Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 19
Futuro - Acertos




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Shara demorou para conseguir dormir naquela noite, a cama era demasiadamente desconfortável, bom talvez não fosse exatamente a cama, talvez fosse mesmo o lugar, a ala hospitalar era tão silenciosa e vazia a noite, ela quase podia ouvir seus próprios pensamentos, eles eram como um turbilhão de emoções, o passado e o presente juntos e misturados, e sem falar que ela tinha se esforçado tanto para não precisar ser assistida ali naquele lugar, ela até havia se colocado em apuros e tudo mais, e para quê? se agora era exatamente ali que ela se encontrava, e o pior sem entender exatamente por qual motivo, e muito menos de que maneira ela tinha conseguido essa façanha, ela estava às cegas e isso era desconcertante.

Madame Pomfrey havia pedido para que ela tomasse algumas poções antes de dormir, ela tinha falado pouco e não havia dito nenhuma palavra sobre o ocorrido, e embora Shara quisesse muito saber o que tinha acontecido, ela estava exausta o suficiente e acabou optando em não bombardeá-la com perguntas que ela não iria conseguiria sustentar naquele momento, mas a verdade é que ela não se lembrava de nada, nem de sentir dor, ela sabia que havia desmaiado já que sua última memória era dela procurando pelo colar da sua mãe em seu dormitório e não o encontrando, ela se lembrou que estava se virando para ir até o salão principal falar com o professor Snape a respeito, já que ela tinha prometido para Beta, e depois disso não havia mais nada, apenas escuridão, e agora ela estava ali olhando para o teto sem entender o que poderia ter acontecido, ela suspirou, se sentido cansada.

Sua mente por mais que se esforçasse, não fornecia nenhuma informação útil, então ela desistiu, pensar também cansava, a única pista que dizia alguma coisa sobre sua atual situação era de que ela havia se cortado, já que Madame Pomfrey também checou seu pescoço, balbuciando algo como “os cortes fecharam bem” Shara sabia que haviam cicatrizes do passado naquela região, já que por um tempo lá no lar Cati precisou auxiliá-la com algum tipo de pomada, aquilo aliviava, mas era remédio trouxa e portanto não tinha as propriedades mágicas, como aquele que o professor Snape havia lhe dado outro dia, então as cicatrizes ainda estariam lá, e ela estava torcendo para que Madame Pomfrey não quisesse inspecionar e fizesse perguntas indiscretas, ela definitivamente não aguentaria as perguntas, mas ela não o fez, deixando Shara um pouco mais aliviada.

Não havia mais ninguém na enfermaria aquela noite, e isso era bom, de certa forma, porém Shara estava se sentindo completamente sozinha e abandonada ali, não era o caso ela sabia, mas ela simplesmente não podia evitar, era como nos velhos tempos, e pensar sobre isso deixavam os sentimentos ainda mais a flor da pele; medo, dor, insegurança e tristeza eram aqueles que ela poderia facilmente identificar, sim era complicado demais explicar, mas era algo parecido com quando ela ficava acordada até tarde no lar, esperando que Noah entrasse a qualquer momento no quarto para assombrá-la, com o intuito de terminar aquilo que não havia sido concluído e sabendo que desta vez ele seria ainda mais cruel, mas ela estava em Hogwarts e portanto isso não seria possível, a realidade ali era outra mas era igualmente ruim ela havia perdido o colar da sua mãe, Carla o havia tomado e Shara sabia que se dependesse daquela garota, ela não iria devolvê-lo nunca mais e agora ela não podia contar com a ajuda do professor Snape, já que ele havia dito em alto e bom som o quanto não se importava com ela, e isso só fez tudo piorar.

