Uma Era De Ordem E Honra escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 8
7. Quando não se pode mudar a situação, deve-se aceitar e fazer o melhor, mas nunca sozinho.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807475/chapter/8

Elizabeth nunca teve uma noite mais estranha e decepcionante na sua vida do que a sua noite de núpcias. Ela foi levada ao leito conjugal por damas, todas falando da estrita importância de consumar o casamento, ela foi despida quase que na frente de todas elas, apenas não foi por causa da sua condição secreta. Foi muito vergonhoso, extremamente vergonhoso. E como se já não bastasse isso, quando ela e Alfred foram deixados sozinhos, não aconteceu nada.

Isso ela já esperava. Elizabeth não se sentia pronta para ter novamente uma intimidade daquelas com Alfred, e nem mesmo ele parecia pronto. Havia também o bebê, sua mãe havia dito que poderia prejudicar o bebê, Elizabeth não acreditava muito nisso, mas ela iria seguir o conselho.

No final, eles dois apenas conversaram alguns minutos, sobre coisas sem importância. Alfred perguntou sobre o bebê, beijou o rosto dela, e depois de algum tempo eles dormiram. Elizabeth poderia não esperar muito, mas ela esperava mais.

E também nada aconteceu depois, as outras noites foram quase que iguais as primeiras. Elizabeth apenas não sabia se Alfred não queria deixar ela sozinha, ou era apenas o senso de dever dele.

Mas em compensação os dias de Elizabeth eram quase melhores, quase porque ela estava entediada de não fazer nada. A marquesa os disse que oficialmente eles estavam no Castelo de Ocenia, para aproveitar uma semana de núpcias. Mas eles continuavam em Kensington, e não deveriam sair do palácio, para nada, e muito menos receber visitas, algo que fez um mal significativo para os dois.

Isso significava que Elizabeth apenas poderia passear pelos jardins, pelo palácio e conversar apenas com os Tudor-Habsburg e as damas de companhia da marquesa e das duas princesas. Era uma vida quase que chata.

A alegria maior de Elizabeth era que Alfred e sua família voltaram a ser pessoas agradáveis de conversar. Anne e Amélia voltaram a conversar a tratar Elizabeth sem qualquer pressão e de forma mais natural. Elizabeth agradecia por isso. Embora isso não significasse a falta total de um ar de superioridade.

  — Então o Sr. Caltens nos mostrou Vênus pelo telescópio, eu fiquei encantada por esse planeta, ele então nos explicou mais sobre Vênus, e todos os outros planetas.— Embora elas fossem pessoas agradáveis de conversar, Elizabeth não se sentia muito bem quando elas falavam sobre esse tipo de coisa, como Amélia estava falando no momento.— Foi lindo Elizabeth, você sabia que Vênus é o planeta de...

  — Amélia, por favor! Está se tornando cansativo. E Elizabeth não se importa com Vênus.— Anne também estava com elas, mas como sempre ela não parecia prestar muita atenção ao que Amélia dizia, parecia até mesmo cansanda.

  — Ela está ouvindo, é melhor do que falar com você que parece saber de tudo.— Isso significava então que Amélia achava que ela não sabia de nada? Elizabeth achou isso ofensivo, mas a jovem princesa estava tão animada que nem mesmo percebeu a irritação dela.— Mas voltando a Vênus, você já ouviu falar do trânsito de Vênus, Elizabeth?

A irritação de Elizabeth apenas cresceu. Essas perguntas eram desconcertantes, desagradáveis. Elizabeth não tinha vergonha alguma de dizer que não era inteligente, mas isso era uma tortura. Mas pelo menos dessa vez ela tinha alguém para lhe ajudar.

No mesmo momento em que Amélia fez a pergunta, Henry entrou na Sala Azul.

  — Não faça perguntas que Elizabeth não sabia responder, Amélia.— Elizabeth deu um sorriso grato a Henry que foi retribuído por um piscar de olho. Henry era o favorito de Elizabeth, ele era o único que não mostrava saber muito, o Tudor-Habsburg que Elizabeth sentia que era mais igual a ela. Um inglês, não um austríaco alemão como os outros.— Fracamente vocês, sempre tentando mostrar que sabem muito.

  — Você fala isso porque não é muito inteligente, Henry.— Foi Anne que respondeu, falando com uma grande altivez e se levantando do sofá.

