreto.

—As regras são as mesmas - ele disse sendo objetivo - e dessa vez quero que as cumpra integralmente, volto mais cedo, logo depois do jantar e definitivamente não quero ver mais nenhum pergaminho espalhado pelo chão - ele a encarou, e ela assentiu, digamos que ela já havia entendido aquela parte - se preocupe em estudar para as provas, no final do dia tomarei nota, alguma dúvida? - ele perguntou sério, se preparando para sair.

—Sim, quer dizer não… fiz o café… deveria experimentar - ela sugeriu sorrindo… era costume levantar mais cedo e preparar o café no lar, aquela era uma das atividades que ela realmente gostava de fazer, ela se sentia muito bem, quando podia servir os outros, ele a encarou e parecia pensar naquilo por um momento - por favor senhor… é só beber – ela incentivou, ele se aproximou pegando uma xícara e se servindo, ele não parecia querer botar muita fé naquilo, mas bebeu, e ela se sentiu vitoriosa.

—Onde aprendeu a fazer café? - ele pergunto, aquilo não era bem um elogio, mas também não era uma crítica e ela achou que era um bom sinal, de qualquer maneira.

—No lar… eu o fazia quase todas as manhãs, eu gostava muito - ela sorriu outra vez ao se lembrar de Catie, mas parou imediatamente ao se lembrar de Noah - Noah dizia que era péssimo, mas ele sempre se servia - ela deu de ombros - eu gostaria de passar o natal com a Catie - ela disse, sentindo saudades da amiga, aquilo era tão genuíno.

—Já falamos sobre isso - ele disse colocando a xícara vazia na mesa, ele havia mesmo bebido tudo? Sim ele havia - e isso não está aberto à discussão - ela o analisou, sabendo que aquele de longe era um bom momento para argumentar aquilo, era engraçado, mas ela parecia entende-lo melhor agora, ela abaixou o rosto,  já que não havia mais o que ser dito, e então esperou para ouvir o som da porta bater, sinal de que ele havia mesmo saído, mas não aconteceu, ele ainda está ali, e a estava encarando - se concentre no que deve ser feito, estarei fazendo o mesmo - ela o ouviu dizer - não se distraia com outras coisas, não ainda… vamos quebrar a maldição e estará livre para seguir, como deveria ser - ele finalizou.

—E se não der certo? - ela sussurrou para ele, era reconfortante ouvir que ele estava engajado na causa com ela, pela primeira vez ela não precisava lidar com tudo sozinha, mas ainda assim aquele era um pesadelo de incertezas.

—Dará - ele disse sendo otimista, ela assentiu e então ele saiu.

—____

Ele nunca havia perdido o horário antes, nunca, em todos aqueles anos, faltavam menos de 20 minutos para estar em sala de aula, quando ele foi desperto pela movimentação sutil da menina e sem falar no fato de que eles haviam literalmente adormecidos juntos ali, no seu quarto, como se fosse algo natural, ele não deveria se permitir tanto, não dessa maneira, era obvio que ela estava criando laços, laços que a cada dia ficavam mais fortes, uma ruptura futura, seria cruel demais para ambos, malditas madrugadas, e maldito café, fazia tempo que ele não bebia um café tão bem passado, ela levava jeito para as atividades manuais, ele abriu a porta, ciente do quão atrasado poderia estar agora, por sorte o trajeto era relativamente pequeno, e a turma daquela manhã era do segundo ano, eles que dificilmente conseguiam cumprir horário, um bando de cabeças ocas desinteressados, não seria tão ruim.

—Está atrasado – ele ouviu uma voz atrás de si – muito atrasado por sinal, o que aconteceu? – ele perguntou.

—Não pedi sua opinião e muito menos lhe devo qualquer satisfação e para começar, não deveria estar aqui – Severo respondeu caminhando com pressa, e sem olhar para trás.

—Espere... não pense nisso, não vai me fazer correr atrás de você, e dessa sua capa esvoaçante, fala sério, precisa mesmo ocupar todo o espaço assim? e não ache que vai me deixar falando sozinho, não depois de passar mais de uma hora sentado nesse chão de pedras, duro, frio e deprimente, meu bumbum dói – Antony reclamou – sabe deve ser mesmo horrível morar num lugar como esses, e até que é compreensível sua constante falta de humor, afinal... não tem luz, não tem cor... não tem vida – Severo suspirou fundo, era tudo que ele mais precisava para começar aquele dia, uma distração como aquelas, maldito pássaro tagarela, ele agradeceu mentalmente pela xicara de café. 

—O que quer? – ele grunhiu evidenciando a irritação - Como bem pontuado por você, sim estou atrasado e ouvir essa sua voz, tão cedo, faz com que meu humor piore ainda mais, e acredite isso nada tem a ver com o lugar onde habito – ele se virou para a ave, que segurava em suas mãos uma caixa com um... um bolo de chocolate? uma prova de que seu dia poderia sim ser ainda pior.

