Lost: O candidato escrita por Marlon C Souza


Capítulo 31
Capítulo 31 - Resistência




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Cinco anos se passaram desde o fatídico ano de 2029, e agora o mundo testemunhava um panorama sombrio e inquietante. Em 2034, as notícias do ressurgimento de Charles Widmore ecoavam pelos corredores do poder, enviando ondas de choque através das esferas políticas e econômicas. Enquanto isso, Alvar Hanso erguia-se como uma sombra onipresente sobre o panorama financeiro global, exercendo um domínio quase tirânico sobre as economias mundiais, trazendo pobreza e mais dependência do estado, principalmente, em países subdesenvolvidos e emergentes.

Nesse cenário de decadência e opressão, as ruas de Londres pareciam encharcadas de melancolia e desespero. Um homem, envolto em um sobretudo escuro e um chapéu que ocultava seu rosto, deslizava entre as sombras como uma figura fugidia. O brilho fraco de seu celular revelou uma notícia datada de cinco anos atrás: "O retorno milagroso de Charles Widmore ao comando das Corporações". O homem respirou fundo, guardando seu celular no bolso. A luz de um carro passageiro iluminou brevemente seu rosto, revelando a determinação marcada em sua expressão. Era Albert.

— As coisas estão se complicando. — comentou Albert, sua voz carregada de gravidade.

De repente, Albert mergulhou em um beco sombrio, onde os desamparados se aglomeravam como espectros da noite. Uma mão trêmula agarrou seu sobretudo, implorando por alívio em meio à miséria.

— Por favor, senhor, qualquer coisa para saciar a fome. Minha esposa e meus filhos... — as palavras do homem morriam em sua garganta, substituídas pelo olhar suplicante dirigido a Albert. A esposa do homem e suas crianças estavam próximas, observando Albert de cima em baixo.

Albert recuou, abaixando-se para ficar ao nível do homem desesperado. Com um gesto gentil, ele ofereceu o pouco que tinha em seu bolso. — Tome, é tudo o que posso oferecer. — disse ele, um sorriso modesto iluminando seu rosto.

— Obrigado, senhor Albert. — murmurou o homem, gratidão brilhando em seus olhos famintos, mas de uma forma esquisita.

Ao ouvir seu próprio nome, Albert se estremeceu. — Como você sabe meu nome?

— Alvar Hanso está sempre observando. Não adianta se esconder sob seu sobretudo. O olhar dele alcança todos nós. — o homem respondeu, um sorriso gélido dançando em seus lábios. Sua esposa e filhos ecoaram a mesma expressão sinistra.

Albert engoliu em seco, abaixando o chapéu e se afastando rapidamente. À medida que ele se movia pela multidão, os olhos estranhos e inquisidores o seguiam, reconhecendo-o de alguma maneira obscura e perturbadora.

Voltando em 2029, na imensa sala de recepção da Widmore, Penelope e Desmond confrontavam Alvar Hanso e Charles Widmore, cujas expressões imperturbáveis transmitiam uma calma gélida diante das acusações e demandas fervorosas. Desmond, apesar de demonstrar uma determinação feroz, sentia as mãos tremerem diante do poder avassalador emanado por Alvar.

— Faça o que quiser com essa corporação, mas por favor, não machuque o meu filho. — suplicou Desmond, com uma voz trêmula.

— Eu farei como pediu. — respondeu Alvar, seu sorriso sinistro pairando no rosto como uma máscara inescrutável.

— E os outros? — questionou Penelope, sua voz ecoando com uma angústia palpável.

— Não posso garantir que saiam ilesos. — disse Alvar, seu tom desprovido de qualquer empatia.

Penelope ficou chocada, enquanto Desmond, tentando manter uma fachada de coragem, lutava contra a torrente de medo que ameaçava consumi-lo diante da presença intimidante daqueles homens. Charles, finalmente, quebrou o silêncio tenso com palavras de conforto para sua filha.

— Filha, vai ficar tudo bem. Tudo voltará ao normal como antes. — murmurou ele, envolvendo Penelope em um abraço reconfortante.

— Como antes? Pai... — soluçou Penelope, sua voz tremendo com a dor e o desespero.

— Não se preocupe. — respondeu Charles, guiando sua filha para perto de si enquanto ela desabava em lágrimas. Desmond e Alvar observavam a cena. Ele mantinha o sorriso gélido em seu rosto. Desmond testemunhava aquele momento com muito desconforto ao ver seu sogro vivo novamente.

Alvar se aproximou de Desmond, interrompendo o momento de emoção familiar com sua presença imponente.

