Undone escrita por isabella_maries


Capítulo 1
Desfeito


Notas iniciais do capítulo

Essa história começou a ser escrita há mais ou menos duas semanas, ela não teve um roteiro, não tem algo programado, ela foi sendo escrita conforme deveria e precisava ser.

Ela entra fácil na categoria de "um pedaço de um história" porque apesar de ter sido apresentada mim, e agora a vocês, ela não dá muitas informações sobre tudo o que aconteceu, antes ou depois da ordem de tempo da história. Apenas o necessário para entender a trama, e o drama da nossa Bella.

Talvez, muitos de vocês não gostem do que foi e de como foi escrito aqui, e está tudo bem.

Undone foi escrita a partir de uma cena, de uma experiência e a dor de um coração partido. E postada, porque eu sei que agora que ela tem um fim, ela não pertence mais a mim.

Tenham uma boa leitura.



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DENVER, 2006

A mão fria de Edward pousou sobre o meu rosto molhado, fazendo-me desviar o olhar da sua camisa  e encarar seus olhos que estavam tempestuosos e intensos, tanto quanto o mar ao nosso lado. 

—Bella… - sussurrou entre a dor e a doçura. Toquei a sua mão e assenti, antes de chorar em silêncio. 

A luz fraca começou a tomar os meus olhos à medida que eles se abriram , notando que eles estavam tão molhados quanto no dia da minha lembrança. Encolhi esperando uma dor que não veio, mas em contrapartida, o vazio e a saudade tomaram o seu lugar fazendo-me chorar mais uma vez enquanto tudo queimava em mim.

Quantos tempo havia se passado? Há 3 anos? 4?  Às vezes, parecia não lembrar,  e em outras vezes a minha mente se lembrava quanto tempo havia se passado desde o adeus. 

Era algo que desejava esquecer todas as manhãs, mas tudo parecia lembrar até mesmo o meu inconsciente. 

Apesar de estar acordada, ainda podia sentir o toque dos dedos longos e finos de Edward sobre o meu rosto, sentir por todo o meu corpo o que esse simples toque causava.Encarei a janela vendo a árvore de frente a ela se balançar com o vento forte, fazendo cair tantas outras folhas secas e por momento me recordei que Charlie teria o prazer de reclamar enquanto as juntava.

Me encolhi mais ao me lembrar que jamais veria aquilo de novo. Jamais o veria tomando cerveja assistindo qualquer jogo de beisebol ou basquete na TV depois do jantar, nem sentiria o seu bigode na minha testa ao abraçá-lo. Puxei o ar com força. Fazia três meses que tinha sido informado da morte dele, mas em todos dias parecia ter sido informada no dia anterior.

Mas eu  deveria estar acostumada com a perda, ela pensava ao sentar na cama. Sua mãe havia falecido em decorrência de um câncer quando estava no colegial, perdeu o seu namorado para outra no final da faculdade, e agora havia perdido seu pai por um trágico acidente de carro. 

Bella respirou fundo e permitiu as lágrimas rolarem mais uma vez enquanto empurrava a dor e a solidão  para dentro de si. Ela precisava  ir trabalhar e sobretudo entender que não tinha ninguém em sua vida, além da sua amiga Alice. Com uma rapidez quase inesperada, ela se vestiu da maneira mais elegante possível que uma calça social  e camisa pedia. Pegou sua pasta e sua bolsa pronta para sair de casa evitando olhar para a árvore de frente com a janela.

Ignorando o seu pavor, entrou no carro e se dirigiu para uma cafeteria, onde rapidamente foi atendida e logo estava fora para fim dirigir ao enorme  prédio que ficava no centro da cidade. 

Cumprimentou o porteiro e logo entrou no elevador colocando o seu crachá no blazer. A porta se abriu a fazendo se deparar com um setor movimentado e barulhento, de conversas e de ligações sendo feitas, ou atendidas, respondeu os diversos bom dia  e se dirigiu a sua pequena sala onde a concedida uma visão linda da cidade que havia aprendido a chamar de lar.

Arrumando a placa na porta que indicava a sua posição -  editora júnior -   entrou na sala sendo surpreendida com o seu chefe sentado na sua cadeira. Aquilo acendeu uma luz de problema na cabeça de Isabella.

—Olá, Wilson. O que devo honra da sua visita? - questionou, após dar o seu cordial “bom dia”.  Ele sorriu.

—Primeiramente para agradecer a sua presença na companhia.  Eles disseram que não havia nenhuma outra jornalista tão profissional e dedicada quanto você. -  aquilo inflou o ego de Bella. Ainda mais por ter passado diversos perrengues naquela maldita festa, que a fez se arrepender de ter aceitado ir, como um trabalho extra proposto pelo seu chefe.

—Não por isso, chefe. Foi um prazer aceitar o convite.

—Sei disso, mas também sei o quanto deve ter sido difícil para você, Bella. - disse, a fazendo trocar o peso da perna. Ele apenas continuou:- Sei o quanto não é acostumada a se envolver nesse tipo de trabalho.  - pontuou. -  Mas eu não vim falar com você sobre isso, e apenas repassar os elogios que recebi.  Você deve saber que Agatha está para sair da empresa, e consequentemente a vaga de editora sênior está aberta. E gostaria de saber se você aceitaria essa vaga.

O choque tomou Isabella por um momento, até lembrar as funções e responsabilidades de um editor sênior.

