Você é Minha Força - CIP escrita por Casais ImPossíveis


Capítulo 1
Capítulo Único - Você é Minha Força




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Finney estava caminhando pela rua voltando da casa de Robin.

Nos últimos dias ele andava mais sério e alerta por conta de todos os desaparecimentos, mas depois de passar um tempo ouvindo as piadas ridículas e várias frases em “portunhol” de seu melhor amigo havia um sorrisinho em seu rosto que simplesmente se recusava a sair.

Infelizmente (ou não), prestar atenção por onde anda não evita apenas sequestradores, as vezes também evita que pessoas tropecem em pedras e caiam vergonhosamente de cara no chão, o que aconteceu com Finney bem ali no meio da calçada. Para sua sorte, não havia mais ninguém ali para presenciar sua queda épica.

E enquanto erguia a cabeça puxando o ar pelos dentes por causa da dor, descobriu que aquela não tinha sido sua única sorte. Há alguns centímetros de distância de seu queixo ralado que escorria algumas gotas de sangue havia um bolinho de dinheiro.

Finney estendeu a mão para pegar as notas e levantou, batendo a sujeira da roupa antes de contar. Uma nota de cinquenta, uma de vinte e nove de dois, ao todo oitenta e oito dólares. O sorrisinho que ele tinha antes de cair aumentou bem mais de tamanho já que seu pai nunca tinha dinheiro por gastar tudo que sobrava depois de pagar as contas com bebida, então tanto ele quanto Gwen raramente tinha dinheiro para fazer algo divertido.

Ele já tinha uma ideia do que queria fazer, então apressou o passo para casa, agora com mais atenção. Não era porque uma queda lhe deu benefícios que queria outra, afinal, seu queixo ainda estava doendo um bocado.

Quando chegou, fez toda a rotina que já estava acostumado para cuidar de seu pai, em seguida foi na ponta dos pés até o telefone e usou sua lanterninha de foguete para ver o discador e conseguir ligar para Robin.

— Oi. Sou eu. — disse sussurrando após o “alô” do melhor amigo.

— E aí, maninho. — dava para sentir o sorriso do outro lado da linha.

— O seu tio vai te levar no drive in esse final de semana? — Finney perguntou também sorrindo, mas sem aumentar o tom para não correr o risco de acordar seu pai.

— Vai sim. Por quê? — Robin nem estranhou os sussurros, já sabia (e odiava) o motivo.

— Eu achei um dinheiro e consigo me bancar, mas não tenho um carro. Acha que ele ia se importar de me levar junto? — explicou, se apoiando com o ombro na parede.

— Eu posso perguntar pra ele. Me liga daqui cinco minutos? — perguntou, sabendo que não deveria ligar para não fazer barulho.

— Tá bem.

Finney desligou e foi arrumar as almofadas na sala para assistir televisão depois de ligar de volta, separou uma tigela e uma colher para tomar sorvete e voltou para o telefone.

— Ele disse que não tem problema. — Robin disse sem rodeios ou “alo”.

— Que legal! — Finney exclamou o mais baixo que conseguiu estando tão empolgado. — Então... Como a gente vai fazer?

— Me encontra no mercado as três pra gente comprar refrigerante e uns doces porque os chocolates do drive in são horríveis e o preço do refri é um roubo. — Robin explicou animado também. — Depois vamos pra minha casa e esperamos meu tio. As sessões começam as quatro e terminam lá pelas dez ou onze na noite, depende dos filmes. Nem sempre a gente fica até o fim, mas sempre é super legal. Mal posso esperar pra você conhecer.

— Eu também estou ansioso. — ele respondeu ainda aos sussurros. — Te vejo amanhã, amigo. Vai ser demais.

— Até lá, maninho. — Robin disse e desligou.

Finney não conseguia parar de sorrir enquanto colocava o telefone de volta no gancho. E nesse momento o sorriso de seu melhor amigo surgiu em sua mente e seu estômago pareceu dar uma cambalhota dentro da barriga, mas estranhamente não de um jeito ruim.

Isso deixou o garoto confuso, no entanto não tirou sua animação e ele foi feliz pegar o sorvete antes de ir ver televisão. Mal sabendo como acordaria na manhã seguinte.