— Desmond, precisamos conversar. — disse Alvar, sua voz ecoando como um presságio sombrio.

— O que? Eu e você? — Desmond indagou, perplexo diante da sugestão repentina.

Alvar colocou a mão em seu ombro, conduzindo-o pelos corredores com determinação.

— Há algo em você que ainda desejo. Você herdou os poderes de Titis, uma antiga guerreira decala que previa o futuro, por isso, eu preciso que você trabalhe para mim. — disse Alvar, sua voz carregada de uma convicção inabalável.

Desmond riu, incapaz de acreditar no que ouvia, mas uma parte dele reconhecia a veracidade nas palavras de Alvar.

— O quê? — Desmond murmurou. — Eu não sei do que você está falando. — continuou ele, parando subitamente.

— Não finja ignorância. Eu sinto o poder de Taweret em você. Ou você acha que consegue suportar radiação por que é uma anomalia da natureza? — Alvar retrucou, seu olhar penetrante perfurando Desmond.

— Seja qual for o fardo que carrego, não pretendo trabalhar para você. — Desmond respondeu, sua voz soando firme apesar da incerteza que o corroía por dentro.

Alvar deu um sorriso irônico, fixando seu olhar penetrante em Desmond.

— Você é corajoso, Desmond, admiro isso em você. Me negou duas vezes. Mas você ainda não compreende sua posição atual. Vou ser direto. Eu geralmente mato as pessoas e as trago de volta para fazer minha vontade, para tê-las sob meu controle. — Alvar declarou, sua voz ressoando com autoridade. Desmond estremeceu. — Estou pedindo gentilmente que trabalhe para mim. Em troca, eu mantenho seu filho e aqueles vermes de Jacob vivos. O que me diz?

Desmond encarou Alvar por alguns momentos, lutando com suas próprias convicções e medos. A proposta era tentadora, mas ele sabia que estava lidando com um homem perigoso e implacável. Ele precisaria escolher com sabedoria suas próximas palavras.

No presente, em 2034, as antigas instalações da Dharma em Guam haviam se transformado em uma fortaleza imponente, vigiada por centenas de soldados armados. Dentro das paredes opressivas, James, Kate, Claire, Alexander, Tyler e o piloto, chamado Robert, encontravam-se confinados, suas vidas reduzidas a uma rotina monótona e desesperançosa.

Robert tinha 36 anos, e era um homem de estatura média, pai de duas crianças e viúvo de sua esposa. Com cabelos castanhos escuros e olhos da mesma cor. Sua expressão era tranquila, e ele possuía um sorriso cativante, pelo menos, antes de estar em confinamento.

À medida que as portas da antiga estação se abriam para a distribuição diária de alimentos, os prisioneiros formavam uma fila resignada, cada um carregando o peso opressivo do confinamento.

À frente da fila estavam James e Kate, lado a lado com Alexander.

— Será que hoje vão variar o cardápio? É que já estou um pouco velho, não posso comer muito carboidratos. — brincou James, seu sorriso franco contrastando com a atmosfera sombria ao seu redor.

— Estou cansado de suas piadas, James. — retrucou Alexander, sua voz carregada de irritação.

— Eu estou cansada disso tudo. — interveio Kate, sua expressão exausta refletindo a angústia que a consumia.

— Cinco anos se passaram e continuamos aqui, sem notícias do mundo exterior. Apenas prisioneiros, sem esperança... — murmurou Tyler, sua voz tingida de resignação.

— O que foi, Abadu? — provocou James, referindo-se ao sobrenome de Tyler. — Achou que o príncipe da Widmore voltaria para nos resgatar? — continuou ele, fazendo uma alusão a Charlie Hume.

— Sawyer, pare com isso. — repreendeu Kate, sua paciência esgotada.

— Estou cansado de ficar aqui. Widmore armou tudo isso. Fomos enganados. — declarou James, sua voz carregada de amargura.

— Não foi a Widmore. Algo deu errado. Se não, por que eu estaria aqui também, gênio? — indagou Alexander, desafiador.

— Talvez você seja um espião infiltrado deles. Como posso confiar em alguém cujo sobrenome eu detesto? — retrucou James, encarando Alexander com hostilidade.

Alexander se aproximou de James, seus olhos faiscando com uma intensidade ameaçadora. — Eu me segurei durante esses cinco anos para não te bater por causa da Kate, mas não sei se consigo mais. — disse ele, sua voz baixa e carregada de tensão.

— Você não precisa inventar desculpas para não admitir que tem medo de mim. — respondeu James, seu olhar desafiador.

