O despertador do celular tocou, mas Yoongi simplesmente o ignorou, virando-se para o lado e tentando voltar a dormir. Sua mãe, furiosa, entrou no quarto, chutando a porta e gritando com ele.

— YOONGI! ACORDA! VOCÊ TÁ ATRASADO.

Yoongi levantou num pulo, percebendo com horror que tinha esquecido completamente que era segunda-feira e o seu primeiro dia na faculdade. Seria desastroso chegar atrasado. Ele tomou um banho rápido e vestiu seu uniforme, composto por uma calça social preta, camisa branca, colete xadrez cinza e uma gravata, além de um terno na cor grafite. Era estranho ter que usar uniforme na faculdade, mas aquela instituição frequentada pela elite tinha essas particularidades.

— Que lindo! — Disse sua mãe com os olhos brilhando — Vem cá, deixa eu arrumar seus cabelos, você tem que ficar atraente para arrumar um namorado.

— Mãe, eu já falei que não quero namorar, não tenho paciência pra isso, dá muito trabalho e eu não tenho tempo.

— Yoongi, a vida não é só trabalhar e estudar, você precisa namorar, casar, ter uma família e se divertir.

— Que bobagem, desculpe falar assim com a senhora, mas eu não preciso disso pra ser feliz. Não preciso ter filhos, nem namorar e muito menos me casar. Aliás, eu já me divirto com o Jimin, já somos casados.

— Antes fossem, queria que vocês namorassem de verdade, Jimin é a pessoa mais gentil e meiga que eu já vi, mas vocês só sabem ficar jogando e assistindo novela o fim de semana todo.

— Mãe, que horror. Jimin é quase um irmão, meu amigo de infância, nem consigo imaginá-lo dessa forma.

— Ué, mas você não disse que é casado com ele?

— Sim, porque Jimin é meu bebê e eu não vou deixar ele namorar com qualquer um, a pessoa pra namorar ele deve me conquistar primeiro. Tem que ser alguém puro, meigo, responsável, amável, fiel, angelical, inocente... e claro, amar o meu Jimin incondicionalmente. Só aceito o melhor dos melhores. 

— Você será a pior sogra do mundo.

— Com toda certeza. Protejo o Jimin desde pequeno, não vou deixar esses marmanjos safados enganá-lo. Ele é muito inocente, tenho que ficar de olho nos caras, por isso eu digo pra todo mundo que eu sou o marido dele.

— Eu não sei se esse seu cuidado com ele é fofo ou bizarro, de qualquer forma, eu queria que o Jimin fosse meu genro.

— Mãe...

Ela cruzou os braços e suspirou.

— Desse jeito eu nunca vou ser avó.

— Só tem eu de filho? Peça um neto pra Lucy.

— Tua irmã é outra que só quer saber de estudar e trabalhar, estou torcendo pra que ela arranje um estrangeiro bonitão.

— Não se preocupe Sra. Min, um dia eu vou me casar e adotar um lindo bebê. A senhora será a avó mais feliz do mundo.

— Já vou escolher o nome do meu netinho. Quando você e Jimin se casarem já vai estar tudo certo.

— Mãe! Deixa quieto. De qualquer forma isso não vai acontecer tão cedo. Vou lá, não quero me atrasar — Yoongi pegou mochila, celular e carteira e foi para a porta da sala, deu um beijo em sua mãe e saiu correndo, já estava quase dando a hora de passar seu ônibus.

Yoongi desceu por uma pequena viela, atravessou a rua e dirigiu-se ao ponto de ônibus, ainda faltando alguns minutos para o veículo chegar. Ele teve uma leve sensação de que estava sendo observado e, instintivamente, olhou para trás. No entanto, dado o horário matutino, não havia ninguém na rua além dele. Decidiu continuar andando, mas logo ouviu alguns ruídos novamente. Olhou para trás mais uma vez, somente para descobrir que se tratava apenas de um gato que se movia sorrateiramente ao longo do muro de uma casa. 

“Era só um gato” — Pensou.

Yoongi chegou ao ponto de ônibus, e dois minutos depois, o ônibus apareceu. Quando a porta se abriu e ele subiu no primeiro degrau, um rapaz apressado chegou correndo para entrar no ônibus. Parecia estar atrasado, e usava uma máscara que cobria a boca e o nariz, então Yoongi não conseguia ver se era alguém que ele conhecia.

O ônibus estava lotado, algo que não era nenhuma novidade na rotina de Yoongi. O rapaz, ainda de costas para ele, continuava a parecer estranho, já que sentia que estava sendo observado constantemente. Quando o ônibus fez uma curva brusca, o rapaz esbarrou nele, pediu desculpas e apertou o botão para descer no próximo ponto. 

