Kiba precisava de um bom motivo para não participar da festa de halloween da empresa. Era seu terceiro ano como funcionário efetivo, as duas comemorações anteriores foram bem peculiares. Mas precisava participar pelo bem de sua imagem de funcionário exemplar terrivelmente manchada no ano passado. Ainda que a postura um tanto grosseira e impulsiva lhe rendesse uma ou duas advertências verbais, nunca teve a ficha marcada com nenhuma repreensão por escrito...

Por isso, participar das festas da empresa junto aos donos não era uma boa ideia. Preferia abrir mão da bebida e comida de graça a correr riscos.

Tal decisão tinha certa influência da festa de Natal. Kiba sabia que dançar sobre a mesa vestido de Papai Noel só foi uma boa ideia na sua mente. E na de Naruto, claro. O amigo que pôs pilha e dançou de Mamãe Noel.

A questão é que Uchiha Sasuke, o gerente do setor, parecia estranhamente indulgente com a falta de noção de Naruto, bondade que não se estendia a Kiba…

Em resumo, melhor prevenir do que remediar. O show como Mamãe e Papai Noel rendia piadas sobre a duplinha até os dias de hoje.

Com a firme decisão em mente, o rapaz chegou no departamento de Estratégias, responsável por organizar vários dos eventos extra, trajando uma armadura de humildade que não lhe era característica e pediu licença para entrar.

— Bom dia — cumprimentou Sakura, que parecia estar ocupada, quase soterrada por uma pilha de papéis. A expressão em seu rosto não era das melhores.

— Bom dia — a resposta veio seca — O que aconteceu?

— Sakura, sinto muito. Mas não vou poder participar da festa hoje à noite.

Sakura ficou em silêncio por um instante. Quando ia perguntar o motivo para tal ausência, TenTen colocou o rosto no vão da porta que Kiba deixou aberta e informou:

— Naruto tá doente e foi embora. Mandou avisar que não vai à festa...

— Outro?! — Sakura irritou-se — Avisar assim em cima da hora é um transtorno! Já compramos tudo da festa, alugamos as mesas, reservamos o salão... pois diga pro traste do Naruto apresentar o atestado médico se não quiser ter desconto no pagamento.

— Hai, hai — a outra concordou antes de ir embora.

Por fim, Sakura virou-se para Kiba, o humor ruim ficando ainda pior. O rapaz suou frio. Ele ia usar a desculpa de estar passando mal.

— Por que você não vai participar da festa, Kiba?

— Eu... talvez...

Esforçou-se para pensar em uma desculpa plausível. Não tinha como pedir atestado médico, pois não estava sentindo-se mal de verdade. Ele só não queria vir pra evitar passar vergonha ou sofrer com alguma festa chata. Preferia ficar em casa, assistir à partida de basquete do Konoha’s Angels.  Sem Naruto por perto o risco era menor, conquanto existisse. Bebida era um combustível poderoso para derrubar filtros e incentivar falta de noção.

— Você...?

— Eu... — ser adulto era terrível. Pelo jeito teria que comparecer na festa. Quando era criança era tão bom, podia sair por aí pedindo doces, fantasiado de monstrinho e... a solução surgiu brilhante em sua mente: — Vejo fantasmas!

A lembrança da infância trouxe uma súbita inspiração e Kiba achou ter encontrado a desculpa perfeita.

— Você o quê, Kiba?

— Ah, eu vejo fantasmas, sabe? No dia do Halloween é uma coisa horrorosa, Sakura. Odeio sair de casa...

— Você vê fantasmas? — a jovem estreitou os olhos — Desde quando, cara de cachorro?

— Desde sempre, ué. Essa é uma das habilidades do Clã Inuzuka, não sabia? — Kiba olhava para vários pontos aleatórios na sala, evitando contato visual com a outra.

— Não. Primeira vez que ouço falar.

— Vou ter que fazer resguardo. Muita gente, fantasmas e halloween não combinam! — ele achou ter criado a desculpa perfeita! Era um gênio.

— Excelente — uma voz soou antes que qualquer um dos dois continuasse o assunto. Ao olhar para a porta, notaram Aburame Shino, um dos donos da empresa parado sob o batente.

— Excelente? — Haruno Sakura franziu as sobrancelhas.

— Excelente...? — Kiba repetiu, confuso.

— Não precisa ir à festa essa noite, Kiba. Ao invés disso venha aqui para a empresa às onze horas. Tenho uma tarefa importante e você pode me ajudar a resolver.

Kiba engoliu em seco, na certeza de que acabou se complicando ainda mais. Deveria ter ficado quieto e aceitado as coisas do jeito que elas estavam.

— Tudo bem — concordou no tom de voz de quem recebe a sentença de morte.

Que tarefa seria aquela, que precisava ser realizada às onze horas da noite e com ajuda?!

A resposta era algo que logo iria descobrir...