New Lovers - Hermione x Luna escrita por Ralph Longbottom


Capítulo 1
Parte Única


Notas iniciais do capítulo

Mais uma história publicada. Tentei trazer uma nova visão, sendo o máximo possível fiel nas personalidades das personagens. Algumas alterações foram essenciais para a trama.



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O sol da manhã irradiava fortemente seus raios do lado de fora daquele pequeno apartamento, localizado no terceiro andar de um prédio famoso por ser a escolha de moradia por idosos e por pequenas famílias que estavam se formando. Os feixes invadiam timidamente o aconchegante quarto pela veneziana cerrada, enquanto duas moças dormiam tranquilamente em uma cama de casal.

O fulgor matutino passava pelas palhetas cinzas da janela de aço e deixava o ambiente levemente iluminado com coloração acinzentada, o que já permitia vislumbrar os objetos que estavam ali presentes. O aposento era considerado um tanto apertado. Ao adentrar a porta, virando ao lado direito já havia um pequeno corredor que dava para o único banheiro do apartamento, enquanto que, do outro lado da porta, ficava uma cama de casal grudada com a parede que comportava a única janela.

Ainda, era possível encontrar uma cômoda logo a frente da cama – cujo espaço entre os móveis cabia somente uma pessoa magra – com a televisão apoiada em sua superfície através de seus suportes e ao lado da cama e perto da porta ficava um guarda-roupa. Para que fosse possível duas pessoas deitar na cama, deveria uma ir primeiro rolando até ao lado da parede, pois só havia o espaço entre a cama e o guarda-roupa – o que gerava uma cena hilariante para qualquer um que porventura assistisse –. 

A menina com cabelos volumosos e castanhos – que estava deitada do lado direito do móvel, o único que era possível acomodar-se por conta própria – acordou sentindo sutilmente o gato de sua namorada pressionando as patinhas sincronizadamente em seu tórax. Ainda sonolenta, acariciou as orelhas do bichano, que ronronou satisfatoriamente, dizendo:

— Isso é momento para amassar pãozinho, Sr. Bigodes?

O gato miou alegremente e pulou da cama direcionando-se para o seu pote de água que ficava na estreita cozinha.

Após, a menina olhou para a namorada que dormia profundamente de costas e com a cabeça apoiada em seu braço esquerdo – que percebeu estar com ligeiro formigamento –, ressonando baixinho. Virando para o lado da loira, passou o braço livre em torno de sua cintura aproximando sua amada, cheirando suas madeixas que mais pareciam ouro líquido. Beijando suavemente o pescoço, sussurrou no ouvido:

— Luna, meu amor, hora de acordar.

— Só mais cinco minutinhos, Mione.

Com delicadeza, foi virando a namorada para que ficasse de fronte. Com olhos entreabertos, Luna sentiu Hermione depositar um beijo em sua boca e procurou retribuir acariciando os cabelos volumosos da castanha que estava ao seu lado.

— Assim você me deixa mal-acostumada, sabia? – Luna exibia um sorriso travesso.

— Não me importo. Adoro o cheiro de seus cabelos e o beijo de bom dia – a castanha falou dando de ombros. –

— Melhor do que o beijo de boa noite?

— Esse é insubstituível. Mas já está na hora de levantar.

Mione arrastou suas pernas para fora da cama, sentando-se e espreguiçando-se com os pés descalços sentindo o chão gélido. Fez movimentos com os braços para que fosse possível tirar toda a rigidez de seus músculos semi-adormecidos. Com a mão direita segurando o cotovelo esquerdo, moveu o braço esticado até o máximo que conseguiu para o lado rente ao corpo. Repetiu o movimento de outro lado.

Luna observava com deleite a namorada cumprindo o seu ritual ao levantar.

— O que foi? – Perguntou vendo o sorrisinho da loura.

— Nada. É que você é tão linda com essas manias de velha.

Mione bufou com desdém e, calçando as sandálias de dedo foi preparar o café da manhã para que pudesse ir se arrumar.

Arrumou milimetricamente a torradeira em cima da bancada, colocando duas fatias de pão. A cozinha do apartamento de Luna era diminuta, pois a loira preferiu criar uma pequena sala de estar no ambiente.

Então, a mesa de refeições era composta por duas bancadas dispostas paralelamente ao sofá e a televisão da sala de estar e que permitiam aproximar quatro banquetas altas (duas de um lado e duas do outro). A própria cozinha era um quadradinho perfeito formado por bancadas e armários em cima destas, além da geladeira.

Hermione tirou as geleias e a manteiga da geladeira, bem como os ovos e o bacon, dirigindo-se ao banheiro. Quando chegou no espaço, Luna havia acabado de escovar os dentes e estava procurando roupas no guarda-roupa.

No meio de sua escovação iniciada após uma piscadela para a loira concentrada em buscar suas vestes, Luna veio nua, deu um leve tapa na bunda da castanha e em seguida cochichou em seu ouvido:

— Adoro você com esse shortinho e essa camiseta largona como pijamas. Vem tomar banho comigo.

Mione estava imersa em seus devaneios, preocupada com uma reunião importante que teria no trabalho e também pelo evento familiar do clã dos Lovegood, o qual iria pela primeira vez como a namorada de Luna. A menina estava com medo de ter que encarar todos os parentes da namorada juntos. Como Hermione gostava de definir, a família era excêntrica.

Embora vindo de família tradicional e elitista, o pai de Luna Lovegood tinham gostos e crenças particulares, totalmente vinculado a teorias da conspiração, ramos alternativos à ciência e adepto de astrologia e de magia. Esse posicionamento gerava indisposição com os demais familiares, uma vez que o clã Lovegood era dono de um conglomerado de mídia, o qual era detentor de portais de notícias da internet, jornais, revistas e canais de televisão.