Seus olhos se abriram de repente e antes que tivesse tempo de sequer processar que o dia havia amanhecido seus ouvidos já captaram aquele som aterrorizante que já conhecia muito bem, bem demais para o seu gosto: os gritos desesperados de sua irmã misturados com estalos de cinto. Seu corpo despertou de imediato e ele correu para a porta que separava a cozinha da sala e implorou “pai, para” como já fizera dezenas de vezes antes.

O homem se virou abruptamente com o cinto na mão e apenas gritou mandando-o ficar quieto e não se meter. E por mais que Finney tremesse inteiro de ódio, por mais que suas unhas estivessem cravadas nas mãos de tão forte que ele fechava os punhos, havia algo muito mais forte lhe paralisando: medo. E tudo que ele pode fazer foi observar aquela cena grotesca diante dos seus olhos até o fim.

E quando finalmente acabou ele ofereceu o ombro para a irmã deitar a cabeça e os dois deram força um para o outro como sempre foi.

Gwen ficou calada até conseguir parar de chorar e só aí segurou a mão de Finney, que até então ainda estava fechada com força, e entrelaçou seus dedos devagar, quebrando por fim o silêncio.

— Você tá tremendo. — disse muito baixo, mesmo sabendo que seu pai já havia saído para o trabalho. — Tá tudo bem?

— Não. E você tá bem? — Finney murmurou, suspirando com tristeza.

— Também não, mas... Vou ficar. — ela respondeu e forçou um sorriso miúdo, olhando o irmão nos olhos por um instante longo e muito significativo. — O que foi isso no seu queixo?

— No meu... Ai, droga. — lembrar da queda o fez lembrar do dinheiro que achou e os planos que tinha para ele. — Eu ia sair com o Robin hoje, mas não quero te deixar sozinha.

— Relaxa, Finn. Você já segurou a barra pra mim tantas vezes. Merece ter uma folguinha. — Gwen sorriu, dessa vez de verdade, e bagunçou os cabelos de Finney.

— Mas eu sairia as três e voltaria só lá pelas onze, chegaria depois do papai. — explicou, fazendo uma expressão desanimada. — Não posso te abandonar aqui o dia todo.

— Primeiro: o que você ia fazer aqui exatamente se eu sou muito mais macho que você? — ela disse com um tom e um sorrisinho de deboche. 

— Cala a boca. — Finney riu e a empurrou com o ombro.

— Agora sério. O papai já me bateu hoje. — agora ela falava um pouco mais baixo e mais triste também. — Quem sabe ele até se sinta culpado e traga um refri pra mim.

— Gwen...

— Eu não estou me fazendo de forte, Finney. Estou te prometendo que vou ficar bem. — Gwen o abraçou por cima do ombro e reafirmou. — Pode ir tranquilo. Você merece.

— Obrigado. Você é a melhor. — ele respondeu com um sorriso carinhoso.

— Tá. Agora fala alguma coisa que eu não sei. — ela voltou a brincar e os dois riram.

Os dois ficaram assistindo desenhos até sentir suas barrigas roncarem e então Finney foi fazer o almoço para que pudessem comer juntos antes de se arrumar para ir sair.

Foi estranho se arrumar naquele dia porque em geral ele escolhia a primeira calça que sua mão alcançava dentro do guarda-roupa e a primeira camisa que combinasse com a cor dela, depois passava um pouco de creme e balançava o cabelo para finalizar, o que levava uns três ou cinco minutos no máximo. Mas daquela vez ele trocou de camisa pelo menos oito vezes até ficar com uma cinza de mangas verde-água que caiu bem em sua pele (coisa que não se lembrava de já ter reparado ou pensado antes), depois trocou de calça quatro vezes (porque só tinha essas) até decidir ficar com seu clássico jeans azul que combinava bem com seu all star quase da mesma cor. Isso demorou quase meia hora, mais quinze minutos arrumando o cabelo.

E durante todo esse tempo Finney se perguntava porque estava tão eufórico. A resposta mais óbvia era que era por ser sua primeira vez indo a um drive in. Mas isso não explicava porque o sorriso fofo, o olhar brilhante e a voz marcante de seu melhor amigo não saiam de sua cabeça ou porque seu estômago não parava de dar cambalhotas e essa sensação não o incomodava.