—Mas se eu aceitar a vaga, eu teria que...

—Sim, mas raramente. - ele respondeu antes que ela pudesse concluir. -  Os eventos presenciais, a pessoa que será editora júnior faria isso por você.  E quanto às viagens, elas são de vez em quando, e somente em casos bem necessários. - explicou. - Então, o que você acha?

Ela sorriu minimamente.

—Eu aceito a vaga.

***

—Ser editora sênior não estava nos meus planos,mas aconteceu. - sussurrou encarando a lápide a sua frente, onde repousava um buquê de flores. Ela respirou fundo, ignorando o vento frio que fazia se encolher no casaco. - E existe um porém no meio de tudo isso. Para eu assumir esse cargo, preciso fazer um curso rápido, uma pós, de três meses sobre gestão gerencial, e tente adivinhar onde encontrei mais barato? - disse e sorriu como se tivesse ouvido algo. - Exatamente, onde tudo começou. Na faculdade onde me formei. - ela balançou a cabeça. - Até pensei em voltar atrás, mas sei que não posso parar as minhas vida por causa das lembranças dele. - puxou o ar segurando as lágrimas. -Você faz tanta falta, pai, queria que estivesse aqui.

 

 ***

—Ok, quando você viaja para Portland? -  questionou Alice tomando o seu café, enquanto Bella observava o seu. 

—Depois de amanhã. Wilson disse que a empresa pagará a minha hospedagem e as coisas ligadas a minha permanência na cidade. - respondeu calmamente, e logo acrescentou:-  Como tinha férias acumuladas, vou tirar cada uma delas nesses três meses, e quando acabar e voltar,  já entro como editora sênior. 

—Nossa. - soltou a baixinha sorrindo. - Que giro de 360° graus, hein? 

Bella assentiu. 

—Nem me fale. - algo no tom de sua voz, fez Alice perder o sorriso e encarar os olhos castanhos da amiga. 

—Mas você não parece estar completamente feliz com isso.

—E não estou. - confesso sentindo o peso da realidade desabar sobre os seus ombros. - Voltar para Portland me fez pensar na possibilidade de encontrá-lo, mesmo que pense que ele sequer pode morar mais lá. 

—Mas a possibilidade de encontrar com ele te deixa nervosa. - pontuou, a garota assentiu. 

—Queria poder dizer que o superei, mas como é possível superar a pessoa do qual você tem certeza que é o amor da sua vida, mas ela não acha isso de você? - desabafou. - Sei que isso soa repetitivo, mas dói imaginar  que ele tenha encontrado outra mulher, e casado com ela, amado ela como um dia o amei e ainda amo.

—Bella…

—Eu sei, eu sei. Preciso superar. - murmurou enxugando as lágrimas. 

—Não ia dizer isso. - disse Alice num tom ofendido. - E sim, que talvez seja a hora de voltar para Portland e enfrentar o passado e seus medos.  - acrescentou segurando a sua mão. - Talvez seja a hora de enxergar que apesar de amá-lo, você pode amar outro alguém e ser amada. 

—E se isso não acontecer?

A mulher baixinha sorriu.

—Vai acontecer. - afirmou, apertando a mão dela antes de soltar. 

—Bancando a vidente de novo, Alice?

—Sempre. - ambas riram.

 

***

 29 de Janeiro de 2002

Portland é uma cidade maravilhosa. Tão maravilhosa que não consigo não olhar com encanto cada parte que vejo enquanto pedalo para faculdade. 

Rose me diz que grande parte do meu encantamento é devido ao amor e não pela cidade em si.  Talvez ela esteja certa,  porque foi impossível não me deslumbrar pela cidade  através dos olhos de Edward.  Mas feliz sou, por ser apaixonada por esses olhos, e pela sua alma. 

—Ok, Swan. Pare de se tortura, guarde esse diário. Destrua esse diário. - me repreendi, fechando o mesmo e logo guardando dentro da bolsa. Olhei para outros passageiros e suspirei. - Porque acatei a ideia insana de Alice de trazê-lo? - questionei ao mesmo tempo em que a minha cabeça dava a resposta que eu não precisava.

Alice tinha dito que uma das melhores maneiras de começar a enfrentar o passado, é entender sobre ele. E por isso, propôs que eu levasse - jogou dentro da minha bolsa — e o lesse em qualquer momento que eu sentisse de fazê-lo, qualquer página fosse.  Na hora quis rir da sugestão, quis tirar ele de dentro da minha bolsa, mas acabei acatando como masoquista que era.  Mas era para isso que pagava terapia, não é mesmo?

          Reabri o diário na página que estava, e me fez pensar que  Alice deveria pagar a minha depois daquela sugestão.

O avião pousou sem maiores turbulências, o que causou certo alívio enquanto o sentia parar. E antes que o sol nascesse, me vi parada na frente do prédio que seria minha residência pelos próximos meses, e do qual não ficava longe da University Of Portland e nem dos lugares que gostava de frequentar quando morava ali. 

Respirei fundo e entrei. Sem olhar muitos detalhes da casa,  deixei as minhas malas no primeiro andar  e mandei mensagem para Alice dizendo que tinha  chegado para então me jogar na cama e dormir,  sonhando e relembrando memórias esquecidas na mente.




Não era algo bom o que estava acontecendo naquele momento, mas simplesmente achei o melhor que poderia fazer: respirar fundo e seguir em frente.