O pai de Luna era altamente intelectualizado, porém compartilhava da personalidade sonhadora e crente da filha. Um de seus maiores trunfos era a revista O Paquim, a qual consistia em magazine de circulação gratuita para disseminar as conspirações e as crenças religiosas de Xenofilio. A empresa arcava com todos os custos das publicações, sem auferir lucros, o que era motivo de brigas com alguns entre os mais importantes acionistas e os familiares que, pois enquanto os investidores tinham o desejo de evitar prejuízos financeiros imediatos com os custos da circulação o receio de a reputação dos demais veículos presentes na empresa ser arruinada pela baixa qualidade do Pasquim, os demais membro do clã não queriam se indispor com aquele que era o mais criativo de todos e o melhor designer.

Olhou mecanicamente para o box que ficava o chuveiro com aflição pelos pensamentos que inundavam sua mente e viu a silhueta de Luna pela divisória opaca, discernindo que estava lavando os cabelos. Uma forte paixão surgiu avassaladoramente em Hermione, que sentiu seu coração bater rápido e apaixonadamente enquanto pensava como era sortuda em ter alguém tão charmosa e carinhosa quanto a sua namorada. Sem pensar direito em suas ações, despiu-se dos pijamas e adentrou com Luna no box.

— Que cara é essa? – Perguntou a loura maliciosamente enquanto mordia levemente os lábios.

A castanha avançou para um beijo apaixonado.

—--------------

A reunião na firma de advocacia “Greenville & Associados” poderia ser considerada a mais importante do ano, pois discutiriam um importante caso de divórcio de uma celebridade, cliente do escritório. Draco Malfoy era a sensação inglesa do momento, sendo um importante jogador de futebol que era tido como a esperança para a seleção masculina voltar a conquista uma Copa do Mundo em toda competição que participava – batendo na trave em duas ocasiões –.

Entretanto, estava figurando nos tablóides britânicos envolvido em escândalos, principalmente conjugais, com diversos flagras do esportista em festas e em momentos constrangedores de traição matrimonial. Além disso, somava-se aos burburinhos a revelação de fatos em que Draco fora presunçoso e totalmente arrogante com os torcedores do time que defendia e da seleção inglesa. Por conta de tantas polêmicas e da delicadeza do caso, o escritório colocou a demanda como prioridade e escalou uma equipe com os melhores funcionários.

Hermione era tida como a advogada mais capacitada para atuar no caso, porém não suportava o estilo mauricinho do premiado esportista, o que rendia uma série de discussões em cada conversa que tinham conjuntamente. Por essa forma, o encontro de hoje definiria a próxima estratégia dos advogados para a atuação na situação e noticiaria o novo profissional que iria atuar diretamente com o cliente – fazendo as vezes das relações interpessoais –, deixando a castanha apenas com a parte técnica.

A blusa social azul bebê estava impecavelmente posta em seu corpo combinando agradavelmente com a saia executiva preta. O par de sapatos scarpin estavam em suas mãos, pois preferia calçar após o café.

Jogou os calçados e a bolsa no sofá de dois lugares que servia como divisória e sentou-se em uma banqueta para tomar o café da manhã. Em seu prato, serviu-se de torradas com geleia de amora, ovos mexidos e uma fatia de bacon. Enquanto comia pensativamente, Luna soltou o comentário:

— Você podia vir morar comigo.

Hermione assustou-se ao sair abruptamente dos pensamentos em que estava absorta e demorou um tempo para processar aquele assunto tão batido.

— Meu amor, eu já te disse. Por enquanto quero manter meu apartamento. E eu queria algo novo, nosso, que montássemos juntas e captasse nossos gostos e nossas personalidades

— Algo imperialista, você diz, não é? Não gosta daqui por causa da minha forma simples, do espaço pequeno.

— Claro que não, princesa! – Hermione falou afetuosamente enquanto tentava acariciar o rosto da loira. – Você sabe que o que me atraiu foi seu jeitinho alternativo de viver. É que pensei em uma casa, sabe? Afastada um pouco da cidade, até mesmo no campo, um jardim bonito, talvez uma piscina.

— Parece bom. Vou confiar em você – Luna falou sonhadoramente –.

— Bom, eu preciso ir trabalhar. Você vai me dar uma carona mesmo? – A castanha já disse finalizando seu prato e se encaminhando para calçar seus sapatos e pegar a bolsa e a pasta com alguns documentos que levou para poder estudar em casa. –

Luna acenou afirmativamente e saiu com o molho de chaves do carro e do apartamento em uma mão e na outra levava uma torrada para ir comendo. O visual contrastava com o traje formal da namorada: vestido amarelo berrante com desenhos de flores verdes longo até os pés, que calçavam uma sandália rasteirinha totalmente aberta, enquanto as orelhas ostentavam um par de brincos de bolinhas laranjas.

Para Luna, seu trabalho de florista exigia um visual colorido, chamativo e alegre, que fosse bem tropical. Para Hermione, a namorada era hippie e o jeito de se vestir e se comportar afastava alguns clientes da floricultura em que a namorada era proprietária.

O que chamava mais atenção era o carro conversível de luxo que estava na garagem do prédio e era de propriedade da senhorita Lovegood, como era chamada pelos funcionários da portaria. Fora um presente do avô e, mesmo sendo contrariada, a moça sonhadora acabou aceitando para agradar os familiares e evitar novas rusgas, afinal o Pasquim estava consumindo toda a paciência que restava da família.

Após um beijo de despedida, Hermione saiu do carro e adentrou a porta do prédio em que estava localizado o escritório que trabalhava. Na recepção, já encontrou Harry conversando com a esposa Gina, que segurava uma linda menininha em seus braços.

