Uma Era De Ordem E Honra escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 23
22. Tudo deve ser feito com muita cautela, nunca tivemos condições para ter inimigos poderosos, e não será agora que teremos.




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Uma carruagem nobre com o brasão dos barões York parou em frente aos portões da Witte House, no Piccadilly. E assim ela ficou por um tempo, no caso o tempo necessário para que o lacaio descesse da carruagem e fosse chamar alguém para abrir os portões.

Enquanto o lacaio fazia todo esse processo, dentro da carruagem Elizabeth abriu levemente a cortina, deixando Witte House mais visível. Era uma casa imensa, e a fachada muito bonita. O desejo de Elizabeth não era comparar, estava muito longe disso, mas o Ives que ordenou a construção dessa residência realmente queria mostrar toda e riqueza da sua família.

O lacaio conseguiu chamar alguém, e depois de anunciar para um criado da casa quem estava na carruagem, no caso marquesa de Bristol, a baronesa York e a condessa viúva de Carlisle, a entrada dos visitantes foi permitida. E logo a carruagem passou pelos portões de ferro.

A marquesa ainda olhava a propriedade pela janela da carruagem, desde seu jardim frontal bem cuidado, até as estátuas ornamentais que enfeitavam o pátio de entrada.

  — Os Ives só podem ser loucos. Construir uma casa dessas quase em frente a Devonshire House é querer competir com o duque de Devonshire, o mais rico nobre do país.— Lady York comentou perplexa também olhando pela janela. E a carruagem parou.

  — O fato de Witte House poder rivalizar com Devonshire House apenas mostra que os Ives têm uma riqueza que rivaliza com a dos poderosos Cavendish.— Elizabeth respondeu, agora esperando que o lacaio abrisse a porta da carruagem.

  — Ou assim eles querem mostrar.— Lady Carlisle comentou sem dar muita importância.— O Castelo Howard é praticamente um palácio barroco, mas nós não temos uma casa em Londres digna de ser uma grande casa geminada.

De fato isso era uma verdade, muitos aristocratas construíam casas grandiosas em Londres ou no campo, mas na maioria das vezes eles acumulavam dívidas enormes, tendo o suficiente para manter apenas uma ou duas grandes propriedades. Mas francamente, Elizabeth muito duvidava que esse era o caso dos Ives. Embora realmente tanto Ives House quanto Wiston Hall não fossem propriedades muito chamativas.

A porta da carruagem foi enfim aberta e as damas foram então conduzidas para dentro da casa, e já na casa foram levadas para a sala de visitas, onde Lady Wiston logo as iria receber.

Talvez essa fosse a primeira vez que Elizabeth entrava em alguma parte de Witte House que não fosse os jardins ou o salão de bailes, e certamente o interior da casa não fazia feio ao salão, e muito menos ao exterior.

  — Sua Alteza Sereníssima, que honra eu tenha por recebê-la em minha casa.— Com a chegada de Lady Wiston, Elizabeth parou de olhar cada detalhe da sala, e voltou sua atenção para a baronesa, que fez uma mesura para a princesa.— E as miladys também, Lady Carlisle e Lady York.

A baronesa York se limitou a assentir, o mesmo claro não poderia ser dito da mãe de Elizabeth.

  — É sempre uma alegria estar em Witte House, milady.— Lady Wiston riu levemente da forma grandiosa como Lady Carlisle respondeu, ao mesmo tempo que apontou para os sofás.

 — Vamos sentar? Não podemos conversar e muito menos esperar a Srta. Ives em pé.— O rosto de Elizabeth quase corou de vergonha ao ouvir a baronesa. Era tão visível assim?— A senhora está aqui para ver a Srta. Ives, não é minha marquesa?

  — Eu não vou dizer que sim, pois...

— Ela infelizmente saiu, foi fazer um passeio no Hyde Park, com Robert Noel.— Com um falso sorriso no rosto Lady Wiston respondeu, ao mesmo tempo que tanto ela, como as outras damas se sentavam.— Eu devo dizer que ela nunca para.

Parecia até que Lady Wiston não estava gostando da presença da Srta. Ives. Mas se fosse mesmo isso, esse desgosto era sem sentido, pois no dia seguinte ao baile de Lady Wiston, a Srta. Hortense viajou a Cornwall, desejando um clima mais parecido com o do Caribe, e lá ela passou uma semana, voltando apenas ontem, não havia motivo para desgosto.