Shara entendia que não podia fazer exigências, afinal ele era apenas e unicamente seu professor, ele não devia nenhuma atenção especial para ela, não deveria existir cobranças e muito menos algo em seu favor, mas então por que ela se sentia assim tão frustrada em relação a ele? sim ela esperava algo diferente dele, porque de uma forma que ela não podia explicar, era na presença dele que ela se sentia segura e acolhida, claro ele não era um doce, muito pelo contrário, mas até a rigidez de como ele levava as coisas e a disciplina que ele empregava eram moralmente aceitáveis, ele não era como Noah, e embora ele tivesse feito coisas horríveis no passado, ela sabia que isso não o definia hoje, e até mesmo conhecer essa realidade não foi o suficiente e nem capaz de persuadi-la a mudar em relação aquilo que ela sentia.

Ouvir aquelas palavras, ditas da forma como foram não era algo muito diferente de tudo que ela já estava acostumada a ouvir, Noah dizia coisas muito piores que aquelas, mas foram ditas por ele, e isso doeu, doeu na hora, e ela não pode sequer segurar as lagrimas, ele viu, era humilhante, e ela estava se sentindo tão mental a respeito de tudo isso agora, ela queria poder voltar no tempo e mudar algumas coisas, ela fantasiava demais, e ela estava fantasiando outra vez, fantasiando algo sobre um adulto se importando com ela pela primeira vez, e ela fechou os olhos com força, tentando de forma inútil, conter as novas lágrimas que teimavam em surgir e desciam de forma silenciosa pelo seu rosto, quantas vezes ela fantasiou no passado sobre uma família, sobre uma adoção, sobre uma casa de verdade, e então ela simplesmente parou de fantasiar. E esse era o caso ali, afinal por qual razão o professor Snape se importaria? não era com ela que ele se preocupava, mas sim com a segurança dos alunos e com a sua casa, ele estava apenas fazendo o seu trabalho, a realidade não iria mudar quem ela era, então ela bocejou cansada demais de tudo aquilo, ele não se importava, ela não tinha ninguém.

Shara não sabia dizer em que momento no meio daquele furacão de pensamentos ela havia de fato conseguido dormir, embora a sensação era de que ela não tivesse dormido, mas sim lutado uma guerra, ela estava ainda mais cansada do que no dia anterior, ela abriu os olhos já que o lugar estava claro demais agora e a luminosidade em excesso a incomodavam, Shara havia se acostumado com o seu quarto escuro nas masmorras, pelo menos algo lá era bom ela pensou, da cama onde ela estava deitada, era possível ver o sol nascer lá fora, aquelas janelas era incrivelmente grandes, e então ela puxou a coberta por cima da sua cabeça, nem um dia lindo como aquele lá fora seria capaz de faze-la se sentir melhor, não naquele estado, e isso era ruim, ela queria poder sumir embaixo daquelas cobertas do que ter que enfrentar um novo dia naquelas circunstancias, mas a realidade era dura e estava bem ali, ela estava sozinha, numa maca na ala hospitalar onde todos os seus segredos mais duros e difíceis poderiam ser expostos a qualquer momento, e ela estava sem o colar de sua mãe, e sem esperanças de vê-lo outra vez, “sinto muito mãe” ela disse mais para si mesmo, mas doía, como doía.

—Bom dia Shara, como está se sentindo essa manhã? – ela ouviu Madame Pomfrey perguntando, Shara nem havia notado que ela tinha se aproximado e ela pensou honestamente em não responder, já que ela estava embaixo das cobertas, afinal como ela poderia saber que ela já havia mesmo acordado? Shara não queria falar com ninguém, mas se a sua intenção era mesmo sair dali, sim ela teria que fazer um esforço.

—Eu… estou bem - ela mentiu - eu posso ir? – ela perguntou baixando a coberta e tentando não parecer uma criancinha de 5 anos de idade.

—Conhecendo seu histórico, confesso que imaginei que essa seria sua expectativa ao acordar essa manhã, deixe-me avalia-la  – ela disse se aproximando - a boa notícia é que os cortes fecharam completamente – agora ela estava inspecionando seu rosto e pescoço mais de perto, não tão perto assim Shara pensou, mas não havia simplesmente como se esquivar daquilo – você também não tem mais nenhuma fratura - ela informou, fratura? Ela disse fratura? - bem acredito que posso liberar você depois de um bom café da manhã, e claro depois que o professor Snape passar por aqui.