— Nossa, Gin! – Exclamou a castanha após cumprimentar o casal e olhar para a sobrinha postiça. – Como ela está enorme. Faz o que? Aproximadamente dois meses que não a vejo?

— Você viu, tia Mione, como estou grandona? – Gina fazia voz infantilizada. – Vou fazer um aninho no mês que vem. E você é convidada de honra, mesmo não tendo nos visitado mais.

Após conversarem um pouco, Harry despediu-se da esposa e acompanhou Hermione no elevador para que conseguissem se preparar um tempo para a grande reunião.

— O que você tem? – Harry perguntou em tom sério olhando para sua amiga. –

— Nada, por quê a pergunta?

— Você está transmitindo preocupação.

— Virou a Luna, Harry? – Perguntou entre risos. – Só falta falar da cor da minha aura. Em todo o caso, deve ser a reunião de agora.

— Eu te conheço muito bem. Desde o colégio interno. O que está pegando?

Sem querer demonstrar, Hermione sentiu-se aliviada quando o elevador parou e suas portas foram abertas ao chegar no andar marcado previamente. Embora soubesse que o moreno não desistiria tão facilmente, teria um tempo para respirar e pensar no que iria responder, organizando as suas ideias e decidindo o que consideraria interessante falar ou não. Estava tentada a dizer a verdade e compartilhar com seu amigo, porém sentia insegurança de ser julgada e mal-interpretada.

Chegaram juntos à sala dos dois advogados mais promissores da firma e, enquanto Hermione ligava o computador e organizava sua estação de trabalho, Harry fechava a porta e as persianas para que pudessem ter privacidade.

— Vamos, Hermione. Eu sei que você está aflita com algo. Você sabe que lhe amo como uma irmã. Você sempre foi minha irmã mais velha, ainda que por poucos meses de diferença.

— Sim – Hermione disse sorrindo –, mas sempre fui mais ajuizada que você. Eu não sei, Harry. É complicado.

— O que é complicado? Talvez eu possa te ajudar. É a Luna?

— É... e não é, ao mesmo tempo. Na verdade, sou eu. Pode parecer bobo, mas hoje é a grande festa dos Lovegood e vai ser a primeira que vou como namorada, oficialmente falando.

— E você está com medo de o namoro não dar certo e acabar em uma situação complicada com a família?

— Na verdade, não. Eu amo aquela birutinha. Ela me faz sentir que estou viva, é algo muito forte. Nunca senti isso por alguém, Harry. Estou com medo da família não gostar de mim. – A castanha corou instantaneamente. –

— Hermione Granger com medo da família da namorada? Essa é boa. Qual é, Hermione. Luna está perdidamente apaixonada por você. É perceptível nos olhos dela. Se a família implicar, tenho certeza que ela foge por você.

— Bela ajuda você está me dando. Seria uma pressão muito grande.

— Hermione, seja você mesma. Quem não iria gostar de uma menina inteligente, dedicada e tão doce como você é? Formada com honras, fez doutorado antes dos 30 anos e é uma advogada de mão cheia. Para com isso.

Vendo a amiga com lágrimas nos olhos, Harry abraçou afetuosamente para consola-la naquele momento, sabia como era importante para Hermione ser aceita na família e poder continuar seu relacionamento em paz. Como seu fiel amigo e conhecedor do íntimo da castanha, o moreno sabia que, apesar de tão brilhante, era insegura e carente, necessitando sempre provar seu valor para que fosse aceita em todos os ambientes que ocupava – familiar, profissional, etc. –-.

Enquanto isso, a castanha não podia imaginar que a sua amada bradava aos setes cantos como estava se sentindo a mulher mais feliz do universo. Realizada profissionalmente com a sua floricultura, alegre com suas amizades e completamente extasiada por seu romance.

Harry sentia a inquietude da amiga de longe e reparou que ela organizou a pilha de papéis três vezes seguidas. Trocou mensagens com sua esposa, mas não obteve respostas. Sentia-se frustrado por não ajudar sua irmã de alma, pois palavras pouco importariam naquele momento. Ninguém conseguia acalmar Hermione Granger em um momento de tensão. Nunca.

As horas para a castanha passavam vagarosamente como se a cada segundo fosse uma era completa da história da humanidade. Xingou a si própria por ter adiantado todo o serviço para que conseguisse se dedicar apenas a reunião. Tentou jogar “Candy Crush”, porém não conseguiu. Decidiu revisar suas anotações, não obtendo sucesso. Levantou-se, encheu a caneca de café da máquina que ficava na sala compartilhada com seu amigo e começou a tomar lentamente enquanto observava a rua pela janela do escritório.

Por incrível que parecesse, aquilo aplacou o sentimento de Hermione e distraiu-a dos problemas que atormentavam sua mente brilhante. Começou a divagar imaginando o que cada transeunte estaria fazendo, como seria a vida, os interesses e as mazelas. Começou a lembrar dos pais e das fotos que mandaram para ela ontem à tarde da incrível segunda lua de mel que estavam fazendo.

Pensou em sua própria lua de mel com Luna e no destino que ambas escolheram: o nordeste do Brasil. Um colega de faculdade de Luna era de alguma cidade litorânea e indicou várias e várias vezes como possível destino para passar férias. Luna estava empolgada com o contato que teria com a natureza, Hermione estava pensando em fazer um passeio guiado para entender a história por trás da localidade. Em todo o caso, estava feliz com a possibilidade de ter um tempo sem preocupações ao lado de sua namorada, futura esposa.

Voltou a se preocupar com a festa da noite que deveria ir, quando teve seus devaneios rompidos pelo chamado de Harry para auxiliar a levar alguns arquivos para a sala de reuniões. O relógio marcava 10:00 da manhã e a reunião começaria em trinta minutos.

