Pequenas Mentiras escrita por isabella_maries


Capítulo 1
"As palavras, elas são demais..."


Notas iniciais do capítulo

Notas: O combo escolhido para desenvolvido por mim, foi o de número dois.

Espero que gostem, e tenham uma boa leitura :)



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  Meus dedos se mexiam para fora da janela do carro como se eles pudessem enrolar o vento e a massa de calor quase insuportável que pairava sobre o estado de New York desde o início da semana. Um lembrete mais que claro que o verão havia finalmente chegado. 

Suspirei, apreciando o momento e a conversa agradável que rolava no carro que ia desde os planos do que fazer naquelas três semanas a: “como era uma alívio saber que estávamos em férias permanentes da universidade”. Para então voltar às típicas brincadeiras.

Sorri vendo Emmett sentado ao lado da sua namorada, Rosalie, zuando que ela não iria precisar de bronzeador ao contrário de repelente para insetos. Jacob aproveitou a deixa para questioná-lo se o repelente em questão repelia gente idiota igual a ele. Leah ao meu lado gargalhou sem tirar os olhos da estrada. Todos pareciam estar em paz como aquela viagem, leve ou animado. Menos eu.

Porém, apesar de não possuir nenhum daqueles sentimentos, estava fingindo com excelência que os tinha. 

Tinha sido a única contra aquela viagem,  negando o convite de Renée como havia feito nos últimos anos, com a desculpa que estava fazendo trabalho extra da faculdade durante todo o verão.

Mas não havia mais faculdade, e Leah tinha me dado um belo sermão de como estava na hora de parar de fugir de alguém que nem deveria morar mais ali. E por ter passado tanto tempo, lembrou-me que tinha passado da hora de esquecer ele.

Minha amiga sorriu para mim, fazendo-me sorrir de volta, para então rir ao ouvir uma piada de Emmett. 

Depois de horas de viagem, finalmente avistamos a casa dos meus pais, onde passei quase todos o meus verões, feriados, ou finais de semanas em que Charlie e Renée queriam fugir da agitação de New York e queriam a tranquilidade de Gloversville, mas especificamente de Peck Lake.

Meu coração se acelerou ao ver que o lugar continuava bem cuidado e exatamente igual da última vez que estive ali.  As árvores cheias e algumas podadas, o quintal limpo de folhas, a grama bem cortada e o logo deck que levava ao lago. Prendi a vontade de respirar fundo ao me lembrar quem sempre ficou cuidando disso. 

— Nossa, finalmente chegamos. Não aguentava mais ficar sentada. — reclamou Rosalie se esticando após sair do carro. Leah fazia o mesmo enquanto observava o lugar, assim como eu.

— Nem me fale. Sinto a minha bunda dormente. — resmungou Jake. 

— Se quiser posso dar um chute para ela acordar. — sugeriu Leah divertida. Um sorriso malicioso surgiu nos lábios dele.

— Se você fizesse outra coisa para acordá-la agradeço, mas o chute eu dispenso.

— Meu deus, vão para quarto vocês dois. —  resmunguei tirando meu tênis. Emmett riu. 

—Isso que dá ser a única solteira do rolê.

Revirei os olhos.

— Cala boca, Emm. — ralhou Rose, dando um tapa no braço do seu namorado, e sorriu para nós. — Então, o que nós estamos esperando para pular no lago?

Com uma troca rápida de olhares, e com os meninos jogando seus sapatos para o alto, corremos pelo deck e sem ao menos hesitar saltamos na água gelada do lago. Estando submersa naquelas águas mais uma vez, fui levada pela última vez que estive ali. 

Há exatos sete anos atrás.

***

2005

— Qual é Bella, eu nunca te disse isso. —  Edward disse em desdém, e por um momento senti que ele estava querendo me fazer acreditar que estava bancando a louca.  

Algo que se fosse no verão passado ele tinha conseguido, ou até mesmo, se Leah não tivesse aberto meus olhos para o que estava acontecendo diante deles.

— Claro que disse. Assim como disse que iria mudar certas atitudes suas e segue as fazendo, ou quando prometeu que iríamos passar o feriado de quatro de Julho juntos e você simplesmente saiu com seus amigos e voltou bêbado. —  explodi. —  E agora, em menos de três dias depois que transamos, você dá em cima de Tanya e da minha melhor amiga, como se nós não tivéssemos nada.

— Mas nós não temos nada, baby. —  aquilo me acertou como um tapa, fazendo-me piscar em choque com o que tinha acabado de ouvir.

— O que foi que você disse? —  murmurei. —  A gente está se envolvendo há praticamente três anos, nós falamos quase todos os dias por mensagem, nós agimos como namorados, e você acha que não temos nada?

— E de fato, nós não temos. Nós não somos namorados Bella. —  revidou me deixando atônita com a resposta. Ele mexeu nos seus cabelos acobreados, um ato nervoso, assim como o sorriso nos seus lábios. — Olha, eu nunca quis isso, tá legal? Nunca quis você como namorada, aliás, sequer quero uma, e por isso nunca a pedi. E também, nunca prometi nada. 

— Você prometeu. — quase gritei sentindo a dor, o cansaço e a mágoa queimar cada parte do meu corpo, e pesar meu peito. —  Você sempre falou de nós, como um futuro, como se algo pudesse acontecer entre nós, com as nossas vidas entrelaçadas.

— Você se iludiu com algo que nunca houve, Bella.  —  e lá estava Edward Cullen, tirando o corpo fora mais uma vez. Balancei a cabeça sem acreditar enquanto segurava as lágrimas. 

— Se você nunca quis isso, porque então deixou isso acontecer? Me iludir, por tanto tempo?

Ele deu de ombros. 

— Não sei. Eu só queria deixar os dados rolarem.  —  e olhou para mim. Pude ver nos seus olhos verdes a despreocupação, a indiferença. —  Sem compromisso, apenas aproveitando o momento que tínhamos juntos.

— Então, você não me ama?

— Nunca disse que a amava. 

