Backdoor escrita por llRize San


Capítulo 12
Caminhada




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A caminhada até a sede das máquinas, conhecida como a Cidade do Futuro, estava a quilômetros de distância. A persistente investigação de Lee Know forneceu-lhes uma direção, um caminho que agora poderiam seguir. Graças a isso, tinham conhecimento do destino para onde os escolhidos estavam sendo levados.

As negociações para obter informações seguiam um padrão variado. Inicialmente, Bang Chan abordava o assunto com sua educação acadêmica, geralmente sem obter resultados concretos. Em seguida, Changbin entrava em cena com ameaças, exibindo seus músculos bem definidos e desferindo um soco potente na parede para intimidar a vítima, mas essas táticas também apresentavam limitado êxito. Seungmin, por não ser hábil com pessoas, preferia evitar tentativas de negociação, se fosse para negociar com os androides poderia até tentar. Lee Know, por sua vez, optava por barganhar informações mediante a oferta de dinheiro, remédios e uísques caros, conseguindo êxito em algumas ocasiões. No entanto, todos concordavam que Lee Felix era verdadeiramente o mestre da persuasão, surpreendendo a todos com sua habilidade em conduzir qualquer pessoa em uma conversa para alcançar seus objetivos.

— Você tá muito fodido se usar essa sua magia negra em mim — Dizia Changbin toda vez que Felix conseguia uma informação. 

A jornada tornava-se ainda mais desafiadora, uma vez que, além de não poderem utilizar veículos devido ao controle das máquinas sobre eles, precisavam cuidadosamente planejar as rotas para evitar câmeras e robôs monitorando as cidades, fazendo com que os trajetos rurais fossem a opção mais segura. Caminhavam durante a maior parte do dia e, à noite, acampavam ou procuravam casas abandonadas para garantir um descanso seguro.

Ao longo do percurso, aproveitavam o tempo para conversar e se conhecer melhor. Com exceção de Seungmin, que permanecia respondendo com monossílabos. Não apenas tinha dificuldade em iniciar uma conversa, mas também em mantê-la. Se estivessem em um jogo de RPG, ele certamente teria muito a dizer, mas comunicar-se pessoalmente era algo mais complexo para ele.

— Você está bem? — Changbin se aproximou. Seungmin o olhou desconfiado, os outros andando na frente distraídos com seus assuntos. 

— Sim — Respondeu Seungmin secamente. 

— Então… é… o que você fazia antes? — Changbin se sentia um pouco deslocado para puxar assunto com ele. 

— Isso importa agora? 

— Importa. Quero te conhecer melhor. 

— Por que? 

Changbin suspirou, esforçando-se para manter a postura. Nunca havia lidado com uma criança tão difícil. Como uma babá extremamente eficiente, Changbin já cuidara dos piores pequenos diabinhos em corpos de criança, mas Seungmin provava ser mais desafiador do que qualquer um deles.

— Porque agora somos parceiros de resgate. É importante sabermos quem são nossos aliados. 

Seungmin revirou os olhos. 

— Eu era barista. 

— Que legal. Um trabalho que requer muita paciência — Changbin tentava imaginar Seungmin lidando com os clientes, de simpático ele não tinha nada, mas era muito bonito. 

— Era um cu. Odeio pessoas. 

— É, faz sentido. 

— Quer saber a verdade? 

Changbin estranhou a pergunta, era o primeiro diálogo que conseguia ter com ele depois de dias tentando.  

— Sim. Quero. Não temos mais o porquê esconder quem éramos. 

— Eu era um criminoso — Changbin arregalou os olhos, por mais frio e indiferente que Seungmin fosse, ele não parecia nem um pouco um criminoso — Calma, eu não era um assassino nem nada do tipo. Eu era um… pirata. 

— Pirata? — Changbin deixou escapar uma risada. 

— Sim, pirata. Só que um pirata um pouco mais moderno. Eu roubava coisas. 

— Que coisas? Bancos? Felix também, vocês têm muito em comum pelo jeito. 

— Não, não sou idiota como ele. Eu realizava meus roubos no conforto do meu quarto. Nunca precisei estar presente para causar problemas. Mas diferentemente dos roubos a banco, os meus roubos nunca me trouxeram lucros. 

— E você roubava o quê? Se não era dinheiro. 

— Coisas mais valiosas que dinheiro. 

— E o que seria? 