—Uma vaga espera por você. - murmurei para mim mesma enquanto ignorava os olhares dos alunos, calouros e veteranos, enquanto caminhava pelo campus me arrependendo de ter vindo tão elegante ao ponto de ser considerada uma professora. Aumentei o som da música que tocava no celular e apressei meus passos para o prédio onde aconteceria as aulas de maneira integral - para minha alegria e tristeza. 

Com um breve apresentação, o professor logo foi bem claro ao explicar como funcionaria as coisas, para logo explicar uma das matérias principais do curso.

Cansada mentalmente de me forçar a permanecer no presente,  me obriguei a dar uma volta de bicicleta mesmo que soubesse o risco daquilo. Mas em contrapartida, sabia que não poderia acontecer nada. 

É, não poderia. 

Encostei a bicicleta em um dos espaços próprios para ela na calçada e numa cafeteria que tinha o ar de ter sido aberta recentemente, mas possuía um layout  bem interessante já que a mesma era integrada com a livraria que ficava ao lado. O que me fez por um momento aprovar a ideia, para no minuto seguinte pensar de quem poderia ter dito uma ideia tão tola quanto aquela., já que os livros poderiam facilmente ficar com cheiro de café, ou de chocolate, cigarro ou gordura. 

As minhas divagações mentais sobre aquilo foram dispersadas quando senti alguém esbarrar em mim, e logo sentir algo líquido molhar o meu sapato.

—Oh, desculpe-me. - ouvi uma voz conhecida  fazendo-me travar no lugar ao reconhecer quem era. 

Definitivamente essa merda tinha que acontecer comigo, pensei em antes de me virar e encarar meu ex-namorado, que destruiu meu coração e continuava lindo para caralho, igual nos meus sonhos. Em minhas lembranças.  Seus olhos se arregalaram e sua face foi tomada pelo choque.

—Não precisa se desculpar, senhor. Acidentes acontecem.  - murmurei o mais neutra que consegui, para logo em seguida ouvir meu nome ser chamado. Aproximei do balcão pegando meu pedido e me virei à porta pronta para pedalar o mais rápido que pudesse, até  quando o ouvi me chamar. 

Meu corpo inteiro estremeceu ao mesmo tempo que meu coração batia frenético no meu peito. Ele se lembrava de mim.

É claro que ele lembrava, minha mente brandou.  Você é a ex- namorada patética que ele terminou depois do baile. Soltei o ar que sequer notei que prendi, e sem olhar para trás, passei pela porta.





—Eu não acredito que você fez isso.  - soltou Alice. - Você tinha a faca e o queijo na mão, e enfiou a faca no cu.

Revirei os olhos.

—Que faca? Que queijo, Alice? A de questionar sobre a vida dele, e saber que ele casou e procriou, enquanto sigo sendo uma solteira convicta e que já está ficando para titia? 

—Você só tem 30 anos, Bella. Não 50.

—Para mim, dá no mesmo.

—E deve aceitar que não é, e que somente você pensa assim.

Revirei os olhos.

—Ok, Alice. Mas como eu disse, não tinha o que eu pudesse fazer. Queria que tivesse descontado os anos de raiva por ele ter derramado café nos meus sapatos? 

—Olha, não era uma má ideia.

—É eu sei, mas com certeza ficaria com fama de louca, e é algo que eu dispenso.

Ouvi ela suspirar.

—Sabe que não pode se enclausurar para sempre não é?

—Quem disse que estou me enclausurando?

—Bella, eu te conheço desde que se mudou para Denver, e eu sei que sua primeira reação de defesa é se esconder numa ostra. - apontou, para logo acrescentar :- Eu sei que apesar disso ter acontecido, você já está pensando em não sair de casa hoje e passar o final de semana assistindo filme ou série tentando evitar o que aconteceu, e reprimindo o impulso de pedalar.

E Alice acertava mais uma vez!

Sentei no banco encarando o campus da faculdade e me obriguei a não divagar com as lembranças que insistiam vim.  Fechei os olhos e respirei fundo.

—Tudo bem. Você está certa! Vou tentar não enclausurar numa concha. Ele que se esconda, caso não queira me encontrar.

 

—É assim que se fala, garota.




 

Ok! Socializar era algo que parecia fácil, na teoria. Na prática era um porre, uma tortura. Prendi a vontade de suspirar pela centésima vez enquanto me questionava que porra tinha na cabeça de ter aceitado o convite da turma da pós para beber.

Talvez porque você precisava beber? Minha mente sugeriu, e concordei com ela. Definitivamente precisava beber pela semana horrível que tive, mas com certeza, não havia feito uma boa escolha fazer isso com tanta gente, num lugar onde parecia estar metade da cidade.

Ainda mais porque raramente puxava alguma conversa, e conseguia manter alguma, mesmo que já tivesse virado três copos de cerveja.

—Você não se sente confortável com um lugar cheio de gente, não é? - sussurrou Ângela para mim, olhei para ela um tanto surpresa por ela ter notado aquilo.  Até que me lembrei que deveria estar nítido na minha cara, já que como Alice sempre dizia, eu era um livro aberto. Neguei com a cabeça.

—Não muito. 

—Quer conversar lá fora, e dar uma volta?

—Agradeço, mas acho que já vou. Está ficando tarde. - respondei, conferindo a horas no meu relógio de pulso.  Ela deu um sorriso acolhedor.