Kate interveio antes que a situação escalasse ainda mais. — Zander, Sawyer, por favor, hoje de novo não. — declarou ela, sua voz firme e determinada.

Enquanto isso, Claire permanecia em silêncio, seu coração pesado com o peso esmagador da situação e a saudade pulsante pelo seu filho. Ela preferiu não comentar, mantendo-se reclusa em seu próprio tormento interior.

Os soldados, percebendo a tensão aumentando entre Alexander e James, aproximaram-se com uma advertência.

— Se brigarem, ficarão sem comida hoje. — bradou um dos soldados, sua voz autoritária cortando o ar carregado de tensão.

James encarou o soldado com um sorriso desafiador. — Por que estamos aqui afinal? Por que não nos matam de uma vez? — perguntou ele, sua voz carregada de desafio.

— Não tenho autorização para responder a essa pergunta. — respondeu o soldado, sua voz vacilante diante da intensidade do olhar de James que se irou e bufou forte.

James deu de ombros, sua expressão denotando desdém. — Não estou com fome hoje. — declarou ele, virando-se e voltando para dentro das instalações.

Os outros prisioneiros observaram em silêncio enquanto ele se afastava, antes de voltarem à fila para pegar sua ração diária de comida, resignados com a dura realidade de suas vidas confinadas.

Retornando a 2029, em Guam, Kate, James, Claire, Alexander, Tyler, Charlie e Robert se encontravam cercados pelos soldados, suas armas apontadas em sua direção. James avaliava a situação com uma mente afiada, buscando desesperadamente uma maneira de escapar, mas as chances pareciam escassas diante da imponência dos soldados.

— Baixem as armas, soldados! — ordenou um dos militares, comunicando uma ordem recebida de Alvar. A surpreendente instrução deixou os cativos perplexos.

— Qual é a ordem? — perguntou um dos soldados ao lado, confuso com a súbita mudança de curso.

— A ordem é prendê-los dentro das instalações. Ficarão lá até segunda ordem. — declarou o militar, acenando para que os soldados escoltassem os prisioneiros sob vigilância.

Os soldados avançaram, segurando os cativos pelo braço enquanto Claire soluçava de desespero. James, sempre pronto para uma provocação, não perdeu a oportunidade de injetar um pouco de humor na situação.

— Parece que voltamos à rotina. — brincou ele, com um sorriso irônico, enquanto era escoltado para dentro das instalações junto aos outros.

Os portões de ferro foram fechados com um estrondo, trancando os prisioneiros em seu novo cárcere. À medida que os soldados faziam a guarda, James observou o grande símbolo da Dharma na parede e não resistiu a um comentário.

— Ah, que nostalgia. Esse símbolo eu conheço bem. Estamos em casa. — disse ele, com um ar de sarcasmo.

— Esta não é exatamente a ilha que conhecemos, Sawyer. Mas é definitivamente uma estação da Dharma. Como pode? — indagou Kate, sua voz carregada de resignação.

— Guam, o nome desta ilha. Estamos a quilômetros da civilização mais próxima. Esta era uma antiga estação da Dharma, responsável pelo envio de suprimentos para a ilha. — acrescentou Alexander, revelando seu conhecimento sobre o assunto. Tyler, Charlie e Robert apenas observavam a situação.

— Como você sabe disso? — indagou Tyler, quebrando seu silêncio.

— Passei anos viajando pelo mundo, acumulando conhecimento. A Dharma sempre me intrigou, e quando soube da existência da ilha, quis ver com meus próprios olhos. — explicou Alexander.

— Acredite amofadinha. Não é nada surpreendente lá. — Disse James.

— Isso explica como os alimentos apareciam do nada na ilha. — comentou Kate, referindo-se a fala de Alexander.

Enquanto isso, Claire permanecia isolada em um canto, sua dor refletida em lágrimas. Kate se aproximou dela, buscando oferecer conforto, mas foi recebida com hostilidade.

— Pare. Você não deveria estar aqui. — disse Claire, com amargura.

— Eu sei que você me odeia pelo que fiz, mas agora não é hora de ficar sozinha. — respondeu Kate, tentando se aproximar gentilmente.

— Agora nunca mais verei o Aaron. Nunca mais. — desabafou Claire, deixando-se levar pela dor. Kate finalmente conseguiu abraçá-la, oferecendo-lhe um ombro amigo para chorar.

— De volta aos velhos tempos. Um brinde. — brincou James, tentando aliviar a tensão.

— Você não pode ficar sério por um minuto? — repreendeu Alexander, frustrado.