—Oque… por que? - Shara disse tentando não parecer tão indignada, mas ela estava, por que ele tinha que passar na ala hospitalar?  pela sua conta era domingo de manhã, ela nem tinha aulas nem nada e ele não deveria estar de folga?

—Protocolo - ela disse dando de ombros, ótimo então havia um protocolo e ela teria que vê-lo de qualquer maneira, não havia escapatória.

—Certo - Shara suspirou, puxando a coberta por cima de si outra vez, era bom poder se sentir invisível embora ela soubesse o quanto aquela ação soava de forma infantil, mas decidindo não se importar dessa vez, ela estava nervosa e aquilo costumava ajudar e ela se lembrou das vezes de quando ela era pequena e achava que podia mesmo se esconder da realidade daquela maneira, era um solo seguro de pisar.  

—Ele não pode ser tão ruim assim – ela parecia estar de bom humor, mas Shara não estava e optou em não responder dessa vez - falando nele – ela ouviu Madame Pomfrey dizer apenas alguns minutos depois e seu coração acelerou, sim definitivamente ela estava nervosa.

 _Bom dia Severo vejo que acordou cedo essa manhã, o que é bom sinal, afinal temos uma aluna que está muito ansiosa para sair daqui logo, eu sinceramente não entendo por que essas crianças não gostam da ala hospitalar - Madame Pomfrey disse tentando soar de forma descontraída, e ela resolveu ignorar mais uma vez, quanto menos ela falasse melhor.

—Bom dia Pomfrey – Shara ouviu a voz forte e firme dele vindo a uma certa distância, era sempre o mesmo tom, era gélido e sem emoções, talvez ele não tivesse mesmo emoções ela pensou - alguma mudança no cenário desde ontem à noite? – ela o ouviu perguntando e Shara não pode deixar de pensar, que diferença aquilo faria pra ele já que ele não se importava de verdade.

—Completamente estável e apta a alta, porém tenho uma condição, ela só deve sair depois de comer uma refeição completa – Shara nem estava com fome, e só de pensar em comida, aquilo estava fazendo seu estômago embrulhar.

—Não estou com fome - ela intrometer-se, o que eles poderiam fazer sobre isso? eles não poderiam simplesmente obrigá-la a comer não é mesmo?

—Pomfrey me dê um momento - o professor disse, e ela ouviu a curandeira juntando os frascos vazios das poções que tinham ficado da noite anterior, ao lado da sua cama e se afastar deixando-a a sós com ele, e Shara sentiu seu estomago embrulhar por um motivo diferente agora, era inevitável já que ele era demasiadamente intimidador.

—Srta. Epson – ele disse o sobrenome dela lentamente, e isso não podia ser bom – Acredito que essa não seja uma boa hora para joguinhos infantis, portanto saia imediatamente debaixo dessas cobertas – ela congelou - AGORA – certamente ele não estava com paciência, e é claro que o medo prevaleceu, e ela o acatou imediatamente, ela percebeu que nem havia penteado os cabelos ainda, e agora ela estava se sentindo como uma criancinha prestes a ser corrigida depois de uma travessura, mas não era o caso ali, ela não havia feito nada de errado, havia? – Assim está melhor – ela podia sentir os olhos dele sobre ela, embora ela ainda não tivesse tido coragem o suficiente para encara-los – Muito bem, vamos direto ao ponto, ontem à noite algo bastante sério aconteceu na sala comunal da Sonserina e é claro que não estou surpreso em saber que a Srta. está completamente envolvida nesse caso, afinal já falamos da sua capacidade de se envolver em problemas, não é mesmo? – ele disse rodando a cama dela com os braços cruzados discursando – e digamos que sangrar por toda a sala comunal esteja em uma escala superior, em outras palavras, um problema dos grandes pra mim - ela engoliu em seco, sangrar por toda sala não parecia nada agradável, as poucas informações que ela estava recebendo estavam começando a deixa-la assustada, então ela desmaiou, se cortou, fraturou sei lá oque e sangrou por toda a sala, era simplesmente estranho não conseguir se lembrar de nada disso, e por que ele estava agindo como se ela tivesse alguma culpa?