 — E você porque se acha muito inteligente.— Henry respondeu da mesma forma, com um sorriso provocador no rosto. Anne deu de costas e deu de ombros, enquanto ia a uma prateleira de livros.— Tenha cuidado, o seu ego pode explodir com tanto conhecimento.

Anne agora se virou, com uma falsa impressão de inocência.

  — Ego? Eu não tenho ego.— Mas a resposta de Henry foi um sorriso presunçoso, parecia que Anne não gostava dos sorrisos do irmão.— Tenho poder.

  — E como saber a distância entre a Terra e Vênus pode trazer poder?— Henry perguntou zombando. Agora Anne ficou irritada e foi em direção a Henry, bater de frente.

  — Use um argumento melhor, era Amélia que estava falando sobre isso com Elizabeth. Mas se é assim, saiba que...

Elizabeth deveria fazer algo, intervir? Algo nela dizia que não era necessário. Um sorriso divertido logo começou a aparecer no rosto de Elizabeth. Era tão interessante como essa família poderia ser barulhenta e nada composta longe dos olhares de todos. Amélia percebeu o sorriso de Elizabeth:

  — Não se preocupe, eles não levam tudo isso a sério. É apenas brincadeira.— Como era então quando eles estavam brigando de verdade?— Mas voltando ao assunto de antes, vai acontecer daqui a alguns anos o trânsito de Vênus, e...

Novamente Elizabeth foi salva do trânsito de Vênus, mas agora foi por Lady Richmond, que ao entrar na sala acabou até com a discussão de Henry e Anne.

  — Minha princesa.— Lady Richmond teria que ser mais especifica, todas as três olharam para ela, e por um momento a viscondessa travou.— Minha princesa Anne.

  — Sim, Lady Richmond, pode falar.— Anne falou voltando para o sofá, enquanto Henry pegou as cartas de piquet e apontou a Amélia.— E nos perdoe pelo modo como nos encontrou.

A viscondessa de Richmond assentiu.

  — O médico chegou para ver a marquesa. E o príncipe Alfred está com ela.— Os olhos de Elizabeth se arregalaram, a marquesa estava tão doente assim?

  — Eu agradeço pela milady nos informar.

A viscondessa fez uma mesura e saiu. Elizabeth estava horrorizada.

  — Vocês não vão ver como a marquesa está?

 — Se for algo grave Alfred nos dirá.- Isso foi um pouco cruel da parte de Anne, e ela percebeu.— Não me olhe assim! Estamos preocupados também!

  — Quem você acha que chamou o médico, as damas de mamãe?— Amélia falou mais atrás jogando com Henry.— Elas apenas obedecem, nunca agem por iniciativa própria.

Mas Elizabeth estava preocupada, e muito diferente deles, ela não sabia de nada. A marquesa estava doente a tanto tempo. Ela não iria esperar sentada. Então Elizabeth se levantou e saiu da sala, pronta para ver a marquesa.

  — Creio que o ar frio possa estar prolongando o seu resfriado, minha senhora.

 — Mas foi o senhor que me recomendou o ar frio. Havia tido que é bom para a saúde.— Ainda do lado de fora, Elizabeth ouviu a voz do Dr. Nornand e a fria e baixa voz da marquesa.

  — Eu creio que enganei-me, minha senhora.— Quando Elizabeth entrou ela pôde ver como a marquesa realmente não parecia bem, ela estava tão pálida e parecia muito fraca. Mas Elizabeth também chamou a atenção do médico.— Ah, Sua Alteza Sereníssima, quanto tempo está aí?

  — A marquesa doutor, ela é sua paciente, não a princesa.— Alfred estava em pé um pouco mais afastado. Irritado, preocupado e impaciente.

  — Bem.— O Dr. Normand se levantou da cama.— Parece apenas um resfriado, um forte.

 — O senhor já viu os lenços com sangue?— Até Elizabeth estava achando isso amedrontador. Alfred caminhou para a frente do médico, que não chegava em seus ombros e o olhou fixamente.— Um resfriado não faz isso!

  — Como eu disse, parece um resfriado forte, não posso fazer muito.— O médico saiu de perto de Alfred e pegou suas coisas.— A marquesa deve continuar a descansar e beber os preparos.-

Depois disso ele saiu, Alfred olhou para Elizabeth e deu um suspiro, como a chamando para ajudar. Mas que situação.