—Estou de folga, o dia todo dá pra acreditar – ele disse animado – Poppy disse que estou me saindo muito bem e me deu um bolo de chocolate, meu sabor preferido, se quer saber – ele sorriu – ah… a proposito hoje é meu aniversário – ele sorriu ainda mais – só não me pergunte minha idade, parei de contar, faz algum tempo, ah e não preciso de presentes, por favor não insista, ok, ok... um whisky e nada mais – por Merlin, uma ave irritante, segurando um bolo de chocolate, fazendo aniversário, na frente da porta dos seus aposentos privativos, pedindo whisky as 9 horas da manhã, justamente naquele dia que ele estava com tudo, menos com tempo, como foi mesmo que sua vida tomou aquele rumo? Ele sabia a resposta, sim e optou por ignorar. Severo se aproximou da porta dos seus aposentos, a abrindo.

—Pode ficar durante o período da manhã, não encoste nas bebidas eu saberei, uma fatia apenas para ela, tente não tagarelar tanto assim, ela precisa estudar, e não pise nos malditos pergaminhos... quando entrar vai entender – Severo disse para ele, mal acreditando que estava mesmo fazendo aquilo, sim uma festa de aniversário privativa para a maldita ave tagarela de Maeva, em seus aposentos pessoais com a sua autorização, o que mais esperar dali? talvez a ideia de se vestir de papai Noel no natal, não fosse tão ruim assim – considere-se portanto bem presenteado por mim.

—Sabia que havia um coração em algum lugar ai dentro de todo esse manto preto – Severo o olhou com total indiferença, o ignorando, enquanto virava as costas e saia, ele estava agora mais do que dez minutos atrasado.

—__

—Antony – Shara disse empolgada ao vê-lo – Ei... como entrou? Você também tem acesso? pode abrir a porta? – ela perguntou curiosa. 

—Não... digamos que esse seja privilégio para poucos – ele sorriu, ele estava segurando uma caixa e Shara notou que havia um bolo dentro, isso a deixou ainda mais intrigada, ela estava com fome e sua barriga roncou revelando aquilo.

—Um bolo? – ela disse se aproximando dele – de chocolate e com muita, muita cobertura... – ela bateu palmas animada, aquilo era tudo que ela precisava para completar seu dia feliz – não consigo acreditar que o professor Snape tenha de deixado entrar com isso, o que você fez, o nocauteou? – ela brincou.

—Estou de folga e hoje é meu aniversário, ele deve ter se sensibilizado, afinal não é nenhum segredo para ninguém o quanto ele me ama – Antony piscou e ela gargalhou com aquele comentário, se jogando em seus braços.

—Você deveria ter dito isso antes, eu não preparei nada para você... espere... feche os olhos – ela pediu, e ele fez, enquanto ela conjurava uns balões coloridos – pode abrir.

—Fantástico – ele disse vislumbrado – eu nunca tive uma festa com balões antes, meu sonho sempre foi ter uma festa com balões, nas masmorras, muito obrigada Shara – ele retribuiu o abraço.

—Bobo – ela disse feliz - bom se vamos mesmo fazer isso aqui, temos que fazer direito não é mesmo, e aposto que esse lugar nunca esteve tão colorido antes, está perfeito agora – Shara não fazia o perfil de quem gostasse de fazer aniversário, mas era contagiante ver a alegria daqueles que gostavam - Feliz aniversário Antony - ela disse para ele.

—Perfeito - ele retribuiu - então vamos atacar o bolo, está com uma cara ótima… “uma fatia apenas para ela” – Antony disse, tentando imitar a voz do professor Snape, era engraçado.

—Ela não disse isso? Disse?  – ela pediu arrumando a mesa.

—Entre outras coisas, mas ele não precisa saber, até por que ele não especificou o tamanho da fatia não é mesmo? – Antony piscou para ela outra vez – erro de principiante, honestamente, ele não tem sido mais o mesmo – Shara tinha que concordar com aquilo, principalmente se fosse analisar as duas últimas noites que ela havia passado ali com ele, era completamente irracional pensar em algo do tipo, meses atrás, como eles evoluíram tanto em tão pouco tempo? 

—Antony eu sei que você se identifica mais com a Gryfinória e tudo mais, e honestamente eu posso entender isso – Shara considerou, enquanto passava o dedo indicador pela cobertura de chocolate, daquela fatia generosa que Antony havia depositado em seu prato, o lambendo – mas acho que se pudesse, o chapéu seletor te colocaria na Sonserina  – Antony a encarou, fazendo uma expressão de estar chocado com aquele comentário – sério, apenas escute o que acabou de dizer, sabe é bem sonserino se é que não notou.

—O que? Eu só quis dizer que a maneira como foi dito por ele, pode abrir margem para interpretação – ele disse em tom inocente.

—E que sendo assim você se sente no direito de tirar alguma vantagem disso – ela concluiu cruzando os braços – é bem Sonserino mesmo - ela riu.

—Por Merlin, você tem razão, devo trocar minhas pantufas? – ele perguntou de forma divertida.

—Tudo bem… acho que pode mantê-las, até por que esse negócio das casas não deveria significar tanto assim, como parece significar para alguns – ela pensou em Harry, de todas as pessoas prováveis, ele certamente era aquela de quem Shara não esperava algo assim.