De fato, Harry Potter e Hermione Granger eram os advogados mais brilhantes da atual geração do escritório de advocacia e todos consideravam que teriam futuros brilhantes, talvez até mesmo como sócios de uma firma própria para eles. Isso se devia pelo fato de que, além dos prodígios e demais advogados – velhos e novos – e estagiários, a hierarquia era fundada pelo sócio-fundador, semiaposentado após um infarto que quase lhe ceifou a vida.

Abaixo, vinha o herdeiro do império formado, o sobrinho – haja vista os filhos terem optado por outros cursos e não pelo direito – que apesar de dedicado, não apresentava a genialidade do tio e de outros advogados que compunham os quadros de associados, tais como Harry e Hermione.

Um pouco abaixo dos sócios do escritório vinham os advogados-seniores Alvo Dumbledore e Minerva McGonagall, que estavam desde a fundação da firma e, portanto, eram os gestores dos demais funcionários contratados. Alvo Dumbledore foi, inclusive, fundador, saindo um pouco tempo depois para se dedicar também como docente e conferencista.

Após a aposentadoria de suas antigas funções, permaneceu como advogado e decidiu auxiliar sua antiga orientanda Minerva, sem que aceitasse ocupar a cadeira de sócio, haja vista o seu desinteresse em ter muitas responsabilidades. Sua função primordial era auxiliar os novos advogados e supervisionar os estagiários.

Hermione dirigiu-se para a sala de reuniões com Harry ao seu lado. O moreno tocou suavemente a mão da amiga em tentativa de lhe passar conforto, o que foi retribuído com um sorriso da castanha. Na sala, Draco Malfoy já estava presente com seu empresário sentado na ponta da mesa da outra extremidade da sala, com Minerva conversando cordialmente ao seu lado.

— Srta. Granger, está pronta? – Minerva falou baixinho ao se aproximar de Mione, que assentiu com a cabeça –.

Enquanto Hermione ajeitava os documentos na mesa para sua apresentação, Harry colocava a exibição de slides a serem mostrados em uma televisão da sala de reuniões durante a exposição sobre o caso. Inclusive, a conferência foi iniciada pelo rapaz, contextualizando sobre o processo em que o cliente figurava e, em sequência, passou a palavra para a sua colega de escritório e amiga pessoal.

— Portanto, senhores, depois das elucidações pertinentes, das perspectivas sobre o caso específico, das nossas análises estatísticas quanto ao êxito e de esclarecer nossas estratégias, achamos por bem fazer uma proposta de acordo, nos termos da sugestão formulada às páginas 237 do relatório, cujas cópias foram distribuídas para cada um dos presentes aqui hoje.

Malfoy abaixou os olhos aos documentos e começou a ler atentamente. Demonstrando repulsa e incredulidade em sua fisionomia, Draco passava as páginas ferozmente. Hermione não tinha uma sensação de que a resposta seria agradável e já começou a sentir um nó em seu estômago. Estava estruturando um argumento para a proposta quando o cliente soltou:

— Que merda é essa? – o empresário sussurrou algo na tentativa de controlar os ânimos do rapaz.

— Como assim, Sr. Malfoy? Fizemos uma proposta legítima e interessante, qual a razão do espanto? – Minerva, a advogada sênior do escritório, perguntou irritada com a falta de modos.

— Legítima? Interessante? Procurei a melhor firma de advogados da Grã-Bretanha para tirar tudo daquela vaca e vocês me apresentaram uma proposta indecente, que esfolará o que conquistei. O pedido feito pelos advogados da minha futura ex-esposa já foi abusivo e agora vêm vocês concordando e trazendo essa proposta dispendiosa. Quem aquela puta pensa que é para me depenar assim?

— Como o senhor mesmo disse, sua antiga esposa – retorquiu Hermione.

— Como é? Está debochando de mim? – Malfoy corou rapidamente, enquanto Minerva exasperava com a iminente briga.

— Ora, Sr. Malfoy, o senhor é um fenômeno do futebol, é considerado como aquele que irá trazer a Copa do Mundo para a Inglaterra, embora já tenha tentado duas vezes. No entanto, isso não tira o fato de que está sendo torpe do modo que está tratando sua antiga esposa, que, até onde saiba, é sua namorada desde antes da fama. Ela não merece algo por ter lhe aturado depois de anos juntos? 

— Torpe? Eu pago seu salário...

— Então, dê-me um aumento por aguentar você, sua barata nojenta, abominável e asquerosa! Estou aguentando suas criancices há 8 meses de negociações extrajudiciais.

— Srta. Granger! Comporte-se... – Minerva tentou intervir, sem sucesso.

— Não dá, Sra. McGonagall. Eu não consigo olhar para o rosto desse sujeito!

— Você é uma profissional incompetente, desqualificada, arrogante. Uma imbecil! – Draco Malfoy precisou ser contido por seu agente e por seus seguranças quando levantou-se para agredir Hermione.

— Era assim que tratava sua ex-esposa? Agredindo? – Hermione tinha lágrimas nos olhos e tremia com a raiva que sentia.

— Sr. Potter, retire a Srta. Granger daqui, leve-a à minha sala que vou para lá após encerrar aqui com o Sr. Malfoy.

Harry passou os braços por Hermione e literalmente arrastou a amiga que gesticulava e gritava com o cliente da firma que trabalhava.

Harry sentou a amiga em uma poltrona para dois lugares que ficava ao lado da porta do escritório de Minerva. Era uma sala ampla e bem iluminada, com decoração requintada e moderna, ostentando esculturas, quadros e demais objetos.

Em uma extremidade uma grandiosa estante que tomava toda a parede, enquanto uma luxuosa mesa de vidro com poltronas para os clientes e uma confortável cadeira giratória ficavam no meio da sala defronte a imensa janela do prédio que dava para as ruas de Londres.

