Destinos Improváveis escrita por Nara


Capítulo 104
Futuro - Mortal


Notas iniciais do capítulo

Viramos uma página aqui :)



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A peça flutuava no ar, exatamente à sua frente, enquanto Severo a estudava meticulosamente. Ele a fazia girar com precisão, analisando cada ângulo com sua varinha. Seria excessivamente modesto da parte dele afirmar não ser a pessoa mais adequada para lidar com aquela situação. Afinal, se não ele, quem mais seria capaz de fazê-lo? Honestamente, não havia ninguém.

Entretanto, aquela poção revelara-se extraordinariamente engenhosa em circunstâncias anteriores, sim a magia bruxa, embora fundamentada nos mesmos princípios, era insignificante quando comparada à magia ancestral, interpretar a magia ancestral era uma tarefa desafiadora, e aquela poção milenar agora estava completamente adulterada, não comprometida... mas adulterada sim e isso sem uma razão aparente. Haviam propriedades que sofriam mutações com o tempo, mas não parecia ser esse o caso em questão, a liquidez e sua consistência permaneciam estáveis, o volume havia sido preservado... esse era mais um daqueles desafios que exigiam um alto índice de concentração o que seria muito mais fácil sem...

—E então, o senhor acha que podemos consertar? – …sem interrupções, ele pensou visivelmente irritado, Severo sabia que ela não havia ido a sala comunal com os demais alunos de sua casa naquela noite, não como era o esperado, a pestinha estava tramando algo e ele podia sentir o cheiro de sua insubmissão a uma certa distância agora, sim ela passou a ser completamente previsível para ele... e sua propensão a problemas o preocupava além do normal, já era tarde, bastante tarde e ele não apreciava vê-la perambulando pelo castelo naquele horário sem que estivesse usando o colar protetor, ainda mais agora que estava desprovida de magia e quebrando as regras após o toque de recolher. Shara era indomável e talvez ele devesse simplesmente aceitar os fatos, mas ainda assim ele não podia preservar o humor, que por sinal estava péssimo – e então... podemos consertar? – ela repetiu a pergunta como se ele não a tivesse ouvido, Shara estava sentada sobre a sua bancada de trabalho, o que também o desagradava, balançando as pernas no ar e mexendo as mãos nervosamente, já Antony estava encostado contra a parede, observando tudo em silêncio. Ambos o fitavam com atenção, ansiando por sua opinião. Severo detestava absolutamente tudo naquela situação.

Isso sem mencionar que Severo considerou extremamente dispensável toda a exibição feita pelo diretor com aquela maldita redação sobre imortalidade. Como um Sonserino, ele alimentava suspeitas sobre o autor da redação, especialmente por pertencer à sua casa. No entanto, detestou a forma como havia sido deixado de fora de tudo aquilo. Além disso, algo a mais o incomodou naquela noite, mais do que qualquer outra coisa ali, a sutil interação entre ela e o garoto Malfoy, obviamente que as trocas de olhares não passaram despercebidas por ele, sendo que mais uma vez Severo e ela haviam discutido de forma desgastante a relevância de se manter distância daquele maldito moleque, principalmente naquelas circunstâncias e mais uma vez, ela demonstrava para ele que não estava disposta a obedecê-lo. Shara parecia preferir passar por cima de suas razões a compreendê-las. Ele bufou irritado... em resumo, aquele não era um bom momento para ser importunado.

—Talvez... – ele disse de forma arrastada - se eu pudesse apenas me concentrar, com o que é devido, certamente teríamos mais sucesso...

—O que? – ela indagou sem paciência - Mas, eu sequer estou fazendo algo... se não percebeu, estou apenas respirando aqui e já tem um bom tempo por sinal - ela respondeu se sentindo ofendida, e a maneira como ela o encarava o deixou ainda mais aborrecido, ela era de fato uma pirralha insolente, sendo que ela sequer o havia deixado terminar sua colocação.