— Eu poderia estar desesperado como vocês, mas já me acostumei com prisões. Você me lembra o Jack com esse seu jeito, e, sem ofensas, era mais divertido quando ele era o certinho grupo. Não gosto de você, Alexander. Pelo menos o doutor foi meu amigo de verdade. — disse James, antes de se afastar para um canto e se deitar, deixando os outros entregues a seus próprios pensamentos.

No presente, em 2034, na ilha, o sol recém-nascido pintava o céu com tons de rosa e dourado. Yan e Bianca permaneciam ocultos entre as densas folhagens, observando atentamente a movimentação frenética dos homens que erguiam uma fortaleza imponente nas entranhas da ilha. Ambos haviam envelhecido desde sua última aparição, Yan exibia uma barba por fazer que conferia um ar rústico e seus músculos haviam crescido e seu cabelo cortado de forma curta, enquanto Bianca, embora mantivesse sua delicadeza, irradiava uma beleza marcada pelo tempo e pela experiência. Equipados com espadas forjadas pelo próprios, eles formavam uma dupla formidável, conhecida como "os radicais", assim como os demais seguidores de Aaron, pelos habitantes da nova Dharma na região.

— Não vejo uma maneira viável de entrar ali para falar com ele. — comentou Yan, analisando a construção com um olhar crítico.

— Aaron nos incumbiu de resgatar Roger, Marcel, Juan, Miguel e Ben da fortaleza da Dharma. Precisamos encontrar uma brecha para entrar, Yan, pelo menos, para conseguir falar com ele. — insistiu Bianca, fixando seus olhos determinados nele.

— Os outros, tudo bem, mas Ben... Não temos garantia de que ele ainda esteja vivo, ou mesmo aqui, Bianca. Passaram-se cinco anos desde que ele causou aquele caos e deixou a ilha. Além disso, ele é perigoso. Ouvi relatos e li relatórios sobre suas façanhas. — ponderou Yan, lembrando-se das histórias sombrias envolvendo o misterioso Benjamin Linus.

— Não importa quem ele foi. Aaron disse que ele desempenha um papel crucial nesta ilha. Lembra? Alguém apareceu para Aaron e afirmou que a ilha protege e sempre protegeu Ben. Precisamos apenas cumprir o que Aaron nos pediu. — insistiu Bianca, mantendo-se firme em sua convicção. — E além do mais ele já deve estar com 80 anos, é só um velho babão qualquer. Só vamos resgatar eles e irmos embora.

— Você fala como se fosse simplesmente uma questão de chegar lá, pedir licença, resgatara-los e sair ilesos. — observou Yan, com um sorriso divertido nos lábios enquanto fitava Bianca intensamente.

Bianca riu. — Mas de fato é isso. Ou quase.

Yan continuou a observá-la, deixando-a um pouco desconcertada com sua intensidade.

— Você é tudo o que eu sempre quis. — confessou Yan, prendendo o olhar nos olhos de Bianca.

— Também estou feliz por estarmos juntos nisso. — respondeu ela, sorrindo. Os dois se aproximaram e se entregaram a um beijo apaixonado.

Enquanto isso, nas proximidades da ilha, afastado do local onde a Dharma erguia sua fortaleza, próximo ao coração da ilha onde emanava a luz, o acampamento de Aaron se estendia. Aaron, agora com 50 anos, estava careca. Emergiu de sua cabana improvisada e dirigiu seu olhar para o céu. Respirou profundamente e dirigiu-se ao riacho que fluía da fonte de energia da ilha. Com um pote improvisado, coletou água e bebeu, antes de dirigir-se para o lado onde uma cruz repousava fincada no solo, marcando o local onde o corpo de Hugo jazia. Uma lágrima solitária escapou de seus olhos enquanto ele se dirigia ao túmulo.

— Queria que estivesse aqui para testemunhar isso. Eles cresceram. — murmurou Aaron, dirigindo-se ao túmulo. Uma pequena gota de tristeza escorreu de seus olhos, mas ele a enxugou rapidamente ao ouvir a voz de Clementine aproximando-se. Agora com 30 anos, Clementine emanava uma beleza que rivalizava com a própria natureza. Estava usando óculos, afinal, havia perdido a visão repentinamente, mas isso não a afetou. Ela era uma guerreira corajosa, assim como os outros.

— O que está fazendo aqui tão cedo? — perguntou ela, com um sorriso acolhedor.

— Vim buscar água. Mesmo sendo quase 'imortal', não posso me dar ao luxo de morrer cedo, não é? — brincou ele, rindo.

Clementine riu. Aproximou-se dele e disse: — Não precisa mentir para mim.

— Sinto falta dele. — confessou Aaron, abaixando sua cabeça, referindo-se a Hugo.

