Um Reino de Monstros Vol. 4 escrita por Caliel Alves


Capítulo 20
Capítulo 4: A proporção de um milagre - Parte 4




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Droga Nalab, se eu morrer aqui não vou mais poder te servir. Não que você se importe com a minha vida, mas pelo menos, demonstre compaixão para com os meus amigos.

Com essa oração silenciosa, Saragat rebatia os Balázios de Zarastu. O rei dos monstros, imponente, disparava diversos projéteis de energia mágica comprimidos.

Se não fosse pelo seu traje de sombras, o conjurador de Nalab estaria morto. Mesmo assim os impactos da magia se fazia sentir em seu corpo.

Girando o Cajado de Nalab em mãos, ele convocou uma poderosa conjuração.

— Deusa que caminha na escuridão profunda e a domina, Raer Umbrátil!

A imensa rajada de sombras disparada pelo cajado foi desviada da face do inimigo com apenas um dedo.

— Diferente de você que tem que recitar uma oração antes de atacar, eu apenas me utilizo da força de meu deus Enug. Seus Deuses Virtuosos são idiotas. Movidos à ego.

— Urf, eu discordo de você, burf-arf, você é o único egoísta aqui. É tão hipócrita que usa a mesma capa do Mago Dourado. Você é uma desonra para os conjuradores.

— Os conjuradores? Minha cruzada pessoal foi contra eles. Você e a conjuradora de Flora são os únicos que não estão sob meu domínio. Ainda.

E juntando as mãos, ele as separou vagarosamente. Entre as palmas, formou-se um feixe de luz. Era tanta energia mágica concentrada que o próprio ar em volta se aquecia. A luz amarelada foi se condensando e se expandindo. Até que começou a tomar uma forma de estrela. Aos poucos, a estrela tinha sete braços.

— Contemple, Saragat. Essa é uma das minhas magias preferidas: a Estrela Setêmplice.

E girando sob o próprio eixo, o velho mago a lançou em direção ao adversário.

O mascarado usou o Tentáculos da Sombra, mas todos eles foram dilacerados. O poder de corte da estrela era maior que o poder defensivo de suas sombras.

Com o dedo indicador, Zarastu guiava a direção da estrela mortal. Saragat ficou impressionado com o nível de precisão do controle de energia mágica a distância.

O servo de Nalab estreitou os olhos e concentrou-se, flexionou os joelhos e segurou o cajado com as duas mãos. Depois o fincou no solo. Era tanta energia divina acumulada que cortinas de areia eram levantadas ao redor.

— Deusa, proteja seu servo com caridade e sigilo. Prisão da Sombra.

A esfera de sombras se projetou ao redor dele. Zarastu viu aquilo como um desafio. Para o encapuzado da Companhia de Libertadores, era uma forma de ganhar tempo.

Deusa Nalab, como os Deuses Virtuosos permitiram o nascimento de uma entidade tão poderosa quanto o rei Zarastu? Não sei como derrotá-lo.

A estrela de magia chocou-se com a Prisão da Sombra. Isso não diminuiu seu poder de rotação. Continuou a forçar as paredes. Saragat concentrou a energia divina naquele ponto. Mas, não pareceu surtir efeito.

— Desista, conjurador inútil. Sua oração é frágil e sua deusa está morta.

— Cala-se!

— Não! Vocês humanos não entendem o processo de evolução? Os fracos morrem. É assim que a natureza foi projetada. Os deuses a fizeram assim.

— Seu idiota. Não fale daquilo que não conhece. Deusa que domina a escuridão profunda, fortaleça-me! Impulso Sombrio.

A redoma explodiu numa sequência de ondas de sombras em todas as direções. Como um mar negro e profundo.

Zarastu esquivou-se a tempo de ser atingido. Por alguns instantes, as areias ficaram enegrecidas com a magia divina.

Ele intercala conjurações nesse nível? Tem potencial para aumentar as fileiras da Horda.

— Conjurador das sombras! Olhe para cima...

Quando Saragat ergueu os olhos, a lâmina mortal descia dos céus, prestes a dividi-lo ao meio. O encapuzado esbravejou entre os dentes.

— Deusa Nalab, rogo pela sua proteção, Escudo Nébula!

E as sombras formaram um grande vórtice na altura do seu peito. A estrela de magia caiu sobre ele com gravidade. As sombras sugaram a Estrela Setêmplice, durante algum tempo, a magia inimiga resistiu a sucção.

Ela estava tão próxima de Saragat, que ele temeu por sua vida, mas de modo assustador, tentáculos de sombras saíram de dentro do escudo de sombra e agarraram a estrela de energia mágica e a arrastou para dentro do vórtice.