Ao lado da entrada, ficava o dito sofá e um painel com guloseimas, máquina de café e algumas outras bebidas, cuja parte inferior contemplava um frigobar. O escritório de Minerva apenas perdia em beleza e suntuosidade para o de Alvo Dumbledore, o principal advogado e antigo sócio do dono da firma de advocacia.

Harry Potter fechou a porta e as persianas da grande janela enquanto Hermione sentava fungando com os cotovelos apoiados nos joelhos e a face escondida nas palmas das mãos.

O seu emocional era um misto de sentimentos e a jovem não sabia se estava mais irritada ou mais triste com a situação. Foi a primeira vez que perdera o controle no escritório. A segunda em toda a sua vida, orgulhando-se de ser racional e de não ser movida apenas por suas paixões.

Lembrava-se que o início do namoro com Luna fora sufocante, pois não conseguia expressar o seu amor para com sua namorada. Na verdade, muitas vezes questionava-se se realmente amava a garota. Seu lado racional tentava dizer que não deveria seguir adiante pelas diferenças, ao mesmo tempo que gritava em seu âmago para que, pela primeira vez, ouvisse o seu coração. Descobriu que amava Luna demais. O jeito meigo, sonhador e – por que não? – tresloucado arrebatou Hermione.

Lembrar de Luna naquele momento doía em Mione. Não conseguia suportar a ideia de perder o emprego bem no dia que conheceria toda a família Lovegood. A castanha era o orgulho da loira, de como era inteligente, a frente de seu tempo, uma carreira proeminente. Pesadas lágrimas começaram a pedir passagem pelos olhos de Hermione.

Harry parou defronte da amiga e agachou-se para que ficasse em seu campo de visão, tentando manter a voz calma ao falar:

— Mione, você está bem? O que aconteceu?

Percebendo o erro que tinha cometido, a advogada começou a chorar em maior intensidade, sequer conseguindo olhar para o amigo, e balbuciando debilmente "eu não sei". Gentilmente, Potter pegou nas mãos de Hermione e depositou em uma de suas palmas enquanto com a outra erguia a face da mulher para que olhasse em seus olhos.

— Hermione, conta para mim. O que houve?

— Eu me descontrolei, Harry. Eu não aguento mais ele. Foi a gota d'água para transbordar. Nada está bom. Ele quer prejudicar a ex-mulher, fazer falcatruas. Como posso concordar?

— Não podemos, Hermione. Comentei com Alvo esses dias, não podemos coadunar com as ideias de Malfoy. Porém, também não podemos perder a classe, não é? Você não é assim, Mione. O que está machucando você?

A castanha não conseguia falar sobre aquele assunto, tinha medo em pôr em palavras a sua aflição, a sua insegurança. Entretanto, não poderia fazer isso com aquele que era seu irmão de pais diferentes, um amigo que sempre esteve ao seu lado e compartilhou momentos de alegria e de tristeza.

— Eu tenho medo de não ser boa o bastante para Luna. Tenho medo de casar – falou com a voz embargada e enxugando as lágrimas de seus olhos –.

Harry riu. Não de deboche ou de escárnio. Uma risada genuína de um pai complacente, que queria envolver a criança em um sorriso afetuoso.

Abraçou e embalou aquela que poderia muito bem ser chamada de irmã, auxiliando e estando presente em todos os momentos. Sussurava palavras de conforto enquanto Hermione chorava, quando a porta abriu e Minerva McGonagall adentrou à sala com seu olhar severo e a postura empertigada.

— Ah, Sr. Potter! Que bom que permaneceu aqui. Pode sair, preciso falar com a Srta. Granger a sós.

Harry hesitou, não queria deixar a amiga em um momento tão delicado. Sentiu que ela também não queria que fosse, pois apertou levemente sua mão.

— Minerva, eu posso ficar. Não tenho mais compromissos por hoje, o restante dos prazos está adiantado...

— Por favor, Sr. Potter, não quero ser rude – a advogada sênior interrompeu um de seus pupilos. – Mas eu assumo daqui.

Mione assentiu com um leve aceno de cabeça e um sorriso tímido e terno, não queria preocupar e prejudicar o amigo. Afinal, embora brilhante e pretendido por outras firmas de advocacia, não seria fácil para um pai de família perder um salário polpudo como tinha ali.

Após fechar a porta do escritório assim que Harry saiu, Minerva acenou para que Hermione sentasse na poltrona defronte a mesa e dirigiu-se para a bancada com café e demais guloseimas. Repousou delicadamente um jarro de biscoitos na mesa que as separava e falou para Hermione:

— Pegue um biscoito, minha querida.

— Como é? – Hermione perguntou atônita –.

— Falei para você pegar um biscoito... – respondeu a sua supervisora com candura – é de gengibre, pode provar.

Não havia chateação nos olhos de Minerva, apenas ternura. Hesitante, Hermione pegou um e mordiscou a ponta. Biscoitos de gengibre não eram seus favoritos, mas achou aqueles gostosos.

— Eu já fui jovem, Hermione. E comecei por baixo na firma. É muito difícil trabalhar, especialmente quando se é mulher. Óbvio que meu tempo era mais difícil por causa da visão da época, mas não vejo que atualmente tenha mudado completamente.

— Não estou entendendo, Minerva.

— Tentar conciliar trabalho com vida particular é – a senhora prosseguiu sem levar em consideração a fala de Hermione – uma tarefa muito difícil, pois nossos problemas pessoais acabam assombrando os profissionais e influenciando nosso estado de espírito.

Lágrimas brotaram nos olhos de Hermione. "Ela sabia", pensou enquanto dava outra dentada no biscoito.