— Todos sentimos. — reconfortou Clementine. — Apesar de tudo, ele sempre irradiava alegria.

— Queria que ele pudesse vê-los agora. — disse Aaron, com um sorriso nostálgico. — Mas ele abdicou do cargo. Tornou-se um fardo para Taweret. Não sei se sua alma ainda reside nesta ilha, nem se algum dia Taweret atenderá ao seu último pedido.

— A decisão foi dele. — ponderou Clementine.

— Mas ele não tinha o direito. — lamentou Aaron, com os olhos marejados.

— Venha cá. — disse Clementine, abraçando Aaron enquanto ele se deixava levar pelas emoções. De repente, Aaron interrompeu o abraço, encarando-a. Clementine tentou se aproximar para beijá-lo, mas ele se afastou.

— Nem mesmo agora você se permite? — questionou ela. — Estou com 30 anos.

— A questão não é a idade. Temos assuntos mais importantes que romance agora. — declarou ele, erguendo-se abruptamente e deixando Clementine para trás, imersa em seus próprios pensamentos.

Enquanto isso, dentro da imponente fortaleza, Wilbert liderava o caminho, seguido de perto por Roger, Juan e Marcel, todos algemados e escoltados por soldados armados. O clima estava carregado, e a tensão entre os prisioneiros era palpável. Wilbert, à frente do grupo, não hesitava em expressar sua crueldade:

— É uma pena que não posso matá-los. Mas torturá-los também é divertido. — DeGroot lançou um olhar malicioso por cima do ombro enquanto avançava. Roger bufou e deixou escapar um murmúrio amargurado:

— Preferiria ter morrido naquele dia em que Frank atirou.

— O que disse? Algo a acrescentar, Roger? — Wilbert parou e se virou para encará-lo.

— Nada que você já não saiba, Wilbert DeGroot. — Roger respondeu com uma expressão sombria, enquanto Juan e Marcel permaneciam em silêncio, resignados à situação.

— Não se preocupem. Mostrarei algo que certamente os interessará. — DeGroot parou diante de um imenso portão de ferro, adornado com o símbolo da Dharma. — Abram. — Ordenou ele aos seus homens.

À medida que o portão se abria, revelava-se diante dos olhos dos prisioneiros a grandiosa fortaleza em construção. Era uma estrutura formidável e quase impenetrável.

— É realmente uma grande muralha. — Roger comentou ironicamente, enquanto observava a estrutura colossal diante dele.

— Interessante que, após cinco longos anos sem ver a luz do sol, a única coisa que te impressiona é somente a grande fortaleza. — Wilbert retrucou, com um sorriso sádico brincando em seus lábios.

Roger sorriu de volta, desafiador. — Não se engane, Wilbert. Ainda encontrarei uma forma de te matar.

Wilbert acenou para que fechassem o portão, sem se abalar com a ameaça. Virando-se para Roger, lançou-lhe um olhar de superioridade. — Até lá, você permanecerá preso aqui com esses dois. A vantagem está do nosso lado, e vocês, radicais, guerreiros, guardiões, ou como preferirem se chamar, estão em desvantagem.

Roger rosnou de raiva enquanto os soldados o conduziam de volta à cela. Juan e Marcel, também foram levados de volta às suas celas, mergulhados em um silêncio sombrio, enquanto ponderavam sobre seus próximos passos dentro daquele labirinto de pedra e aço. Wilbert, seguiu um caminho diferente deles, com um sorriso inquietante no rosto.

Voltando a 2029, na ilha, após fazer o ritual com todos os presentes, Aaron e Yan transportavam o corpo de Hugo até as margens do riacho do coração da ilha. A atmosfera era carregada de tristeza enquanto realizavam o funeral improvisado. Aaron, com os olhos marejados, dirigiu-se ao túmulo recém-cavado:

— Hugo, você foi um guardião valoroso. Cometeu seus erros, mas sem você, nenhum de nós estaria aqui hoje. — Aaron disse com sinceridade, enquanto Jessy concordava ao seu lado.

— Nenhum de nós. — Disse ela, com a voz chorosa.

— Sim, Jessy, ele foi essencial para todos nós. — Aaron enxugou uma lágrima solitária. — Vamos prosseguir.

Após o enterro, Aaron reuniu o grupo em volta de uma fogueira acesa. Com a noite já instalada, ele começou a falar:

— Escutem, a partir de agora, irei treiná-los para que se tornem guerreiros capazes de feitos extraordinários. Lembrem-se, nenhum homem nesta ilha pode matá-los, pois vocês têm a proteção de Taweret e alguns de seus poderes, cada um de vocês. Não pode haver traição entre nós, pois vocês têm o potencial de se destruírem uns aos outros. — Aaron olhou firmemente para todos.