Aquilo me quebrou mais uma vez em mil pedaços. Sem mais aguentar, virei as costas e andei pelo deck ignorando os seus chamados enquanto a dor se apossava de mim. Definitivamente eu não conhecia mais Edward Cullen, o vizinho bonito e gentil da casa ao lado que conquistou meu coração e tinha acabado de destruí-lo.

***

2012

Submergi buscando ar enquanto a memória estava tão fresca na minha mente quanto as lembranças de ter passado a noite chorando para no dia seguinte ir embora, me odiando por ter demorado tanto para reconhecer que ele já não era mais o garoto por quem me apaixonei e conheci ao longo dos anos.

Fui tirada das minhas lembranças quando senti alguém pulando sobre mim, e pelo cabelo louro que foi jogado acidentalmente na minha cara logo percebi quem era. 

Porém, antes que pudesse demonstrar a minha falsa insatisfação com esse detalhe, ouvi um carro ser desligado e em seguida ouvir as vozes dos meus pais, de Alice, Jasper e Tanya.

— Eu não acredito que vocês não nos esperaram para pular no lago. — reclamou Alice, marchando no deck, para logo ser ultrapassada por Tanya que deu um grito ao saltar e logo mergulhar. 

— Desculpa baixinha, mas passamos tempo suficiente assando dentro do carro para não aproveitar o lago. — apontei, a vendo fazer uma breve carranca que logo se desfez ao ser quase atropelada pelo namorado que correu antes de saltar somente de bermuda. 

— Entra logo, Alice. — incentivou Rose. Ela revirou os olhos e sem hesitar pulou seguindo o exemplo de Tanya de gritar no processo. 

Ficamos ali por um bom tempo, nadando, saltando, conversando como se tivéssemos ficado meses sem se ver e não apenas algumas horas, até que a fome bateu e logo fomos para o carro pegando nossas toalhas e roupões antes de entrar em casa, evitando molhar demais o chão. 

Algo que obviamente ninguém obteve muito êxito e logo Renée, minha mãe, nos mandou enxugar antes do jantar. 

Devidamente trocados após um banho quente, colocamos as malas nos quartos que sempre foram divididos para nós, e do qual tinham uma beliche, uma cama, um enorme guarda roupa e uma cômoda.  A casa era relativamente grande, assim como os quartos, mas ainda sim, foi preciso adicionar colchões nos quartos para caber os gêmeos Hales e seus respectivos namorados.

Respirei fundo sentindo a casa um tanto abafada, mas nada se comparada a cozinha, que além de quente estava bem movimentada por ter tanta gente nela. Inclusive, gente que não imaginei ver tão cedo. 

Parada na soleira da cozinha, vi Esme e Carlisle Cullen conversarem animados com os meus pais, os ajudando com a comida assim como Alice e Jasper, que foram os primeiros a descerem após arrumar as coisas.

Puxei o ar ao ver Esme sorrindo, e foi inevitável não lembrar do filho deles que era perfeita mistura dos dois.  Com exceção do caráter, minha mente lembrou.

— Olá, Bella. Precisa de algo? — minha mãe questionou no exato momento que virei as costas para eu me esconder no quarto. Olhei para ela segurando um sorriso amarelo nos lábios com a atenção de todos voltada para mim.

— Não, apenas vim ver se precisavam de ajuda. — respondi me sentindo desconfortável com toda atenção. — Mas acabei percebendo que não precisavam. — completei e encarei o casal de vizinhos. — Olá, senhor e senhora Cullen.

— Olá Bella. — cumprimentou Esme afável como sempre. — Sabe que não precisa nos tratar com tanta formalidade.

— Desculpa, força do hábito.

— Bella, poderia avisar os outros para descer. O jantar já está pronto. — pediu Charlie.

— Claro. — e, então, finalmente pude respirar em paz. 

Entrei no quarto flagrando Jacob beijando Leah, o que me fez limpar a garganta, fazendo ambos olharem para mim.  

— Desculpa por atrapalhar, mas vim avisar que o jantar já está pronto. 

— Ótimo! Já estava pensando quanto tempo mais ia viver antes de morrer de fome. — disse ele divertido, segurei a vontade de revirar os meus olhos.

— Jake, será que você poderia fazer o favor de encontrar os outros e avisá-los? — perguntei, o fazendo me olhar como se tivesse pegado algo na minha voz. Como a inquietação que estava sentindo. Ele olhou para Leah, e depois para mim.

— Claro,sem problemas. Devo avisar que vocês vão demorar para descer?

— Não precisa, não iremos demorar. — ele assentiu e saiu do quarto nos deixando sozinhas. Leah me olhava curiosa.

— O que aconteceu? Desembucha. 

— Esme e Carlisle estão lá embaixo. — anunciei, vendo sua boca abrir minimamente. 

— Porra, mas já? Achei que no mínimo, eles viriam almoçar, jantar aqui depois de alguns dias que estivermos aqui, mas não no dia que chegamos. 

— É eu sei, pensei a mesma coisa quando levei o susto de vê-los na cozinha. — desabei na cama. — Meu deus, eles não mudaram desde a última vez que os vi, não tem nem um fio branco.

Ela bufou.

— Não se passou tanto tempo assim, - comentou, o que me fez olhá-la e ela revirar os olhos. — Ok, mas pense se aquele estrupício fosse para estar aqui, ele já estaria.

Ela tinha um ponto. A porta foi batida.

— Meninas, parem de fofocar e desçam antes que a comida esfrie. — ordenou Renée, ficamos de pé.

— Bella. – Leah me chamou assim que abri a porta. A olhei. — Você tem tanto medo de voltar para ele dessa forma?

— Não mais. Agora, tenho medo dele vim me perturbar e afogar ele no lago. — respondi, e fiz uma careta. — Perder meu réu primário por causa dele, seria um pesadelo. — comentei, a fazendo sorrir e balançar a cabeça antes de me empurrar para andarmos. 