O embuçado caiu no chão. Os músculos tremiam. A respiração ficara entrecortada com batidas aceleradas do coração. O servo de Nalab se apoiou no cajado e pousou um joelho no chão. Essa era a primeira vez que se aproximava tanto da morte.

— ZARASTU! Eu vou matar você...

— Primeiro, restabeleça sua condição cardiorrespiratório. Se continuar assim, você morrerá de infarto e não terei o prazer de me divertir com você.

O rei dos monstros planava no ar, há alguns metros acima de Saragat. O supremo-comandante da Horda ergueu as suas garras para o céu. O Colar de Enug brilhava como um rubi-sangue no seu peito. O manto dourado tremulava ao vento.

Nas areias, sua energia era tão esmagadora que a área abaixo começou a ser comprimida. O seu próprio oponente sentia o peso de sua força.

É assustador! Como alguém pode ter uma reserva de energia mágica tão grande? Maldito seja. Essa talvez seja a única chance que terei de matar Zarastu. Usarei Limbo, mesmo que tenha que sacrificar minha própria vida...

Zarastu continuava lá, concentrando sua energia mágica ao máximo, sem ninguém que pudesse impedi-lo.

— Com essa magia eu destruí o Castelo Real da Casa Habsburgo...

— Mas que magia insana é essa?

— Eu lhes apresento, seu amador, a suprema magia. O elemento mágico que só os magos cósmicos podem usar. Contemple: Astroblema.

Vuonnnnnn, por um momento, o dia se tornou noite no deserto. Todos, sem exceção, no campo de batalha e nos muros de Oásis focaram os seus olhos no céu.

Os monstros ao verem o que estava prestes a acontecer, debandaram, fugindo do raio daquela enorme sombra.

A resistência do ar provocava um som rascante, como o de vidro partindo-se.

Mas, como ele consegue fazer isso?

Saragat acompanhava a evolução do objeto que caía dos céus em sua direção. Era coruscante como uma bola de fogo. Fumegava, como se tivesse saído do inferno naquele mesmo instante. Mas não, era um meteoro.

Já havia atravessado a atmosfera e desprendia pequenos fragmentos que caíam no solo como bombas incendiárias. Aos poucos, a sombra enorme foi diminuindo. A rocha fumegante lançava fogo, o calor somado ao mormaço do deserto fazia o ambiente insuportável. Era tanto calor que a água em quilômetros começou a evaporar.

— Idiota! Assim vai matar até mesmo os seus subordinados.

— Não se preocupe, sempre haverá humanos, animais e objetos para transformar em monstros. Eu não me importo com a vida de ninguém. Estou aqui para atender aos desígnios do deus Enug. Ele me libertou da hipocrisia humana. Esse apego humano a vida é inútil: tudo morre, Saragat!

— Seu maluco esnobe.

— Me chame do que quiser, mas não muda o fato de que irá morrer.

Saragat cravou sua arma na sua própria sombra. E fazendo cânticos, fez com que ela se adensasse. Ganhando uma área maior. Aos poucos, dezenas, centenas de fios de sombras começaram a projetar-se em todas as direções, conectando a sombra do conjurador a todos os presentes ao seu redor.

Despois, com maior empenho, fez com que de cada sombra surgisse um tentáculo com uma mão na ponta. Os milhares de mãos se uniam em pleno ar, formando um enorme antebraço de sombras. Aos poucos, já havia uma gigantesca mão indo em direção ao Astroblema.

Fissssssh, o som de algo queimando silenciou os ventos desérticos. A mão de sombra aparou o meteoro e o segurou firme com algum esforço. O esmagando entre os dedos. Era um objeto celeste tão grande que poderia facilmente destruir Flande com sua queda. Apontando o cajado na direção do meteoro, Saragat fez mais uma oração:

— Deusa Nalab, mostre que a justiça é feita de sombras, Raer Umbrátil.

A rajada de sombras tinha um raio igual ou maior do que o Astroblema. Aos poucos, a rocha envolta em fogo foi consumida pela conjuração do mascarado albino.

O que provocou comemoração dentro e fora da muralha, fazendo a Horda parar o recuo. Ninguém acreditava que àquela magia poderosa pudesse ser parada.

Tap-tap-tap, Zarastu aplaudia o seu oponente com ironia.

— Muito bom, escravo de Nalab. Você mostrou ser digno de morrer pelas minhas mãos.

— Na verdade, é você que está em minhas mãos.

O rei dos monstros olhou para os pés. Uma estranha força oprimia os seus calcanhares. Aos poucos, foi arrastado até o solo, sem que pudesse resistir. Não conseguia dar um passo sequer, por mais forças que colocasse nas pernas.

— Parece que você me pegou, o que fará agora?

— Não se preocupe. Para que a pressa?


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