E Robin não estava muito diferente em sua casa do outro lado do bairro. A diferença era que ele se trocava enquanto se xingava em espanhol, se sentindo meio bobo por querer a camisa perfeita sendo que todas as suas camisas eram praticamente iguais e por não conseguir decidir entre suas únicas duas calças. Por sorte não precisava escolher um cinto, pois só tinha um e seu penteado já era marca registrada.

E mesmo que ambos tivessem demorado muito mais que o normal se arrumando, ambos estavam tão ansiosos que começaram muito cedo e ainda tinham tempo de sobra para ir ao lugar na hora combinada.

Robin foi o primeiro a chegar (bem adiantado) e esperou por alguns minutos em frente ao mercado com os braços cruzados e um pé apoiado na parede atrás de si. Ele estava sentindo um impulso de sorrir, mas estava se segurando para manter a cara de marrento.

Porém, alguns minutos depois, ele lembrou de um detalhe crucial. Com todo esse troca e volta de camisa e calça e as mil checagens se seu cabelo estava mesmo legal, havia esquecido o acessório mais importante: sua carteira com o dinheiro.

Bufando e dando um tapa na própria testa por cima da bandana, Robin desencostou da parede e foi andando na intenção de voltar para casa quando viu um homem estranho com uma roupa super extravagante vermelha e preta, com direito a capa e cartola, saindo de uma van.

Não tinha como aquele cara não chamar sua atenção enquanto continuava andando, agora com as sobrancelhas franzidas e uma sensação estranha arrepiando seus pelinhos da nuca a cada passo que dava mais para perto.

— Ei, garoto. Você costuma vir nesse mercado? — o homem disse com uma voz suave e amistosa, mas no fundo parecia ter alguma coisa errado.

— O que te importa? — Robin perguntou com sua expressão mais marrenta.

— Calma, rapazinho. — o homem riu e ergueu as mãos. — Eu só queria saber se os ovos são baratos aqui. Preciso de alguns pra um truque, eu sou um mágico.

— Ah. São. — Robin não deu muito papo, já ia voltar a andar.

— Espera. Você gosta de mágica? — perguntou abrindo a parte de trás da van. — Quer ver um truque?

Os pelinhos em sua nuca voltaram a se arrepiar e Robin fez questão de fechar ainda mais a cara ao responder. — Não.

Ele se virou e deu alguns passos, mas ouviu o homem fazendo um barulho irritado com a garganta e avançar em sua direção. Desviou dele com uma esquiva rápida e no puro instinto o socou nas costelas com sua mão predominante, só lembrando que estava machucada quando sentiu uma dor muito forte que o desestabilizou por poucos segundos, mas foi o bastante para aquele verme agarrar seu tronco com um braço e passar o outro por cima de seu ombro com uma lata na mão, espirrando algo em seu nariz e boca.

Robin prendia a respiração e se debatia o máximo que podia, torcendo para conseguir se soltar antes de não aguentar mais ficar sem ar.

Finney estava andando um pouco mais depressa que o normal por conta da animação inocente que ainda transbordava de seu jovem coração. Até que aquela cena sinistra entrou em seu campo de visão.

Assim que reconheceu Robin seu peito se encheu de medo de um jeito que nunca tinha sentido antes. Conhecia um medo que lhe paralisava, aquele foi um medo que lhe moveu antes mesmo que seu cérebro processasse os próprios atos. Quando Finney caiu em si já tinha corrido e pulado nas costas do homem estranho de capa, seu braço estava ao redor do pescoço nojento com toda a força que tinha.

Robin caiu no chão e puxou o ar com força, tossindo enquanto levantava o mais rápido que conseguia.

— Finn? — perguntou surpreso, mas logo sua mente o lembrou da urgência da situação. — Hijo de puta!

E com muita raiva ele aproveitou a abertura que Finney estava lhe dando para socar o verme, agora com a outra mão. Acertou o estômago, o diafragma e o saco.