—O que são esses pergaminhos espalhados no chão? não me parece algo que o professor Snape faria... Embora ele tenha dito para tomar cuidado com isso – Antony perguntou mudando de assunto.

—Não – ela sorriu – preciso recolhe-los até o final do dia, eu meio que fui ameaçada, se é que me entende – ela disse divertida – mas… basicamente são grupos de poções, estou tentando encontrar o grupo dessa poção chatinha aqui – ela disse erguendo o colar.

—É bastante coisa – ele disse surpreso – a quanto tempo está trabalhando nisso?

—Ontem na verdade, mas me tomou o dia todo – ela se lembrou exausta.

—E descobriu alguma coisa? – ele pediu interessado.

—Na verdade sim, aliás bom que tenha comentado Antony, gostaria de saber a sua opinião  – Shara disse ao se aproximar do pergaminho com o maior número de votos e o analisando ali no chão – Necromancia – ela respondeu de forma direta, notando a fisionomia de Antony mudar à medida que ele parecia processar aquela informação e no lugar onde antes havia um sorriso, agora havia tensão, tanto é que ele deixou cair o prato que segurava em uma das mãos  – é imaginei, que fosse mesmo ruim – ela disse séria ao encará-lo, ele estava completamente sem cor.

—Ruim? Está de brincadeira... isso, isso é muito sério Shara, o meu povo costumava ter essas práticas e eu sei bem o quão ruim pode ser... espera – ele a encarou.

—Sim, a origem da prática é grega, faz todo sentido não? – ela disse para ele – os livros de poções que li trazem um pouco sobre isso, não que eu tenha me aprofundado sobre o tema, não ainda.

—Isso... sim, você está certa, isso é algo que Poseidon faria, ele usaria as próprias tradições... Merlin, é ruim, muito ruim Shara – ele disse trêmulo – eu vi alguns rituais assim quando era mais jovem, bem você me entende e mexer com mortos deveria ser algo proibido, falo sério, é assustador.

—Eu não entendo – ela disse desmotivada – como isso ajuda? Sabe, eu posso ver o caminho que isso está me levando, e bem, não é algo que eu tenha gostado exatamente, ainda mais, por não compreender, como se comunicar com alguém que já morreu pode ajudar aqui, sabe… ajudar a quebrar a maldição... entende? - ela pediu, confusa.

—Certamente há uma razão, afinal estamos falando de Poseidon e ele não faria algo sem qualquer sentido, ele era um grande idiota, sabemos, mas ainda assim ele era racional – Antony parecia enciumado, e ela achou melhor não comentar - bom as visões, que você teve e tem as vezes, elas são provenientes de lembranças, lembranças dela… que também estão ai e foram misturadas a poção – ele apontou para o colar – Shara… é evidente pra mim que Poseidon, ele quer que você se comunique com Medusa nesse ritual – ele disse aquilo com certa dificuldade – sim ela precisava admitir, fazia mesmo sentido, mas qual a razão de tudo isso? Ela não entendia.

—Antony – ela disse engolindo em seco – isso… me assusta – ela admitiu – eu confesso que tem sido incrível, todo esse negócio de magia... mas esse lado, essa é uma poção escura, é magia negra pura, e é sombrio demais, precisa ver os livros, não tive estômago para ler – ela se encolheu ali.

—O professor Snape, ele já sabe sobre isso? – Antony perguntou preocupado.

—Não, quer dizer… ele levou as anotações e tudo mais, mas necromancia é a conclusão de tudo que fiz e ainda não falamos sobre isso  – ela admitiu – talvez mais tarde, dependendo de como estiver o humor dele - ela deu de ombros.

—Eu tenho certeza que ele vai pensar em algo – Antony se abaixou tentando organizar a bagunça que havia feito, ao derrubar o prato com o bolo daquela maneira, mas ela foi mais rápida, sacando a varinha e fazendo aquilo sumir instantaneamente, ela era boa nesses feitiços agora – fiquei sem fome – ele disse ao se levantar, encarando o resto do bolo sobre a mesa.

—Desculpa Antony, é seu aniversário... e não deveríamos estar falando coisas assim, Medusa, ritual, necromancia ou seja lá o que for nesse sentido – ela disse, ao pensar em como ele poderia estar se sentindo ali, ao concluir de forma tão simples que aquela poção que ela carregava dentro daquele colar, de alguma forma, que ela ainda não sabia, poderia trazer Medusa de entre os mortos, ela que havia sido a mulher que um dia ele amou – sinto muito – ela reforçou.

—Não sinta, não existiria presente melhor do que descobrirmos sobre o ritual, e ver que depois desses milhares de anos de injustiça, a maldição finalmente poderá ser quebrada, e então você será livre para sempre, e bem, eu também – ele disse esperançoso – nunca nenhuma guardiã chegou tão perto.