—Então... deveria respirar mais baixo - ele disse sem emoção, demonstrando insatisfação com aquela abordagem, Shara ergueu as sobrancelhas de forma desafiadora diante da hostilidade em seu comentário. Esse era um movimento que ele conhecia muito bem, contudo, era um movimento equivocadamente perigoso. O silêncio tenso pairou no ar e já que ela estava se sentindo tão encorajada a enfrenta-lo, quem sabe ela merecesse ser colocada em seu devido lugar - O que devo fazer para que aprenda a respeitar as malditas regras? Está muito além do horário permitido, perambulando pela escola sem magia alguma... está sem o colar protetor, não por menos afinal algo que fizeram o adulterou – ele rosnou mantendo o olho na peça - e ainda por cima, ousa me questionar de forma indulgente, enquanto invade o meu espaço de trabalho – ele encarou a bancada onde ela estava sentada com o intuito de faze-la entender aquilo, mantendo sua usual postura rígida - Hogwarts é uma escola, e esta é uma sala de aula. Este é um lugar de aprendizado e de disciplina, palavras que você parece desconhecer... este não é um playground para seus caprichos - ele cuspiu, vendo-a saltar da bancada.

—Está... tão preocupado com as regras, professor – ela disse usando o título, com o intuito de provoca-lo – então apenas me aplique uma detenção... já que isso parece fazer com que se sinta melhor, vamos... mostre sua autoridade... mesmo quando... quando estamos com um problema bem grande aqui - Ela olhou para o colar, seus olhos verdes agora brilhavam de raiva - E bem, esse é um problema verdadeiramente relevante, muito mais... que suas, suas regras estúpidas... e desculpe se eu achei que o senhor seria a pessoa certa para nos ajudar nessa situação... já que é o mestre de poções desse grandioso parque de diversões... digo, escola - Ela o provocou deliberadamente, e novamente aquele era um péssimo momento para isso. Shara ainda não sabia ler os sinais, e Severo sentiu a necessidade de fazer como sugerido, impondo sua autoridade ali, ele se aproximou dela e a segurou com firmeza pelo braço, impossibilitando-a de se mover, ela o encarou assustada, outra reação bastante conhecida ali.

—Regras estúpidas? - Ele perguntou com ironia, e pela expressão no rosto dela, era visível seu total arrependimento. Ela estava cansada, estava nervosa e preocupada com aquela nova situação, e conhecendo-a suficientemente bem, ele sabia que era assim que ela reagiria se fosse provocada, sem nenhum filtro e sem qualquer controle de impulsos, ele já a havia visto explodir assim, tantas outras vezes antes. No entanto, ele não estava interessado em ser compreensivo naquele momento. Aquilo simplesmente precisava parar, e ela precisava entender seus malditos limites - Acredita que pode fazer o que quiser, quando quiser, não é mesmo? - Os olhos de Severo estreitaram-se diante da provocação infantil – Não tente me subestimar, Epson... e não haja como se pudesse me desrespeitar... está abaixo de minha autoridade queira você ou não, sabe que não costumo ser paciente, e muito menos irei tolerar uma aprendiz inconsequentemente imprudente - Ele vociferou - Seus atos não passam despercebidos...- Ele estava a centímetros do rosto dela - E não será difícil para mim, colocá-la em seu devido lugar - Sim, aquilo era uma ameaça.

—É... pessoal? – Antony interveio, mas Severo o ignorou...

—Você age como se estivesse acima das regras, como se não houvesse consequências para suas ações insensatas, isso vez após vez - A voz de Severo era gélida e cortante como uma lâmina - Mas farei questão de garantir que entenda que está equivocada... que há limites Epson, e você os tem ultrapassado a cada maldito passo que dá - Antony pigarreou, mas Severo se manteve indiferente em relação a ele - A partir de agora, você respeitará minha autoridade, sim... e me chamará de professor de forma respeitosa, você levantará a mão quando quiser se reportar a mim, irá esperar sua vez, mas se for suficientemente esperta se calará – ele disse em repreensão, ela estava segurando a respiração – Sim, irá aprender a controlar sua língua malcriada e infeliz, ou eu mesmo a ensinarei a fazê-lo... sabe muito bem que posso - Severo disse, fazendo menção ao feitiço de trava língua que ele lançara sobre ela no passado.