— Por que esse aviso? Nunca trairíamos o grupo. — Yan declarou com determinação.

É sempre bom reforçar. — Aaron respondeu, sua expressão grave. — De qualquer forma, não sabemos o que nos aguarda. Mas não tenham medo, vocês são quase imortais, como já disse. Fiquem firmes e venceremos essa batalha.

Clementine, pensativa, levantou a mão para fazer uma pergunta:

— Se somos quase imortais, por que Hugo foi morto? — Ela perguntou.

— Ele renunciou ao cargo. Fez o ritual com Roger no momento errado e depois abdicou, sem nos informar. Taweret retirou seus poderes e, assim, sua proteção. Se algum de vocês seguir o mesmo caminho, terá o mesmo destino que Hugo. Está claro? — Aaron explicou, deixando-os refletir sobre suas palavras.

— Eu não pedi por nada disso. — Ji Yeon falou.

— Nenhum de nós pediu, Ji. Mas como uma velha amiga sábia me disse uma vez, não somos donos de nosso destino. A ilha nos escolheu para uma missão. Só agora compreendo isso claramente. — Aaron afirmou.

Todos o olharam em silêncio, absorvendo suas palavras. Aaron se levantou e continuou:

— Vamos montar nosso acampamento aqui. Precisamos proteger este lugar a todo custo. Wilbert e seus homens logo virão, mas nenhum deles será capaz de entrar na gruta do riacho, exceto Desmond e você, Ji Yeon. Vocês dois podem suportar altas doses de radiação. — Aaron declarou, encarando-os com seriedade.

— O que? Como assim? — Ji Yeon perguntou, perplexa.

— Nossa missão é proteger essa luz de Taurus. Provavelmente, ele já está colocando seu plano em prática. A Dharma pode ressurgir, mas desta vez, não falharemos. Desta vez, vamos derrotá-lo de uma vez por todas. — Aaron afirmou, decidido.

— O que você quer dizer com 'desta vez'? — Jessy indagou.

— Você se lembra quando mencionei que isso já aconteceu várias vezes e sempre acabamos perdendo? Eu me recusava a fazer o ritual com vocês porque sabia que Hugo morreria no final. Acreditava que sem o ritual, vocês poderiam fazer mais, mas fui punido por Taweret. Desta vez, estamos mudando tudo. — Aaron explicou, observando-os atentamente.

Todos absorveram suas palavras em silêncio. Aaron respirou fundo e concluiu:

— Vamos pegar nossas coisas e montar o acampamento aqui.

 Enquanto isso, do outro lado da ilha, Roger, Juan e Marcel permaneciam na cela improvisada. Os três estavam separados, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Roger pegou uma pequena pedra e a atirou na direção de Juan.

— Por que fez isso? — Perguntou Juan, irritado.

— Você está certo, capitão. Desmond nos levou para a morte certa. — Disse Roger, amargurado.

— Está finalmente admitindo? — Indagou Juan.

— Não pense que mudei de lado por causa disso. — Retrucou Roger.

— Qual é o plano então? — Perguntou Juan.

— Não tenho nenhum plano. Só nos resta esperar que o grupo que ficou na praia venha nos buscar, mas acho difícil que isso aconteça. — Disse Roger, com um riso cínico.

— Por quê? — Questionou Juan.

— Ah, por favor. São apenas jovens, um gordo, dois velhos e uma doutora que só sabe chorar. — Zombou Roger, com um sorriso de escárnio.

— Não seja tão rude com ela. — Interviu Marcel. — Ela passou por muita coisa.

— Ah, decidiu falar alguma coisa afinal? — Roger provocou Marcel. — Todos nós sofremos aqui.

— Não importa mais. Estamos presos aqui, sem esperança de escapar. — Disse Marcel, desanimado.

Roger se aproximou de Marcel com um olhar desafiador.

— Isso me lembra uma coisa... você disse que veio à ilha para fazer algo. Por que não nos conta agora? — Perguntou Roger, fitando Marcel intensamente.

— Não é da sua conta. — Respondeu Marcel, cauteloso.

— Você pode falar ou posso te fazer falar. A escolha é sua. — Ameaçou Roger.

Marcel, sentindo-se pressionado, respirou fundo e decidiu revelar:

— Na verdade, meu verdadeiro nome não é Marcel, é Daniel, Daniel Rousseau.

— Então o Miguel não é o único com um segredo no nome, né? — Roger riu. — Continue...

