Paternidade Surpresa (Severitus) escrita por Srta Snape


Capítulo 14
Capítulo 14 – A terceira tarefa




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Capítulo 14 – A terceira tarefa

Os dias pareciam estar voando e isso não fazia Harry sentir-se melhor. Sua mente ainda fervilhava com a verdade sobre Snape ser seu pai biológico e como sua mãe foi capaz de uma mentira daquela magnitude. Eram informações que o visitavam todas as noites em seus sonhos, muitas vezes o fazendo passar a noite em claro. Durante o dia o volume de lições de casa e trabalhos para serem entregues o consumia de uma forma que agradecia não conseguir pensar. Talvez o único momento durante as aulas que pudesse voltar a pensar nisso era durante a aula de poções, onde se sentava o mais distante possível de Snape que fazia questão de não chegar perto de si, uma vez que pedira distância e tempo.

— Você ainda está com raiva dele? – Perguntou Hermione uma tarde na biblioteca após Rony dizer que tinha que voltar ao dormitório para pegar um livro que esquecera na mochila.

— Não sei. – Respondeu Harry largando a pena em cima do pergaminho e entrelaçando os dedos da mão. – Acho que um pouco, talvez menos que antes, mas ainda sinto algo fervendo em mim. É tudo tão inacreditável, sabe, um dia eu sou filho de Tiago Potter e no outro não sou. Sou filho do Snape. É difícil de acreditar em algo assim.

— Acha que ele estava mentindo?

Harry demorou um pouco para responder a pergunta da menina, seus olhos fugiram para os livros das estantes ao lado, mas no fim voltaram a se prender nos dela. Quando as palavras saíram de sua boca, sabia que eram verdadeiras.

— Não, não acho. E isso é o pior. Eu sei que ele estava falando a verdade.

— Harry, talvez... – Iniciou Hermione se aproximando e postando a mão no braço do grifinório. – Talvez não seja de todo ruim dar uma chance a Snape para ser de fato seu pai. Você disse que ele só soube nesse ano e que não falou por medo. É bem compreensível. – A menina deu uma pausa curta em que ouviu Harry respirando fundo enquanto os olhos verdes marejavam. – Você gosta dele, Harry, e ele te ama também. Quem sabe é a sua chance de ter finalmente a família que tanto te faz falta. Pensa nisso.

E Harry pensou, pensou em cada segundo que estava disponível, aqueles em que não havia livros abertos a sua frente para fazer os trabalhos daquele ano. Pensou e descobriu que em meio a raiva e ressentimento havia também a saudade e carência. Sentia falta de jantar com o professor e da calma que os aposentos nas masmorras proporcionava, mas mais do que tudo sentia falta dos momentos juntos, de ficarem na sala lendo algo ou só conversando, das vezes que Snape lhe contava algum fato bruxo da forma mórbida e irritada dele. Das vezes em que dormira naqueles aposentos sentindo-se completamente seguro e sem pesadelos, e até mesmo dos dias em que os pesadelos o visitaram e Snape o acolheu em seus braços mexendo em seus cabelos até que se acalmasse e voltasse a dormir.

Demorou dias e dias para que finalmente, ainda que sentisse algo forte dentro de seu peito, decidisse que após a terceira tarefa iria conversar com Snape e sugerir que voltassem aos poucos a conversar, talvez retornando a princípio com o jantar nas masmorras. Faltava apenas algumas semanas para a terceira tarefa, usaria esse tempo para concretizar essa ideia.

Enquanto Harry se prendia nos trabalhos de escola e amadurecia a ideia de voltar a falar com Snape, o mestre de poções sentia-se cada vez mais frio e afundado em um sentimento de tristeza que não imaginou que sentiria algum dia na vida.

— Potter é um menino intenso, Severus, os sentimentos são aflorados ainda que ele tente esconder. – Disse McGonagall após uma reunião dos professores onde se aproximou de um Snape calado e carrancudo quando a sala esvaziou. - No entanto, é também um menino de grande coração, um coração que ele puxou de Lilian. Eu sei que ela te magoou e muito, ainda assim aquela menina tinha um grande coração e seu filho é igual. Ele vai voltar para você. Talvez você deva tentar novamente.