Como eu imaginava, só faltava nós duas sentarmos à mesa que possuía inúmeras conversas que iam desde piadinhas entre Emmett, Jacob e Jasper, a fofocas sobre a vida alheias da faculdade, do jogo da NBA e até receitas. 

Porém, a conversa se voltou para nós, recém formados, e o que estávamos fazendo da vida.

— Nosso menino também se graduou em engenharia civil. — comentou Esme alegremente, após Jake contar sobre a sua graduação. — Ele está voltando de Boston amanhã, para ter as devidas férias antes de começar a trabalhar em uma construtora no início de agosto.

— Meu deus, Esme. Vocês devem estar muito felizes e orgulhosos. — comentou Renée tão alegre quanto, enquanto tomava suco trocando um olhar com Leah.  Carlisle e Esme se olharam sorrindo antes de olharem para ela.

— Definitivamente estamos. — afirmou Carlisle que olhou para mim. — E você Bella? Agora que se formou em literatura, já está trabalhando em algum lugar?

Assenti colocando o copo na mesa.

— Sim, comecei a estagiar em um jornal há um ano, mais ou menos, e no final do mês passado eles anunciaram que irão me efetivar como assistente de redator júnior assim que meu contrato terminar em setembro. — respondi, vendo o orgulho brilharem nos olhos dos meus pais.

— Nossa, meus parabéns, Bella. Isso é um passo e tanto! — parabenizou Esme, apenas assenti. 

— Demais.

— E em qual jornal você está tendo essa oportunidade incrível? — foi a vez de Carlisle perguntar.

— The New York Times. 

Antes que ele pudesse falar algo que fosse condizente com o seu choque, Emmett teve o prazer de derramar bebida em Rose que o fuzilou o namorado com os olhares antes de começar estapeá-lo e xingá-lo. Isso, como sempre, gerou risos a todos, já que Emm apesar de enorme, se encolhe igual uma criança.

Depois da sobremesa ser servida, da louça ser lavada, os Cullens foram embora, todos foram dormir devido ao dia cheio e cansativo. Menos eu.

Minha cabeça simplesmente não desligava. Ela me lembrava da primeira vez que vi o garoto ruivo, de olhos verdes e sorriso torto, e com o passar do tempo meu coração começou a bater mais forte quando o via, para então ser partido pelas suas palavras. O sono que foi espantado por pensamentos e memórias, me levou depois do que pareceram horas, e pude enfim descansar.

***

 Apesar do que Esme havia falado, seu filho não chegou no dia seguinte. Pelo o que ouvi ela contar para minha mãe — com ouvido colado na porta da cozinha — ele teve um imprevisto que atrasou a viagem, algo que fiquei aliviada em saber e torci internamente para que o imprevisto fosse tão forte que não voltasse nas próximas três semanas.

— Você praticamente está vivendo nesse lago. — comentou Tanya, parando na ponta do deck. Sorri.

— Quase isso. Tenho que aproveitar o quanto puder antes de voltarmos. — respondi, mexendo na água. — Mas me diga, porquê não está com o seu belo maiô amarelo e dando um salto nessa água?

— Porque vou ao mercado com a sua mãe, já que todo mundo dessa casa decidiu fazer trilha ou assistir jogo de futebol na casa do vizinho. — disse e sabia que os últimos com certeza eram Emmett, Jake e meu pai. Apenas sorri. 

— Até imagino quem seja. Alguns hábitos jamais mudam.

— Isso é uma resposta indireta de que não vai com a gente no mercado?

— Na verdade, diria que é uma resposta direta.

Ela revirou os olhos, sorrindo.

— Imaginei. Bom, até mais tarde e cuidado para nenhuma piranha te pegar.

— Piranha igual a você?

— Vai se foder, Isabella. — retrucou e se virou andando em direção da casa. 

Ri com a sua reação e voltei a nadar até o cansaço bater com força. Sentei no deck aproveitando o sol e a paisagem na minha frente, do qual senti falta de ver e apreciar durante todos os anos longe. Mas que desejei rever em todos os verões passados.

— Bella? — As minhas costas se endireitam, ao ouvir a voz conhecida e rouca. 

Meu coração antes calmo, se acelerou e começou a bater tão forte como se fosse capaz de sair para fora do meu peito. Apesar do anseio de me jogar no lago e nadar para outra margem, com um pouco de coragem que tinha, o olhei.

Edward, assim como eu, pouco havia mudado desde a última vez que nos vimos. Seus olhos verdes ainda eram intensos e brilhantes, seus cabelos acobreados estavam bagunçados como se não os tivesse penteado de manhã. A única coisa que mudara em si, era o rosto mais maduro, mais envelhecido, e a barba por fazer.

Algo que fez parte de minha mente quase querer gemer de satisfação com aquela visão, enquanto me lembrava que apesar de ter desejado vê-lo um dia de barba, ele continuava o mesmo filho da puta que havia partido meu coração. E não havia mais nada do que ele pudesse fazer para mudar isso.

— Olá Cullen. — cumprimentei seca, para então no segundo seguinte me render a vontade de mergulhar e nadar até a outra margem, deixando-o, parado me olhando, para trás.

***

— Eu não acredito que você disse e fez isso. — soltou Leah, assim que terminei de contar a ela o que havia acontecido há dois dias, quando Edward havia chegado trazendo felicidade para os seus pais, e incômodo no jantar onde Leah notou a minha falta de surpresa ao saber que ele tinha chegado no dia anterior. Algo que estava amando fingir demência sobre aquilo até vê-lo parado na sala de jantar. Suspirei, ela me olhou. — Porque não me contou antes?

— Porque estava querendo fingir que isso não aconteceu. — disse e logo acrescentei ao notar seu olhar sério: — Estava pensando em te contar no dia, mas vocês voltaram tão cansados da trilha, e ontem, eu só queria passar o dia fingindo que ele não existia.

— Para logo depois se deparar com ele sentado na mesa do jantar. 

Assenti.

— O que me faz questionar por  qual pecado estou pagando para merecer isso. 

Antes que ela pudesse comentar algo, a porta foi batida e aberta após permissão, para logo Rosalie aparecer sorridente.