—Ai meu Merlin - Antony interrompeu de forma incisiva, o obrigando a parar - Olha só... não importa pra mim no momento qual dos dois tenha o temperamento mais difícil aqui, embora acredito que temos um belo de um empate, mas... vamos apenas tentar focar, ok? Afinal, todos sabemos que eu meio que dependo dessa coisa, dessa poção para... para... enfim... e justamente agora... que Shara me procurou e se ofereceu a fazer o ritual, e sim, nós simplesmente estávamos tão perto de conseguir – ele suspirou frustrado – isso... isso aqui aconteceu, e eu estou completamente desesperado aqui e... – ele respirou fundo - agradeceria se alguém pudesse apenas me dizer que caralho foi esse que aconteceu com isso? ou se podemos corrigir... – ele disse apontando para o colar, Severo bufou, ele ainda segurava o braço de Shara com firmeza, mas voltou sua atenção para a ave inconveniente dessa vez.

—Seu palavreado e suas piadas de mau gosto estão totalmente fora de lugar aqui – ele cuspiu – E não tente definir minhas prioridades com base nas suas... ave... até por que seja lá o que for... já está feito – ele foi enfático.

—Eu sei, Severo, eu sei... mas você não entende... isso não era apenas um ritual comum... a minha vida, ou não vida... Enfim como preferir, depende disso, essa poção é crucial para minha condição... e agora... agora não sei como vamos consertar – ele lamentou – não sei por onde começar...

—Eu sei exatamente o que isso é – ele devolveu seco – e que tal começar não interferindo e me permitindo lidar com esta situação da maneira que a minha posição exige...

—Snape – Antony o encarou e, em seguida, dirigiu-se a Shara - por favor... acho que ela já entendeu a mensagem, não é Shara? – Antony perguntou, quase que implorando para que ela concordasse - Não acha que já é suficiente? – ele o encarou outra vez, tentando, à sua maneira, apaziguar a situação. Então, abruptamente, Severo a soltou ao perceber as lágrimas que começavam a correr pelo rosto da menina, sim, de certa forma, Antony estava certo... aquilo era o bastante. Severo suspirou cansado.

—Sim... - ela murmurou, baixando o olhar e enxugando as lágrimas com as mãos, enquanto um pedido de desculpas quase inaudível escapou de seus lábios.

—Um pedido de desculpas não apagará sua insolência - Severo afirmou, ele estava sendo duro, embora tivesse recuado e mudado um pouco o seu tom de voz para um tom mais ameno, ainda assim a atmosfera continuava carregada, e até mesmo Antony, normalmente descontraído, parecia desconfortável ali. Severo, sabia que tinha ido longe demais dessa vez, se ela ao menos não fosse tão insolente...

Ele reconhecia que estava no seu direito ao corrigi-la e deveria ter considerado o fato de ela tê-lo procurado em busca de ajuda, algo que ele, de fato, apreciava. Ciente de que essa iniciativa não era fácil para ela, uma pontada de remorso refletia em seus olhos. Era uma concessão silenciosa de que talvez devesse ter escolhido um caminho diferente para lidar com aquela situação. Contudo, outros sentimentos haviam interferido, e parte daquilo era resultado da dificuldade em administrar suas próprias emoções. Antony tinha razão; era um empate, ela era como ele. No entanto, não havia desculpas no seu caso, uma colocação feita por Pomfrey certa vez no passado, pairava sobre ele com bastante frequência, lembrando-o de sua responsabilidade como adulto naquele contexto.

—A poção não está comprometida– ele informou, ao voltar sua concentração para o colar – contudo, a alteração que podemos ver não é meramente visual. A cor de uma poção diz muito sobre ela, portanto, algo em sua essência mudou esta noite, e essa mudança pode ter modificado alguma característica de sua usabilidade - Severo precisava analisar melhor, mas era evidente que a mudança não era um mero acaso.

—Modificado? - Antony suspirou - Aposto que isso é alguma brincadeira de mal gosto daquela Deusa, filha da... - ele parou diante do olhar mortal de Severo – Me refiro... a Atena... ela deve estar rindo da minha cara agora, só pode... sabe quanto tempo tenho esperado por esse momento? - ele lamentou - Claro, todos sabem... uma desagradável e infeliz eternidade - Ele finalizou de forma triste quando ouviram batidas na porta de sua sala de poções, algo inesperado para aquele horário.

—Ah, Severo, não sabia que estava acompanhando – Alvo Dumbledore disse ao passar pela porta. Para sua imensa satisfação, agora o time estava completo, pensou Severo ironicamente, ciente de que aquela não seria nem de longe uma noite tranquila. Estive te procurando em seus aposentos e como não o encontrei, imaginei que estivesse aqui – ele informou.