  — Viemos fazer uma visita a Witte House, e a milady é a senhora de Witte House.— Com um leve sorriso no rosto, Elizabeth respondeu.

  — Que agradável, mas ambas sabemos quem é a destinatária dessa visita.— Lady Wiston respondeu com um sorriso fraco, um que foi gradativamente morrendo em seu rosto.— Se minha senhora tivesse conhecimento de certas coisas sobre Hortense Ives, iria ficar no mínimo... indignada.

Balançando a cabeça negativamente a baronesa comentou. Indignada? O que a Srta. Ives poderia ter feito de tão ruim? Não! Elizabeth nem mesmo queria saber. Muito diferente das outras damas.

  — E o que seriam essas "certas coisas"?— A condessa de Carlisle perguntou com curiosidade.

 — Mamãe, por favor!— A condessa viúva simplesmente deu de ombros e voltou a olhar para a baronesa.

— Realmente, Lady Carlisle, tenha mais respeito. A Srta. Ives pode chegar a qualquer momento, afinal.— Lady York repreendeu a condessa viúva de Carlisle, ao mesmo tempo que também disse algo condenável.

Por um momento Elizabeth se arrependeu por ter feito essas escolhas, ela deveria ter trazido outras dama, talvez Beatrice. Sua mãe e Lady York apenas estavam fazendo a marquesa passar vergonha.

  — Não! De forma alguma estou afirmando que a Srta. Ives tem uma honra duvidosa, mas sim que ela não é uma nenhuma santa.— A explicação da baronesa nada fez para aplacar a curiosidade das damas.

 — Mas ninguém é perfeito, Lady Wiston.— Elizabeth sentia que ela era a única que defendia a senhorita em questão.

— Realmente, minha marquesa, ninguém alcança a perfeição. Mas uma dama dizer que vai para Cornwall, mas ao invés disso ir a Bath, isso para mim é inconsequência.— Todas as três damas arregalaram os olhos ao ouvir as duras palavras de Lady Wiston. O que a Srta. Ives fez?— E ainda devo dizer que o mais agravante é que Robert Noel estava com ela, são dois inconsequentes aventureiros.

Isso era... condenável de fato. Uma dama, por mais que fosse rica, não poderia viajar sozinha, e muito menos sozinha com o noivo. E a Srta. Ives foi para Bath, uma cidade com uma diversão muito diferente da regrada Londres, a senhorita buscava um escândalo.

  — Esse lado de Hortense Ives não nos era conhecido.— Mas apesar de seu escândalo, Elizabeth ainda não iria condenar a jovem.

 — Pois a Srta. Ives tem muitos lados, minha marquesa.— Quase que irônica a baronesa respondeu.— Se tivesse coragem eu perguntaria aos escravos dela.

Escravos? A Srta. Ives trouxe os escravos da Dominica? Isso Elizabeth francamente iria acreditar apenas vendo ela mesma. A Srta. Ives certamente tinha escravos, eles eram um sinal de riqueza nas colônias, mas os trazer para Londres? Não, isso não poderia.

  — Escravos? Hortense Ives... ela...— Elizabeth parou sua pergunta quando mordomo entrou na sala e foi até sua senhora.

Elizabeth estava começando a sentir-se desconfortável nessa conversa, era bom que a Srta. Ives chegasse logo. O mordomo falou algo baixo para Lady Wiston e depois com uma mesura foi embora.

  — Algum problema, Lady Wiston?— Curiosa a baronesa York perguntou docemente.

 — Eu creio que não, apenas a Srta. Ives chegou do seu...— Antes mesmo que a jovem baronesa pudesse acabar, Hortense Ives entrou na sala de visitas.— Pois bem, aí está ela.

— Votre Altesse Sérénissime.— Com o seu forte francês a jovem dama fez uma grande mesura a marquesa.— C'est un privilège d'avoir votre présence.

A marquesa se limitou apenas a assentir. Elizabeth nunca foi boa em francês, ela nunca realmente se importou em aprender francês no passado, a Srta. Ives dizia tantas coisas, e Elizabeth tinha que traduzir palavra por palavra na sua mente, e depois forma a frase, era bom essa jovem aprender logo a falar a boa língua inglesa.