— Não. – Disse Snape olhando para McGonagall com intensidade. – Não vou forçá-lo a nada, se ele não quer ter contato comigo, não me aproximarei.

— Mesmo que isso esteja te ferindo?

— Mesmo assim.

— É o homem mais forte que conheço, Severus.

— Agradeço a gentileza, mas não preciso de seus elogios, Minerva. – Disse Snape se levantando e arrumando o sobretudo. – Eu estou bem.

— Quem dera fosse verdade. – Sussurrou a professora ao ficar sozinha na sala.

***

O dia da terceira tarefa finalmente chegou e a escola parecia mais pesada de tanta tensão. Harry sentia que podia vomitar, mesmo com Hermione e Rony o ajudando a treinar tudo que aprendera anteriormente, principalmente com Snape, sentia-se impotente.

— Melhor você comer bem Harry. – Disse Rony sentando-se ao seu lado no grande salão ao almoço. – Nunca se sabe o que vai acontecer.

— Não consigo, parece que tem um tijolo enorme dentro da minha barriga. – Respondeu o menino mexendo na comida com o garfo sem ter vontade de levar até a boca.

— Como será essa terceira tarefa?

— Não sei, já tivemos dragão na primeira tarefa e nada no lago na segunda. – Comentou Hermione pensando. - Acredito que não seja nada com grandes criaturas e nem com mergulho, seria muito repetitivo. Acredito que seja algo que precise de inteligência e habilidade.

— Que ótimo. – Gemeu Harry levando as mãos ao rosto.

— Vai dar tudo certo, Harry.

— É cara, você treinou muito, vai conseguir.

Harry agradeceu os amigos pelo apoio, mas ainda assim estava com medo do que viria pela frente. Outros alunos passaram pela mesa e cumprimentaram Harry desejando sorte. Quando o almoço já estava no meio Edwiges entrou parando diante de Harry. O menino franziu a testa, não era o horário do correio. A coruja esticou a perna para que Harry pegasse o papel preso, bicou seus dedos com carinho, comeu um pedaço de carne e alçou voo indo embora.

— O que é? – Perguntou Rony curioso.

— Não sei. – Respondeu Harry abrindo o rolo.

Ali dentro, em uma letra pequena e inclinada estava uma frase curta, sem assinatura, mas que Harry sabia muito bem de quem era.

“Sinto muito por tudo. Boa sorte”

Harry leu aquele pequeno papelzinho várias e várias vezes antes de o enrolar novamente e guardar no bolso da calça. Ainda que tentasse não olhar seus olhos trapaceavam e iam diretamente para a mesa dos professores onde a figura de negro não estava presente.

— Vamos Harry, está na hora de ir se preparar. – Disse Rony se levantando e caminhando para fora do castelo junto com Hermione.

Os alunos conversavam em voz alta, todos muito ansiosos para a terceira tarefa. Neville vinha com o rosto metade pintado de vermelho e um sorriso enorme nos lábios. Gina e Luna tinham em suas cabeças grandes chapéus nas cores vermelho e dourado com um leão na frente. O estandarte da Grifinória era carregado pelos alunos do sétimo ano assim com o da Lufa Lufa. Era a última prova e os dois campeões de Hogwarts estavam em primeiro lugar tendo vantagem sobre os da Durmstrang e Bauxbatons.

— Só podemos vir até aqui, vamos nos juntar a Gina e os outros na arquibancada. – Disse Rony quando chegaram a tenda dos campeões. – Boa sorte, Harry. Acaba com eles. – E deu três tapinhas no ombro do amigo.

— Vai dar tudo certo, Harry, você vai ganhar. Se concentra em tudo que treinou até agora. – Disse Hermione antes de dar um abraço apertado no menino.