—Digamos que tive um pequeno contratempo - Severo respondeu, lançando um olhar para o colar. A peça ainda flutuava diante dele, capturando imediatamente a atenção de Alvo, que se aproximou da bancada, cauteloso e aparentando surpresa diante da mudança evidente na joia.

—Quando aconteceu? - Alvo perguntou, e Severo estranhou, pois não era exatamente essa a pergunta que ele esperava ouvir do diretor.

—Alguns minutos, uma hora talvez… Antony respondeu antes que Severo pudesse fazê-lo - Me parece que está danificado agora - Antony soava inconformado.

—Alguma interferência mágica, ainda desconhecida, afetou a poção dentro do artefato, ocasionando a mudança de coloração - Severo informou, enquanto Dumbledore estudava o colar por alguns instantes antes de se endireitar e olhar para Antony.

—Compreendo a frustração, Antony. Receio que a situação seja mesmo irreversível - afirmou Dumbledore, lançando uma sombra de desânimo ainda maior sobre a sala. Severo corrigiu sua postura, percebendo que o diretor parecia saber mais ali do que de fato revelava. Enquanto Antony parecia absorver a notícia com pesar, o silêncio pairou na sala. Severo, em seus pensamentos, ponderava sobre aquela situação.

—A que veio, Alvo? - Severo cortou o silêncio, sua pergunta carregada de desconfiança.

—Isso, bem... pode esperar é claro, dada a situação... - Alvo respondeu de forma vaga, lançando ainda mais suspeitas sobre suas verdadeiras intenções. Severo suspeitava que aquilo poderia ter sido premeditado e conhecendo bem o diretor, não era improvável.

—Está... acabado então? - Antony perguntou, e Severo estreitou o olhar em sua direção, ele detestava as dramatizações daquela ave estúpida.

—O fato de ser irreversível não necessariamente significa que a poção está danificada - ele bufou com a falta de atenção e conhecimento de Antony - Apenas sugere que algo em sua concepção original foi alterado e não poderá mais ser corrigido - explicou o óbvio.

—Bom ponto, Severo! - Alvo exclamou - Severo, me ajude se estiver equivocado, mas existem relatos na história onde poções antigas mudaram de coloração após sofrerem algum tipo de influência externa, não existe? - perguntou despretensiosamente, mas não havia nada de inocente ali.

—Sim - ele respondeu ao sentir que estava sendo guiado por aquela conversa de forma bastante ardilosa – mas isso só é possível se algum dos princípios de sua criação original for alterado - Era raro, completamente raro afinal precisava de muitos recursos e também de habilidade para fazê-lo, e esse não era o caso ali - Não é comum...

—Não disse que seria – Alvo o interrompeu, lançando uma faísca de esperança na conversa – Algo em sua criação original – Alvo repetiu como quem estivesse pensando a respeito – Sim uma mudança – ele mesmo respondeu – posso ver que essa é uma mudança muito significativa por sinal, inesperada, mas bastante significativa - Alvo parecia reflexivo, ao encarar a ave de forma meticulosa - Não acha? - ele perguntou ao Antony.

—É… desculpe – Antony não parecia entender, não por menos, Alvo nunca era claro o suficiente - Eu não estou acompanhando o raciocínio – ele admitiu, ao encará-lo pedindo algum tipo de ajuda ali – bom se o Senhor fala da cor... - Antony respondeu confuso - sim… bem, antes era verde agora está laranja é… uma mudança em tanto - Antony respondeu, dando o melhor de si.

—Não... na verdade - Alvo disse, se aproximando de Antony - Me refiro a você... uma mudança significativa - ele sorriu para a ave - Apenas uma mudança nessa magnitude poderia alterar o propósito pré-determinado para uma poção ancestral como essa - Severo arqueou a sobrancelha, do que o velho estava falando, afinal? Definitivamente, ele sabia algo a mais sobre aquilo e agora estava dançando sobre os fatos...