— Não se sinta mal pelo o que aconteceu hoje – Minerva continuou –. É natural que incidentes como esse ocorram diante de clientes prepotentes. Entretanto, Malfoy é nosso principal contratante e não podemos perdê-lo. Portanto, é importante que se controle, senhorita. E uma das formas é aprender a aceitar que você tem limites. Poderia ter vindo conversar comigo e pedir um afastamento do caso. Ou podia ter desabafado. Eu não sei. Apenas tenho a certeza que não pode institucionalizar essa conduta.

— Prometo que não ocorrerá novamente, senhora McGonagall. Infelizmente, eu acabei deixando me levar pelos sentimentos, que estão a flor da pele.

— E por que estão assim?

Hermione balançou. Confiava em sua chefe, especialmente por sua experiência conjugal de um relacionamento de vários anos com o veterinário Rúbeo Hagrid. Todavia, sentia-se pouco à vontade em compartilhar com ela por justamente ser a sua chefe. Gostava de separar as amizades, evitando embaraços.

— Apenas pressão pré-casamento – "não era total mentira", pensou a castanha.

Minerva olhou desconfiada, porém não insistiu. Sabia que a pupila não pretendia confundir os assuntos dentro da firma e agradecia por isso, uma vez que também preferia manter relação estritamente profissional com seus supervisionados

Chamou de volta o Harry por meio de aplicativo de mensagens e anunciou quando ele entrou:

— Potter, suas férias começam segunda-feira, pelo que me lembro. Darei um dia de folga para o senhor. Srta. Granger, infelizmente não tenho opções e terei que afasta-lá por alguns dias, sem direito a vencimentos. Ah, e a partir de hoje ficarei com o caso Malfoy. É para seu bem, querida,

Esgotada e sem a intenção de gerar mais indisposições por causa de seu surto durante a reunião de trabalho, anuiu cansadamente com um meneio de cabeça.

— Harry, há um restaurante novo na quadra abaixo que tenho certeza que Gina e Hermione adorariam conhecer – Minerva deu uma piscadela, enquanto o moreno assentia vigorosamente –.

O casal Harry e Gina não morava muito distante da localidade, o que fez que a esposa chegasse primeiro que os amigos, que precisaram terminar de ajeitar a papelada para as férias de Harry e a suspensão de uma semana de Hermione – além, é claro, de ajeitar as mesas e delegar funções importantes para outros colegas –.

Quando chegaram, Gina já estava bebericando um copo de soda com limão, enquanto embalava a pequena Lilian no carrinho que brincava com uma pelúcia qualquer sem sinal de sono.

— Olha só, almoço especial em plena sexta-feira. O que houve? O cliente deu bom? – Gina perguntou entusiasmada –.

Harry entrou em pânico tentando dar algum tipo de indicativo silencioso para a sua esposa que o motivo era consolar e não comemorar. Hermione, em uma tentativa de mostrar que estava bem, falou em tom monocórdio:

— Na verdade não. O motivo é que surtei e Minerva estava preocupada de me deixar andar sozinha pela rua.

— Como é?

— Hermione brigou com Malfoy – o moreno resumiu divertidamente enquanto pegava a filha no colo –. Eu achei muito bonita a cena. Mione xingou Draco.

— Não brinca – Gina estava boquiaberta. – Conta tudo.

Estranhamemte, relatar os acontecimentos fez bem para a castanha, que começou a se sentir um pouco mais leve e a olhar os fatos com bom humor, arrancando ligeiras risadas enquanto recordava exatamente o momento de seu descompasso psicólogico.

— Sabe, eu sou jornalista esportiva na área de futebol europeu, mas com foco nas análises de jogos mesmo. No máximo os bastidores dos times e dos jogos, sem contato com as fofocas das vidas pessoais de cada um. Porém, sou amiga do Simas, que me contou alguns babados cabeludos de Malfoy.

Ficaram ali, conversando por um bom tempo. Hermione permitiu-se até a tomar algumas canecas de chopp com o amigo Harry. Brincou com sua afilhada, ninando-a para que dormisse em dado momento quando Gina fora ao banheiro.

"Lilian Luna", pensou no nome da bebê envolta confortavelmente em seus braços. Lembrava-se da aposta que um Harry incrivelmente bêbado fez com Luna, sua noiva, também “fabulosamente embriagada” – como ela própria se rotulou – durante uma confraternização reservada entre os dois casais. Não se lembrava mais qual era aposta, tinha a impressão de ser uma pergunta boba.

Sim, era uma pergunta sobre Hermione em uma disputa de quem conhecia melhor a castanha. Luna ganhou, é claro. Tentou alertar o amigo, mas falhou. No inicio do namoro, a loira ficava longos períodos com Hermione deitada com a cabeça repousada em seu colo fazendo diversas perguntas sobre a vida da amada e, a cada história, ficava absorta em cada palavra como uma aluna concentrada que precisava decorar determinado conteúdo para a aprovação no curso.

Hermione não era assim. Gostava de ler, de adquirir conhecimento, mas sentia-se uma péssima namorada por não estar atenta aos mínimos detalhes de sua relação. Conhecia profundamente a namorada, seus gostos, seus anseios, seus temores. Conhecia a sua história. Entretanto, não sabia de todos os detalhes e não se importava por não saber. O que importava para ela eram as ações, a consideração e o afeto demonstrados.

Voltou para o apartamento que dividia com a namorada mais cedo do que planejara naquela manhã. Coçou as orelhas do Sr. Bigodes, abriu a geladeira em sequência e ficou analisando o que poderia comer ou beber. Não estava com fome, mas precisava de algo para morder ou ingerir, aplacando a sua ansiedade.