Ver os amigos se distanciando deu um aperto no peito de Harry. A hora estava cada vez mais perto e estar agora sozinho naquela tenda vazia tudo ficar mais real ainda. O nervoso o deixava impaciente. Levou a mão ao bolso e segurou o papelzinho ali guardado tentando puxar de sua tinta a calma e controle e tanto treinara junto a Snape nas masmorras. Parecia até mesmo que o homem estava ali dentro com ele lhe dizendo para respirar fundo e acalmar o coração, sentir o bater dele dentro do peito de forma ritmada e assim focar a mente no que deveria fazer.

— Tudo bem Harry?

Qualquer controle que estivesse tendo agora foi embora quando viu Cedrico entrar na tenda vestido com o uniforme amarelo e preto da Lufa Lufa. O lufano parecia calmo de uma forma que Harry não conseguia.

— Sim, eu estou bem, sim. Só nervoso.

— Acho que é normal, estamos prestes a enfrentar a terceira tarefa e acredito que será a mais difícil. Está preparado?

Harry queria dizer que sim, treinara bastante com os amigos, lembrava-se dos feitiços e maldições que aprendera naquele ano, mas nada saiu de sua boca, apenas balançou a cabeça.

— Que bom. Vai dar tudo certo. Vamos conseguir ganhar a taça Tribruxo e comemorar a vitória da nossa escola. Claro que quero que a Lufa Lufa ganhe, minha casa precisa de algum prestígio, mas se você ganhar, não vou ficar chateado.

Cedrico se aproximou de Harry e o grifinório respirou fundo tentando segurar a emoção.

— Depois que terminar tudo, talvez a gente possa sair para comemorar. – Disse o lufano sorrindo de leve e olhando nos olhos esmeraldas. – No sábado terá a última visita a Hogsmead antes de irmos para casa. É meu último ano aqui, seria legal se pudéssemos beber algo juntos.

— Eu e você? – Perguntou Harry em um sussurro. Cedrico deu mais um passo em sua direção e levou a mão ao seu braço o segurando com cuidado.

— É, eu e você. Pude te conhecer um pouco mais esse ano e gostei do que conheci, gostaria de conhecer mais. Acho que seria interessante nós dois juntos. Não acha?

Harry abriu a boca para dizer alguma coisa, concordar que seria maravilhoso eles dois juntos e que aceitava sim o convite para beberem algo em Hogsmead depois da prova, mas no momento em que as palavras sairiam de sua boca, Krum e Fleur apareceram na tenda juntamente com os diretores e juízes do Ministério, Harry imediatamente se afastou. Cedrico apenas deu um sorriso de canto e se virou aguardando as instruções.

Um pouco antes de saírem da tenda Harry foi puxado por uma mão forte que o levou para um canto da tenda. Ao virar-se deparou-se com Moody e seu olho de vidro girando para todos os lados.

— Está preparado, Potter? – Perguntou o professor.

— Ãh, sim, estou, professor.

— Ótimo, ótimo. Escute Potter, lá dentro, mantenha a varinha sempre erguida, os olhos abertos e atentos e siga pra cima, entendeu?

— Para cima? O que isso quer dizer?

— Use a cabeça, Potter. Direção. Para cima. Agora vai.

Moody segurou em suas costas e o empurrou tenda a fora. Assim que saiu dali o queixo de Harry caiu. Estava diante de um enorme labirinto. As arquibancadas ao redor explodiram em gritaria e palmas, a banda da escola começou uma música animada. Harry se pôs a andar e parou ao lado de uma placa vermelho e preto indicando seu lugar, diante de si estavam McGonagall e Snape. Seus olhos postaram-se nos negros por um segundo e então se afastaram vendo Cedrico perto de si junto com os professores Sprout e Flitwick, um pouco mais adiante Krum recebia olhares intensos de Karkaroff e Fleur tinha a mão grande de Madame Maxime acariciando suas costas.

— Olha, é meu filho, meu filho!

O grito veio da arquibancada, ao olhar encontrou Amos Diggory gritando e apontando para Cedrico que acenava com um sorriso nervoso nos lábios. Nervoso era um sentimento muito intenso que Harry sentia naquele momento, sentia que seu coração pulava loucamente em seu peito. O medo do desconhecido, da possível falha e mais ainda da possível morte o deixava sem ar.