—Alvo... está dizendo que Antony... que ele tenha sido o responsável pela mudança ocorrida na poção? - Severo perguntou, incrédulo. Antony era completamente inapto naquele sentido, e tudo que ele havia lido sobre situações como aquelas simplesmente não condizia com os fatos. Muito menos haveria como Antony ter conseguido fazer algo assim, a menos que os livros não fossem confiáveis nesse sentido, e houvesse algo a mais. Severo suspirou, e desde quando os livros eram confiáveis? Era o que ele vivia repetindo.

—Acredito que sim Severo - Alvo sorriu largamente, e por que ele estava sorrindo assim?

—Faz sentido - Shara disse, limpando os resquícios das lágrimas em seu rosto. Por um momento, Severo havia se esquecido da presença dela ali, já que ela havia se calado, como ele havia sugerido que fizesse, e aquilo doeu - A cor, ela mudou assim que Antony a tocou - ela informou.

—Eu... eu não posso ter feito isso, eu não posso... posso? - Antony perguntou nervoso.

—Sim, você pode... - Alvo respondeu - Desde que Severo me procurou a algumas semanas atrás, me pedindo para dar alguma atenção a esse assunto, a sua condição no caso - Severo se mexeu desconfortável, sim, ele havia mencionado a situação de Antony já que Alvo era um bruxo brilhante, mas dito daquela maneira, parecia que Severo se importava com a ave mais do que de fato ele fazia, e ele não se importava, não tanto assim - Eu busquei me inteirar sobre esse tipo de maldição... bem sabemos que não apenas Medusa e sua descendência foram amaldiçoadas naquele dia - ele disse ao encarar Antony. E todas as partes envolvidas são, na verdade, parte do princípio da criação dessa poção - ele explicou. Algo mudou, sim... uma mudança significativa - Alvo repetiu ao colocar a mão sobre o coração de Antony – Mudou aqui... - ele afirmou - A poção foi transformada sim, em virtude da sua mudança... - Severo pensou naquilo por um momento, Merlin, Alvo estava certo... um propósito pode ser considerado um dos elementos mais importantes no desenvolvimento de uma poção como aquela, muito mais que qualquer ingrediente pudesse ser. Os livros não estavam de todo equivocados, apenas lhe faltava algo, uma nota que Severo faria questão de acrescentar.

—Eu não sei... eu não sei como posso ter mudado algo aqui - Antony respondeu - Eu sou apenas eu... o Antony - ele disse completamente descrente de si - nada mudou...

—O amor - Shara interveio outra vez - foi o que você me disse antes Antony, você disse que o amor… era o único sentimento que poderia mudar qualquer situação - Severo encarou a criança... ela tinha o seu temperamento sim, mas tinha o coração da mãe... completamente deslumbrada e mental...  

—Sim, o amor - Alvo sorriu, validando aquilo, Antony gesticulou negativamente a cabeça, como quem estivesse em negação.

—Não… isso não é possível - Antony disse – eu não posso amar... não outra vez, está errado – ele chorou – eu não posso me dar a esse tipo de sentimento... eu não... – de uma forma estranha, Severo podia dizer que o entendia, alguns simplesmente não eram merecedores de algo como o amor... ele mesmo se sentia assim, principalmente depois de Lily.

—A menos que não acredite naquilo que você mesmo me disse… - Shara se aproximou dele - sabe… talvez não tenha notado, mas você disse mais cedo que Medusa foi a primeira mulher que amou - Antony a encarou visivelmente constrangido - você nunca se referiu a Medusa dessa forma… você costumava dizer, que ela era a única mulher que amou… talvez esteja se apaixonando por alguém outra vez, talvez o que tenha mudado Antony é que ao se apaixonar por… - Shara parou por um momento, parecendo procurar as palavras certas - você está em conflito agora…

—Isso… simplesmente está errado - Antony balbuciou.

—Antony… precisa ser sincero consigo mesmo - O diretor interveio, colocando a mão em seu ombro - se Shara decidisse fazer o ritual agora, nesse exato momento, como você se sentiria? - ele perguntou – morrer ainda é o seu mais sincero desejo aqui? - Severo encarou a ave, Severo sabia a resposta para aquela pergunta… Antony havia dito, e Shara tinha razão ele estava em conflito sobre aquilo, com dificuldades de aceitar suas novas motivações.

—Não - Antony sussurrou.