O homem não conseguia mais respirar direito nem se equilibrar em pé, ainda mais com o peso do garoto em suas costas, então desabou no chão. Mas Robin não estava satisfeito, só esperou o amigo levantar para chutar a cara do monstro com toda força, fazendo o nariz quebrar e ele soltar uma espécie de gemido de dor, já que não tinha ar o suficiente para gritar.

Depois de causar a dor que queria naquele verme, tirou rapidamente o cinto e usou para amarrá-lo com as mãos para trás, então pediu o cinto de Finney para poder prender as pernas dele também.

— Corre pro mercado, pede pra usar o telefone e chama a polícia. — mandou enquanto botava o pé nas costas do verme. — É muito difícil ele conseguir fugir assim, mas eu fico vigiando só pra garantir.

Finney nem pensou, apenas obedeceu e logo havia várias viaturas ao redor da van e do sequestrador. Todos os policiais tentavam se manter o mais sérios e profissionais possível, mas dava para ver nos olhos deles o quão aliviados estavam por capturarem aquele monstro. Muitos deles tinham filhos e, embora os outros crimes não fossem parar de uma hora para a outra, um sentimento de paz pelo sequestrador de meninos estar indo preso preenchia seus corações.

Já Finney e Robin ainda estavam com a adrenalina correndo a mil. Um dia que era para ter sido calmo e divertido acabou se tornando o mais tenso e marcante que viveram. No entanto estavam seguros, estavam vivos e estavam juntos. Isso era o que importava.

Nenhum dos dois estava pensando o bastante para notar que estavam abraçados ali na traseira da ambulância enquanto os paramédicos os examinavam para ter certeza de que não estavam seriamente machucados. E de fato não estavam, mas foram informados que sentiriam dor pela manhã. Naquele dia eles não chegaram a conversar, ainda estavam em choque demais. 

O pai de Finney foi buscá-lo junto de Gwen e a garota reconheceu imediatamente a van preta com balões pretos caindo para fora, já a tinha visto em seus sonhos e essas palavras saíram de sua boca antes que pudesse se controlar, então se afastou do pai com medo estampado em seu rosto.

Mas diferente do que esperava quando olhou para ele não viu raiva ou repreensão, viu tristeza e pesar. Ela já havia visto esses sentimentos no rosto de seu pai, mas nunca com aquela intensidade, nunca olhando diretamente para ela.

Ele segurou seu braço com tanta delicadeza que mal dava para sentir as peles roçando e a puxou para perto de Finney, desfazendo não intencionalmente o abraço dele com Robin para envolve-lo em um abraço em família. Então se afastou e encarou cada filho nos olhos por um momento longo e muito significativo antes de começar a falar.

— Me desculpa... Me desculpa, me desculpa. Por tudo. — ele falava tentando segurar o choro sem sucesso. — Eu... Eu podia ter te perdido pra um maníaco hoje, mas sei que estou te perdendo um pouco toda vez que sou um pai de bosta pra você. Pra vocês dois. As coisas vão ser diferentes agora. Eu vou mudar, eu... Eu vou ser o pai que vocês merecem ter. Eu amo vocês. Amo mais do que tudo no mundo.

Finney e Gwen se deixaram ser abraçados de novo, porém não disseram nada. Ambos queriam acreditar naquelas palavras, mas não conseguiam por já ter ouvido desculpas furadas antes. No entanto, alguma coisa parecia diferente daquela vez, então mesmo sem crer os dois, pela primeira vez em muito tempo, sentiram esperança.

Robin sorriu de canto observando aquela cena e torcendo para as coisas melhorarem de verdade dessa vez. Depois ficou ali esperando sua mãe chegar para buscá-lo, o que não foi tão depois dos Blake irem embora.

O resto do fim de semana pareceu passar rápido e ao mesmo tempo devagar.

O pai de Finney não só passou o domingo todo sem beber como pegou cada garrafa de bebida que tinha em casa desde cerveja a vodca e jogou na pia, depois saiu de casa e voltou contando para os filhos que tinha se inscrito na Associação de Alcoólicos Anônimos. Havia mesmo esperança daquela vez, então se não fosse seu corpo todo dolorido o dia de Finney teria sido ótimo.

Enquanto isso Robin pediu a sua mãe para comprar roupas novas porque todas as suas eram parecidas com as que usou durante o ataque e ele não estava lá muito empolgado para relembrar esse momento ainda que tudo tivesse acabado bem.