— Vai dar tudo certo, Potter. Se acalme. – Disse McGonagall postando a mão em seu ombro lhe fazendo um afago.

Inevitavelmente voltou seu olhar para Snape, qualquer dúvida, raiva ou ressentimento que tivesse sentido foi embora naquele instante dando lugar a procura pela segurança que o homem lhe transmitia. Snape não manifestou-se, não se mexeu e nem mesmo falou nada, apenas o olhou intensamente e respirou fundo dizendo silenciosamente para que Harry o imitasse. O menino sabia o que fazer, fizera esse exercício diversas vezes em seu reforço na sala do professor a noite. Prendeu-se nos olhos negros e respirou fundo uma, duas, três vezes. Sentiu os músculos tensos relaxarem, sua mente começava a clarear e sua coragem se sobrepor ao medo. Snape fez um gesto quase imperceptível com a cabeça indicando que Harry estava indo bem.

Ludo Bagman apresentou a prova e suas regras. Assim que disse que os professores percorreriam o perímetro do labirinto McGonagall apertou carinhosamente sua mão, deu-lhe um sorriso e saiu junto com Snape que deu um novo aceno de cabeça para Harry deixando o menino com a sensação de que estava sendo abandonado.

A prova começou e Harry pensou que jamais conseguiria sair daquele lugar. O labirinto era gigantesco, toda vez que imaginada que estava no caminho certo que era o norte pelo que Moody lhe indicara com aquela dica, acabava se deslocando mais para o leste ou oeste. Nem sabia dizer quanto tempo fazia que estava naquele local, poderiam ser dez minutos como um dia inteiro. Era escuro demais para se ter uma ideia de horário, denso demais para que se enxergasse as estrelas no céu e tenebroso o bastante para desnortear qualquer pessoa.

Os treinamentos se mostraram muito eficazes ao se deparar com criaturas mágicas e plantas mortíferas. Foi por pouco que Harry se livrou delas ganhando apenas alguns arranhões, ainda que profundos. Com a roupa rasgada, o peito arfando de tanto correr e achando que desmaiaria a qualquer momento o grifinório continuou em frente guiado pelo feito dos quatro pontos.

Depois de muitos empecilhos como encontrar Fleur estuporada, tendo que usar sua varinha para pedir ajuda, passar por diversos animais difíceis como explosivins, aranhas gigantes e até mesmo uma esfinge, finalmente estava próximo a taça. Podia ver o seu brilho ao longe. Um sorriso se fez em seu lábio quando iniciou sua caminhada sendo interrompido apenas por um Krum de olhos opacos que ao avistá-lo apenas se afastou como se não estivesse interessado no prêmio e sim em deixá-lo seguir até ele.

— Estupefaça! – Veio o grito de um lugar perto fazendo o corpo de Krum voar e cair aos seus pés.

Cedrico saiu de trás de uma parede de plantas que pareciam querer engoli-lo. Estava terrível, cheio de machucados e sangrando.

— Por que o estuporou? – Perguntou Harry quando o rapaz se aproximou.

— Esse idiota tentou me atacar umas cinco vezes. Merecia mais do que um estuporamento.

Harry e Cedrico continuaram a olhar o corpo do menino desacordado, então Harry atirou fogos vermelhos aos céus pela segunda vez. Imediatamente as paredes ao redor se mexeram mudando de lugar. Harry começou a correr e pela primeira vez não pensou em Cedrico, algo dentro de si gritava para pegar a taça de uma vez para ser o grande campeão de Hogwarts. Mas quando ouviu o menino gritar seu nome pedindo ajuda não conseguiu ignorar voltando para socorrê-lo das raízes que prenderam em suas pernas. Aliviado por estar solto Cedrico indicou que Harry deveria pegar a taça e ganhar o torneio, mas Harry recusou-se.

— Juntos. – Disse olhando nos olhos claros de Cedrico.

O lufano lhe sorriu e pegou em sua mão.

— Juntos.

A taça brilhou quando cada um segurou em uma alça. Harry sentiu um puxão no seu umbigo, segurou com mais firmeza na mão do lufano e então caiu com tudo em um chão duro e frio.