“Que cara estranho” — Pensou Yoongi vendo ele descer do ônibus. 

Após vinte minutos, Yoongi finalmente chegou ao ponto próximo ao campus, tendo apenas duas quadras a percorrer antes de chegar à universidade a tempo. Ele tateou o bolso em busca do celular, pois precisava verificar as horas. Foi nesse momento que sentiu uma sensação de choque, como se sua alma estivesse prestes a sair do corpo.

“Cadê meu celular?” — Tateou o bolso novamente e nada, olhou dentro da mochila e não apenas o celular, mas a carteira também havia sumido.

Yoongi, tomado pelo desespero, xingou mentalmente todas as palavras possíveis em sua mente. 

“Quem iria querer me roubar? Tô mais liso que tudo”

Mudou de rumo, deixando de lado o caminho para a universidade, e dirigiu-se à delegacia mais próxima. 

“Filho da puta, parcelei meu Pequeno Arroz (nome que deu ao seu celular) em dez vezes, e ainda faltam seis parcelas”.

Yoongi caminhou por algumas quadras até chegar à delegacia. Já havia perdido todas as esperanças de chegar a tempo para o seu primeiro dia de aula na faculdade. 

— Bom dia, acabaram de me roubar. Gostaria de registrar um boletim de ocorrência — Disse para a moça do balcão, com a voz trêmula.

— Pode ir ali naquela sala — A moça apontou.

— Obrigado.

Yoongi parou diante de uma porta de vidro, onde uma pequena plaquinha pendurada indicava "Delegado Felix". Ele bateu na porta e aguardou.

— Pode entrar — Disse alguém lá dentro. 

O rapaz por trás da mesa aparentava ser jovem e estava completamente absorto em uma pilha de papéis, demonstrando estar ocupado. Ele olhou para Yoongi por cima dos óculos, com uma expressão que sugeriu que estava sendo interrompido em meio a sua rotina agitada.

— O que deseja?

Sentindo-se um pouco deslocado diante da expressão séria do Delegado, Yoongi explicou o que havia acontecido, fazendo o seu melhor para ser o mais breve possível e transmitir a situação de forma clara e concisa.

— Vejo que é um estudante — Felix o examinou.

— Sim Senhor, eu estava indo para a faculdade.

— Sente-se aqui e preencha esses papéis — Felix tirou os óculos e coçou os olhos, parecia cansado.

Yoongi olhou desanimado para a papelada diante dele, sentindo-se como K em "O Processo". Chegar atrasado em seu primeiro dia de aula não estava em seus planos. Após deixar a delegacia angustiado, já estava uma hora atrasado e sem seu celular. No entanto, decidido a tentar, ele se dirigiu à universidade, mesmo correndo o risco de não ser autorizado a entrar.

Localizar a universidade não foi difícil, já que o prédio se destacava na rua, e seus portões dourados emanavam uma aura de luxo e grandeza. Ao chegar, Yoongi percebeu que o portão já estava fechado, e um guarda se aproximou dele, visivelmente desconfiado.

— O que quer?

— Estudo aqui, mas devido alguns imprevistos acabei me atrasando.

— Imprevistos?

— Sim, fui assaltado dentro do ônibus, então fui na delegacia registrar uma ocorrência, por isso me atrasei.

— Me mostre sua carteirinha.

— Roubaram minha carteira também, não tenho documentos, somente essa declaração para tirar novos documentos. 

Yoongi mostrou, o guarda o encarou de cima a baixo, com a mão no queixo.

— Sr. Lee — Um rapaz ruivo de sorriso aberto se aproximou — Deixe ele entrar, por favor.

— Eu nunca o vi por aqui. Ele pode ser um louco que vai entrar e matar todo mundo.

— Não se preocupe, ele é... meu amigo.

— Devia ter falado antes, se é seu amigo então tudo bem.

O guarda abriu o portão para Yoongi, mesmo assim ainda o encarava desconfiado.

— Venha — O rapaz puxou a mão de Yoongi — Vou levá-lo até a recepção.

Quando se afastaram do guardinha, o rapaz cochichou em seu ouvido.

— Não ligue, ele é desconfiado com todo mundo.

— Muito obrigado por me ajudar.

— Sem problemas, é o que fazemos quando tem uma pessoa tão bonita em apuros.

Yoongi corou.

— É ainda mais bonitinho quando está corado. Mas me diga… como é o seu nome?

— Mi-Min Yoongi — Gaguejou.

— Mimin Yoongi? Diferente.

— Não, só Min Yoongi, desculpe.

O rapaz riu.

— Gostei de você Mimin Yoongi, acho que vamos nos dar muito bem... A propósito, meu nome é Hoseok, mas pode me chamar de Hobi.