Sentiu um repuxão no calcanhar e se deu conta que os saltos altos incomodavam seus pés. Despiu-se para tomar banho, mas ficou parada no box sem vontade. Estava perdida, sentia-se confusa, não sabia o que fazer. O atordoamento e a mistura de sentimentos que inundavam sua mente faziam a ter sensação de estar uma montanha-russa. Desistiu do banho por ora, teria mesmo que tomar mais tarde para a festa.

A festa. Lembrar do evento arrepiou-a. Sorriu debochadamente e pensou "Hermione Granger com medo de convenções sociais?". Puxou o pijama que havia dormido na noite anterior que ainda estava embolado em cima de uma banqueta prestes a ir para o cesto de roupa suja – agradeceu por não estar, pois, caso contrário, não teria conseguido usá-lo agora –.

Viu o freezer e puxou um pote de sorvete. "Não, é muito clichê de filme adolescente", guardando de onde pegou. Fitou a bancada de bebidas e puxou uma garrafa de uísque com menos da metade de seu conteúdo preenchido.

Sentou no sofá com as pernas na mesa de centro. Suas unhas dos pés estavam horríveis, fazendo-a anotar mentalmente que não poderia usar sapatos abertos. Também assinalou para pedir para Luna ajuda-la no fim de semana. A noiva era excelente pedicure e tinha bom gosto para cores e  estilos. Obviamente que sempre espalhafotosos com cores berrantes, mas fazia muito tempo desde que optara por cores mais chamativas.

O gato enroscou-se no colo de Hermione e ronronava a cada carícia recebida. A televisão estava ligada em um canal qualquer, com algum programa fútil e só se manteve ligada para não imperar o silêncio no cômodo.

Não percebeu quando adormeceu. Só soube que pegou no sono por ter acordado com Luna chegando em casa.

— Oi, meu amor. Acho que fiz muito barulho, né?

— Não, querida. Não fez não. Como foi de serviço? – Mione espreguiçava e coçava os olhos –.

— Hoje foi maravilhoso. Fechamos alguns casamentos, vendemos vários buquês e montamos alguns vasos. Estou tão entusiasmada, Mi – Luna falava enquanto sentava no sofá ao lado de Hermione e passava um braço em volta de seu corpo. – A floricultura está progredindo. E você? Como foi a reunião?

Hermione estava relutante em contar para a sua amada, talvez por sentir ligeira vergonha de seu comportamento descontrolado, talvez por ter medo de revelar seus temores, seus motivos. Em todo o caso, deixando se envolver nos braços delicados e macios e se aninhando no corpo de Luna, Hermione narrou o seu dia.

— Oh! – Luna exclamou. – Apresentar-se para minha família deve estar te afetando mesmo.

— Como assim? – A castanha perguntou se desvencilhando do abraço da namorada para olhá-la em seus olhos. – Você sabe de tudo? Como? Por quê?

— Ora, Hermione. Posso ser aluada, mas não sou tapada. Cada dia que se aproxima da festa de hoje e do nosso casamento, sua aura vai ficando mais negra. Agora mesmo eu vejo algo escuro em sua volta, como uma grande preocupação. Além disso, eu sei que você se questiona. Realmente, é uma mudança muito grande. Minha família é rica e problemática, cheia de intriga. E eu sou o oposto de você.

— Por que nunca disse que você desconfiava de tudo?

— Desconfiar não. Eu sei que você está assim, eu vejo sua aura. Você nunca perguntou. E eu sei que você precisa de um tempo, senhorita racional. Hermione, eu amo você. Eu estou pronta pra você, estou pronta para me adequar ao seu mundo. Você é tudo para mim.

Hermione avançou e deu um beijo apaixonado em Luna, cheio de significado, tentando transmitir toda a sua paixão, o seu carinho, o seu afeto. O beijo romântico esquentou e, quanto perceberam, as namoradas estavam na cama ofegantes depois de minutos e mais minutos de prazer.

— Estou pronta, Luna. Não sei porquê duvidei. Eu fui uma boba, me perdoe.

— É normal sentir medo, é normal hesitar. Somos diferentes em todos os aspectos. Mas nós nos entendemos tão bem, nós nos amamos.

— Sim. E quer saber, eu estive pensando em tudo que conversamos ao longo desses anos, você está certa. Eu preciso viver mais. Eu preciso abrir mão desse meu jeito formal. E vou começar agora, já decidi. Quero morar aqui com você. É seu apartamento há tanto tempo e é tão intimista, tão você.

Luna não escondeu a felicidade e comemorou a decisão da futura esposa. Não era de hoje que insistia para Hermione abandonar esse mundo corporativo e capitalista para uma vida mais aconchegante e minimalista, prezando pela essencialidade na vida. Os planos da loira eram maiores e ela esperou até Hermione sair do banho para dar andamento.

Luna apoiou-se nos cotovelos para conseguir visualizar a noiva arrumando-se para a reunião familiar, contemplando por alguns segundos Hermione enrolada em uma toalha enxugando delicadamente os seus lindos cachos.

— Hoje eu estava pensando... – a loura falou com tom descontraído – a floricultura está indo bem. Vamos ter um retorno financeiro.

— Que bom, Lu. Fico satisfeita. Quero ver os comentários daquele seu tio agora.

— Eu também! Quem é a hippie agora? Bom, eu sou. Mas meu negócio está dando mais lucro que o dele.

— Pois é! Temos que contar na mesa do jantar de hoje.

— Então, e agora você vem morar comigo, sem a necessidade de um apê novo. Seu serviço está desgastante, você poderia vir trabalhar comigo. Não quero ser imperialista, mas ampliar os negócios não seria de todo mal para vivermos em paz, sem depender de intervenções familares.

— Trabalhar com você? – Hermione adentrou o quarto com uma escova para cabelos na mão e o rosto em choque –.