—Eu não sei… Senhor - ela não sabia, o que mais ela podia dizer.

—Você não sabe - ele repetiu - vamos começar outra vez - O que exatamente você fez para ser agredida daquela maneira? – como assim agredida? Tipo atacada? do que ele estava falando exatamente, ela havia sido atacada? Aquilo só estava piorando.

—Desculpe… eu fui atacada? - fazia um certo sentido, ela pensou, já que ela estava de costas quando tudo aconteceu, ela lembrou de ter ouvido um barulho, e foi assim que ela perdeu a consciência... Carla! Era obvio agora e Shara sentiu uma fúria crescendo dentro de si com essa averiguação, aquela garota... era sempre ela, ela estava à espreita.

—Epson não sei o quanto seu cérebro é capaz de processar, mas caso não tenha percebido, você passou a noite na enfermaria, e essa é a parte em que você usa os neurônios que te restam para me fazer entender o motivo que te trouxe até aqui naquele estado - ele era um idiota completo quando queria, ela também não tinha aquelas respostas, e havia uma fúria incontrolável dentro de si agora.

—Eu… bem eu lembro apenas de estar no meu dormitório, não havia ninguém e tudo escureceu de repente, eu nem sequer cogitei que poderia ter sido atacada até esse momento, já que ninguém se deu o trabalho de me explicar o que exatamente aconteceu comigo, SENHOR – sim ela havia respondido ele, o que ela estava fazendo? Ela estava com raiva da Carla, mas também estava chateada com ele, e então ela simplesmente explodiu, ela havia ido longe demais sentindo que seu estômago estava dando voltas agora, ele se aproximou apoiando as duas mãos na cama a fazendo recuar e encostar o corpo todo na cabeceira de ferro da cama, não havia pra onde ir dali.

—Epson, olhos pra cima quando eu estiver falando – ela fez - eu não tolerarei sua petulância e não terei clemência em lavar a sua boca com sabão se for o caso - ele estava falando sério e ela sentiu seus olhos marejaram outra vez, por que sempre tinha que ser tão difícil? – e agora responda a minha maldita pergunta.

—Eu... sinto muito professor – ela o encarou finalmente, houve então uma breve troca de olhares entre eles e ele recuou dando novamente espaço para ela respirar - isso é de fato tudo aquilo que me lembro, eu... só sinto muito.

—Não me parece que essa seja toda a verdade – ele disse incisivamente, porém num tom não tão agressivo dessa vez - até por que averiguei todo o local depois do ocorrido inclusive o seu dormitório e me chamou a atenção o livro que encontrei em cima da sua cama – ele disse retirando o livro das suas vestes, ela até havia esquecido do livro, ok agora ela estava encrencada, ela deveria ter escondido ele melhor e o que o livro tinha haver com tudo aquilo? – me parece chocada Epson?

—Bem… o livro é para uma pesquisa... – ela disse sabendo que aquilo não seria suficiente, ela estava começando a se sentir sufocada - uma pesquisa pessoal – ela engoliu em seco.

—É claro – ele sorriu de forma irônica – onde está o colar que você usava na travessa do tranco? o colar da sua mãe? – ele disse indo direto ao ponto mais uma vez, ela involuntariamente colocou as mãos no pescoço, ela sabia que o colar não estava lá, mas ela o procurava com frequência, era quase como parte dela agora, e ela o tinha perdido e ele sabia? - Epson… - ele disse chamando sua atenção.