—Não? - Shara perguntou surpresa - mas foi… foi exatamente o que eu fiz, antes... eu o procurei essa noite, depois da… daquela redação - Shara corou ao revelar aquilo na frente de todos ali - e eu me dispus a fazer, o ritual, eu achei que… era isso que mais queria… morrer – ela sussurrou a ultima parte.

—Sim eu quero… e não, eu não quero… por Merlin, eu realmente quero morrer, mas não agora… não quando… não depois que a conheci… - Antony disse fechando os olhos, deixando uma lágrima escapar… - é por isso que está errado... Pode ver? 

—Catie - Shara disse o nome da amiga.

—Sim… - ele confirmou sem ressalvas - eu quero viver por ela, viver por uma vida ao seu lado… e envelhecer gradativamente junto dela, Catie me fez desejar a vida outra vez, e também a morte… mas isso... isso é algo inalcançável, apenas impossível para alguém como eu - ele revelou – e portanto é tão errado... eu deveria apenas ir...

—Não mais - Alvo sorriu - não mais criança - ele soou afetivo, e Severo entendeu que Alvo estava mesmo certo sobre aquilo, Antony havia mudado o propósito, na verdade parte do proposito final daquela poção… Antony abriu os olhos, completamente marcados pelas lágrimas - O ritual não está comprometido, a única mudança é que… terá a sua chance Antony… será mortal outra vez - Antony chorou com o impacto daquelas palavras… Severo mal podia acreditar naquilo que estava acontecendo... Antony havia conseguido o que diante daquela história parecia ser impossível... e então finalmente eles fariam o ritual e teriam ambos a sua maneira o seus finais felizes... Severo encarou Shara por um momento, ela estava igualmente emocionada, Severo sabia o quanto isso significava para ela, o quanto tomar aquela decisão deveria ter sido difícil já que  Antony era importante, ela o amava... e de alguma forma o seu coração se encheu de paz ali, sim eles haviam conseguido, aquela era uma vitória. 

—Não gosto da cor laranja - Shara disse, quebrando o clima emocional que havia se instaurado - honestamente era muito melhor e mais bonito quando era verde - ela alcançou a mão de Antony – mas... posso tolerar isso, para que consiga aquilo que deseja – ela sorriu em meio as lagrimas - você merece Antony... e se isso não é mais uma despedida… - ela ficou séria, ao lhe dar um tapa na cabeça.

—Aiii - ele se defendeu - o que foi isso? - ele brincou

—Catie é minha melhor amiga… se você vai viver, e bem pretende continuar com isso… - ela sorriu largamente - terá que falar sobre suas pretensões com ela a mim e verei se aprovo - ela mostrou a língua pra ele, se jogando em seus braços e o abraçando com força, Antony a ergueu, e aquela era uma cena para se admirar, Severo esboçou um pequeno e contido sorriso, mas voltou a ficar sério ao notar que estava sendo observado pelo diretor... Ele se importava, apenas não se sentia bem em revelar suas inclinações, mas Antony de fato merecia aquele recomeço, assim como Shara merecia não ter que carregar aquele peso em seus ombros.

—Shara… obrigada por me perdoar tantas e tantas vezes - Antony disse para ela - e por me proporcionar isso… - ele a soltou limpando as lágrimas.

—Bem, bem… bem - Alvo interrompeu - os bons sempre são agraciados de alguma maneira - Alvo sorriu – Shara querida, já está tarde, eu a acompanharei até os seus aposentos - Alvo disse piscando para ela.

—Sim… senhor - Shara respondeu prontamente, enquanto alcançava o colar suspenso no ar – eu sempre achei que seria difícil para mim me livrar dele – ela disse olhando para a peça – por ter sido da minha mãe... mas parece tão diferente agora – ela o colocou de novo na bancada – o senhor terá que aposentar o anel – ela disse lançando sobre ele um breve olhar e então se despediu…

—Ah… Severo - Alvo disse já perto da porta – respondendo sua pergunta, eu vim apenas para avisa-lo que o senhor e a senhora Malfoy estarão na escola nesse final de semana - e antes que Severo pudesse responder, Alvo já havia saído.

—Obrigada Snape - Antony disse assim que estavam a sós - por ter levado minha situação a Dumbledore - Severo o encarou... Antony parecia verdadeiramente radiante, sem a sua habitual miséria.

—Não pense que isso signifique algo...