A mulher não era tão endinheirada a ponto de poder comprar roupas quando quisesse, mas foi compreensiva pelo filho ter passado uma situação traumática e usou um pouco de sua reserva de emergência para comprar duas camisas e uma calça nova para Robin. Era o que podia no momento e isso já o deixou bem feliz.

Então chegou a segunda-feira, dia de ir para a escola e seguir a vida como se nada tivesse acontecido, embora houvesse algo permanentemente diferente dentro dos dois garotos.

Os primeiros tempos correram normais e quando chegou o intervalo ambos decidiram ir ao banheiro por imaginar que encontrariam um ao outro lá.

Finney quis dizer “oi” assim que viu o melhor amigo, mas ele estava tão bonito com uma calça jeans vermelha e uma camisa branca de mangas cumpridas um pouco mais folgada que as regatas que costumava usar que sua voz travou na garganta.

— E aí, maninho. Como você está? — Robin então falou primeiro, sorrindo sem graça e coçando a nuca, seu cabelo estava como sempre mesmo a bandana não combinando nada com o resto da roupa.

— Bem... Eu acho. Meu pai entrou pro AA. — Finney contou, se recuperando da falta súbita de traquejo social.

— Jura? — Robin sorriu mais ainda.

— É. Tecnicamente a primeira reunião dele é só na quinta, mas ele foi lá se informar de tudo e jogou todas as biritas dele na pia. — Finney acabou sorrindo junto ao pensar naquilo.

— Fico feliz, maninho. — eram palavras muito genuínas.

— É, eu também. — disse antes de perguntar. — Mas e você? Como está?

— Eu to bem. Acordei com dor ontem e hoje, fora isso tá tudo certo. — respondeu em um tom mais baixo, porém voltou ao normal logo em seguida. — Foi sinistro, mas to feliz que a gente tirou aquele hijo de puta das ruas.

— Concordo. Com as duas partes. — Finney riu, fazendo-o rir também.

— Maninho, eu... Posso te perguntar uma coisa? — tanto a voz quanto o olhar de Robin ficaram ao mesmo tempo mais sérios e mais tímidos.

— Pode, claro.

— Porque você fez aquilo? Sabe... Ir pra cima do cara.

Finney bufou um sorriso e desviou os olhos, mais encabulado por não saber a resposta do que ofendido por ter sido questionado. — Que tipo de pergunta é essa?

— É que... Você podia ter se escondido e pegado a placa da van, olhado bem pro verme e dar uma descrição pra polícia. Isso é mais a sua cara. — Robin explicou seu ponto de vista da situação toda. — Ao invés disso você foi com tudo pra cima dele. O que é mais a minha cara.

— Tá, mas... Você que sempre disse que eu devia fazer esse tipo de coisa, me impor mais e tals. — fugiu da pergunta ao mesmo tempo em que também se questionava isso por dentro.

— Sim, porque eu sempre acreditei que você podia fazer. — ele replicou franzindo as sobrancelhas. — Só... Porque agora? Porque naquele momento?

— Sei lá, cara. Acho que foi só a adrenalina. — respondeu ainda sem conseguir encarar o melhor amigo.

— Não mente pra mim. Eu sei muito bem quando você tá mentindo. — repreendeu com aquela cara de marrento que costumava fazer para garotos encrenqueiros.

— Eu não to mentindo. — Finney disse muito baixo, encolhendo os ombros e dando um passo para trás.

— Tá sim. Eu já te vi ser perseguido e apanhar um monte de vezes e você quer que eu acredite que a sua adrenalina só despertou agora? — Robin respondeu em tom de deboche.

— É diferente. — murmurou se encolhendo ainda mais.

— Por quê?

— Porque é.

Robin perdeu a paciência e segurou o melhor amigo pelos ombros. — Olha pra mim! Por que é diferente, Finn?

E olhando nos olhos de Robin, Finney finalmente entendeu e soube qual era a resposta, que escapou de sua boca quase alto o bastante para ser um grito. — Porque eu não tenho medo da dor tanto quanto eu tive medo de te perder! Toda a dor no mundo não é nada comparado a um mundo sem você.