— Minha irmã decidiu se juntar a uma expedição com um grupo de cientistas quando eu ainda estava na faculdade. Ela estava grávida de sete meses e veio parar nesta ilha com seu namorado e outros cientistas. Desde então, nunca mais tive notícias dela. Dediquei minha vida a procurá-la. Quando descobri a existência desta ilha, me mudei para a Austrália, acreditando que ela poderia estar na Oceania ou em algum lugar próximo. Um dia, em um hospital, conheci Aaron, sim, o Aaron criança. Vocês acreditam? Ao vê-lo, senti como se ele estivesse me chamando para vir para cá. — Disse Marcel, com fascinação.

— Você é maluco. — Disse Roger.

— Talvez, mas qual é a probabilidade de encontrar sua irmã em uma expedição aleatória? Eu a encontrei, mesmo que por um breve momento. Não sei se ela ainda está viva, mas mais do que isso, encontrei esta ilha. E aqui estamos. Finalmente. — Disse Marcel, com um brilho nos olhos.

— Desculpe, Daniel, mas estamos em uma prisão. Não vejo isso como algo glorioso. — Disse Juan, resignado. Marcel se calou, absorvendo suas palavras.

No presente, em 2034, Wilbert avançava pelos corredores imponentes da nova sede da Dharma na ilha, flanqueado por dois soldados. Sua jornada o conduzia a uma porta quase invisível, onde um dos soldados habilmente abriu o caminho. Wilbert entrou no recinto e deparou-se com Ben, agora um homem velho com uma barba longa, mergulhado em reflexões solitárias e afastado do mundo. O semblante de Ben transparecia cansaço, e as marcas de tentativas de suicídio decoravam seu corpo.

— Olá, Ben — cumprimentou Wilbert.

Ben apenas baixou a cabeça em resposta, sem emitir palavra alguma.

— Imagino que seja uma provação querer morrer e não conseguir se livrar da própria vida. É uma crueldade — observou Wilbert o corpo de Ben, esboçando um sorriso.

Ben bufou e ergueu-se lentamente, movendo-se em direção a Wilbert com um olhar firme. Os soldados estavam prontos para agir se necessário, mas Wilbert os tranquilizou com um gesto.

— Eu estava ansioso para pôr fim à minha existência, mas infelizmente, tenho essa maldita proteção de Taweret — desabafou Ben com um rosnar de raiva. — Quando soube que você o matou, desejei matá-lo também. Mas como poderia? Sou apenas um prisioneiro — completou, referindo-se a Hugo.

— Você é perspicaz, devo admitir. Você não faz ideia do quanto eu o odeio pelo que fez à Iniciativa de meus pais. Por ter tirado a vida deles, destruindo anos de dedicação em um único dia — lamentou Wilbert, apertando as mãos.

Ben soltou um sorriso irônico. — O fato de não poder me matar também o consome por dentro, não é?

— Por isso prendi Aaron. Planejava forçá-lo a matá-lo. Somente vocês poderiam destruir um ao outro — revelou Wilbert. — Tentei convencer Walt a persuadir Aaron a fazer isso, pois você e aquele gordo maldito plantaram na mente do garoto a absurda ideia de que ele seria o guardião. Talvez Walt pudesse convencer Aaron a trazê-lo até mim, e então eu o forçaria a matá-lo diante de mim. Mas você, como sempre, percebeu meus planos e fugiu, abandonando a ilha covardemente.

— Não movi a ilha por causa disso... — murmurou Ben.

— Não minta para mim, Ben. Você não se importa com ninguém além de si mesmo. Você acredita que Aaron ou qualquer um dos outros seria capaz de matá-lo, não é? — questionou Wilbert.

Ben abaixou a cabeça, um sorriso sutil brincando em seus lábios. — Você está errado. Não sou mais aquele homem. Você pensa que está no controle de tudo, não é? Mas é apenas um fantoche.

— E isso importa por quê?

— Assim como os outros, você é apenas um fantoche nas mãos de Alvar ou Taurus, como deveríamos chamá-lo agora. Eu até pensei em acabar com minha vida, mas mudei de ideia. Quero ver até onde isso vai nos levar — declarou Ben, com um sorriso de satisfação. Wilbert saiu do recinto enfurecido, com ódio ardendo em seu coração, enquanto Ben sorria. Os soldados fecharam a porta e o deixaram para trás.

Enquanto isso, em Londres, Albert dirigia-se à prisão da cidade. O policial da recepção o olhou com suspeita. — O que faz aqui? — indagou o policial.

