Especial de Halloween escrita por Kaline Bogard
Notas iniciais do capítulo
E isso é tudo!
O brilho intenso irradiou por menos de dois segundos, propagando calor e praticamente cegando Aburame Shino, até se contrair e encolher, esvanecendo-se numa forma humanoide que foi se moldando até revelar-se um homem. A imagem de um homem, trêmula e um tanto transparente, quase tão alto quanto Shino. De cabelos negros presos rente à cabeça, o rosto ia coberto por uma barbicha pontiaguda.
— Ah, que problemático — resmungou coçando a nuca, enquanto se reclinava de leve para observar Kiba desmaiado no chão — Ele está bem?
Shino franziu as sobrancelhas, surpreso. Avançou um passo e também observou o rapaz sem sentidos. Kiba respirava tranquilamente, parecia mais adormecido do que outra coisa.
— Acho que sim...
— Você trouxe uma fraude pra me exorcizar? Estou surpreso — a frase foi dita para Shino, enquanto o espirito endireitava a postura.
Incomodado, Shino ajeitou o óculos no rosto:
— Pensei que ele fosse um médium forte.
— Sei... sinto muito por todos os transtornos, jovem Aburame. Mas ainda não posso ir para o outro lado.
Shino cruzou os braços, tentando digerir a situação. Ele trouxe um suposto sensitivo, na noite em que estaria mais perceptivo ao sobrenatural. Mas o cidadão não apenas mentiu, como saiu de cena e o deixou conversando com um fantasma aparentemente amigável.
Inacreditável.
— Você tem assuntos não resolvidos aqui?
O fantasma virou de costas e coçou o queixo parecendo sem jeito.
— Não é bem isso. Minha esposa deve estar lá me esperando... eu morri e a deixei com um filho pequeno. Acho que está brava até agora.
— Medo da esposa? — Shino sussurrou. Seu Clã vinha tendo problemas com assombração, a ponto de isolarem o terraço e um andar inteiro, só porque o dito cujo não queria reencontrar a mulher? E ele tinha morrido a o quê? Talvez uns cinquenta anos!
Ouvindo o murmúrio muito bem, o espirito virou-se e deu de ombros:
— Você não conhece a Temari! Reencontrá-la brava será meio... problemático.
— Problemático é você continuar aqui assustando os funcionários e causando acidentes.
— Não faço de propósito. As pessoas ficam irracionais quando o assunto é do além. Por isso se chamam “acidentes”.
— Você está preso a algum objeto desse prédio? — Shino jogou a possibilidade no ar.
— Boa tentativa — o fantasma sorriu de leve — Na verdade eu morri aqui.
Aburame Shino ergueu as sobrancelhas. Não sabia essa parte da história, destarte nunca procurou conhecer a fundo os detalhes. Ouviu de seu pai, que ouviu do pai dele. Quando herdou a empresa focou em resolver o problema (ou tentar) contratando especialistas que se mostraram uma falha atrás da outra. Sequer chegavam perto de descobrir qual era o problema! Quem diria que naquela noite de Halloween estaria ali conversando? Não nutria esperança alguma sobre o caso.
Se não fosse a galhofa de Kiba...
Nesse ponto Shino observou o rapaz desmaiado no chão.
— Ele deve ser mesmo muito forte — soou impactado.
— O quê? — o fantasma não acreditou no que ouviu.
— Kiba fez você não apenas tomar uma forma corpórea, mas vir aqui conversar comigo. Coisa que nenhum sacerdote, monge ou especialista conseguiu nessas últimas décadas.
— Bom ponto — a concordância veio rápida. Fosse Kiba um médium poderoso ou apenas o fantasma um curioso nato, o efeito era inegável. Sem a presença de Inuzuka Kiba o tête-à-tête não estaria acontecendo.
— Eu preciso resolver esse impasse e não sei como.
— Me dê mais um tempinho. Pode ser problemático pra você, mas prometo tentar não causar muitos acidentes. Só preciso me preparar mentalmente para enfrentar minha esposa...
Shino suspirou. Que opção tinha? O jeito era manter o terraço trancado mais algum tempo e desistir de vez de exorcizar aquela área do prédio. Antes que pudesse responder, luz forte brilhou outra vez, irradiando a ponto de cegá-lo. A mente foi bombardeada com uma sequência rápida de imagens que o abalaram, resumindo o que aconteceu quando o desconhecido era vivo.
Por fim ouviu um “obrigado” ecoando baixinho e no instante seguinte o brilho desapareceu levando o espirito consigo.
Apenas sumiu de vistas, claro. Shino conseguia sentir a energia fraquinha pairando por ali. Não venceu a guerra, mas considerou a batalha ganha.
O nome do espirito era Nara Shikamaru. Ele foi um dos primeiros empregados contratados para trabalhar no prédio. Certo final de tarde subiu ao terraço para fumar, mas ficou preso. A estrutura ainda tinha a proteção anti invasão feita durante a guerra. Infelizmente era inverno e uma nevasca foi anunciada. Todos foram embora depressa, com medo da tempestade que vinha e ninguém se preocupou em ir olhar o terraço. Na época, cinquenta anos atras, não havia celular. Shikamaru passou pela tempestade toda desprotegido lá no alto. No dia seguinte encontraram-no sem vida. Congelado.
— Caralho... — Kiba gemeu sofrido.
Despertava deitado num dos bancos de madeira, logo notando Shino em pé ao lado, observando-o preocupado.
— Você está bem? — o chefe indagou.
— Como se tivesse sido atropelado. Nunca senti uma energia sobrenatural tão forte, apaguei. Mas tenho certeza que resolvi o problema.
Aburame Shino quase sorriu. Quase.
— Sim, resolveu na medida do possível.
— O que aconteceu? — o rapaz ajeitou a touca de lã sobre os cabelos e fungou. Sentia frio nas orelhas, o nariz escorria.
— Quer beber alguma coisa? Eu conto o que aconteceu.
Kiba sorriu largo. A oferta era mais do que bem vinda.
— Com certeza! Um jantar será ótimo — foi dizendo enquanto se levantava e seguia para fora dali.
O outro ergueu as sobrancelhas, querendo entender quando o convite para bebida se estendeu para um jantar. Desistiu e resolveu seguir o fluxo. Lançou um último olhar para a área do terraço em guisa se despedida e também foi embora dali.
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Espero que tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever ♥