—Claro, claro - Antony sorriu ao interrompê-lo - sabe Snape, poderá parecer clichê, principalmente agora que estou… estou prestes a me tornar mortal outra vez - Havia emoção em suas palavras - mas esse negócio do tempo, sobre o tempo passar rápido e tal… é real… Shara é apenas uma criança ainda e entendo que queira disciplina-la da melhor forma possível… mas você já perdeu tanto tempo dela - Severo estreitou o olhar - às vezes é melhor apenas deixar passar… - ele o aconselhou.

—Está tentando me ensinar algo ave? - Severo perguntou de forma hostil…

—Não... na verdade… não... eu espero que aprenda isso sozinho... bem, eu também vou indo - Antony disse colocando as duas mãos no bolso e caminhando sentido a porta.

—Existe algo... – ele disse, fazendo Antony se virar - algo que possa me ensinar - Severo afirmou, Antony parou para encará-lo com surpresa – a me desculpar – Severo era orgulhoso e aquilo não era algo tão simples para ele, e pela primeira vez ele estava sendo sincero sobre aquilo com alguém - vejo que você o faz… sem que haja muita dificuldade - ele completou, vendo a surpresa e também a confusão se formar no rosto dele, Antony abriu e fechou a boca algumas vezes antes de responder.

—Eu… não sei como ensiná-lo sobre isso - Antony disse por fim - isso é algo… tão pessoal, mas basicamente você precisa apenas sentir necessidade genuína de fazê-lo… - Antony o encarou – e se for difícil dizer em voz alta… talvez devesse escrever - ele sugeriu, Severo assentiu – Ah Severo, Shara vai apreciar isso - ele disse antes de sair.

Severo encarou o colar, sobre a bancada, nenhum dos dois o havia levado, suspirando fundo Severo o guardou em seu bolso ao mesmo tempo em que tirava o anel de ônix do dedo, e o colocava dentro de sua gaveta… lugar onde o anel estava antes dela... ele o analisou por alguns segundos antes de fecha-lo outra vez, se dando conta de que não era apenas Antony que encerava algo ali, ele também o estava fazendo naquela noite...  aquele anel, o habito de o consultar, estaria no passado agora, Severo encarou a porta por onde eles haviam passado... Antony tinha razão sobre o tempo, sobre o tanto que ele havia perdido e sobre simplesmente deixar passar... então ele convocou um pergaminho e uma pena.

—_

Shara caminhou ao lado do diretor pelo curto trajeto até sua sala comunal em completo silêncio, aquela havia sido uma noite de muitas experiências, e ela se sentia incrivelmente mais leve ao saber que não precisaria mais ter que lidar e carregar aquele pesado fardo, que era a condição de Antony mediante aquilo que era esperado que ela fizesse ali, mas por alguma razão, e apesar de tudo, ela ainda não podia se sentir completamente feliz... ela havia entregue o colar, mas aquilo não era sobre isso...

—Obrigada Senhor - Shara agradeceu assim que chegaram na frente do quadro de entrada da Sonserina.

—Sabe criança - ele disse ao encarar seus olhos - não deveria se martirizar tanto assim, você tem sido a grande responsável por sua mudança até aqui - ele disse… e Shara o analisou confusa.

—O senhor fala da mudança do Antony? - bem era esse o contexto, não era? Mas na verdade a responsável ali havia sido Catie e não ela.

—Não... eu me refiro a Severo - o diretor disse o nome do seu pai, era impressionante como ele podia ser sempre tão assertivo - velhos hábitos por vezes custam a mudar - ele piscou para ela.

—Eu… sei - ela balbuciou - eu… posso entender isso – sim, ela podia, afinal ela tinha igual dificuldade em se livrar de seus velhos e enraizados hábitos também, sendo ela muito mais nova ali, além disso, reconhecia ter errado com ele essa noite ao respondê-lo de maneira desrespeitosa como fez.

—Tenho certeza que sim - ele sorriu, e antes que ele partisse...

—Diretor… sobre a redação - ela disse constrangida - sei que não a fiz… eu sinto muito, eu deveria ter me esforçado sobre isso, apenas… me desculpe – ela encolheu os ombros.

—Não se preocupe criança, não achei que fosse faze-la - e aquilo ia no sentido do que ela havia pensado sobre suas intenções ali.