  — És muito agradável, Srta. Ives.— Com um risinho agradável Elizabeth a comprimentou.— E como foi sua estadia em Bath?

A jovem dama ficou levemente surpresa com a pergunta, e pela marquesa saber que ela esteve em Bath. Ela rapidamente olhou para Lady Wiston, mas a baronesa simplesmente levantou de seu lugar.

  — Perdão, minha marquesa, mas terei que me retirar. Logo Louis irá acordar e ele vai estar muito agitado.— Com uma fala rápida a senhora da casa saiu da sala.

 — Bath foi merveilleux.— A Srta. Ives sentou no sofá a frente da marquesa e das duas damas.— Toda l'Angleterre é merveilleux.

 — Nossa "terra dos anglos" sempre é muito receptiva com os bons visitantes.— Lady York comentou sorrindo, fazendo a Srta. Ives também sorrir agradável. Se bem que esses "bons visitantes" eram os ricos.— Mas, eu peço perdão se for desagradável, como é na Dominica?

  — Un lugar de grands memórias.— A jovem fechou os olhos e suspirou como se tivesse muita saudade da Dominica. As três damas se entreolharam confusas, saudade?

 — Perdão se isso é ofensivo, mas e quanto aos escravos?— Se cansando de tanto rodeio, Elizabeth perguntou com um sorriso doce.

A Srta. Ives sorriu e riu.

 — Pourquoi serait-il offensant?— Porque Elizabeth imaginava que os negros libertos tinham empatia pelos escravos.— De nombreux esclaves, as vezes, fica a l'impression de que há mais Noirs que de Blancs na Dominique.

 — Mais negros do que brancos?— Elizabeth repetiu a fala da Srta. Ives, assim ela parecia uma dona de escravas falando dos cativos, mas... a Srta. Ives realmente era dona de escravos.— Ouvi dizer que a srta. trouxe... suas propriedades para Londres.

Suas propriedades, Elizabeth sentia-se tão... suja por falar assim de serem humanos, se referir a humanos como propriedades parecia tão ruim quanto chamar de escravos.

  — Oui, je ne peux pas vivre sans eux.— Não posso viver sem eles, Elizabeth sorriu com as palavras da Srta. Ives, mas logo em seguida a jovem dama riu.— Mais ne vous inquiétez pas, Madame, les punitions de mes esclaves ne sont jamais plus qu'ils ne peuvent supporter, j'essaie même de ne pas les punir, mais je ne peux pas les laisser penser que juste parce que nous avons la même couleur de peau, nous sommes les mêmes.

Hortense Ives fez o grande favor de não misturar as línguas para ser mais fácil de entender. O que ela falou era... Elizabeth iria abster-se de falar. A marquesa olhou para sua mãe, depois olhou para Lady York e sinalizou para uma delas falar algo, ela precisava de um momento para acalmar seus pensamentos.

  — E seu casamento com Robert Noel? Como está indo?— Com um ar mais alegre, Lady York perguntou docemente.

Após essa pergunta, Elizabeth também colocou um sorriso no rosto e voltou a olhar a Srta. Ives, o ser humano era tão complexo.

*****

  — Ehreschöne deseja muito! Dificilmente o condado vale esse preço.— Apesar de não ter se levantado, e nem mesmo batido na mesa, o conde de Kent falou aos gritos.

— Kent, poderia nos fazer o favor de se controlar?— Com uma voz calma Lord Rochford pediu ao conde, que a contragosto se calou.— Devemos ter confiança de que com as negociações o preço irá baixar. Ehreschöne é pequeno, minúsculo e já faz anos que é governado por Niedersieg, eles cederão.

Em seu lugar Alfred suspirou, essas reuniões com o conselho sempre pareciam a mesma coisa. Eles começavam falando de assuntos básicos e sem importância, mas a medida que o assunto ficava mais importante, as intromissão e as discussões se tornavam mais comuns.

Hoje Alfred tinha sido muito rápido em impedir discussões acaloradas sobre o rei e a Grã-Bretanha, mas ele não conseguiu ter a mesma rapidez quando o assunto chegou em Niedersieg e a compra de Ehreschöne.