— Você está bem, Harry? – Perguntou Cedrico levantando e puxando Harry para se erguer também, sua mão ainda segurando firmemente a do grifinório.

— Estou. – Respondeu Harry piscando fortemente. – Onde estamos?

No exato momento que dissera isso se arrependera, sabia exatamente onde estava. Já vira aquele lugar diversas vezes em seus sonhos. Estavam no cemitério próximo ao casarão onde via Voldemort com sua cobra de estimação e Rabicho. Sua cabeça explodiu quando se lembrou do pesadelo, segurou-se mais firmemente em Cedrico que chamava seu nome sem saber o que estava acontecendo. Harry, que fechara o olho com a dor lancinante, os abriu apenas uma fresta vendo Rabicho caminhando displicentemente pelo gramado carregando algo em suas mãos. A coisa disse algo e Rabicho ergueu a varinha que emitiu um brilho verde atingindo Cedrico que caiu duro no chão, ainda segurando sua mão.

Harry não conseguia raciocinar direito. Aquilo não poderia ser verdade, Cedrico não poderia estar morto. Nem ao menos conseguira dizer a ele que gostava do rapaz e quem sabe ter a chance de amá-lo e ser amado por ele. Iriam sair no próximo final de semana, beberiam algo e quem sabe com o efeito da bebida poderia contar-lhe a verdade.

Tudo isso foi tirado de si, Cedrico estava morto ainda segurando sua mão, os olhos fechados sob as pálpebras pesadas e o coração sem pulsar dentro do peito. A dor que sentia era tamanha que sua mente tentava protegê-lo levando-o para um torpor que só foi tirado quando seu corpo foi jogado em uma lápide e teve que presenciar o renascimento de Lord Voldemort.

Voldemort riu de sua cara, o ameaçou e tocou em sua cicatriz fazendo-o gritar como se uma faca muito afiada abrisse sua cabeça. Harry sentia-se tonto. Tudo que conseguia pensar era no corpo de Cedrico jogado no chão, nem mesmo se concentrou o suficiente para ver os comensais que rodeavam seu mestre. Tudo que queria era pegar Cedrico e ir embora, para o mais longe possível daquele monstro. Mas Voldemort queria terminar o que não pode concluir quando tinha apenas um ano e por isso o chamou para o duelo. O Lord das Trevas era muito mais poderoso que Harry e o menino sabia disso. Como poderia então ganhar daquele ser? Em sua mente veio a clara voz de Snape o dizendo que era mais poderoso do que imaginava e que precisava de controle emocional para conseguir se concentrar e usar a força que tinha em seu corpo elevando sua magia. Então quando Voldemort o chamara de covarde Harry se ergueu e diante dos olhos vermelhos Daquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e de seus comensais o menino o enfrentou com um feitiço simples de proteção. A emoção de ver seus pais era enorme, nem mesmo as feridas que a verdade da paternidade causara poderia se sobrepor ao poder de olhar para o rosto de sua mãe. Os seres que saíram da varinha de Voldemort o rodearam, seus pais, Berta Jorkins e o velho do casarão. Eles lhe deram a chance de voltar.

Harry agarrou o corpo de Cedrico, convocou a taça e estava de volta a Hogwarts.

— Ahh, meu filho venceu! Meu garoto, eu disse que ele venceria.

A voz de Amos Diggory era alta e sobrepunha-se ao som da banda da escola, mas não ao grito de um dos alunos quando perceberam o corpo imóvel do lufano no chão sendo agarrado fortemente por Harry que chorava em seu peito. Harry parecia alheio ao que estivesse ao seu redor, não sabia quem eram aquelas pessoas, não os reconhecia, tudo que via era Cedrico e seus olhos fechados.

— Harry.

A voz que o chamava era calma como uma leve brisa no começo da primavera, mas as mãos que o separavam do corpo eram fortes igual a raiz profunda de uma árvore que se prende a terra.

— Acalme-se garoto, o que houve?