— Vim visitar um amigo — respondeu Albert com um sorriso.

— Quem seria? — perguntou o policial, desconfiado.

— Richard Alpert.

— O maluco? Não entendo como a corte ainda o mantém aqui. Deveriam transferi-lo para um manicômio — comentou o policial, fazendo o sorriso de Albert desvanecer.

— Vou precisar passar pela revista, não é? Tudo bem, não estou armado. — disse Albert calmamente.

Após a revista, Albert foi autorizado a entrar e deixou seu celular antes de seguir o policial até a cela de Richard. Lá, encontrou-o caído no chão.

— Richard? — chamou Albert. Richard ergueu-se e aproximou-se das grades da cela, encarando Albert.

— Lembro de você. Tentou me matar — disse Richard, com uma expressão desconfiada.

— Venho como amigo — afirmou Albert.

— Está brincando? Quem o enviou? Alvar? Ele já me esqueceu e deixou meu corpo em paz — retrucou Richard.

— Não, Richard. Desmond e Penelope me mandaram. Eles ainda gostam muito de você. Queriam saber se você estava bem. — explicou Albert, fazendo Richard franzir a testa.

— Eles estão bem? Charlie Hume está bem? — perguntou Richard, com um vislumbre de esperança em seus olhos.

— Sim, estão bem. Apesar de tudo, estão bem, inclusive Charlie Hume — confirmou Albert.

— Então, por que veio? — questionou Richard, cruzando os braços. — Apenas para me contar isso?

— As coisas pioraram desde então. Alvar está controlando boa parte do mundo financeiro, espalhando pobreza. Em cinco anos, ele fez muitas coisas, matou e trouxe de volta muitas pessoas. Está formando um exército. Ele virá atrás de você em breve — alertou Albert.

— Ouvi rumores, mas não imaginei que fosse tão grave — admitiu Richard.

— A sensação é de que perdemos a batalha — lamentou Albert.

Richard sorriu, com a mente mais clara do que nunca. — Aaron me visitou.

— Como? — indagou Albert, surpreso.

— Os guardiões têm livre acesso ao mundo exterior. Aaron me visitou e me trouxe de volta. Não estou mais sob o domínio de Alvar. Ele me perguntou sobre os outros, James, Kate e sua mãe Claire, e eu não soube responder. Acredito que ele tenha voltado para a ilha — explicou Richard.

— Queremos tirá-lo daqui — propôs Albert.

— Prefiro ficar aqui, irmão. Prefiro sentir-me abandonado por Alvar. Não se preocupe comigo, estou bem. Diga a Desmond o que Aaron fez, pelo menos isso trará um pouco de esperança para vocês — recusou Richard, afastando-se para retornar ao seu leito. Albert colocou seu chapéu e, junto com o policial, deixou o local.

Voltando a 2029, Ben foi jogado em uma cela do navio que zarparia em direção à ilha. A frota era vasta, transportando uma carga significativa para a reestruturação da Dharma e mantimentos para os viajantes. Havia uma multidão a bordo. Ben observou a agitação ao seu redor antes de ser abandonado pelos soldados. Miles passou apressadamente por ele.

— Miles?! — gritou Ben através das grades da cela.

— O que você quer, Ben? — respondeu Miles.

— Isso está realmente acontecendo? A Dharma está mesmo ressurgindo? — perguntou Ben.

— Parece que sim — respondeu Miles. — Você foi o responsável pelo fim da Dharma. Deve ser doloroso ver tudo sendo reconstruído — provocou Miles, saindo com um sorriso satisfeito.

— Aquele definitivamente não é o Miles, é Alvar usando ele, com certeza. — murmurou Ben consigo mesmo.

Enquanto isso, Miles dirigiu-se a uma pequena sala na estação Linha, onde um cofre repousava. Ao abri-lo, uma carta e uma lista de nomes já estavam dentro. Ele pegou a lista e convocou alguns homens para segui-lo.

— Vocês me acompanhem — ordenou ele.

— Sim, senhor — responderam os homens, seguindo-o obedientemente.

Juntos, desceram até o subsolo onde o necrotério da Dharma estava localizado. Lá, Miles verificou os nomes da lista.

— Devemos levar os corpos desses nomes para a ilha e revivê-los na fonte — explicou Miles, entregando a lista aos homens.

Então, os homens começaram a abrir as gavetas que continham os corpos das pessoas listadas por Miles, incluindo Zack. Porém, algumas gavetas estavam vazias. Os homens iam fechando uma a uma, os nomes eram de Miles Straume, Omer Jarrah e a última gaveta aberta pertencia a “Wilbert DeGroot”.


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