— Hey! Os meninos decidiram fazer trilha de última hora, vocês querem ir?

A gente se olhou por um momento, até dar de ombros.

— Não estamos fazendo nada mesmo. A gente topa. — respondeu Leah.

— Ótimo. Esperamos vocês lá embaixo. — disse, e saiu. 

Leah e eu trocamos de roupas rapidamente, colocando algumas peças mais curtas e folgadas, calçamos nossos tênis e logo passamos na cozinha para pegar uma garrafa de água para enfim sairmos porta afora. 

Todos estavam nos esperando na frente de casa, inclusive Edward que estava ao lado de Emmett e Jacob, dos quais haviam se tornado seus amigos. Já que quando chegou na própria casa, eles estavam lá como intrusos junto com o meu pai comemorando o ponto dos Yankees.

— Eu não acredito que ele vai. — sussurrei.

— Finalmente vocês apareceram. — gritou Jacob, fazendo todos olharem para a gente. — Achei que teria que ligar para polícia.

— Larga de ser dramático, Jake. Nós não demoramos tanto assim. — retrucou Leah.

— Não, vocês só demoraram para cacete, porém, não foi tanto assim. — disse Tanya debochada.

— Como se você não demorasse horas para se arrumar para uma aula da faculdade.

A loira empinou o nariz.

— Demorava mesmo, aquele professor gostoso merecia me ver bonita e gostosa.

— Tan, ele já te achava bonita e gostosa vestida de pijama. Você não precisava ir igual a uma piranha às sete da manhã. — pontuou Alice divertida, enquanto a loira a fuzilava.

— Mas bem que você me ajudava a me vestir como uma né, Alicinha?

Emmett gargalhou e deu batidas nas contas de Edward.

— Espero que você aguente esse tipo de conversa,meu caro, porque é o que mais vai ouvir durante a trilha inteira.

Ele deu de ombros. 

— Já ouvi coisas piores.

— Então, se prepare porque você vai ouvir mais. — disse Jake, o fazendo rir e olhar para mim, para então dar um aceno do qual ignorei olhando para Leah e para as meninas.

Sem mais demoras, andamos para uma das trilhas que tinha na cidade e que dava a volta no lago, entre conversas e risadas, o que deixava as coisas agradáveis, apesar do calor que era quase insuportável. O que nos fez parar algumas vezes para respirar e tomar água antes de voltarmos a andar.

O cansaço começou a bater forte, o que me fez diminuir o ritmo e assim me distanciar do grupo, que seguia com animação e disposição. Quase quis rir ao notar o quão sedentária estava, mas acabei me vendo encantada com a paisagem ao nosso redor, fazendo-me pensar que a caminhada pesada estava valendo a pena no final. 

Suspirei prendendo os meus cabelos num coque frouxo sentindo o ar ainda mais abafado e por um momento lembrei de como durante quase todo percurso senti o olhar de Edward sobre as minhas costas quase me queimando.

— Bella.  — a voz do mesmo me tirou dos meus pensamentos, e por um milésimo de segundo me questionei se ele atendia os chamados da minha cabeça, por parecer quando justamente estava pensando nele. Fechei a cara, ele me olhava preocupado. — Você está bem?

— Claro. Por que a pergunta?

— Por que você parou de repente e ficou olhando para o nada.

— Estava pensando em coisas das quais não deveria estar. — rebati, voltando a andar notando que estávamos sozinho.

— Tipo quais? — perguntou curioso, ficando do meu lado.

— Tipo: “em quais métodos de tortura devo fazer para você me deixar em paz.

— Isso significa que estou te incomodando.

Revirei os olhos e olhei para ele, que tinha um sorriso divertido nos lábios do qual me irritou.

— Para de se fingir de sonso, Cullen. Isso não combina com você. — disse ríspida. — Você acha que eu não percebi as suas tentativas de manter uma conversa comigo ontem no jantar? Ou as suas olhadas intensas durante a trilha? Ou que você foi o único que ficou para trás?

— Bella, eu só quero, e preciso, conversar com você.

— Mas eu não quero, e nem preciso, conversar com você. — pontuei. — Aliás, nós não temos nada para conversar. 

— Sim, nós temos…

— Não, nós não temos. — o interrompi, ficando com meu rosto a centímetros do seu. Ergui o queixo. — A nossa última conversa há anos atrás foi bem clara. Então, me faça um favor? Me deixe em paz!

 Ele me chamou, mas não fiquei para ouvir. Andei o mais rápido que pude para chegar até os outros, e logo pelo meio do caminho ouvi Edward bem atrás de mim, mas sequer olhei para trás. 

— Hey! Onde vocês estavam? Achamos que vocês tinham se perdido. — comentou Rose, assim que chegamos, eles estavam sentados em alguns troncos tomando água. 

Emmett nos olhava com um sorriso malicioso nos lábios, Tanya intercalando os olhares entre a gente, assim como os demais que sabiam pela minha cara que não foram amassos que aconteceram entre nós. 

— Estou sedentária demais para fazer trilhas. Acabei diminuindo o passo para descansar, e acabei descobrindo que eu não sou a única sedentária por aqui. — expliquei soando sarcástica no final, fazendo a fisionomia de todos mudarem ao ponto de notarem um clima estranho entre a gente. 

Edward riu mexendo nos cabelos.

— Acho que vou ter que me inscrever numa academia, quando voltar para Boston.  — comentou despreocupado e deu um gole de água. — Vamos?

Todos assentiram, ainda intercalando olhares entre ele e eu, que logo foi para frente ficando perto dos meninos puxando uma conversa, enquanto Leah veio para o meu lado com uma cara de quem queria saber o que tinha acontecido.

— Mais tarde eu te conto. — sussurrei, a fazendo assentir. Respirei fundo, desejando mais do que nunca que aquela trilha logo acabasse. 

***

  Dizer que me arrependia por completo de ter ido naquele lago era quase um eufemismo. 