Harry respirou fundo e apenas quando a mesma mão firme virou seu rosto para o encarar foi que percebeu que quem estava consigo era Dumbledore. O diretor o segurava com firmeza o encarando com voracidade ao mesmo tempo que suas palavras eram gentis pedindo que lhe contasse.

— Ele voltou. – Sussurrou começando a tremer. – Voldemort voltou.

Não houve uma surpresa gritando nos olhos de Dumbledore, era como se ele apenas estivesse aguardando aquela noticia vir a tona.

— Alastor, fique aqui com Harry.

— Vou levá-lo a tenda para ver os ferimentos. – Disse o professor se aproximando.

— Não, ninguém falará com ele antes de mim. Fique aqui, preciso ver o menino Diggory. – Disse o diretor com a voz firme antes de se virar e ir em direção ao corpo no chão, agora sendo segurado por um Amos Diggory debulhado em lágrimas e gritos.

Harry estava tonto com tudo e nem ao menos percebeu que fora arrastado de volta ao castelo e agora se sentava em um banquinho na sala do professor Moody, quando percebeu virou-se para o professor o questionando.

— Dumbledore pediu para que eu ficasse lá.

— Não interessa o que Dumbledore quer. – Disse Moody fazendo Harry franzir a testa. – Conte-me o que aconteceu, Potter.

Não tendo motivo para desconfiar do professor, Harry lhe contara o que havia acontecido desde o momento em que sua mão tocara na taça, fora difícil falar sobre Cedrico, ainda assim continuou até chegar ao momento em que voltara para Hogwarts. Seu braço, onde Rabicho cortara para retirar seu sangue, ardia.

Moody andava de um lado para o outro nervosamente, parecia procurar algo em seus baús e escrivaninha. Harry queria ir embora, ir para o dormitório se deitar e esquecer tudo que acontecera, mas o professor trancara a sala e rira de sua cara quando dissera isso.

— Menino tolo.

Harry queria ter sua varinha agora, mas acabara de perceber que a deixou cair quando voltou e não estava com ela. Moody agia estranho e algo arrepiou sua espinha lhe dizendo que aquele homem era perigoso, o que se provou ser verdade quando o próprio professor lhe dissera que fora ele quem arquitetara tudo para seu encontro com Voldemort no cemitério. Harry tentou correr quando Moody dissera que o mataria e levaria o corpo para seu mestre ver como ele era o seu servo mais leal. No entanto, a chegada de Dumbledore, McGonagall e Snape impediu qualquer feitiço de sair de sua varinha.

Moody foi jogado na parede oposta caindo desacordado no chão. Rapidamente McGonagall puxou Harry para perto de si e Snape se pôs a frente do menino, a varinha devidamente segura em seus dedos apontando para o bruxo no chão. Dumbledore, com semblante duro como Harry jamais vira explicou a desconfiança com o professor de DCAT no momento em que percebeu que ele o levara para longe de si contrariando o que mandara, o verdadeiro Moody jamais faria isso.

A farsa toda foi finalmente revelada ao acordar o professor e, através da poção Veritaserum juntamente com os relatos de Winky, retirar a confissão de que aquele era Bartô Crouch Jr disfarçado de Alastor Moody para conseguir levar Harry até seu mestre. O comensal não teve remorso algum em contar como matara seu próprio pai.

— Pode fazer o que quiser comigo, Dumbledore. – Disse o homem rindo-se. – Meu mestre está de volta, eu levei Harry Potter até ele, eu permiti que ele usasse o sangue do menino, eu sempre fui seu fiel servo e eu ainda vou matar Harry Potter.

Snape deu um passo à frente, sua feição era de puro ódio.

— Eu vou matá-lo devagar. – Disse virando-se para Snape que se aproximava aos poucos. – Usarei um cruciatus e o deixarei louco como aqueles vermes inúteis dos Longbottom, depois rasgarei a carne dele e darei para os lobos comerem e por fim o matarei com minhas mãos.

Em um ato de completa loucura selvagem o homem se lançou em direção a Harry tentando agarrá-lo, mas Snape o impediu jogando-o no chão, suas mãos no pescoço dele.