—Claro.Se quiser podemos marcar um café ou algo para que possamos conversar. - sugeriu delicada. Meu primeiro impulso seria dizer sim, pensando em fugir de qualquer encontro,porém, assim como aconteceu com Alice, senti compelida não apenas aceitar mas também pegar o seu número para que de fato conversássemos.

Algo que fiz antes de sair da mesa, me despedindo de todos de maneira geral e me dirigir ao bar. Encostei no balcão buscando ar, e chamei o garçom para que pudesse pagar a minha conta e ir embora,  mas o belo homem fez sinal para esperar e seguida voltou a dá em cima da garota que de quem preparando o drink. Bufei.

—Você continua a mesma paciente de antes. - a voz divertida conhecida soou do meu lado, fazendo-me levar um susto. Ao contrário da última situação, olhei para o lado incrédula e para ficar em choque ao ver Emmett,  o melhor amigo do meu ex namorado, e ironicamente, namorado da minha melhor amiga Rose, de quem perdi contato depois que se mudou para Seattle para fazer sua especialização no hospital da sua família. 

—E você continua enorme, Emmett. - apontei, o fazendo rir.  Sorri com sua reação e  por um momento a saudades das brincadeiras e peripécias que aprontava com ele na faculdade me acertou.  

Ele sempre fora o irmão que nunca tive, mas que apesar disso, tive que me afastar para conseguir partir e viver. Ele me olhou sem rir, dessa vez. 

—Posso te dar um abraço?

—Senhorita, o que precisa? - o garçom interrompeu o que eu ia falar. Entreguei a ele a comanda junto com o dinheiro. 

—A conta. - disse, ele assentiu e logo conferiu o dinheiro que entreguei. Bateu o carimbo e me devolveu.

—Está tudo certo. Tenha uma ótima noite!

—Obrigada.

—Hey Emm, porque você está demorando tanto em trazer a bebida? - questionou Edward.

Não, não, não. Isso não pode estar acontecendo.  Mas está. Puta merda. Mas é claro que ele estaria aqui bebendo com Emmett, numa sexta-feira. Alguns hábitos jamais mudam.

Virei-me  para eles e pude ver Emmett mais sério que antes, enquanto Edward me olhava mais uma vez surpreso. Sorri para o grandalhão ao seu lado.

—Foi bom te ver, grandão. 

—Bella. - Edward me chamou, porém, assim como na cafeteria fingi que não era comigo. Ouvi ele me chamar umas duas vezes, de novo, até sentir meu braço ser puxado. Aquilo causou um tremor por todo o meu corpo, um tipo de tremor que não sentia há muito tempo e que não era nada bom. Sem ao menos pensar, me virei para ele e sem deixá-lo falar dei um tapa na sua cara. Ele soltou meu braço  encarando-me surpreso, para depois me olhar com pesar ao ver o meu corpo inteiro tremer. - Bella…

—Nunca mais toque em mim Cullen, sem a minha permissão.  - o interrompi ríspida. - Nunca. 

—Bella. - a voz calma de Emmett soou do meu lado, o encarei. - Posso te levar para casa?

Apesar  de querer recusar, dizendo que não precisava, sabia que não teria condições nenhuma de pedalar até em casa, então assenti.

—Bella, me desculpe. - disse Edward. Apenas ignorei, virando para sair do lugar, ignorando os olhares de todos ao nosso redor, aumentando ainda mais o meu nervosismo e ansiedade dentro de mim.

—Edward, cala porra da boca. - Emmett repreendeu grosso, e pude vê-lo pelo canto do olho me seguindo em uma distância razoável de mim. Puxei o ar assim que passei pela porta, mas sabia pelo tremor que tomava o meu corpo que era algo inútil a ser feito, olhei para Emmett que me olhava preocupado. Desviei os olhos e encarei a minha bicicleta presa.

—Minha bicicleta. - murmurei enquanto tentava manter a minha respiração normal. Ele assentiu e logo pegou a mesma assim que tirei o cadeado, para prendê-la no suporte do carro. Gentilmente abriu a porta para mim, e no tempo seguinte entrou. 

E exatamente como esperava quando passei pela porta do pub, e ao contrário do que esperava naquela noite, terminei dando entrada no hospital e não numa banheira com água morna. 

Mas de alguma forma, era como se eu estivesse nela, só que embaixo da água buscando ar para respirar enquanto meu corpo se debatia se afogando, enquanto um peso, uma angústia violenta tomava cada parte do meu ser.

Emmett ficou comigo durante toda a noite, até de manhã, quando recebi alta do médico com o aviso que deveria avisar o meu psiquiatra sobre aquela crise. Algo que definitivamente não faria.

Respirei fundo encarando o meu rosto pálido no espelho e saí do banheiro vendo Emmett sentado no sofá do quarto, mexendo no celular que devido a cor chamava atenção da sua aliança de casamento. A culpa caiu sobre os meus ombros. 

—Sua mulher não deve ter ficado nenhum pouco feliz de saber que você passou a noite comigo no hospital. - comentei pegando as minhas coisas sobre a maca.  Ele deu um meio sorriso.

—Na verdade, ela ficou bem feliz em saber que te amparei no seu momento de crise. Aliás, acredito que já deva estar chegando, já que ela prometeu nos trazer café. -  respondeu, fazendo-me tombar a cabeça estranhando a atitude. Mas antes que pudesse  perguntar qualquer outra coisa, a minha resposta surgiu na porta grávida e com dois copos da Starbucks nas mãos. 