*****

Sua mãe estava doente, acamada e claramente com algo que não era um resfriado, mas segundo o médico era apenas um resfriado. Alfred não sabia o que pensar, como pensar, mas o Dr. Nornand era o médico não ele. A Alfred apenas cabia mostrar seu descontentamento.

  — Mamãe, não acho que o Dr. Nornand saiba o que está falando. Não é apenas um resfriado.— Alfred segurou isso por muito tempo, mas ele soltou assim que sentou ao lado da mãe.

  — Alfred, o Dr. Nornand é médico a mais de trinta anos, me serve a quase dez, e tem um bisneto, ele é um velho.— A marquesa falou tanto inconformada como conciliatória

  — Mas não podemos fazer nada.

 — Mas, minha marquesa, e se for algo grave?— Elizabeth estava preocupada como Alfred, ao pé da cama.— Pode fazer muito mal.

Sua mãe apenas suspirou cansada, era um alívio que ela pelo menos não agia como se estivesse doente, ou pelo menos tentava, os lenços continuavam bem perto dela.

  — Vamos acreditar que não é algo grave, vamos acreditar que é apenas um resfriado.— Até que um pequeno pesar surgiu no rosto dela.— Ser for algo sério, isso será revelado, se eu tiver que morrer, o que dificilmente vai acontecer, morrerei, meu túmulo e minha efígie de mármore já estão prontas a anos.

Alfred não gostava desses comentários, ele odiava esse pensamento, embora ele soubesse que esse dia iria chegar, Alfred não desejava que fosse logo, sua mãe era jovem, bonita e sempre muito saudável, ela não poderia morrer.

  — Mamãe, por favor...— A marquesa levantou a mão fazendo ele se calar.

  — Não leve tão a sério, Alfred, tenho saudades de seu pai, mas não a esse ponto. Ficarei bem... eu espero.— Era um sentimento mútuo.— Mas até lá, peço que você cuide dos assuntos de Niedersieg, e das propriedades também, elas ficaram muuti negligenciadas.

E Alfred também sabia que esse dia iria chegar um dia, mas ele sempre esperou que fosse muito depois, quando ele tivesse 21 anos e fosse declarado maior de idade, alguém mais jovem que isso não poderia tomar conta de assuntos de Estado.

Alfred de qualquer forma se considerava preparado, mas não pronto.

  — Farei isso mamãe, não irei deixar nada de ruim acontecer, mas eu não tenho idade para governar sozinho, sem a senhora.

  — Há sempre algo preparado para esses momentos, foi pensado no possibilidade de eu ficar incapacitada, então foi preparado um conselho para agir no meu lugar e em meu nome.— Nesse momentos Alfred poderia ver pessoalmente como o aparato do governo funcionava, e como até mesmo o pequeno Niedersieg era muito bem organizado.— Na minha caixa de joias prateada há um documento e lá os membros desse conselho. Mande chama-los, há também espaço se você desejar acrescentar mais.

O documento em questão estava bem no fundo da caixa, Alfred se perguntava como mãe poderia o colocar lá, mas isso também poderia explicar o tipo de lugar onde ela escondia outros documentos importantes, sempre em um lugar inusitado ou onde ninguém iria desejar procurar.

  — Mamãe, a senhora vai ficar bem?

 — Não estarei sozinha, Alfred, estarei com minhas damas de companhia, e com Elizabeth.— Com Elizabeth? O rosto dela ficou branco com essa declaração, até mesmo Alfred tinha conhecimento de que ela tinha quase que medo de sua mãe. E a marquesa sabia disso.— Não é mesmo, Elizabeth?

  — Se é do desejo de minha senhora, vou aqui permanecer.— Obedientemente Elizabeth aceitou, e muito assustada ele sentou ao lado da marquesa. Alfred a iria compensar depois.— Agora vá Alfred. Niedersieg não vai se governar só.

Alfred por um momento fitou Elizabeth, ele era muito grato pela ajuda dela, pelo esforço dela, os Tudor-Habsburg não estavam sendo bons com ela, mas Elizabeth estava sendo com eles. Elizabeth percebeu que ele a olhava e retribuiu o olhar sorrindo, um sorriso de conforto e encorajamento. Mas havia os deveres, e Alfred saiu.