Amava estar ali. Amava sentir a brisa suave que vinha das árvores e o cheiro que vinha delas, da tranquilidade que o lugar trazia ao ponto de relaxar cada parte de mim. E sobretudo,  a sensação de pertencer aquele lugar.

Confesso que, estava sendo muito bom passar um tempo de qualidade com os meus amigos e com meus pais no lugar que mais amava e de que tinha sentido tanta falta de estar durante tanto tempo. O que me fez questionar do que adiantou ter fugido por tantos anos, se a pessoa que quis evitar, me olhava de maneira intensa todas as manhãs enquanto caminhava no deck para nadar e que parecia ter intensificado dias depois da trilha.

 Edward parecia estar numa missão de me agradar ou chamar a minha atenção nos pequenos detalhes. Desde me oferecer gentilmente refrigerante no jantar, de carregar as minhas coisas para o deck, de dar uma caixa do meu chocolate favorito ou até um “boa noite” cheio de significados do qual simplesmente ignorava como todo o resto.

Parecia que quanto mais desejava ele longe, mas ele parecia estar perto de uma forma ou de outra. Seja para que fosse escolhido para me ajudar com as compras no mercado ou eu ser escolhida para levar doce de compota para Esme, e ser ele quem abriu a porta.

Suspirei mexendo nos meus cabelos levemente molhados, pensando em tudo aquilo estava me cansando. Mas era necessário. 

Mesmo com suas insistentes tentativas de "conversas", das quais eu ignorei como o diabo fosse da cruz,mas porque sabia que eu não poderia lhe dar ouvidos. Ser sonhadora em acreditar que ele de fato estava arrependido com o que fez no passado. 

Eu não o conhecia no último dia que o vi, anos atrás, e não o conhecia agora. E se fosse realista o bastante, a verdade era bem mais assustadora: nem eu me conhecia mais.

Havia uma ambiguidade de sentimentos dentro de mim, que me deixava confusa, me deixava irritada. Porque parte de todo o ódio que sentia por Edward, pareceu se dissipar quando encarei seus olhos, dando lugar ao anseio de correr para os seus braços e me aninhar lá. Soltei um riso amargo, segurando a pia do banheiro. Quem eu queria enganar? Eu ainda o amava. Mesmo depois de tantos anos, mesmo que ele tenha despedaçado meu coração. 

Mas apesar de toda ambiguidade de emoções, do amor e do anseio à flor da pele, minha razão estava ali me alertando que poderia quebrar a cara de novo. E de fato, eu sabia que poderia. Ainda mais com as nossas vidas tomando formas em cidades diferentes. 

Com um esforço enorme, joguei todos aqueles pensamentos para o fundo da minha mente e saí do banheiro indo para o quarto, onde rapidamente calcei meu tênis velho e coloquei um casaco para então descer as escadas ouvindo conversas e risadas no lado de fora. 

Todos estavam envolta de uma fogueira onde Carlisle e meu pai haviam passado umas duas horas tentando montar até que enfim acenderam próxima a hora do jantar. Com uma breve olhada enquanto descia as escadas, notei que quase todos os lugares estavam ocupados, exceto um pequeno tronco que ficava perto do deck, um pouco longe da fogueira. 

Cumprimentei a todos e logo acompanhei os outros colocando algumas salsichas no fogo, do qual quase derrubei ao ver Edward chegar e vir sentar do meu lado. 

— Olá.

— Oi. — respondi seca, tentando ignorar o nervosismo que sentia ao tê-lo tão perto, ao ponto de sentir o cheiro do seu perfume que, reconheci ser o mesmo que ele usava quando estávamos juntos. Prendi a vontade de respirar fundo.

Apesar do cumprimentos, nós não voltamos a nos falar de imediato. Conversamos e brincamos uns com os outros, até eu notar que sem perceber acabamos trocando comentários, ou segurando a cerveja um do outro, para depois rimos da piada do Emmett ou de Jake ao ponto dos nossos joelhos se encostarem. Eu sabia que ele tinha notado também, mas nenhum dos dois comentou nada.

— Minha mãe comentou que você está sendo efetivada no The New York Times. 

— Na verdade, ainda vou ser. — expliquei sem jeito, principalmente ao perceber que tinha sido assunto na mesa de jantar da família Cullen. Tomei um gole de cerveja. — Mas de qualquer forma serei promovida em setembro. 

— Um belo presente de aniversário. — comentou, com um sorriso na voz. O olhei vendo que o sorriso estava lá, assim como os seus olhos virados na minha direção. — Meus parabéns. 

— Obrigada. — murmurei, olhando para frente, vendo que todos estavam alterados, ou quase dormindo para prestar atenção em nós. — Mas acho que não fui a única que ganhou de presente de aniversário a efetivação no estágio.

Ele riu suavemente, deixando-me encantada com o som.

— Não, não foi. Acho que fomos sortudos em ser presenteados com esse aumento gigantesco de salário, após sofrermos como estagiários. 

Fiz uma careta.

— Nem me fale.

Nós nos encaramos em silêncio, apreciando a visão um do outro, com a luz do fogo nos iluminando. Admirando quem havíamos nos tornado. 

Poderia negar quantas vezes fosse preciso, mas naquele momento, cada parte de mim ansiava beijá-lo, tocar os seus cabelos desgrenhados que pareciam iguais desde a adolescência. Encarando os olhos brilhantes de Edward pude ver que eu não era a única que tinha aquela vontade, e por senti-la, não me afastei quando senti seus dedos na minha bochecha.

Completamente presa ao seu olhar e a emoção que fervilhava nas minhas veias, permitir que eles percorrem um caminho imaginário sobre o meu rosto até os meus lábios. 

Porém, fui tomada pela razão e me afastei de maneira rápida olhando para fogueira, com o meu coração  batendo forte no peito, com meu corpo ardendo e ansiando pelo seu toque. Tomei um gole grande de cerveja, sentindo a minha garganta seca. 