—Olá. - cumprimentou Rosalie feliz, encarei meu relógio de pulso vendo que era 7 da manhã e olhei para Emmett que riu ao notá-lo. 

—Também não entendo de onde sai tanta animação logo cedo. - comentou divertido, fazendo a loira revirar os olhos entrando no quarto.

—Não tenho culpa que vocês não sabem cultivar o bom humor. - murmurou, e logo sorriu. - Senti sua falta Bells. 

—Também senti a sua, Rose. - afirmei sincera, seu sorriso aumentou. O caminho do hospital até a minha casa, foi feito entre pequenas conversas sobre o que tinha acontecido em nossas vidas após perdemos contato. Ninguém tocou no assunto da noite anterior, e nem sobre o motivo da minha crise.

Após trocas de números de telefone e promessas de marcarmos de sair, ou nos ver assim que estivesse bem, eles partiram me deixando na frente de casa. 

Devido a medicação, passei boa parte do dia  dormindo, acordando de vez ou outra  com as mensagens de Alice, e de lembranças do belo homem de olhos verdes que gostaria de esquecer. 

 

 

 -Bella. - ouvi ele sussurrar enquanto os seus dedos deslizavam lentamente sobre o meu pescoço ao mesmo tempo que os meus se infiltravam nos seus cabelos.  Encarei seus olhos e permiti que o misto de emoções  inundasse a minha alma enquanto sentia o meu corpo queimar de prazer.

—Edward. - foi a minha vez de sussurrar, para então ofegar.

O despertador me acordou, fazendo-me gemer ao notar que a tão temida segunda-feira tinha chegado, e que ao contrário do que desejava, teria que tomar um banho gelado antes de ir para faculdade.

Com todas as minhas coisas na minha mochila, pedalei de maneira mais sossegada que pude até a faculdade onde me deparar com o costumeiro movimento do campus, porém, ao contrário dos outros dias, tinha chegado mais cedo do que costume. 

O que me fez aproveitar e subir para a minha sala, que como esperado estava vazia. Joguei as minhas coisas sobre a mesma, e num momento de impulso - e loucura, certeza - abri o diário exatamente no dia que lembrei em sonho.

 

03 de Março de 2003

Eu amei Edward Cullen. 

Eu amei Edward Cullen, e foi sublime.  

Não consigo explicar a sensação, o sentimento, que me toma, que me preenche neste instante e que me faz sorrir, suspirar e chorar ao mesmo tempo.  É tudo tão forte, tão intenso que pela primeira vez sequer consigo nomear o que sinto. 

Mas acho que ousaria dizer, que além de permitir ser tocada, me senti completamente e profundamente amada.

Amada por alguém. 

Amada por Edward.

 

 Puxei o ar com força e fechei o diário, para encarar a lousa e em seguida a janela sentindo a velha ferida arder e um bolo na minha garganta se formar. Tudo naquela noite tinha sido perfeito, como foi todas as vezes antes do fim. E pela primeira vez em anos, eu odiei Edward mais uma vez por me fazer sofrer. 

 

***

Uma das coisas que aprendi ao longo dos últimos anos, é que a vida nunca para de nos surpreender, seja ela com coisas boas ou ruins. 

Mas naquele momento, percebi que ela tinha me colocado em situação que me concedia as duas coisas. Estava me concedendo coisas boas como reencontrar meus amigos e conhecer novos, enquanto me concedia coisas ruins como revisitar parte ruins do meu passado que inutilmente tentei deixar para trás. 

Em um mês - quase 2— em  Portland, tinha encontrado com Edward diversas vezes. Muitas dessas vezes ele sequer me via, e em outras vezes ele apenas me olhava sem se aproximar enquanto eu fugia logo depois.  Era algo bem covarde da minha parte, devo admitir, ainda mais porque parte de mim gostaria de saber o que de fato aconteceu. Porém, em contrapartida, outra parte de mim não queria saber porque fui deixada, porque ele tomou a decisão de partir. E porque agora, parecia tão desesperado em conversar.

—O que você acha? - perguntei mostrando um casaco para Rosalie, que o olhou e me encarou séria.

—Acho que você deveria parar de fugir.

—Mas não estou fugindo.

—Sim, você está.  Acabo de falar que deveria conversar com ele, e ao invés de falar algo você me mostra um blazer como se quisesse mudar de assunto. 

—Eu não estou querendo mudar de assunto. - rebati.  Ela colocou a mão na cintura evidenciando a sua barriga de seis meses. 

—Bella, a cor desse blazer não faz o seu estilo, e nem da sua paleta de cor que você usa. - apontou. - O que a sua amiga Alice acha disso?

Suspirei colocando o blazer de volta na arara.

—Que deveria parar de correr dele, como o diabo foge da cruz, e soltar tudo o que está entalado.  

—Acho que eu vou amar conhecer Alice. - comentou num tom divertido. Sorri.

—Vocês duas definitivamente se dariam bem. -  comentei e após um tempo de silêncio, suspirei. - Eu sei que preciso conversar com ele, e colocar um ponto final nessa história mal resolvida que me vem atormentando ano após ano. Mas…

—Mas…

—E se eu ouvir algo que eu não queira e sequer imagino ouvir?

—Esse é o risco que terá que correr, assim como a dor.  Mas te trará liberdade. - pontuou Rose. - E Bella - a olhei. -  essa liberdade que você terá será maior que todo o resto,e é mais valiosa que todas as suas dores.