—Eu... – ela disse baixando os olhos – por que? – ela perguntou em voz baixa – se o senhor não se importa não é mesmo – e dito isso ela sentiu de forma repentina que ele se aproximou agora segurando o seu queixo, ele fazia isso muito, e era desconfortável e ela tentou recuar, ela sempre recuava também, era uma ação natural que ela não conseguia evitar, mas dessa vez ele parecia estar preparado para a reação dela, já que ele a segurou antes mesmo que ela pudesse se mover.

—Não tente isso Epson... não comigo – ele disse a encarando – não me interessa a sua interpretação daquilo que você ouviu ontem à noite, mas saiba que você podia ter morrido, mas é claro que você não entende a gravidade disso – ele disse e havia algo a mais no olhar dele que ela não soube identificar.

—Mas não morri, felizmente ou infelizmente depende do ponto de vista – ela sabia que estava sendo ousada, mas as palavras que ele disse ontem tinham sido difíceis para ela, era justo que ele queria saber os pontos, já que uma cena descrita daquela forma, dela sangrando na sala comunal era mesmo impactante, mas ela ainda tinha sentimentos, ela não conseguia simplesmente ignorá-los e deixar passar assim – me deixe em paz... – ela disse finalmente, e uma lágrima escorreu e ele a soltou a analisando, ela enxugou as lágrimas seguintes que desciam, ele acionou uma cadeira próxima, se sentando, cruzando as pernas e abrindo o livro que ele tinha pego no quarto dela, o livro da sessão restrita, ele não iria embora tão cedo e automaticamente nem ela, ela esperou alguns minutos antes de continuar – eu o perdi... – ela disse chamando sua atenção – eu perdi o colar da minha mãe e estava procurando por ele, quando ouvi um barulho mas antes mesmo de me virar eu já tinha sido atacada, eu realmente não vi de quem veio, eu nem sei como posso ter parado no meio da sala comunal naquele estado, eu sinto muito.

—Seja mais especifica, onde exatamente no seu dormitório você estava procurando antes de ser atacada? – ele não iria desistir, ela fechou os olhos sabendo das consequências que viriam quando Carla soubesse o que ela havia dito, mais uma vez, afinal não era como se ele fosse realmente fazer algo a respeito, mas agora ele poderia, e ele não se importava com ela para poupa-la mesmo que ela pedisse de novo, então dependendo do quanto Carla pudesse se chatear com aquilo, talvez na próxima vez a loira tivesse mais sorte e Shara não sobrevivesse para contar a história.

—Nas coisas pessoais de Carla – ela disse fechando os olhos e ouvindo ele suspirar.

—E por que você procuraria nas coisas dela? - Shara sentiu seu estômago outra vez, ela se encolheu puxando as pernas até o pescoço, ela tinha dificuldade em delatar as pessoas, principalmente aquelas que eram uma ameaça, mesmo que ela já tivesse feito isso antes com ele, mas agora não era a mesma coisa e não fazia mais sentido.

—Ela… bem por que foi ela que pegou o colar mais cedo naquela tarde, eu estava lá fora, lendo quando ela se aproximou sem que eu e Beta percebêssemos, eu estava segurando o colar e senti ele sendo puxado das minhas mãos, e lá estava ela, eu tentei recupera-lo, mas ela correu, eu fui até ela, mas ela me derrubou, sei lá com uma barreira invisível, eu me desiquilibrei e cai e então ela fugiu – Shara confessou.

—Então isso justifica a bagunça, vestes sujas e os arranhões – ele disse se debruçando pra frente.

—Sim, isso faz – ele tinha notado isso?

—Epson – ele passou as mãos pelo cabelo - Você se comporta como uma garota tola todas as vezes que age por conta própria, nós já falamos sobre isso e eu achei que tinha sido suficientemente claro sobre quando eu disse para me procurar em situações de perigo – Era notório o desapontamento dele, mas ela havia ido... e ela teria dito no jantar de qualquer maneira.

