Nine Lives escrita por Shalashaska


Capítulo 8
A curiosidade matou o gato




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O plano consistia em:

1) Entrar na indústria.

2) Acionar o alarme de incêndio e esperar a evacuação de funcionários.

3) Explodir cada centímetro do lugar.

E estava tudo dando certo. Mas Harry Osborn não contava que Felicia fosse insistir em resgatar informações e qualquer rastro das pesquisas — ou a evidência sórdida da falta delas. Ele não podia ligar menos para a reputação da Big Pharma, só queria ver o fogo consumir cada béquer, servidor e seringa para não sobrar sequer uma amostra ou anotação da fórmula; mas estava óbvio que ela contrariou suas orientações. Haviam se separado e faltava só ela voltar de dentro da indústria para ele soltar dúzias de bombas-abóboras. Nas laterais do terreno e estruturas menores, o incêndio já havia começado.

E naquele momento, Felicia era um gato acuado. Se deparar de repente com Hoffman tinha sido pior do que pensava, mas ele não parecia temer coisa alguma com aquela arma na mão. Na realidade, parecia saber de tudo.

Talvez fosse um dos tipos de homens que mais provocava arrepios na Gata Negra: sem máscaras complexas, sem alcunhas tão comuns aos vilões de Nova York. Só um homem ruim em essência que não precisava de tais artifícios, só dinheiro. E todos poderiam recear ao ouvir seu nome próprio, mesmo à luz do dia. 

“Acha que não sei que a fórmula é incompleta? Ora, não seja burra. O vício é mais rentável. A única amostra perfeita é minha. Se nos doentes dos Osborn ela é a cura, em um organismo saudável, se não é a imortalidade, ao menos é a juventude eterna.”

A Gata Negra chacoalhou o frasco com a tal amostra que ela havia surrupiado.

“Você diz isso aqui?”

E então foi obrigada a correr.

Se a destreza dele ao persegui-la a preocupava, a mira era ainda pior: por pouco não atingiu o tronco dela, só de raspão. E além disso, havia uma bomba-abóbora prestes a explodir. Acreditava que Harry não tinha visto que ao menos três daquelas bombas alaranjadas faltavam de seu pequeno arsenal do traje. Sem encontrar saídas óbvias, Felicia aproveitou outra saraivada de tiros atrás dela estourarem o vidro adiante para saltar.

O Duende Verde observou o corpo dela bater em vigas de aço entre a fumaça até finalmente chegar ao solo. Depois, veio a explosão nos andares de cima.

“Felicia!”

Ele desceu com o planador, encontrando-a quase inconsciente e sangrando.

"Não sei se tenho mais vidas reservas... E pelo visto nem sempre os gatos caem em pé”, ela tentou rir, mas arquejou de dor. Os dois notaram ao mesmo tempo os ferimentos de bala na altura do tórax dela, “Ainda bem que eu trouxe evidências dos crimes da Big Pharma… E isso aqui. A cura estabilizada.”

Ele tirou a máscara e seus olhos brilharam. Guardou o pendrive com os dados incriminadores, sua atenção logo indo para a cura.

“Vou injetar isso em você. Vai doer. Mas vai te deixar… estável. Viva.”

“Ah, fique quieto.”

Felicia enfiou a seringa embutida no frasco no pescoço dele de uma só vez. Primeiro, ele sentiu como se seu corpo fosse partir ao meio e derreter. Depois, como se houvesse apenas um fiapo de sua sanidade. Em seguida, inspirou fundo. De repente, sua única dor era saber que ela não sobreviveria.

“Você não presta!”

“E você é um desgracado. Acabei de lembrar que você acionou a bomba de amnésia. Isso tudo é culpa sua”, a voz dela ficou fraca, “Agora você tem que partir. Alguém sempre tem que partir primeiro.”

As sirenes já tocavam ao fundo. Polícia, bombeiros, paramédicos, algum herói idiota. Nada daquilo importava mais do que ela, mas Harry entendia que não existiam chances. E não podia desperdiçar o que Felicia tinha feito por ele. Ela também compreendia isso e, portanto, se esforçava para oferecer um sorriso ensanguentado enquanto ele voltava ao planador. O Duende Verde deixou aquele cenário destruído para trás, porém o que mais jazia estilhaçado era seu coração — embora agora estivesse fisiologicamente mais saudável do que nunca.


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