—E se eu não aguentar e desmoronar?

—Alice, Emmett e eu estaremos com você para juntar todos os caquinhos. - disse, segurando a minha mão e apertou. - Você não está sozinha, Bella. 

***

—Você sabe que ele estará lá, então não fuja. - murmurei para mim mesma enquanto pedalava para cafeteria o encontrei a primeira vez, do qual descobri que ele era o dono  -  assim como da livraria ao lado — e que havia aberto a mesma recentemente. 

Com o meu estômago embrulhado devido ao nervosismo, entrei direto na livraria cumprimentando a moça do caixa para então começar a minha peregrinação entre os livros, sem procurar um título específico, apenas vendo quais tinha nas estantes. 

Meu coração antes acelerado, estava calmo no meu peito. Tão calmo que me  permiti respirar e suspirar pelas sinopses dos livros de romance.

—Se me permite dizer, essa é a história de romance e drama que mais saiu nos últimos dias. - A voz calma de Edward me fez sobressaltar e olhar para ele que se mantinha longe de mim, com as mãos nos bolsos. Ele deu o seu costumeiro sorriso torto, que ao contrário de antes, não fez meu coração bater forte e nem suspirar.

—É uma temática muito boa para enredo de uma história. A mulher que volta ao passado e encontra o amor da sua vida.

—Já conhecia Outlander?

—Li uma vez. Mas não tive anseios de ler a continuação da história. - comentei colocando  o livro  no lugar. Olhei para ele que de volta segurando a vontade de virar as costas e fugir.

—Olá.

—Oi!

E o silêncio voltou entre nós, impulsionando-me a andar pelo corredor.

—Gostaria de lhe pedir desculpas pelo o que fiz naquela noite que nos encontramos no bar, e pelo o que isso causou a você. 

—Emmett te contou?

—Não. Mas eu lembrei quais possíveis consequências você deve ter dito devido ao meu ato impulsivo. - disse, o olhei. - Bella, sei que tem me evitado  desde a primeira vez que nos vimos, mas gostaria de conversar com você.

—Sobre

—Sobre nós.

—Acho que isso não existe há mais de 3 anos. 

—De fato. Mas, nós precisamos conversar sobre o que aconteceu depois desses três, quase quatro anos, e sobretudo o ponto de start de tudo isso. 

—O dia que terminou comigo para ficar com Tanya. - apontei, o vendo se endireitar a coluna e se mexer desconfortável. - Aliás, ela sabe da sua intenção de conversar comigo?

—Não, porque eu não estou com ela e nem com ninguém.

Prendi a vontade respirar fundo mediante a revelação. Porém, apenas me virei para os livros, tentando colocar  a minha mente no lugar. 

—Bella.

—Eu aceito conversar com você, Edward.  - respondi, o olhando. -  Mas não será num café, não será no parque, não será em nossas casas. Mas será onde tudo começou. 

—No campus.

—Em Long Beach.

—Bella, essa não é a melhor época do ano de estar lá.

—Eu sei, mas exatamente por isso que é o melhor lugar para conversar, só haverá nós. Nós e o passado que  precisamos  resolver.

Ele suspirou, para então me olhar.

—Quando?

—Sábado, às 10 da manhã. 

—Estarei lá. - assenti, e logo passei para o próximo corredor andando em passos rápidos para a saída sentindo o olhar de Edward sobre mim. Mantive a minha pose firme até sair com a bicicleta, onde pude enfim desmoronar e respirar.

Sentei na escada de frente a minha casa, colocando a cabeça entre os joelhos retomando o fôlego para então pegar o celular na minha bolsa  e ligar para o número de contato que chamou diversas vezes antes da pessoa atender.

—Oi Emmett. Desculpa ligar nesse horário atrapalhando qualquer coisa que esteja fazendo, mas eu preciso de um favor.

***

—Não se preocupe, Alice. Emmett disse que esse motorista é confiavél. - repeti, colocando meu casaco longo bege, já que ao contrário tinha sido dito na previsão do tempo o sol não havia aparecido e o tempo nublado ainda permanecia sobre todo o estado de Oregon. - E como ele é o que está contratando o serviço, vai saber se algo não sair como o combinado.

—Ele vai somente te levar?

—Não, vai me buscar também. Mas não é por isso que está preocupada não é?

—Bella, tem certeza que é uma boa ideia conversar com esse estrupício tão longe?

—Tenho.  Preciso voltar para lá, junto com ele.

—Pra quê?

—Para reaver meu coração, e que o lugar onde me perdi, seja o lugar onde ganhei a minha liberdade.

Antes que pudesse dizer algo, ouvi a campainha tocar fazendo-me despedir dela e pegar a minha bolsa. O motorista de certa idade me cumprimentou gentil e logo abriu a porta traseira do carro, do qual agradeci para então respirar fundo.

O caminho foi feito em silêncio, sem conversas, apenas com o som baixo de uma música soando do rádio. Vendo a paisagem pela janela, me permiti ser tomada pelas lembranças daquele dia, onde conversamos normalmente sobre coisas aleatórias, olhar encantada o que ele me mostrava,de sentir o toque da sua mão contra a minha e de como aquilo aquecia meu corpo.

—James. - chamei, fazendo o motorista olhar para mim. - Antes de ir, você esperaria a pessoa por quem aguardo chegar?