—Antony digamos que, tudo isso dê certo – ela tentou não oscilar, afinal quanto mais perto da verdade ela chegava, mais insegura sobre a sua performance naquilo ela ficava – o que vai acontecer com você? Digo depois que a maldição for quebrada… – aquilo era algo sobre o qual eles nunca tinham conversado antes, e ele a encarou naquele momento de uma forma diferente, a fazendo sentir um aperto no peito, principalmente quanto ele sorriu, não era o mesmo sorriso de antes, não era o mesmo sorriso de sempre – Antony – ela o chamou, o que ele estava tentando dizer com aquilo? Havia algo ali que ela não gostaria de ter reconhecido… ela levou as duas mãos sobre a boca, não podia ser… – não... Antony – ela o chamou outra vez, sim ela entendeu o que aquilo significava… esse tempo todo, sempre foi isso? - Antony? - ela disse o nome dele uma última vez, sentindo uma lágrima escorrer por sua face…

—Não chore princesinha – ele disse de forma muito afetuosa, a puxando e a segurando contra si, se havia alguma dúvida sobre o que aconteceria com ele depois daquilo, ele havia acabado de sanar ali, ele que teoricamente, era seu único parente vivo, sim ela estava desconsiderando completamente aquela bruxa má, Antony que chegou a tão pouco mas  que já ocupava um espaço significativo em seu coração, ele que trouxe luz para toda aquela escuridão, ele que sempre era tão presente, tão altivo, entusiasmado… tão preocupado com ela e com o seu bem estar, ele que dava os melhores conselhos, as melhores risadas, as melhores coreografias, ele era a pessoa mais incrível e divertida que ela havia conhecido, se havia uma esperança para ela, se houvesse mesmo um futuro, onde ela pudesse crescer e envelhecer naturalmente, ela o faria com ele, aquilo já estava decidido, já que ele não era simplesmente o Antony, mas ele era o SEU Antony, e o simples fato de cogitar aquela hipótese de que, ela estava ali esse tempo todo, buscando por respostas, trabalhando, desprendendo do seu tempo por algo que levaria embora da sua vida uma das pessoas mais importantes em sua jornada, não... ela não faria, ela o soltou com força, ele não podia pedir isso para ela, isso era demais… ela não faria…. 

—Não – ela disse se afastando, limpando com as mangas do pijama, as lágrimas que agora desciam livremente – não me peça para fazer isso Antony – ela disse séria e num impulso ela pegou alguns dos pergaminhos do chão, indo até a lareira e os lançando no fogo – não... não diga nada, eu não quero ouvir… – ela disse sentindo um pouco de falta de ar, enquanto ela buscava mais e mais papel. 

—Shara... o que está fazendo? Você dedicou tanto tempo nisso... por favor pare... precisa me escutar – ele pediu com cautela.

—Não... e eu não teria dedicado tempo algum se eu soubesse o que estava fazendo aqui… por que não me disse antes? – ela perguntou o acusando, enquanto jogava uma nova remessa de papel no fogo, ela precisava se livrar daquilo, e ao mesmo tempo que o fogo consumia com uma certa urgência todos aqueles papéis, ela sentiu o colar queimar no seu peito, ela parou no mesmo instante, fazia um tempo agora que ele não queimava assim, com tanta intensidade, Antony ela notou, se aproximou, e agora segurava sua mão.

—Você se parece tanto com a sua mãe, e é tão satisfatório ver que apesar de tudo, de todo o seu passado e de toda a sua dor, você se tornar alguém, como ela… minha Maeva – ele disse a encarando, ela estava uma bagunça agora, não era assim que ela havia planejado aquele dia, Antony estava ali repetindo algo semelhante ao que o professor Snape havia dito para ela na noite anterior, e ela não se conteve, se jogou nos braços dele, havia uma urgência agora, ela não podia perder mais ninguém na sua vida, ela já havia perdido bastante – eu sinto muito que as coisas sejam tão difíceis, mas vai ficar tudo bem – ele a amparou.

—Como ousa dizer isso? – ela pediu em meio daquele turbilhão de sentimentos – como ousa? - ela repetiu - não tem como ficar tudo bem! Não com isso, ou por acaso é isso que quer? você quer morrer? – ela pediu quase sem forças.

—Sim… eu quero – ele respondeu e foi um choque ouvi-lo dizer aquilo – é tudo que eu mais quero acredite – ela não podia acreditar naquilo, como? Não ele… por que?  

—Como pode dizer isso para mim, quando você mesmo me disse para não desistir da vida... – ela o lembrou - você disse… você mentiu  pra mim Antony - ela queria gritar com ele, bater nele… fugir, era difícil dizer, ela estava tão confusa.