— Sim. Eu eliminaria um gasto com escritório, você administaria e eu poderia me dedicar exclusivamente nas flores, nos arranjos e nas decorações.

— Mas eu tenho um emprego. E tenho chances de me aposentar com uma pensão gorda.

— Sim, mas anda irritada, deprimida e está constantemente sob pressão. Além de estar em um mundo corporativo, cheia de regrinhas estúpidas e código de conduta e de vestimenta.

— Eu ganho bem e sou cotada para substituir a minha chefe quando se aposentar. Luna, eu gosto do que faço – Hermione falou a última frase irradiando nervoso –.

"Estava indo tudo tão bem, por quê Luna tinha que estragar?", "Será que ela queria me dominar?" e "Abrir mal de minhas crenças e de uma residência melhor para acompanhar a fé da namorada e morar em um lugar que atendesse seus conceitos alternativos, tudo bem. Agora da carreira?" eram pensamentos que inundavam a mente da castanha e ficavam surgindo como pisca-pisca de árvore de Natal.

— Mione, calma! – Luna falava rindo. – Você está com cara de pensativa, eu já imagino os carros de corrida andando aí. Foi uma proposta se quiser algo, sei lá, mais pacato. Mas eu sei que ama seu serviço e, bem, você é uma doutora antes dos trinta anos, não é mesmo?

A noiva levantou da cama, deu um beijo estalado na bochecha de Hermione e foi tomar banho, deixando-a imersa em seus devaneios sobre aquela proposta mirabolante. Sentou um pouco na cama e assustou-se quando pensou nos beneficios de aceitar trabalhar com Luna: ficar perto da amada, desenvolver o comércio, flexibilidade de horário, adeus aos sapatos de salto alto. Deu um sorriso tenso, voltando para a realidade e afastando aquela maluquice. O mundo corporativo lhe pertencia, fora o que escolhera fazer e o que gostava de fazer. Preferiu focar na escolha de suas roupas.

Do momento em que arrumaram o visual até a chegada na mansão Lovegood, residência dos avós paternos de Luna, não conversaram sobre assuntos sérios. Na maior parte do tempo ficaram caladas, compenetradas em seus visuais, escolhendo e vestindo roupas e fazendo as maquiagens.

Luna foi de cara lavada, não gostava de nada que auxiliasse em sua beleza. Hermione estava acostumada em se maquiar, mas não gostava de nada espalhafatoso e, portanto, fez algo simples.

As ocasiões festivas da família Lovegood eram sempre suntuosas, com vestes sociais e todas as regras de ética que poderiam existir, mais ainda aquele que seria a oficialização do noivado entre Luna e Hermione. A castanha escolheu uma elegante bota de cano curto com salto alto preta e um vestido elegante sem adornos da mesma cor que os calçados. Luna usava uma calça social, uma blusa bem incrementada e um terninho, optando por sandália anabela.

Hermione achou engraçado o visual da namorada, ignorando os padrões dos vestidos. Fazia isso para provocar a avó, embora não admitisse isso. Era engraçado que os pais da loura eram liberais, revolucionários, compartilhavam das crenças da filha, enquanto que o resto da família era conservadora e mantinha costumes da aristrocracia.

A castanha detestava dirigir o carro de Luna, mas foi obrigada pelo fato de que a amada odiava as comidas frescas e quis fazer uma boquinha durante o trajeto. Pelo menos Hermione se divertiu com a conversa bem-humorada que tiveram. Acordaram implicitamente que não falariam mais de assuntos sérios, preocupantes e melancólicos e, por isso, tiveram um tempo de piadas, comentários de filmes e histórias da infância.

Hermione passou pelo portão com o possante após as checagens dos seguranças, adentrando nos jardins que ficavam na parte da frente do grande casarão. Já fora planejado para contemplar um pequeno estacionamento, preparado para os eventos de gala organizado pela família. Estacionou rente as escadarias que davam para a entrada da propriedade, entregando as chaves para o manobrista. Parou ao lado de Luna próxima ao primeiro degrau, ambas olhando as pesadas portas de madeira – apelidadas de "Portões do Hades" pela loira – e os adornos da fachada, contemplando os andares superiores que faziam a mansão ser comparada a um castelo com vários andares.

— Aqui estamos – disse Luna enquanto virava o rosto para a namorada. –

— Aqui estamos – repetiu a castanha fazendo o mesmo movimento. – Estive pensando, eu topo...

— Vir trabalhar comigo?

— Isto ainda não. Veja, você nunca falou algo do tipo para mim, foi uma surpresa. E eu gosto da minha profissão, eu gosto do meu dinheiro.

— Sempre dei indicios, mas a floricultura estava começando e com baixa rentabilidade. Mas hoje enxergo um futuro e pensei que talvez gostaria de um trabalho mais descontraído.

— Não encare com uma recusa. Veja apenas como "deixa-me avaliar". Foi inesperado.

— Tudo bem. A sua felicidade é tudo para mim. Mas, afinal, o que você topa?

— Eu aceito você, aceito nosso casamento, aceito nosso amor, aceito a sua família e a minha também. Eu quero você para sempre.

Ambas sorriram e moveram as mãos para que pudessem entrelaçar os dedos e assim começaram a subir a escadaria. Hermione estava pronta. Estava totalmente pronta para assumir a sua noiva, a sua esposa. Estava preparada para encarar todas as adversidades e as diferenças existentes entre elas. Não se importava mais com a família da noiva.

Tendo Luna ao seu lado, o mundo de Hermione era mais leve, mais bonito e, principalmente, cheio de amor.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Comenta. A sua opinião é importante para mim. É a partir dela que posso saber onde acertei e onde errei, me permitindo melhorar nas próximas histórias.



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