— Informações — Seungmin suspirou entediado com a lentidão de Changbin de acompanhar seu raciocínio — Sabe quando vazou os gastos que o presidente teve? Então, fui eu. 

— Então você é um hacker? 

— Achei que isso estava óbvio. 

— Não, não estava, era só ter falado isso lá no começo. 

— Não teria graça. 

Dessa vez, foi Changbin quem revirou os olhos. Seungmin era tão enfadonho que ele já se arrependia de tê-lo salvo. Pelas poucas palavras trocadas, Changbin percebeu que Seungmin era o tipo de pessoa que menos apreciava: alguém que se considerava um ser superior e iluminado devido à sua inteligência.

— Hum. Ok… se me dá licença preciso conversar com Lee Know. 

Changbin avançou os passos deixando para trás um Seungmin perplexo por ter sido ignorado. No mínimo ele imaginou que Changbin o acharia um máximo. 

Lee Know olhou pro lado e sorriu ao ver Changbin se aproximando. 

— Vi que estava conversando com nosso amigo antissocial. 

— Tentei — Changbin deu de ombros — Mas ele é uma pessoa difícil. 

Lee Know deu risada. 

— É só uma questão de conhecê-lo melhor. Teremos tempo pra isso, a jornada até chegar na cidade vai ser longa — Lee Know suspirou. Changbin entendia como ele se sentia. Continuaram caminhando em silêncio por alguns minutos. 

— Como você conheceu ele? — Changbin quebrou o silêncio. 

— Hannie? — O sorriso de Lee Know foi involuntário ao falar o nome do noivo — Nos conhecemos na empresa, eu era coreógrafo e ele era compositor, sempre tínhamos projetos juntos, tipo debutes de grupos, e acabou que nos aproximamos e foi impossível não me apaixonar por ele. Mas e você? Namora? 

— Nunca tive tempo pra isso. Como sabe sou pai de três filhas — Changbin riu — Vocês vão gostar das minhas meninas, elas são incríveis, cada uma da sua maneira. Se o Han estiver junto com elas tenho certeza que já escaparam. Nayeon, a do meio, já deve ter colocado fogo em tudo a essas alturas. 

Lee Know balançou a cabeça e sorriu. Queria acreditar que Han e Hyunjin estivessem bem e que estivessem, ao menos, juntos. Lee Know conhecia muito bem seu noivo e sabia que ele era frágil demais para sobreviver sozinho àquilo tudo.

Enquanto conversava com Changbin, não deixava de notar que logo à frente Bang Chan falava animadamente com Felix, visivelmente eufórico como um idiota. A conversa fiada de Felix só funcionava com ele. Por mais que Felix fosse bom com as palavras, isso não colava com Lee Know, que desde o começo já conhecia a peça. Também não funcionava com Changbin; ele e Felix já eram amigos demais para isso. Tão pouco funcionava com Seungmin, que no geral não se interessava por outros humanos. Ou seja, suas técnicas de conquista só funcionavam com Bang Chan. Felix gostava de ver o quanto conseguia deixar o professor animado e à vontade, achava graça no jeitão metódico e cafona dele.

A amizade entre eles crescia à medida que avançavam naquela longa jornada, até mesmo Seungmin tentava se misturar mais. Já havia se passado quase um mês desde o dia em que se conheceram. Passaram por diversas cidades desertas, conhecendo pessoas perigosas e suspeitas, e algumas poucas bondosas.

Todos os dias, Lee Know e Changbin tentavam ganhar forças na medida do possível. A preocupação com seus entes queridos presos naquela cidade era a pior parte. Algumas vezes, Chan pegava Lee Know chorando escondido; ele nunca queria demonstrar fraqueza para os demais do grupo.

Já era fim de tarde quando estavam procurando um local para se abrigarem e descansar naquela noite, em uma cidadezinha inóspita. As ruas desertas mostravam que ninguém mais morava ali, possivelmente uma das cidades em que todos os habitantes tinham sido escolhidos para ir para as cidades dos androides. Lee Know olhou para o fim da rua e apertou os olhos tentando enxergar, parecia que alguém estava se aproximando.

Todos pararam, curiosos. Conforme a figura ficava mais clara, Lee Know começou a avançar sem acreditar que aquilo fosse real. Lágrimas caíam de seus olhos; a alegria era tanta que não cabia em seu peito.

— HANNIE! — Gritou enquanto corria na direção de Han, que parou por um momento, tentou avançar mais alguns passos, mas cambaleou. 


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