—Claro, senhorita Swan. Tempo e esperar não é um problema para mim. 

—Obrigada. - agradeci, recebendo um aceno em resposta.  Olhei para o relógio de pulso vendo que tinha se passado cinco minutos do horário marcado, e haviam se passado mais cinco, quando uma caminhonete surgiu e virou em nossa direção, onde pude ver Edward no banco do motorista. Puxei o ar. 

Sai do carro sentindo o vento balançar meus cabelos vendo eles fazerem o mesmo com o cabelo de Edward. James arrancou com o carrro, deixando-nos para trás.

—Olá, Bella. 

—Olá Edward. - cumprimentei de volta, tentando ignorar o nervosismo dentro de mim. - Vamos?

—Vamos. - concordou, e  me seguiu para o lugar final:  o farol. Subindo em silêncio e olhares, a minha mente repassava cada segundo que estive ali, pela primeira e última vez.  

 

30 de Junho de 2003

Hoje, Edward e eu fomos conhecer o farol que tem Long Beach. Mas ao mesmo tempo que tudo foi mágico, foi desesperador, foi amargo, foi dolorido.

O homem que dizia me amar, que me fez rir na noite passada enquanto me chamava de amor, me fez chorar hoje. O homem que me tocou enquanto dançamos, enquanto nos amávamos, me tocou enquanto me dizia adeus.

 Rosalie me levantou depois que ele partiu, mas cada parte do meu coração ficou naquele farol, completamente despedaçado e à mercê do vento que me levou ao chão quando ele sumiu. 

Em lágrimas, implorei. Em lágrimas, me encontro sentindo  cada toque dele em mim, enquanto a dor transborda no meu peito,  me partindo ao meio, ao mesmo tempo todo se quebra, se parte, dentro de mim. Deixando-me perdida e sem ar. 

 

Puxei o ar voltando para o presente encarando o mesmo lugar que anos atrás. Olhei para o mar e pude sentir a paz que ele transmitia tocar o meu peito. 

—O que você pensou quando você virou as contas naquele dia? -  questionei quebrando o silêncio entre nós.

— Me questionei se estava tomando a decisão certa. Se de fato aquilo não era apenas uma confusão, uma ideia precipitada, um erro. Mas só ao longo dos anos eu tive a certeza do que não tive naquele dia. Que de fato havia sido uma ação precipitada, uma confusão, e o pior erro da minha vida.

—Então, porque você o fez? Por que você cometeu?

—Porque eu achava que estava fazendo o certo, mantendo-a longe da confusão que estava tornando a minha vida, a minha cabeça e todo o resto.

—E em nenhum momento pensou em mim, não é? - perguntei olhando para ele, em fúria, enquanto o mesmo me olhava com dor. 

—Sempre pensei em você, Bella. Sempre pensei que você não merecia alguém como eu, alguém ferrado, que possuía um pai alcoólatra  e por causa disso tudo o que ganhava no trabalho ia pagar as dívidas de jogo que arranjava nas noites. Pensei em você quando descobri quando soube que da cidade, pensei em você quando vi o meu pai na cama de hospital, pensei em você quando abri a livraria, pensei em vocês em todos esses anos.

—E nunca pensou em ir atrás de mim? Contar o que houve? Contar o que tinha acontecido? Ou Tanya nunca o permitiu fazer isso?  Porque a minha vida também não era  um conto de fadas, Cullen - falei exasperada. -  e ainda não é.

—Nunca me relacionei com Tanya. Nunca a beijei, nunca a toquei. Ela somente me ajudava com o meu pai, ficando com ele para não cometesse  nenhuma besteira enquanto estivesse no trabalho. - contou. A raiva aumentou ainda mais em meu peito. - Bella. 

—Cala boca, Edward. -  revidei. - Eu passei a minha vida inteira com receio, com asco dos toques das pessoas, ao ponto de eu me isolar, com medo do futuro ou até pensando como seria cursar a universidade, se eu conseguisse tal proeza. - disse -   Você foi o único homem em toda a minha vida que tocou meu coração e tão intimamente cada parte de mim, ao ponto de deixar marcas profundas que nunca saiu no banho. - contei, ignorando o olhar dolorido que ele me dava. - Sabe o que fiz quando Rosalie me deixou sozinha, quando me tirou daqui? Eu esfreguei cada parte do meu corpo, tentando apagar você, tirar sua marca, seu toque, seus abraços de mim. Mas eu não consegui, naquela noite e nem nunca.

—Bella, eu… Sei que não imagino a dor que infligir em você, o que causei a você com a minha confusão. Mas eu achei naquele dia, naquela época,  que era o certo. 

—Para você, Cullen, não para mim. Você não confiou em mim, não confiou que eu ficaria do seu lado, não confiou no amor que sentia por você. - revidei.  - Você nunca pensou em mim, somente em você.  E justamente você que me marcou tão profundamente, tão intensamente ao ponto de eu não conseguir confiar em alguém de novo. De me entregar de novo, de deixar alguém me tocar. - gritei em lágrimas, vendo o se encolher. -  E a parte que mais me dói no meio de tudo isso é que você nunca me amou. 

 

—Bella, eu sempre te amei e continuo te amando - declarou desesperado. Neguei com a cabeça, e olhei para o mar revolto abaixo de nós. - Não houve um dia sequer que pude e consegui afugentar esses sentimentos dentro de mim. A minha vontade sempre foi te encontrar e contar o porquê de ter feito isso, até me lembrar de que eu não merecia você pelo o que era. Agora, eu sou alguém digno de você.

