Eles tem aquele ar de zumbis que vão sugar seu cérebro, ou de alienígenas que fingem ser uma família normal buscando informações com os vizinhos. Ou melhor, imaginem uma família Adams macabra, assim são os Blacks. 

Papai trabalha na escola deles como zelador, então automaticamente somos pagos para morar aqui e isso é o suficiente para aquela Belatrix, a filha mais velha, se achar no direito de tacar pedras em mim sempre que me vê andando pelos jardins, ela tem uma risada escandalosa e macabra, típica de filmes de terror, seus dentes parecem de vampiro e juro que vi sua íris mudar do negro para o vermelho numa noite de lua cheia. Sei lá, talvez eu leia livros demais, como diz mamãe.  

Sou observador, das filhas Black a mais simpática é a mais nova, Narcissa sorri e corre pelos lugares com seus cabelos loiros reluzindo ao sol, rodopia e faz até os passarinhos pararem para vê-la, encanta quem passa. Ao contrário da irmã mais velha que é intimidadora, Narcissa é desejada. Mesmo aos quatro anos, invejada. Talvez eu tenha essa impressão porque ela só tem quatro anos, não pode ser tão ruim assim aos quatro anos, certo?  

A que mais me intriga é a garota do meio, Andrômeda. Tem minha idade praticamente, é sempre sombra de sua irmã caçula, é a que a mãe grita na frente dos outros dizendo que ela não faz nada direito, que não é inteligente e sagaz como a mais velha e nem bonita e encantadora como a mais nova. Ela tem longos cabelos negros, olhos tristes, pele pálida e nunca a vi sorrir.

 — …A ovelha negra da família, é isso o que é. A laranja podre no saco, seria mais fácil não ter engravidado de você!

Ela recebe esses "elogios" quase diariamente de sua mãe, é por isso que vive fugindo da escola e se escondendo nos jardins e finge sempre estar procurando algo nos cantos. 

Andrômeda…

 Eu gosto de ler e também de escrever, logo descobri que Andrômeda é uma constelação. Uma constelação de dezesseis estrelas. Tem esse nome por causa da lenda grega da filha que foi acorrentada a uma pedra pelos pais para ser devorada. Irônico é a lenda combinar tanto com ela. 

Parece que vejo ela sendo devorada, dia após dia, só que não é seu corpo que está sendo amarrado a uma rocha, mas sim sua alma. Se desfazendo em cada ataque que recebe. 

Estou escrevendo em meu caderno. Minha mãe está me olhando de rabo de olho quando acabo de escrever a última palavra da minha pequena poesia:

Andrômeda, constelação em regra

Andrômeda a ovelha negra

Andrômeda a que foi sacrificada

Andrômeda a que precisa ser resgatada

O título é Andrômeda e fiz também um desenho da moça amarrada à pedra. Mamãe toca em meu cabelo, ajeita meu óculos e diz naquele tom preocupado que toda mãe tem quando sabe que algo muito errado vai acontecer:

— Ted, fique longe das filhas Black. 

É claro que fiz o contrário do que mamãe falou.