Ele então mandou chamar os lords do documento, e enquanto esperava tentou encontrar seus irmãos, para lhes informar sobre sua mãe, mas Alfred encontrou apenas Henry.

  — E onde está Anne e Amélia?— Na Sala Azul, Henry organizava o piquet

  — No jardim, para a aula de botânica. O que me lembra que também temos essa aula, que Deus nos ajude a suportar o Sr. Carley.— Alfred as vezes se perguntava se Henry fazia isso apenas por diversão ou ele era realmente um idiota. Mas os olhos de Alfred não saiam do piquet, era isso que Henry chamava de organizar?— Como está mamãe?

O modo como Henry sempre mudava de expressão e tom, o lembrava que era diversão.

  — Ruim, mas não o suficiente para deixar de ser mamãe. O médico disse que é apenas um resfriado.

  — Não parecia apenas um resfriado.— Henry falou igualmente revoltado, ao mesmo tempo que ele continuava a mexer nas cartas, era prazeroso a ele fazer isso?

  — Realmente, mas não podemos fazer nada, ele é o médico.

Talvez eles devessem mudar de médico depois disso, e recomendar ao Dr. Nornand uma aposentadoria muito boa, na Irlanda, bem longe deles, mas não tão longe da Grã-Bretanha.

  — Vou visitar ela depois de praticar tiro com arco, também vou aproveitar e falar com Anne e Amélia. Você não quer vir também Alfred?— Como se apenas agora ele tivesse percebido, Henry inclinou a cabeça ao olhar Alfred.— Você parece muito sério.

A resposta de Alfred foi apenas dar o documento que estava em suas mãos para Henry ler, isso o iria dar uma resposta, mas apenas no caso de Henry tentar se fingir de desentendido, Alfred acrescentou algo:

  — Creio que vou ter hoje minha primeira experiência de governo.— E Alfred ainda conseguiu tomar as cartas, e as arrumou enquanto o irmão lia.

A primeira reação de Henry ao acabar de ler foi rir, como se fosse engraçado, uma grande piada. Isso irritou Alfred que tomou o papel do irmão.

  — Mamãe é tão autocrática. O que ela fez tem nome, acho que é nepotismo.

 — Sim, mas em que lugar não há nepotismo?— Alfred pegou também o documento e saiu, ele esperava que os lords já tivessem chegado.

  — Boa sorte! E se você se cansar deles, sabe onde me encontrar!— Henry ainda ria zombeteiro. Alfred não iria dar importância, era ele não Henry.

Alfred foi então para uma das salas de Estado, não para o escritório, ele não era usado a mais de vinte anos, e provavelmente estava cheio de poeira, o que não faria bem a Alfred.

Enquanto Alfred, esperava e olhava os documentos de Niedersieg, seus pensamentos estavam no que Henry havia dito, ele não estava errado, os lords que sua mãe escolheu eram todos seus amigos, principalmente Berland, Rochford e Cambridge, mas eram também nove lords que poderiam ser úteis.

August Percy, o 2° conde de Berland, era experiente, ele havia viajado por toda a Europa e conhecia a arte da diplomacia; Thomas Parker, o 2° conde de Rochford, era um homem inteligente, que conhecia questões de governo e também era muito sábio; George Lancaster, o 2° visconde Cambridge, era muito rico, e tinha muito conhecimento em administração; Anthony Ashley Cooper, o 4º conde de Shaftesbury, também era experiente em liderar e em administrar, ele mesmo havia ajudado a fundar a Colônia de Geórgia; Henry Howard, o 1° visconde Ormond era um amigo da família e os servia a anos; Edmund Platage, o 1° visconde Richmond já havia servido no governo do duque de Cavendish; assim como Anthony Neville, o 1° barão Latymer; Charles Windsor, o 1° barão York e Edward Kent, o 2° conde de Kent.

Embora Kent e York não fossem grandes amigos da família, todos eram aliados dos Tudor-Habsburg e nobres confiáveis, Alfred iria confiar em sua mãe. Mas ela estando certa ou não, quando os lords chegaram, Alfred aprendeu que governar, mesmo com uma regência, não era fácil, era muito trabalhoso, os lord eram muito trabalhosos.

Mas isso era apenas um gosto do que Alfred iria ter que aguentar quando fosse marquês. Como Elizabeth estava? Teve um momento que Alfred pensou isso, logo depois ele suspirou e voltou a ouvir.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!