O passado, o antes, invadiu os meus pensamentos antes confusos. Eu tinha sido tola em acreditar em tudo. Em tudo o que ele dizia, em tudo o que ele me mostrava, para no final ouvir que era eu que tinha visto coisas onde não tinha. Talvez, mais uma vez, ele pudesse estar fazendo aquilo de novo, aproveitando que a “peguete” dos verões passados estivesse ali… tão perto.

Ouvi ele suspirar alto, e prendi a vontade de fazer o mesmo.

— Eu já vou indo dormir. — falamos juntos, ficando de pé. Trocamos um breve olhar antes de seguirmos para a entrada da casa, notando que alguns dos meus amigos tinham dormido enrolados nas cobertas deitados sobre a grama ou nas cadeiras.

— Boa noite, Edward.

— Boa noite, Bella. Durma bem. – desejou, me fazendo sorrir sem jeito e do qual ele retribuiu com um sorriso torto. 

Fiquei parada o vendo partir para sua casa, enquanto me sentia quase que uma adolescente que voltava de um encontro - flutuando e segurando suspiros.  

****

 

— Agrrr! Que roupa eu visto? — murmurei irritada após revirar de novo a minha mala atrás de algo decente para o jantar de despedida na casa dos Cullen, já que no dia seguinte estaríamos voltando para New York. Esme havia nos convidado tão amorosamente ao ponto de condenar a mim mesma com o pensamento de estar vomitando só pra não encarar o filho dela. 

— Eu não acredito que não está pronta. — constatou Rose, entrando no quarto.

— Eu não sei o que vestir.

— Mas porquê? Vai ser um jantar simples.

— O ponto não é o jantar, mas quem vai estar nesse jantar. — disse Leah passando ao lado de Rosalie vestida com uma saia verde e cropped vermelho — Coloque aquele vestido azul de alcinhas e laço delicado no busto. — ela ergueu o dedo quando abri a boca  — E nem ouse dizer que não o trouxe porque eu o vi na sua mala.

Fechei a cara, enquanto ouvi Rose rir suavemente.

— Não ia dizer isso, e sim que está vendendo gelado.

— Põe um cardigan. 

— Bom, vou avisá-los que vocês estão terminando de se arrumar. — informou Rose, nós apenas assentimos.  — Bella. — a olhei. — Depois quero saber qual é o seu rolo com Edward. 

Gemi internamente. 

— Olha o que você fez.

— Eu? Quem não sabia o que vestir para encontrar o vizinho é você  — disse, dando um sorriso quase angelical. Revirei os olhos, me arrependendo amargamente de contar para ela sobre como Edward e eu havíamos nos aproximado - mesmo que pouco - desde a noite na fogueira.  Onde as conversas que eram inexistentes, se tornaram comuns em diversos momentos no dia, inclusive quando estávamos sentados no deck apreciando a vista

Com rapidez, me arrumei fazendo uma maquiagem leve e deixando meus cabelos o menos molhados possível.  Assim que entrei no carro, me deixei levar pelas lembranças dessas conversas, e de como nenhuma delas envolvia o que fomos um dia,mas o que éramos. Quase rir ao me lembrar subitamente da frase de Razão & Sensibilidade, onde Jane Austen escreveu sabiamente sobre como sete anos seria insuficiente para algumas pessoas se conhecerem, enquanto sete dias são mais que suficientes para outras.

E ela estava malditamente certa!  

Esme nos recebeu com um sorriso enorme, para logo em seguida rebocar a minha mãe para cozinha, ambas conversando sobre filhos e receitas. Carlisle e meu pai logo entraram em uma conversa, para em seguida irem para o escritório, provavelmente para beber uísque e fumar um charuto antes do jantar.

Pedindo licença, e após uma breve orientação de Esme, subi as escadas atrás do banheiro. Porém, a sua breve e direta explicação pareceu se perder na minha cabeça ao ver a quantidade de portas no primeiro andar.

— Puta merda! Pra quê tanta porta? — questionei num sussurro, com receio de abrir alguma e me deparar com algo que não deveria. 

Respirei fundo, e ousei abrir a penúltima porta perto da escada tendo a surpresa de ver Edward terminando de vestir a calça com o seu peito desnudo. Ele me olhou tão surpreso quanto eu, que estava em choque e presa na visão à frente.

— O que você está fazendo aqui? — questionou colocando uma camisa branca. — Minha mãe pediu para me chamar?

— Não. O jantar está longe de ficar pronto, com a sua mãe e a minha fofocando na cozinha.— disse, o fazendo rir.

— Nunca vou parar de me surpreender o quanto essas duas têm de assunto. 

— Nem eu. — murmurei prestando atenção na música do 5 Seconds to Mars que tocava, até que notei ele me olhando. — Ah, certo! Eu só errei a porta mesmo. 

— E o que você procurava?

— Pode ter certeza que não era você.

— Devo ter certeza mesmo? 

— E porque não teria?

Ele sorriu torto.

— Talvez, porque noites atrás quando lhe toquei, o seu olhar estava pegando fogo, igual ao meu..

— Precisa de um psiquiatra Cullen, está começando a ver coisas onde não tem.

— Não acho que eu estivesse. Eu bem sei o que vi, sei o que sentiu.

— Você não sabe de nada. — rebatei ríspida, e sai do quarto ouvindo ele me chamar. 

Antes que pudesse dar mais que três passos, senti o meu braço ser puxado o que me obrigou a olhá-lo, enquanto ficava quase encostada na parede.

Porque você tem a mania irritante de virar as costas e me deixar chamando por você? — perguntou em sussurro, aproximando-me de mim. 

Ergui o queixo dando um sorriso irônico, enquanto tentava controlar o nervosismo de eu estar sem saída. Prensada na parede por ele.

— Para inflamar o meu ego, é claro. — e logo acrescentei: — Fora que se não posso pará-lo de falar, nada mais justo que deixá-lo falando sozinho.

Edward deu o seu típico sorriso torto, que fez meu coração bater forte contra o meu peito ao mesmo tempo em que meu corpo inteiro se arrepiou quando seus dedos brincaram com a mecha do meu cabelo, colocando-o atrás da orelha. Perdi o ar, e fechei a cara. Filho da puta.