—Eu fiz... - ela relutou para dizer aquilo – eu não queria honestamente, mas eu fiz...  tínhamos acabado de discutir essa pauta na minha última detenção, e eu não queria incomoda-lo tão cedo outra vez com esse assunto, não parecia uma situação de perigo de qualquer forma, e bem eu não sou importante para importuna-lo com todos os meus problemas, eu sei como adultos sentem em relação a isso, mas era o colar da minha mãe e então Beta me convenceu e fomos juntas até o seu laboratório ontem à tarde, mas o senhor não estava – ao dizer aquilo ela percebeu uma leve mudança em sua expressão, ele se reposicionou na cadeira, parecia desconfortável, ela havia dito algo errado? – bom de qualquer forma, está perdido... o colar – e Shara sentiu novas lagrimas surgirem, enquanto ela enfiava a cabeça nos joelhos constrangida abraçando as pernas outra vez.

—De fato eu estava bastante ocupado com o time de quadribol – ela ouviu ele dizer – nem sempre estarei disponível, como você bem notou, mas isso não te dá o direito de resolver as coisas a sua maneira, foram apenas algumas horas Epson... algumas horas – ele tinha razão, mas pelo seu ponto de vista ela não tinha feito nada de errado, apenas estava procurando pelo colar no lugar que pra ela seria o obvio, e sem falar que ela estava no seu próprio quarto.

—Eu sinto muito, eu não podia imaginar... – ela conteve o choro – de qualquer forma o colar não estava lá, e eu estava indo até o senhor no jantar, mas agora... eu...– ela levantou o rosto, mas ela não sabia como continuar aquilo.

—Prossiga – ele pediu

—Eu... não tenho ninguém, já que o senhor disse que não se importava, não fique bravo, por favor... – ela disse antes que ele a amaldiçoasse ou algo assim, e ela não queria soar desrespeitosa novamente – mas não quero ser um fardo e eu sinto que é isso que eu sou, quando o incomodo com algo que bem... estou confusa, só me desculpe – ela enterrou a cabeça nos joelhos novamente.

—Epson... olhe para mim – ele pediu e ela levantou a cabeça esperando-o continuar – eu não sei o que a palavra importar significa para você, mas para que alguém se importe com o outro algo precisa ser construído você não acha?

—Eu sei... eu sinto muito – ela começou a chorar.

—Você está vulnerável, eu posso ver isso, mas não se apegue tanto a palavras, no momento compete a você saber que eu me preocupo com a segurança dos meus alunos, até mesmo aqueles mais desafiadores como você, e isso é o suficiente.

—Sim senhor... – ela estava envergonhada.

—Por que você acha que eu pedi para que você me procurasse quando se sentisse em perigo? Eu quero protege-la disso, como você acha que eu me senti ao encontra-la naquele estado? Eu não quero falhar com você, mas você precisa colaborar comigo, você consegue entender isso? – ela assentiu - E se isso significa se importar para você, então eu me importo.

—O senhor realmente quer dizer isso dessa forma? – ela estava confusa, paralisada e confusa, sim ela entendia, obvio que ela entendia, ele se preocupava, ele não gostou de encontrá-la naquele estado, e sim de certa forma ele se importava, aquelas palavras tinham o poder de desfazer a fúria de um vulcão em erupção e ela queria ter certeza de que ele estava mesmo querendo dizer aquilo.

—Sim eu faço – ele foi objetivo - E não está perdido - ele disse, chamando sua situação e ela notou que ele puxou de dentro do bolso das suas vestes, o colar... o colar da sua mãe, como? Como isso era possível? Ela limpou o rosto com as mangas de sua veste, seu coração acelerou, e ela se colocou de joelhos na cama na frente dele, sem se importar com o seu estado lastimável.

—Como? - ela perguntou extasiada

—Esse ponto não vem ao caso no momento – ele disse - você consegue perceber que se tivesse tido paciência e aguardado, teríamos evitado grande parte de tudo isso que aconteceu?

—Me desculpe... o senhor tem toda razão – era humilhante mas ela tinha que admitir, ela deveria ter ouvido Beta e ter esperado, e ele tinha o colar, ele tinha pego dela? – o senhor sabia que ela tinha pego?