—Alguém rico?

—Alguém livre dos pesos que faria da nossa vida juntos um inferno, porque era o tornava a minha vida em um. 

— E porque não me contou Edward? Porque nunca dividiu a sua vida para mim? Eu amava você, eu te ajudaria a segurar as pontas, eu seguraria a sua mão.

—Eu não sei . - confessou em lágrimas. -  Eu só achei que o era melhor a ser feito mesmo confuso, mesmo incerto da minha decisão. Achei que o melhor era você ficar longe de mim, da confusão e inferno que era minha vida. 

—E para você foi.

—Não, Bella. Não foi.

—Com certeza foi.  Você pode tocar nas pessoas Edward, confiar nelas, enquanto tive me manter longe para reconstruir aquilo que destruiu em mim. Charlie assistiu todo o processo de camarote, torcendo para que eu voltasse a ser um pouco do que era antes de te conhecer. Mas isso nunca aconteceu, e ele partiu sem que pudesse me ver liberta disso. 

Os olhos de Edward se arregalaram enquanto eu chorava intensamente ao lembrar daquilo. Ao lembrar do meu pai abraçando todas as manhãs, para em uma delas ver o caixão descendo enquanto sentia a chuva de Forks cair sobre mim. Chorei ao lembrar que ele havia finalmente voltado para os braços da minha mãe,  enquanto meu abraço ficava vazio sem os seus.

— Como?

Puxei o ar.

—Num acidente de carro a três meses atrás. Um motorista imprudente, passou o sinal vermelho e acertou o carro em cheio fazendo ele capotar na pista.

—Ele estava dirigindo?

Neguei.

—Ele estava no banco do carona, e eu dirigindo. - contei a dor se alastrando pelo meu corpo e queimando o meu peito, enquanto as lembranças do acidente invadiram a minha mente. De como nós sorrimos cantando a música que soava no carro, até que algo nos atingiu com força fazendo tudo girar, girar e girar, e parar. Silêncio.  

Os dedos de Edward tocaram os meus braços, para então meu corpo ser envolvido pelo seus braços.  Meu choro se tornou ainda mais forte e a dor mais intensa ao lembrar de quando acordei no hospital e recebi a notícia que Charlie, meu pai, meu herói, meu exemplo, meu salvador, havia morrido dentro do carro.

Sem abraços, sem beijos, sem despedidas, sem poder dizer para ele novamente o quanto amava e como me sentia a filha mais sortuda do mundo por tê-la como pai. 

Um grito agonizante saiu dos meus lábios ao sentir a ferida mais uma vez sangrar, e sangrar, ao mesmo tempo que parecia reviver em cada parte de mim, tudo, mais uma vez.  O funeral, o enterro, a casa vazia, os domingos silenciosos,os vídeos caseiros, as fotos que tinha com ele em cada etapa da minha vida. Na alegria ou na dor.

Outro grito saiu do mais profundo âmago enquanto sentia mais uma vez, a dor me partir o meio. Os braços de Edward me apertaram, como se segurasse cada parte de mim que parecia desmoronar, para então juntar todos os cacos num abraço.

Mas a dor permanecia ali, junto com todo o resto. 





 

Abri os olhos encarando a penumbra sentindo os meus olhos inchados e o peito leve. Estranhei o lugar até me lembrar de Edward me levando para o carro em seus braços, dele me colocando no banco do passageiro, me colocando na cama, do beijo na minha testa antes de eu dormir ouvindo cantarolar a minha canção de ninar. 

Encolhi esperando algo vir, seja qual fosse o sentimento, mas nada veio, só havia leveza.  A porta se abriu, trazendo luz para o quarto e Edward, que andou na minha direção sem desviar os olhos dos meus, até abaixar perto da cama.

—Oi! Como você está?

—Que horas são? 

Ele suspirou se sentando no chão.

—Sete e meia. - respondeu num murmúrio. Segurei  a vontade de respirar fundo ao notar o quão tarde era.  - Bella. - O olhei. - Não vá.

—Por que?

—Por que eu a amo. 

—Não, você não me ama.

Sua face antes de leve, se tornou dura. 

—Como você pode ter tanta certeza assim de que eu não a amo?

—Por que se me amasse me deixaria partir, deixaria viver tudo o que conquistei anos depois de ter me dispensado, e não imploraria para ficar.  - expliquei e me sentei na cama, pondo os pés para fora. O olhei. - E sabe qual é a parte mais interessante de tudo isso?

—O que?

—Que anos atrás, naquela praia, sobre aquela rocha, eu implorei para que você ficasse. Implorei para que voltasse para mim, implorei para que dissesse que o tinha acabado de ouvir era brincadeira. Mas você o fez. -  a dor tomou seus olhos e pela primeira vez, sequer me importei. - Você me abraçou, me acalentou, mas você partiu.  Agora é a minha vez de partir, só que dessa vez para sempre.

—Para sempre é muito tempo.

—Eu sei. E é justamente todo esse tempo que preciso passar longe de você.

—Bella, por favor. - suplicou enquanto fiquei de pé e andei para a porta, que ainda estava aberta. Respirei fundo e o olhei.

—Adeus Edward.

Seu olhar desviou do meu por um momento, para então me encarar firme, enquanto a tempestade cobria o oceano dos seus olhos.

—Adeus Bella.

 


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