“What doesn't kill me makes me want you more.” 

— É lógico que Décimo Doutor é o melhor — disse Scorpius, sem sequer usar algum argumento.

Estávamos revendo Doctor Who pela centésima vez, era nossa série favorita e tínhamos o hábito de fazer isso durante todas as nossas férias de verão. Nunca perdia a graça e sempre terminávamos nas mesmas discussões idiotas. Era uma das nossas muitas tradições.

— Eu prefiro o Décimo Primeiro, se quer saber — retruquei, indignada. — E eu também gosto da Amy Pond.

— Ela me lembra você — comentou o loiro, despretensioso.

Prendi o riso. Esse tipo de comparação era engraçada, porque, por mais que ela fosse ruiva, assim como eu, nós não tínhamos mais nada em comum. Pelo menos, não fisicamente. Amy tinha olhos verdes, eu, azuis; Amy era magra, enquanto eu lutava contra a balança todos os dias, desde que me lembrava. Não que fosse um problema para mim, eu estava perfeitamente bem comigo mesma, mas Scorpius havia falado como se fôssemos as duas únicas mulheres ruivas do mundo. Considerando que noventa por cento da família Weasley é ruiva, não é como se ele não estivesse acostumado com isso.

— Eu vou sentir sua falta — revelou Scorpius, de súbito, fazendo-me automaticamente prender a respiração.

Nós tínhamos combinado que não falaríamos sobre isso durante o verão. Não até o último dia. Por isso, eu não estava esperando quando ele fez o comentário, que me levou a virar de costas para ele na gigantesca cama de casal em que estávamos deitados, e a abraçar meus próprios joelhos.

— Mais cedo ou mais tarde, precisaríamos tocar no assunto — disse o rapaz, com seu tom de voz aveludado e suave. — Você não está animada para estudar nos Estados Unidos?

— É claro que estou — respondi, como se fosse óbvio. Mas eu não tocava no assunto há tempos, então talvez não fosse tão óbvio assim. — Mas não estou nem um pouco animada para passar dois anos sem você.

Eu não conseguia vê-lo, mas algo me dizia que ele estava sorrindo. Eu não era boa em demonstrar afeto, então sempre que dava qualquer mínimo indício de carinho, ele sorria feito um cachorrinho carente. Todas as vezes, mesmo depois de tantos anos sendo o meu melhor amigo.

— Não seja boba, Rose — repreendeu-me. — Serão apenas dois anos, depois disso, você vai concluir o mestrado, e eu estarei aqui te esperando. E nós podemos nos falar todos os dias.

— E se você me esquecer? — resmunguei, baixo, mas alto o suficiente para que ele ouvisse.

Scorpius riu baixinho, e sua risada soou abafada pelo travesseiro.

Eu permaneci séria.

— Eu não poderia te esquecer. Jamais. — afirmou, convicto. — Você é a minha âncora, Rose. Só você.

De repente, senti os braços dele me envolvendo, em um abraço carinhoso, e fechei os olhos, apreciando a sensação de aconchego e tranquilidade que Scorpius me passava. Estar com ele sempre tornava as coisas mais fáceis. Por isso, desejei ficar presa no verão, congelar naquele único instante, mas, para meu infortúnio, o universo não me ouviu.