—Shara, não… eu não menti, eu disse que entendia… olha… – ele se abaixou ficando a sua altura – eu não sou daqui, não sou dessa época, e eu não pertenço a esse lugar, eu sequer deveria estar aqui, acho que você pode ver isso… e bem isso por si só me torna completamente diferente de você, de todos vocês – ela gesticulou negativamente com a cabeça, ela não podia aceitar, ela queria poder calá-lo ali – me escute, a vida, ela pode ser bastante complexa e cheia de paradigmas… mas por mais óbvio que seja, ela deve ser vivida, então a viva Shara e faça isso intensamente… isso é uma dádiva, é um presente, mas como tudo… deve haver um fim, sabe uma coisa que aprendi, em todos os milhares de anos aqui, é que existe muita sabedoria em predestinar um tempo específico para cada um de nós, um tempo para mim, um tempo para você… afinal a vida, nada mais é que uma passagem, e deveria ter sido assim para todos, e quando se desrespeita isso, quando essa lei não é cumprida, como no meu caso, a vida ela deixa de ter sentido e se torna um fardo bastante difícil de carregar, eu estou aqui a tempo demais Shara, estou cansado, não entenda como se estivesse desistindo, não é isso, apenas desejo encerrar minha passagem, assim como todos, eu quero descansar junto com os meus – ele sorriu, como ele podia sorrir? Como? – pense nisso, eu... eu posso entender você, entender toda a confusão que isso representa para você no momento, ainda mais por que acaba de me conhecer, e eu sei... que pode ser difícil, mas tenho certeza de que ao pensar a respeito, vai compreender – ele disse, e ela fechou os olhos, ela não podia mensurar a dor dele, ela sabia disso, ela sequer podia se imaginar vivendo tão pouco, quem dirá vivendo tanto, então como ela poderia julgá-lo? Não ela não podia, ela entendia… mas ainda assim, era difícil… ela não queria deixá-lo... como ela lidaria com isso? – por favor Shara, não faça isso, não me obrigue a ficar mais – ele disse por fim, o colar estava muito quente agora, ela o segurou... o tirando do pescoço.

—Segure – ela pediu, ele abriu a mão, e ela depositou a peça lá.

—Está quente – ele disse surpreso - o que isso significa?

— Significa que fragilizou mais – ela disse sentindo novas lágrimas descerem, agora com muita intensidade – significa que eu vou mesmo perder você Antony – ela colocou as mãos no rosto outra vez, como era difícil dizer aquilo – significa que independente do que eu pense sobre tudo isso, do que eu diga... enfim isso está além de mim – ela chorou de soluçar – isso Antony, significa que está chegando o tempo em que poderá descansar…  eu entendo, não concordo, não aceito… mas entendo - ela admitiu com dor.

—Sabe, você é a menina mais incrível que eu já conheci Shara, se vivi por tanto tempo e se a finalidade de tudo isso era conhecer você… digo que valeu a pena toda essa jornada, mesmo que tenhamos ficado juntos por tão pouco tempo – ele disse emocionado ao devolver o colar para ela – obrigada… eu sabia que haveria um momento certo para isso, e que você seria sensível e entenderia, e me sinto ainda mais feliz que esse momento tenha sido hoje, é como um presente para mim - ele disse com ternura - não se culpe princesinha, eu vivi muito e vivi especialmente para ver esse dia Shara - ele disse olhando para o colar, e agora ele também estava chorando - confesso que não sei como será depois daqui, mas se houver um lugar… certamente há, é lá que quero estar, me juntarei a Medusa, me juntarei a Crisa… e finalmente seremos uma família… obrigada por entender Shara.

—Por que? – ela pediu – por que não poderia ser de outra forma?

—Por que se não, não seria tão libertador como é – ele respondeu – afinal que sentido faria, se eu tivesse que continuar vivendo eternamente? mesmo depois que tudo isso for reparado? – ele perguntou, ela sabia que ele estava certo sobre aquilo - seria cruel demais, não acha? Eu não quero mais ver as pessoas a quem eu me apego, as pessoas a quem eu passo a amar, partirem… enquanto eu fico, eu continuo… isso é difícil Shara - ele repetiu, ela entendia, sim ela entendia.

—Eu amo você Antony de todo o meu coração – ela disse o abraçando com tanta força, ela não queria pensar naquilo como uma despedida, não ainda, até por que não era, havia muito trabalho a ser feito pela frente, principalmente agora que ela havia queimado os pergaminhos… mas sinceramente ela não se arrependia.

—Eu também amo você princesinha… minha princesinha impulsiva – ele disse beijando o topo da sua cabeça, e eles ficaram assim, abraçados por um tempo, tempo que para ela, podia durar para sempre… ok, talvez não tanto, mas pelo menos um pouco mais.

—___

Severo abriu a porta dos seus aposentos, a exatos 19:30 como havia dito dessa vez ele voltaria mais cedo, e sim ele era pontual, o episódio ocorrido mais cedo, não devia e não iria mais se repetir, ele disse para si mesmo, ao lembrar dos olhares e buchichos curiosos dos alunos essa manhã, não que ele se importasse. 

Ao adentrar a primeira coisa que ele notou, foi a organização, não havia nenhum indício de papel espalhado pelo chão e nem dos livros apoiados por todos os lugares, à primeira vista, estava tudo em perfeita ordem e em seu devido lugar, como deveria ser. Shara ele notou, estava quieta, porém sentada em um dos cantos do sofá, lendo algo relacionado com transfiguração, certamente algum tipo de material auxiliar repassado por Minerva, aquilo também parecia ser um bom sinal, já que aparentemente ela havia estudado algo, seguindo assim sua orientação, ela levantou a cabeça sutilmente para encará-lo, assentindo de forma discreta para ele, um sinal de que havia notado sua presença, mas voltando novamente sua atenção para a leitura, se ele não a conhecesse bem o suficiente aquilo teria passado despercebido, mas ele a conhecia, aquele comportamento e todo o silencio, não era nada normal.