—Não – certo ele não iria fornecer informações.

—Eu não entendo – Shara disse sem tirar os olhos do colar e ele fechou a mão o escondendo.

—E agora chegamos em outro ponto, o livro – o professor disse sinalizando para o livro que ele segurava apoiava em seu colo – e a sua pesquisa particular.

—Eu... estava procurando mais informações sobre a fonte de Medusa – não tinha mais razão para mentir, não para ele.

—Como eu disse uma lenda... – ela o interrompeu

—Não é só uma lenda... professor, escute… se me permite – ela disse se sentando na cama próxima dele e pegando o livro, ela abriu na página com a imagem ilustrativa do colar e apontou com o dedo para ele, que não parecia nada impressionado.

—Epson, eu estudei esse livro ontem à noite e é evidente pra mim que alguém pode ter visto a imagem do colar antes e tê-lo reproduzido – ele disse com exatidão – é um livro antigo.

—E o colar também, mas eu notei algo... – ela disse, ela acreditava na lenda mesmo sabendo que ele não iria ser convencido disso, mas havia algo sutil sobre o colar, o pingente, a pedra verde, ela não era uma pedra... não como ela pensou, era uma capa preenchida por um liquido esverdeado, não que o livro mencionasse isso dessa maneira, mais quando Shara leu sobre ser um colar de proteção, ela passou a enxergar o liquido ali, Shara não teve como evoluir com aquela descoberta, mas ela teria compartilhado com Beta a respeito se não fosse a interrupção e tudo mais que ocorreu em decorrência disso, Shara acreditava que o liquido era da própria fonte – o colar não é uma pedra sólida - ela disse revelando sua descoberta.

—Desculpe? – ele disse arqueando as sobrancelhas e abrindo a mão onde estava o colar outra vez, aquilo tinha pego ele de surpresa também e ela se animou.

—Se o senhor olhar bem de perto – ela se aproximou ainda mais dele, e ele se manteve na mesma posição, ela pegou o colar que ele segurava e ele também não se opôs e ela sentiu que aquele era o momento adequado, ela tinha uma prerrogativa, já que ele tinha dado esse espaço, então ela balançou o colar – é um cristal eu acho, e com água verde cristalina dentro.

—Como uma poção – ele disse pensativo pegando o colar e balançando o pingente com olhar penetrado nele, ele também não tinha notado antes ela percebeu.

—Sim como uma poção, dentro de um cristal lacrado, isso é possível professor? – ele a encarou por um instante antes de responder sua pergunta e disse de forma séria.

—Epson, magia nos permite muitas coisas, e sobre esse assunto você está estritamente proibida de falar sobre ele com alguém, não importa com quem seja, você entende? – ela assentiu, embora não, ela não entendia, claro que o colar era valioso mas não fazia sentido de qualquer maneira - bem… assim como esse livro não deve circular livremente por ai, e muito menos na sua mão – Shara olhou para o livro de relance, havia ainda tanto que ela gostaria de ler ali, mas ela não tinha como contra argumenta-lo, ela nem deveria ter tido acesso a ele pra início de conversa.

—Sim, eu entendo... o senhor acha que o dono daquela loja aquele dia no Beco Diagonal reconheceu o colar? – ela perguntou preocupada.

—Dificilmente dessa maneira… é um colar nobre, e chama a atenção em função disso, mesmo motivo que chamou a atenção da srta. Diaz, um olhar um pouco mais refinado e essa dedução chega a ser obvia – ele disse – de qualquer forma você deve mantê-lo escondido.

—O senhor acha que não devo mais usá-lo? - ela perguntou interessada.