— Se for por esse motivo, deveria saber que existem outras maneiras de me fazer parar de falar.

— Dando-lhe um soco?

Ele revirou os olhos.

— Que tal conversamos com dois adultos? Entendo que você esteja brava pelo o que aconteceu anos atrás.

— Brava? — o interrompi. — Brava é elogio e sequer chega perto do que sinto por você pelas suas maravilhosas palavras após suas ações degradantes de anos atrás. — acrescentei. — E não venha com o papo "de precisamos conversar" porque não há nada para conversar. Agora se me der licença, devem estar me esperando para comer.

— Existe um porquê, sabe disso. — revidou enquanto abria espaco suficiente entre nós para eu me desvencilhar da sua armadilha. — Se não houvesse, você teria vindo aqui todos esses anos. — apontou fazendo-me parar. — Sei o quanto ama aqui, sei que de certa forma a impedi de vim pra cá ao ponto de evitar o mesmo.

— Edward…— Parei, porque não sabia ao certo o que iria dizer, nem mesmo sabia o que sentir.

— Nós precisamos conversar Bella. — se aproximou novamente, quase colando o seu corpo ao meu. — Sei que você sente o mesmo que eu quando a toco ou quando estou perto de você. — sussurrou, e como se fosse para provar seu argumento tocou os meus lábios, os delineando, por onde escapou todo meu ar. 

— Edward… — Murmurei de novo, ansiando pelo que o ele faria a seguir.

O olhei e no minuto seguinte a sua boca faminta estava sobre a minha. A devorando.

Nossos corpos estavam tão grudados ao ponto de ser possível fundi-los em um só, com o calor e anseio que emanava deles. As suas mãos me apertavam, me envolviam, ao mesmo tempo em que as minhas mãos ora puxavam seus cabelos ora enrolavam seus fios nos meu dedos.

Nós nos afastamos minimamente buscando ar, para depois ceder à atração, ao anseio, à saudade, ao desejo que nos consumia. Mais uma vez.

Os chamados altos do seu nome, nos fizeram nos separar, e perceber como estávamos nos atracando no meio do corredor como dois adolescentes cheios de hormônios. 

 Que merda eu tinha feito? pensei olhando para ele, que tinha os cabelos mais bagunçados que antes. Antes que pudesse falar algo, virei as costas e abri as duas últimas portas encontrando o banheiro, onde rapidamente entrei trancando a porta.

 Que porra a eu tinha na cabeça? 

Respirei fundo e olhei para o espelho, vendo a minha minha face rosada, queimando, e os meus olhos brilhando. Vi a Bella de antes, a que era perdidamente apaixonada pelo vizinho, a que acreditava, e sonhava que iriam se casar e ser felizes.

Mas eu não era mais ela — e sobretudo, eu não podia ser ela.

 Respirei mais uma vez, ouvindo Leah me chamar no corredor. Tudo aquilo precisa de fim, e mais do que nunca, estava na hora de tê-lo. 

***

Depois de horas tentando dormir, ansiando um sono que sequer ousava aparecer, vesti silenciosamente um casaco sobre o meu pijama e calcei o meu tênis que sequer fiz questão de amarrar, e sai para fora. 

Apreciei quase com alívio a brisa da madrugada que dispersou por um momento as lembranças do maldito jantar.

Edward e eu quase não nos olhávamos, fingindo que não tinha acontecido nada entre nós. Mas nos olhos dos outros, até mesmo dos nossos pais, era nítido que estamos falhando miseravelmente naquela missão.

Segui em direção ao deck, ouvindo o suave movimento das águas no lago, ao mesmo tempo em que sentia a escuridão me abraçar.

Mas ela não apagava ou afastava a sensação dos braços de Edward envolvendo o meu dorso, dos seus lábios sob os meus, com seus cabelos entre meus dedos. Exatamente como na primeira vez.

Porém, ao contrário da primeira vez, os sentimentos não eram apenas uma curiosidade ou uma paixão adolescente. E sim, um misto de anseio, desejo e uma paixão avassaladora que tirou o meu ar e minha razão, ao ponto de repetir o feito ignorando que tinha pessoas no andar de baixo ou que estava prensada na parede.

Mas a realidade me acertou em cheio depois, e eu iria partir assim como ele. Eu não poderia me jogar em algo que poderia ser mais uma de tantas pequenas mentiras.

— Bella. — a voz suave e baixa de Edward me despertou ao mesmo tempo que o olhava assustada. Ele assim como eu, estava trajando um casaco sobre o que parecia ser um pijama e assim como eu parecia não ter conseguido dormir. 

Voltei o meu olhar para a escuridão e apertei meus braços na frente do corpo ouvindo os seus passos até ele parar do meu lado.

— Eu sei que fui cruel em minhas palavras da última vez que nos vimos, anos atrás, quando não demonstrei sequer me importar com o que sentia ao ponto de deixar claro nas entrelinhas que não a amava, e nem que a queria…

— Edward, por favor…

— Deixe-me dizer, deixe-me falar. —  implorou. Apenas suspirei. — Faz anos desde que caí em mim, sobre os meus erros e venho esperando a oportunidade de falar com você. Mas você fugiu daqui, como eu fugi do que sentia por você naquela noite.

— O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer que — ele puxou o ar — quando eu te disse que não a queria, aquele foi o tipo mais negro de blasfêmia que proferi durante toda a minha vida.

Perdi o ar com a declaração, e meu peito queimou. Seus dedos tocaram o meu rosto e não tive forças para me afastar.

— Eu te amo, Bella. Eu sempre a amei. — declarou. — Mas fui um moleque tolo em não permitir aceitar isso e me entregar a esse sentimento como você se entregou, então eu fugi, me tornando alguém que nunca fui até perceber que havia algo mais precioso na minha vida do qual perdi: você.  A garota verão que fazia cada parte de mim queimar, ao mesmo tempo que trazia paz como uma brisa do qual ansiava por todos esses anos.