—Devo me preocupar Epson? – ele pediu em tom de sarcasmo, tentando soar despreocupado – afinal nunca chegamos nesse estágio antes, confesso estar surpreso– ela levantou a cabeça outra vez, o encarando de forma vazia, ela parecia distante – me refiro ao estágio em que você entende e segue minhas recomendações – ele informou não recebendo nada dali, nenhuma contra argumentação, nenhuma pergunta, nenhum pedido de desculpas sem sentido... sim certamente havia algo errado – quais foram as matérias que se ocupou hoje? – ele perguntou, mudando de assunto e tentando um pouco mais de interação, enquanto tirava a sua capa e se servia de uma bebida quente, sua estante estava intacta, sinal de que a ave também havia cumprido o prometido. 

—História da magia, Feitiços e agora transfiguração – ela respondeu precisamente à sua pergunta, mas sem acrescentar nenhuma outra informação, não havia um tom de chateação e nada provocativo também, então ele descartou a hipótese de que Antony pudesse ter dado nos bicos com alguma informação confidencial.

—Jantou? – aquilo não poderia ser fome? Poderia? Ele não entendia muito sobre crianças e muito menos sobre comportamentos, mas ele sabia que ela costumava ficar mal humorada, quando estava com fome.

—Apenas os legumes – ela respondeu sem esboçar qualquer emoção – não estava com muita fome – não estava com muita fome, ele repetiu internamente, descartando aquilo também, por Merlin talvez ela estivesse frustrada com o andamento das atividades relacionadas a poção, de fato ele ainda não havia conseguido dar alguma atenção nisso, ele sabia da urgência mas nessa reta final, provas e tudo mais, não estava sobrando muito tempo para quaisquer outras atividades.

—Alguma evolução com as pesquisas? - ele perguntou - Me refiro sobre a poção– ele tentou uma última vez, notando ali um leve desconforto da parte dela, bingo... aquela era a raiz do problema.

—Eu não... tive muito tempo, para isso – era mentira ele sabia.

—Me entregue os pergaminhos, estou com um tempo sobrando essa noite e gostaria de fazer a analise e comparativos – ele pediu, mentindo, já que ele não dispunha desse tempo ainda, haviam algumas provas para fechar, e aquilo ocuparia o restante do dia, mas o comportamento dela o intrigava, ainda mais por que ela havia endurecido completamente ali, ela que estava toda empolgada e falante no dia anterior, o que poderia ter mudado?

—Não será possível – ele sentiu uma oscilação.

—Não será possível? – ele repetiu em tom de pergunta – elabore melhor – ele a encarou, agora confuso.

—Eu... os queimei – ela disse olhando para qualquer ponto a sua frente, menos para ele – todos eles, todos os pergaminhos... eu joguei na lareira.

—Deixe me ver se entendi – ele caminhou até onde ela estava sentada, parando a sua frente, ele sabia que a intimidava assim, mas ela não podia estar falando mesmo sério, podia? – está me dizendo aqui, que queimou os malditos pergaminhos, aqueles que quase me fez flutuar por cima ontem? Já que aparentemente significava toda a sua pesquisa – ele a encarou, por que ela faria algo assim? – é isso que está me dizendo Epson? - por mais autocontrole que pudesse ter, não havia simplesmente como ser pacífico naquele ponto - responda a minha pergunta - ele insistiu.

—Sim... é isso ok? Foi o que fiz… - ela disse arremessando o livro que segurava a alguns metros de distância dali o surpreendendo com aquele acesso de raiva repentino - eu fiz… eu não tenho nenhum controle de impulsos, eu sei… eu realmente fiz… brigue comigo, grite comigo… diga o que quer dizer, mas foi exatamente o que eu fiz – ela admitiu puxando as pernas contra o seu corpo, e baixando a cabeça sobre os joelhos, ele a encarou por um momento, num passado não tão distante ele tranquilamente faria tudo isso, seria na verdade um prazer ofender,  recriminar, reforçar suas falhas, mas não agora… havia algo de errado, que aquela raiva toda, manifestada ali apenas estava camuflando. 

—Garota estupida! – ele exclamou - acha que vai conseguir o que agindo assim? – foi o máximo que ele conseguiu, isso sem nenhum surto, ela levantou a cabeça, daquela distancia ele podia ver o quanto o seu semblante estava abatido e como o rosto dela estava inchado, ela havia chorado e não havia sido pouco.

—Eu não posso mais fazer isso… - ela disse - eu não POSSO - ela gritou.

—Não pode fazer oque? - ele perguntou, se surpreendendo por ainda não ter levantado a voz também – olhos pra cima Epson– dessa forma eles não sairiam do lugar, ela não se moveu – AGORA – ok, tudo tem limite.