— Você vai ficar longe do meu filho! – Disse entre dentes antes de erguer o braço e disferir um soco no outro.

Minerva levou a mão a boca e Harry arregalou os olhos vendo Snape socar com suas próprias mãos o comensal que ria enquanto sangue jorrava de sua boca.

— Severus, pare! – Ordenou Dumbledore usando de uma força que não condizia com sua idade para segurar o braço de Snape. – Pare. Controle-se. – Sussurrou fazendo Snape o olhar por entre os cabelos pretos grudado no suor de seu rosto.

O mestre de poções respirou fundo olhando nos olhos azuis e profundo de Dumbledore, achando o caminho de volta a razão e afastou as mãos do homem no chão. Levantou-se devagar e se aproximou de Harry que o olhava com olhos arregalados e temerosos. Jamais vira ou imaginara que Snape fosse capaz de agir daquela forma tão violenta. E ele o fizera em seu nome.

— Não tenha medo de mim. Não vou machucar você. – Disse ao menino. – Só quero ver se está bem.

— Estou bem. – Disse Harry vendo os olhos negros exibirem um pouco mais de controle e alívio.

— Severus. – Chamou Minerva pegando em seu braço. – Sua mão.

Somente naquele momento Snape olhou para sua mão percebendo que estava ensanguentada, não apenas do sangue do comensal, mas dele mesmo, possivelmente seu dedo estava quebrado visto que ao tentar mexer sentiu uma dor terrível.

— Não é nada.

— Precisa ir para a ala hospitalar. – Disse a bruxa ainda segurando a mão dele na sua.

Snape apenas negou com a cabeça e voltou a olhar para Harry, tudo que queria era estar com o menino, garantir que estivesse bem e seguro.

— Não vou sair de perto dele.

— Vai sim, Severus. – Disse Dumbledore após prender Bartô Crouch firmemente com cordas mágicas. – Preciso que faça uma coisa pra mim.  Vá até a cabana de Hagrid, há um cachorro preto enorme, leve-o até a ala hospitalar e me encontre lá. Minerva preciso que fique aqui com o preso enquanto chamo o Ministro para pegar os depoimentos.

Snape não queria se distanciar de Harry, mas não desobedeceria Dumbledore, por isso apenas olhou mais uma vez para o menino e levou sua mão boa até o rosto dele fazendo um afago em sua bochecha, um carinho que Harry aceitou dentro de sua fragilidade.

Dumbledore levou Harry em silêncio até a ala hospitalar e pediu que Madame Pomfrey cuidasse de seus ferimentos. A medibruxa imediatamente se aproximou do menino o deitando em uma maca e tratando seu braço. Snape apareceu logo depois com o cachorro logo atrás.

— Severus, sua mão. – Exclamou Pomfrey indo em sua direção. – O que houve?

— Não foi nada, Papoula, eu cuido disso. – Disse o homem buscando Harry com os olhos e o encontrando em uma maca nos fundos.

— Não seja tolo. – Ralhou a mulher olhando os ferimentos com cuidado. – Tem um dedo quebrado e alguns cortes. Nada muito grave. Espere aqui. – Rapidamente ela foi até um armário e voltou com um pano molhado e um copo. – Beba de uma vez, isso vai curar seu dedo. – Snape não esperou ela terminar, bebeu todo o líquido sentindo o efeito da poção imediatamente curando seus ossos permitindo que mexesse seu dedo normalmente enquanto a medibruxa passava o pano nos ferimentos para limpá-los e usava um feitiço fechando os cortes. Em poucos minutos sua mão estava normal como sempre.

— Obrigado. – Disse baixinho antes de ir em direção ao menino que agora recebia lambidas de um cachorro atrevido que balançava o rabo.

— Papoula, pode nos deixar a sós por um instante?

— Claro diretor.

Assim que Madame Pomfrey fechou a porta de seu escritório sumindo de vista Dumbledore virou-se para o cachorro informando que o mesmo poderia então se revelar para desgosto de Snape que viu Sirius aparecer e imediatamente abraçar Harry que retribuiu o gesto deixando um gosto amargo no fundo de sua garganta.