—O senhor queria que eu ouvisse, que eu ouvisse com o coração - ela devolveu.

—Sim… e estou verdadeiramente orgulhoso que o tenha feito, assim como estou com o autor da redação - ele disse para ela, fazendo Shara sorrir - já que é mérito dele também, ter alcançado sua alma através das palavras - Shara pensou em Draco, aquilo havia sido uma das surpresas boas daquela noite, e por um momento ela pensou em questionar o diretor sobre suas quase confirmadas suspeitas a respeito dele, mas achou melhor guardar aquilo para si – sabe Shara, apenas algumas pessoas especiais tem o poder de alcançar nosso coração – ele disse de forma profunda, Shara meditou naquelas palavras por um momento sem entender muito bem o que ele havia tentado dizer ali.

—Bem, sim… funcionou - ela corou – e mais uma vez obrigada por isso senhor - ela disse se despedindo dele.

Shara entrou na sala comunal, e o fato de estar vazia provava apenas o quão tarde era; ela estava exausta. No banho, notou as marcas vermelhas deixadas em seu braço, e algumas poucas lágrimas foram derrubadas em silêncio. Ao caminhar até sua cama e se jogar nela, fechou as cortinas. Ao repousar a cabeça no travesseiro, sentiu algo... um pequeno pedaço de pergaminho dobrado. Sim, era um bilhete. Shara o desdobrou com cuidado.

“Na beleza do seu coração, espero que haja espaço para mais um imerecido perdão”. S.S

Ele... ele havia mandado um bilhete, estava pedindo desculpas para ela? Aquilo era novo... completamente novo. Ela segurou o papel contra o peito, o leu novamente algumas vezes antes de o guardar. O amor era o único sentimento capaz de mudar qualquer circunstância. Ela sorriu, e sorrindo, Shara adormeceu.


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Notas finais do capítulo

Começamos o capitulo com um atrito daqueles, fiquei até tensa ao escrever... ao mesmo tempo que completamente sobre o muro, já que honestamente fica difícil dizer quem é o mais cabeça dura entre os dois. Antony pode ter alguma razão sobre ser um empate.
Mas obviamente que Snape podia ter pegado um pouco menos pesado... mas estamos falando de Severo Snape.

E esse capitulo vem como um divisor de aguas, encerrando um ciclo aqui, e dando a Antony uma nova oportunidade, confesso que pensei muito sobre isso, e eu meio que matei o personagem varias vezes na minha cabeça, por achar que o final feliz dele era de fato morrer e estar com Medusa na eternidade... mas ele é tão jovem ainda (relativamente no corpo de um ser humano) por que mil anos vivendo como uma ave meio que não conta né.
Mas se apaixonar por Catie fez sentido no decorrer da história, sendo que ela também merecia um final feliz, já que teve uma vida igualmente miserável, sendo ela muitas vezes o unico alicerce de Shara durante toda a sua infância... é quase como se Shara pudesse de alguma forma proporcionar algo bom a amiga, a recompensando depois de ter entrado e destruído a sua vida (sim por que é assim que Shara se sente sobre isso, mesmo não tendo culpa alguma).
E ainda assim, Antony vivendo irá morrer... Um dia e espero que seja de velhice, com a casa cheia de netos como ele sonhou.

Eu meio que chorei com Shara deixando o colar sobre a mesa, e com Snape guardando o anel na gaveta, foi simbólico demais, sei lá tanto tempo escrevendo essa história, que encerrar esse ciclo... doeu nele, mas antes doeu em mim. E Shara havia se apegado ao colar por ter sido dado por sua mãe e a ideia de transformá-lo caiu como uma luva, já que o descaracterizando, tornaria esse momento um pouco mais fácil para ela.

E esse final, Snape reconhecendo ter dificuldades em pedir perdão pra Antony e deixando um bilhete pra Shara ao seguir o conselho dele :) deixa nosso coração quentinho.

E pega essa frase de Dumbledore " apenas algumas pessoas especiais têm o poder de alcançar o nosso coração" ao se referir a Draco, gente ela não entendeu nadinha... mas a gente sim :)

EU SHIPPO muito um futuro só deles dois.

Obrigada a todos que tem acompanhado até aqui!
Aos poucos a história vai se afunilando.



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