—O ritual… quebrar a maldição… isso tudo que é esperado que eu faça... eu não posso... se eu fizer…  – ela finalmente o encarou - se eu o fizer… - ela estava com dificuldade e ele sabia, ele havia entendido agora o que tinha acontecido ali, ela sabia sobre o destino de Antony – ele vai morrer... – ela disse com a voz embargada – como eu posso prosseguir nisso, sabendo o que vai acontecer com ele? Eu não posso... então, eu joguei tudo fora... todo o meu trabalho, eu não quero, eu não posso... eu não vou… perder mais ninguém - ela chorou, sim de fato àquilo poderia ser bastante difícil, ela estava apegada a ave, apegada o bastante, era natural que sofresse, ele havia notado a proximidade dos dois, e isso apenas reforçava a sua tese sobre a proximidade que ele mesmo estava alimentando com ela, aquilo também era errado… seria igualmente difícil e doroloso no futuro - mas eu não tenho exatamente uma opção, tenho? ... Por que tem que ser eu? – ela desabafou, colocando a cabeça sobre os joelhos outra vez - ele suspirou, não era uma conversa fácil e ele não esperava tê-la agora.

—Pelo menos evoluímos aqui – ele disse cansado – já que não estamos fazendo isso durante a madrugada – parecia que ter conversas difíceis se tornaria uma tradição ali.

—Eu... não quero falar sobre isso... isso me deixa doente – ela colocou a mão sobre a boca, enquanto ele chamava uma poção para o estomago, impressionante como ele já a conhecia tão bem.

—Beba – ele pediu, ela fez – assim está melhor.

—O senhor já sabia, não sabia? – ela perguntou.

—Sim – ele disse sendo sincero, pelo menos aquele era um peso a menos, de tantos que ele tinha para carregar.

—Como consegue? – ela se ajeitou um pouco melhor, ficando de joelhos ali e suas bochechas estavam coradas - lidar com isso? Sabendo a verdade, sabendo que ele vai morrer? Ele é seu amigo, não é? como consegue ser tão frio e não se importar? Eu... quero ser assim também – ela perguntou, e não era algo ofensivo, ela estava tentando ter algo para se apegar, como se houvesse um segredo para isso, algo que ela pudesse simplesmente destravar, mas não havia, pelo menos nada que valesse a pena.

—Penso que não seja necessário lembrá-la do meu passado sombrio – não havia como não se tornar uma pessoa fria e endurecida, vendo e participando da morte de tantos inocentes como ele havia feito um dia, mas aquilo seria um pouco pesado para ser dito dessa maneira – quando você faz escolhas, e se engaja em causas digamos que não muito apropriadas, algumas coisas passam a não ter tanto significado, a morte é apenas uma delas, eu sei que essa não é exatamente a resposta que procura – ele a olhou no fundo dos olhos – mas não almeje algo assim, isso vai contra tudo que acredita – aquilo era ainda mais verdadeiro – são justamente características como as que possui, empatia, compaixão, coisas das quais mencionei ontem à noite, que te tornam quem é – ela baixou os olhos.

—Na verdade, me torna fraca... – ela sussurrou e aquilo o desestabilizou de alguma forma – se eu não fosse assim tão vulnerável, eu acabaria com tudo isso de uma vez... mas eu não consigo – ela disse chorando - eu sou fraca.

—Imagino, que já que trataram desse assunto, que ele tenha comentado o quanto ele vem ansiando por esse momento a muito tempo? – Severo perguntou, talvez aquilo tirasse um pouco do peso que ela desnecessariamente estava colocando sobre si. 

—Sim... ele fez… ele tentou me explicar, me convencer, eu... eu simplesmente não posso entender, mas... - ela disse com dor – Como ele pode fazer isso comigo? – ela perguntou chorosa, e ali estava um ponto.

—Por que acha que a morte, no caso dele, me referindo a todo o histórico que conhecemos e tudo que ele já viveu - Severo enfatizou bem aquilo, não querendo abrir qualquer margem ali – por que acha que nesse caso, a morte seja algo ruim? - ele pediu, talvez soasse frio, mas ainda assim ele queria que ela entendesse.

—Eu não quero perdê-lo - ela respondeu - eu não posso… 

—Veja que não respondeu minha pergunta - ele queria fazê-la pensar, então ele segurou o seu queixo, a obrigando a encará-lo - eu não perguntei como você se sente sobre isso, mas no caso dele… por que seria ruim morrer agora? - ele pediu outra vez.

—Eu… acho que não seria - ela disse depois de um tempo.

—Sim, está correto, não seria… então não haja de forma egoísta, posso ver que se afeiçoou a ele e a ideia de não tê-lo mais presente em sua vida, pode ser dolorosa, e não existe nada de errado em se sentir triste, mas não torne isso ainda mais difícil, se pensar apenas em si mesma, apenas na sua própria dor, fará com que o fardo seja ainda mais pesado, tanto para ele, como para você – Severo concluiu e ela silenciou… ele sabia que ela estava reconsiderando tudo aquilo - ainda sobre não ser egoísta e não pensar apenas em si mesmo, estive pensando… - ele fez uma pausa, buscando o olhar dela outra vez, e aquele era um bom momento para isso - ainda que não deva sair do castelo no feriado de natal, penso que uma visita rápida a aquela sua amiga trouxa, por algumas horas, não seria de todo, um problema - ela saltou, ficando de frente para ele, os olhos dela estavam pequenos já que ela havia chorado o suficiente naquele dia.