Robin ficou em choque por alguns segundos, depois aproveitou que já estava com as mãos nos ombros de Finney e o puxou para um beijo. Ambos mergulharam em um êxtase tão bom que não se comparava a nada que já tivessem sentido antes, seus corpos formigavam como se quisessem se fundir um ao outro e parecia que havia milhares de estrelas explodindo por trás de suas pálpebras fechadas.

Mas a ficha do que estava fazendo caiu na mente de Robin e ele se afastou assustado, sem saber o que seu amigo estava pensado ou como iria reagir.

Mierda. — ralhou consigo mesmo. — Finn, eu... Me desculpa.

Finney também levou um segundo para processar tudo, mas esse único segundo já foi o bastante para ter certeza de que também queria aquilo, então sorriu e disse.

— Espero que esteja se desculpando por ter parado. Porque essa a única razão que você tem pra se desculpar.

— Não. Brinca. Comigo. — Robin pediu devagar, sentindo as mãos trêmulas e centenas de borboletas revirando seu estômago.

Finney colocou as mãos na cintura do outro garoto e o empurrou para o canto da parede. — Vamos ver se eu to brincando.

Então o beijou com vontade, movendo os lábios macios sobre os dele como se o mundo fosse acabar antes daquele beijo e precisasse aproveitar ao máximo. E, obviamente, foi muito bem retribuído pelo mexicano que envolveu os braços em sua cintura, puxando ainda mais para junto de si.

E esse teria sido um momento mágico e perfeito se não tivesse sido interrompido pelo trio de idiotas que gostavam de encher o saco de Finney entrando no banheiro. Claro que eles nem teriam sido notados, mas o babaca de cabelo preto fez questão de falar uma merda.

— Aí, esse é o banheiro dos meninos, nãos das fru... — ele se interrompeu arregalando os olhos quando Finney se afastou deixando Robin a vista, lhe dando o impulso de recuar.

— Se correr é pior. — o mexicano disse fechando a cara, deixando os três ali paralisados sem saber para onde olhar ou o que fazer. — Vocês dois podem ir.

O ruivo pálido cheio de sardas e o baixinho de black power com uma tentativa falha de bigode saíram correndo tão desesperados que quase tropeçaram um no outro tentando passar primeiro pela porta do banheiro, deixando o amigo incrédulo por ser abandonado tão fácil.

Robin então se aproximou sem pressa, agarrou a camisa vermelha do idiota com ambas as mãos e o jogou na parede, só não o erguendo porque era mais baixo que ele.

— Escuta aqui, imbecil. A palavra certa é “gay”, não “frutinha”, entendeu? — perguntou, recebendo um aceno trêmulo e apavorado como resposta. — Ótimo. Então se você falar assim de novo comigo, meu namorado ou qualquer outro garoto, eu vou arrebentar tanto a sua cara que nem a mamãezinha vai te reconhecer.

— Pera. Então a gente tá namorando? — Finney perguntou genuinamente surpreso.

Robin franziu as sobrancelhas e o encarou sem largar o idiota de cabelo preto. — Ué. Eu achei que tinha ficado implícito quando a gente se beijou.

— Não tinha, mas... Por mim tudo bem. Namorados então. — ainda que a situação fosse estranha, Finney sorriu todo bobo.

— Legal. — Robin também sorriu, porém fechou a cara outra vez para socar o idiota no estômago e dizer. — Agora vaza, otário.

— Precisava? — Finney perguntou depois que o moreno saiu cambaleando e segurando a barriga.

— Precisava, Finn. tem que aprender que nenhum soco é de graça. Eles passam uma mensagem. — explicou erguendo a mão enfaixada. — Lembre-se disso.

— Ainda tenho muito a aprender com você. — respondeu, se aproximando e dando um selinho em seu agora oficialmente namorado.

— E eu com você. Especialmente matemática. — ambos riram e então Robin retribuiu o beijo, em seguida ofereceu a mão. — Vamos almoçar?

Finney hesitou um instante imaginando o que todos iriam pensar, mas ao ver o sorriso fofo que enfeitava o rosto de Robin ele soube que nunca mais precisaria ter medo, pois aquele garoto sempre seria sua força.


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