—Na verdade é um colar de proteção, sua mãe gostaria que você o fizesse porém tenha o cuidado de não deixa-lo tão a mostra – ela assentiu, ela poderia fazer isso - Epson se  você permitir eu ficarei com o colar por uns dias para analisá-lo de forma adequada e minuciosa – ele disse ainda olhando para o colar e ela não pensou duas vezes, apesar de tudo, ele era o único adulto que ela já confiou, ela sabia que ele era bom, nem o passado e tudo de sombrio que ele pudesse ter feito mudaria isso, e ela pegou o colar dando uma última olhada nele e o devolveu nas mãos do professor, fazendo com que ele arqueasse as sobrancelhas – você confia muito prontamente nas pessoas Epson – ele disse guardando o colar no bolso.

—Bom se o senhor tivesse qualquer intenção de não me devolve-lo, certamente que o senhor não o teria me mostrado agora – ela disse convencida.

—Perspicaz Epson – ele disse a encarando – agora acho que já falamos o bastante por hoje, vou autorizar sua alta, já que esse é o seu desejo, contudo depois de fazer uma refeição completa, afinal não queremos contrariar Madame Pomfrey não é mesmo?  – por um momento ela até tinha se esquecido de onde estava, e a ideia de se alimentar agora já não parecia mais tão ruim - Epson você volta normalmente para a sala comunal, falarei com o diretor a respeito da sua situação, você não deve mencionar que suspeita da Srta. Diaz não por agora, lembre-se que não temos provas o suficientes para afirmar que tenha sido ela que tenha te azarado e portanto não podemos ser impulsivos – ela entendia aquilo – apenas seja discreta, não há com o que se preocupar, deixe que os adultos resolvam isso, e de resto estarei observando mais de perto, apenas não interfira nos meus métodos e me procure se achar necessário.

—Entendido professor e muito obrigada – era genuíno.

—Não me agradeça – ele se levantou – a propósito, antes que eu esqueça menos 10 pontos para a Sonserina, por ter retirado um livro da sessão restrita, sem permissão.

—Oque? mas eu tinha permissão – ela disse indignada – do professor Binns.

—É claro que tinha -  ele disse com deboche – assim como eu tenho certeza de que você foi honesta com ele e disse exatamente para o que seria o passe – ela sentiu que estava corando – imaginei, e independente disso alunos dos primeiros anos não tem direito a esse tipo de autorização.

—Podem não ter, mas eu consegui mesmo assim – ela disse cruzando os braços em sinal de vitória.

—Porém você cometeu um erro Epson – ele disse se movendo.

—Qual?

—Deixar que eu te pegasse quebrando uma regra – há, isso era sobre o método sonserino de ser, quebre regras, mas não seja pego nisso.

—Mas o livro estava na minha cama, no meu dormitório, até onde eu sei os professores não vasculham as coisas pessoais dos alunos dessa forma – ela tentou.

—Não... habitualmente, já que professores tem mais o que fazer, mas pode acontecer, principalmente quando eles são interrompidos no meio do seu jantar para averiguarem uma emergência em sua sala comunal, e se depararem com a cena de um aluno da sua casa em estado de quase morte, sangrando por todo o lugar, então sim pode acontecer – ele disse com ironia.

—É... eu não estava contando com isso – ela tinha perdido – foi falha minha mesmo – ela sorriu.

—Sim falha sua – ele disse se retirando.

Ele se importava... Shara sorriu apenas para si mesma, ela tinha o colar da sua mãe de volta, mesmo sem entender como ele havia conseguido, mas ele havia, ela tinha conseguido falar com ele sobre a lenda, talvez não exatamente da forma como ela gostaria, mas ele tinha ouvido e acatado suas suspeitas, e ela tinha conseguido se livrar do livro, perdendo apenas alguns pontos, não havia detenção e muito menos expulsão, e o mais importante de tudo, ele se importava.


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Notas finais do capítulo

Que reviravolta interessante, tinha tudo para ser uma catástrofe completa, mas eles conseguiram ter uma conversa decente afinal, e ele havia dito que se importava claro que não exatamente como esperávamos, mas ele disse a sua maneira, o que será que ele vai fazer com o colar? E principalmente o que ele fará para proteger sua criança a partir de agora? hummmm veremos!



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