—O senhor… me deixaria visitá-la? - ela pediu incrédula - eu poderia ver a Catie, é isso mesmo professor? 

—Não sozinha, obviamente, e serão apenas por algumas horas - ele enfatizou, tendo a certeza de que aquela havia sido a decisão certa, seria de fato egoísmo privá-la de algo tão importante assim, era natal, e não que ele se importasse com a data, mas ele poderia desprender de um tempo para acompanha-la, ele a manteria em segurança.

—Tudo bem, eu nem quero ficar lá mesmo, está... perfeito… muito perfeito, eu vou escrever para Catie… eu vou avisá-la… ela vai ficar muito feliz… obrigada por isso senhor - ela disse agora sorrindo, e ele preferia manter as coisas assim, ela o abraçou… repousando a cabeça no seu peito, agora algo banal, e nem era 3 horas da manhã.

—Shara… - ele chamou sua atenção, havia algo que precisava ser dito – não quero mais ouvi-la dizer que é fraca - ele disse sério, ele queria que ela entendesse aquilo – vejo que está distorcendo o significado e mudando o sentido da palavra apenas por querer se sentir confortável com a escolha que terá que fazer - ela sequer se moveu - perceba que todos nós em algum momento teremos que enfrentar uma escolha difícil e isso é sobre o que é certo ou sobre o que é fácil… - ele disse parafraseando aquilo que Alvo lhe disse certa vez, quando o recebeu em Hogwarts anos atrás, Severo jamais se esqueceria - um dia a muito tempo, fiz uma escolha, eu obviamente escolhi o que era fácil, escolhi aquilo que mais convinha pra mim na época, mas foi uma escolha errada e estou presa nela pra sempre - ele admitiu para ela, era aquela escolha que os afastava de terem um futuro juntos – e as consequências, acredite podem ser terríveis – ele disse pensando justamente nisso - e isso é ser fraco, não o contrário, já a sua mãe, já Maeva, ela escolheu o que era certo, você se parece com ela… ela foi forte - e nada nunca foi tão verdadeiro, ele sentiu as lágrimas da criança molharem sua camisa, mas ele não se importava, no que dependesse dele, ela faria as escolhas certas.

—Esse é o motivo... digo, pelo qual vocês dois não ficaram juntos? - ela pediu com a voz abafada.

—De certa forma – ele respondeu de forma elusiva, já que não se sentia à vontade para discutir aquele assunto com ela, e ela também não insistiu.

—Se estamos todos predestinados a algo, como eu sei que estou a quebrar a maldição – ela disse depois daquele tempo em silencio, parecendo ter refletido sobre aquilo – bom... talvez o senhor não tenha feito uma escolha tão errada assim, já que... se tivessem mesmo ficado juntos, eu... bem eu não teria existido, não é mesmo? – ela concluiu, e ela nunca esteve tão errada sobre algo, ele não respondeu... simplesmente por que não poderia. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O capítulo começa com uma pegada cômica, adoro a leveza dos diálogos com Antony, são sempre os melhores "meu bum bum dói" hahaha imaginem Snape ouvindo isso kkkk
Happy birthday Antony

Agora, aos fatos, se eu já chorei escrevendo essa história, não restam dúvidas... Mas esse capítulo, esse diálogo com Antony aqui, eu literalmente acho que desidratei... Bom, em algum momento isso teria que acontecer né, ela teria que descobrir a verdade sobre o destino do Antony, depois que ela fizesse o tal do ritual (macabro) e quebrar a maldição. Que escolha difícil e que paradoxo, saber que depende dela...

Sinto muito, é tão cruel né... eu não sei se poderia, honestamente, confesso que me sinto em cima do muro aqui, é uma decisão difícil e eu sei que coloquei uma carga emocional grande nisso, pq convenhamos é foda, eu sei... E aí? O que vcs fariam?...

Achei de uma sabedoria sem tamanho a forma como o nosso Severo Snape conduziu isso com ela... Ele trouxe muito mais clareza, provando um lado egoísta dela (que eu TB teria, afinal é o Antony né gente) mas foi com muita cautela, e ele pode ver melhor as coisas, justamente por que ele tem esse olhar mais frio e calculista. Ele é racional e ela é pura emoção.
E para amenizar um pouco toda essa tensão, ele revelando pra ela que vai rolar uma visita com a Catie, muito paizão né.

E esse final... Ele usando a frase de Dumbledore (amo essa frase) na dúvida entre escolher o que é fácil ou o que é certo, escolha o que é certo! Isso vale pra vida né. Ele reforçando que ela deve escolher o que é certo, sendo ele mesmo exemplo do que não é. Foda.


Esse natal promete!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Destinos Improváveis" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.