Os próximos minutos foram confusos para Harry. Dumbledore explicava tudo que acontecera novamente e agora pedia informações detalhadas do que acontecera no cemitério. Apesar da vontade enorme de apenas fechar os olhos e fugir daquilo tudo, Harry percebera que ao começar a falar sobre o que houve não conseguiria parar até contar tudo e que a cada palavra que saia um alívio crescia em seu peito, como se segurar aquelas palavras fizessem com que explodisse em algum momento. Quando terminou de falar sentiu-se tonto. Sirius estava com a mão postada em seu ombro e agora ela pesava. O padrinho parecia exaltado.

— Como isso pôde acontecer debaixo do seu nariz, Dumbledore? – Perguntou Sirius dirigindo-se ao diretor. – Como não viu essa enganação dentro da sua escola?

— Cuidado com suas palavras, cachorro. – Sibilou Snape dando um passo a frente.

— Me erra, ranhoso. Você também estava aqui o tempo inteiro e não percebeu. Meu afilhado poderia ter morrido, só não morreu por sorte. – Sirius apertou o ombro de Harry e o menino quase gritou.

— Tire suas mãos dele, está o machucando. – Snape deu um passo a frente encarando Sirius com ferocidade.

— Eu quero a guarda dele. Harry tem que ir morar comigo.

— Ele não pode Sirius, você sabe que ainda tem o status de foragido pelo Ministério. – Informou Dumbledore. – Harry tem que ir morar com os parentes de sangue dele.

Nesse momento Snape desviou o olhar para Harry que também o encarou.

— Então eu devo ficar aqui em Hogwarts com ele. Harry precisa de proteção.

— Como se pudesse protegê-lo, pulguento. Esteve solto um ano inteiro, quantas vezes você esteve ao lado dele? – Perguntou Snape de um lado da maca de Harry olhando agressivamente para Sirius do outro lado que levou a mão ao cós da calça onde descansava sua varinha.  – Você não tem o direito de exigir estar com o menino.

— Eu sou o padrinho dele, ranhoso.

— E eu sou o pai.

— Que história é essa?

— Eu sou o pai dele e não permitirei que um inútil feito você chegue perto do meu filho.

— Ora seu filho da puta mentiroso!

No mesmo instante que Sirius ergueu a varinha Snape ergueu também. O ódio de ambos era palpável.

— Parem!

Harry se ajoelhara na cama diante dos dois com os braços abertos e a mão espalmada no peito de ambos. As varinhas quase tocando-se diante de seu rosto.

— Abaixem as varinhas. Agora. Por favor. – Pediu olhando de um para o outro. Dumbledore observava sem se intrometer.

Aos poucos ambos abaixaram as varinhas ao mesmo tempo, mas seus olhos não.

— Por favor, não façam isso.

— Esse nojento está falando mentiras, Harry. Jamais você seria filho dele. Você é filho do Thiago.

— Não, eu não sou. – Disse Harry baixinho.

— O que? – Agora os olhos de Sirius estavam presos nos de Harry. – Como pode dizer isso?

— Porque é verdade. Ele é meu pai, mas não tenho forças para contar a história toda.

— Ele precisa descansar, pulguento. Melhor ir embora. – Disse Snape entre dentes ainda fuzilando o outro com os olhos.

— Não pode me afastar dele. – Disse Harry virando-se para Snape ainda com a mão em seu peito. – Ele é meu padrinho, não pode.

— Eu posso protegê-lo. – Disse Snape agora olhando para o menino.

— Eu sei que pode. – Harry olhou para Snape e sorriu de leve, então inclinou-se postando a cabeça no peito do homem falando em seguida com a voz fraca. – Estou tão cansado.

Harry sentiu Snape o segurar com força e o deitar na maca novamente após o fazer beber todo um copo com uma poção quente. Tudo que Harry entendeu depois disso foi de segurar na mão dele com força para que não fosse embora e então fechar os olhos entregando-se ao inconsciente vazio que a poção do sono sem sonho proporcionava.


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