— Não, eu… — afastei-me dele. — Você destruiu meu coração com as suas pequenas mentiras, Edward. Com as suas atitudes frias e distantes. Naquele ano e no seguinte, eu esperei você, esperei por uma mensagem sua, ou até mesmo um email. Mas não houve nada. Então eu entendi que não era apenas uma confusão sua, ou uma pequena mentira, era real o que tinha dito naquela noite.

— Bella, não era real. Eu te amei naquela época, só era um moleque idiota por não ter entendido e compreendido o que tinhas nas mãos, e ter permitido perder. — explicou quase que desesperado. — Pensei em te procurar ano após ano, mas cada parte racional, me lembrava que você talvez estivesse feliz com um outro alguém, construindo uma vida do qual não tinha direito de interferir. Porque eu sabia que deveria me odiar por tudo o que fiz, e pelo o que te disse. 

Respirei fundo segurando as lágrimas que ameçavam vim. Apertei os meus braços e o olhei.

— Então, você vai entender quando digo que não há chance para nós Edward. Nós somos diferentes do que fomos um dia, nós construímos novos caminhos e acima de tudo, em cidades diferentes. — apontei. — Você acredita que ficar juntos mesmo com a distância vai dar certo, e cada parte de mim me dá a certeza que vou quebrar a cara mais uma vez. E eu não posso me arriscar para isso, não de novo.

— Bella, por favor…

— Boa noite, Edward.

— Bella.. — ouvi ele me chamar novamente, mas ignorei e continuei andando para casa, onde entrei da maneira mais silenciosa que pude para então entrar no banheiro e desabar. Abracei o meu corpo sentindo a dor me partindo por inteiro, quebrando cada pedaço da minha alma e coração.

Não sei quanto tempo estava ali sentindo a dor me tomar, amortecendo cada parte de mim, quando Leah abriu a porta do banheiro com uma cara de sono que logo se dissipou dando lugar a surpresa de me ver encolhida no canto do banheiro.

Eu não precisei dizer nada para ela entender o que havia acontecido e vir me abraçar fazendo as lágrimas voltarem com força, e a dor também.

Naquela manhã, todos notaram a minha melancolia, mas ninguém ousou perguntar o que tinha acontecido. Apesar de suspeitar que de alguma forma eles sabiam o porquê.

Coloquei as malas no carro e encarei o lago pela última vez, me permitindo admirar o lugar, o vento, a paz e o calor. 

— Bella, vamos? — Alice me chamou, assenti, colocando meus óculos escuros. Abracei Carlisle e Esme, me despedindo deles desejando uma boa viagem.

  E ao contrário da ida, meus dedos não brincaram com o vento, mas com as lágrimas que caiam do meu rosto. 

***

Chegar e ouvir o caos de New York foi reconfortante. Mesmo sabendo que teria que trabalhar no dia seguinte, dei a volta pelo quarteirão antes de desarrumar a minha mala e olhar as fotos na câmera que tiramos em momentos  ao ponto que sequer notei quando chegou uma hora da manhã. 

O que trouxe uma sensação de arrependimento para mim quando o despertador tocou e o cansaço veio com força, obrigando-me a tomar um banho gelado antes de me vestir e tomar café da manhã na companhia dos meus pais e ir para o jornal.

Como toda segunda, o setor de revisão estava uma bagunça ao ponto de agradecer mentalmente a lista de matérias para serem corrigidas, que me deixaram a minha cabeça ocupada o suficiente para não pensar e lembrar de nada até o final do dia.

Sai do edifício desejando uma boa taça de vinho, mergulhada na banheira ouvindo todas as músicas triste da minha playlist no youtube.

Mas, a minha mente e o meu corpo se estagnou ao ver um ruivo de olhos verdes parado na calçada com a sua barba por fazer, cabelos mais desgrenhados que o normal e suas roupas amassadas como se tivesse pegado a primeira muda no guarda roupa. Ao mesmo tempo que eu o olhava, podia sentir seu olhar sobre mim. Não na roupa que eu usava, mas no meu rosto surpreso dele estar ali.

— O que você está fazendo aqui?

— Vim te dizer que você estava certa sobre nós. — respondeu calmo. — Nós somos diferentes do que um dia fomos, você era sonhadora ao ponto de flutuar e agora é tão realista que me dá nos nervos. E eu me tornei ao contrário. Nossas vidas foram construídas em direções diferentes, de fato, mas tem um único porém no meio de tudo isso que você esqueceu.

— O que? — questionei erguendo o queixo quando ele parou a poucos passos de mim, sentindo o meu coração bater forte e pesado.

— Que os nossos caminhos e direções, sempre se cruzam. Exatamente como nós nos encontramos no lago, depois de tanto tempo.

— Isso não significa nada.

— Não, não significa. — concordou sério, e me vi presas nos olhos verde. — Porque o que isso significa é o quando nossos caminhos se cruzam, e Bella, eu não quero mais que isso aconteça de maneira inconstante e inconsciente entre nós. Que deixemos tudo para o acaso. — declarou. — Eu quero percorrer quantos caminhos forem necessários para vê-la todos os dias da minha vida, para tê-la ao meu lado, amando as suas qualidade e respeitando os seus defeitos, a fazendo feliz, e declarando o quanto sou apaixonado por você em todas as horas. 

— Edward…

— Porque Bella, ao contrário do que você disse, nós temos uma chance, um futuro. É tão certo quanto o sol se põe a oeste, é o meu amor que sinto por você. — murmurou tocando o meu rosto. E com as emoções inundando cada parte de mim, eu o beijei.

Eu me entreguei. E me permitir mergulhar no amor que sentia por Edward, e o amor dele por mim. 

 Afastei-me dele com as suas mãos nas costas aproximando o meu corpo ao seu, vendo seus olhos brilhando tanto quanto deveriam estar os meus. Ambos sorrimos, a resposta não precisava ser verbalizada, mas sabia que assim como eu, ele precisava ouvir.

— Isso é um sim? — perguntou, com os meus dedos brincando com seus cabelos.

— Sim.



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