 — Rochford está certo, milordes, Ehreschöne não vale muito. Mas não podemos excluir a possibilidade da elite política do condado desejar se vingar da dominação de Niedersieg.— O visconde Cambridge também deu sua opinião.— As negociações deverão ser muito cuidadosas.

  — Niedersieg deverá usar de muito bom senso ao lidar com esse assunto diplomático.— O conde de Berland comentou sério, embora ele mesmo não aprovasse essa compra.— Mas no final é o marquês que irá decidir tudo.

Lord Berland olhou para Alfred esperando uma reação dele, mas a única coisa que o marquês fez foi olhar perdido para frente.

  — Meu marquês?— O olhar de Alfred caiu no barão Hartford. O velho barão olhou preocupado para os outros lords e repetiu:— Meu marquês!?

  — Compartilho com os milordes muitas de suas preocupações, e sei como pode ser perigoso e prejudicial uma decisão errada. Mas as negociações já se iniciaram em Ehreschöne, o que for decidido lá, estará bom. Assim será melhor para todos, para mim e para Niedersieg.

A sala ficou calada por um momento, os lords ainda não haviam entendido o que foi essa demora do marquês em responder. Mas por fim o barão Laytmer falou, assim como colocou um fim da reunião. Um por um os nobres foram embora, sobrando apenas Alfred e Lord Hartford. O velho barão olhava muito preocupado para Alfred.

  — Você se cansa e estressa muito, jovem Bristol.

 — Com todas as minhas responsabilidades eu não posso deixar de ficar preocupado.— Um pouco mais seco que o normal, Alfred respondeu, mas isso não assustou o barão.

  — Não se esforce muito, Bristol. Lembre-se que rei tem muitos conselheiros, Niedersieg tem uma regência, seus irmãos não são mais sua responsabilidade, e popularidade nunca é algo estável.— O barão Hartford certamente era um homem muito sábio, e Alfred o respeitava muito por isso, mas... era difícil.

Não se preocupar mais do que era necessário era difícil, Alfred tinha tantas coisas, e dividir com Elizabeth não era o suficiente, afinal ela também tinha seus próprios problemas para resolver.

  — Irei tentar milorde, mas o rei é meu amigo, a regência envia tudo para mim, meus irmãos me preocupam muito e a falta de popularidade já fez muito mal a minha família.— Lord Hartford simplesmente balançou a cabeça ainda com uma expressão de preocupação.

No final Lord Hartford sabia como era isso, ele também já havia sido jovem e cheio de energia.

  — Falando em irmãos preciso ir ver como vai o jovem Aberavon.— Henry vivia muito bem no campo com a esposa, o filho Frederick, a pequena Amélia e uma nova criança a caminho.— Me pergunto também como estão as duas princesas.

As duas viviam bem no que era possível, Anne tinha sim suas preocupações em Strelitz, mas estava feliz com suas Christine, Elisabeth e Karoline. Já Amélia, ela estava satisfeita com sua vida, não tinha que ser o centro de uma corte, poderia gastar o seu tempo como desejasse e também tinha seu August. Todos os irmãos de Alfred estavam satisfeitos.

O barão também foi embora, e agora sozinho o marquês decidiu ir para seu escritório, onde ele poderia ficar em paz por um pouco. Porém ao chegar lá, Alfred se deparou com duas grande pilha de papeis, uma para coisas urgentes e outra para assuntos secundários.

Alfred foi em direção a segunda pilha e começo a procurar um papel em específico, a planta da propriedade que ele desejava construir em Bristol. E ele encontrou, debaixo de vários outros papéis. Era tão doloroso saber que uma coisa tão simples quanto construir uma propriedade, fosse deixada de lado por conta de estresse. Alfred ficou por um bom tempo olhando essa planta, tanto que nem mesmo percebeu Elizabeth entrar no escritório.

  — Alfred, eu não sei porque me deu na cabeça...— O marquês se assustou com a voz de Elizabeth, não era para ela chegar só mais tarde? De qualquer forma a marquesa percebeu o olhar de Alfred na planta.— O que é isso que você olha com tanta... atenção, Alfred?

  — Não é nada que você deva se preocupar, apenas planos que não deram certo.— Alfred sorriu e colocou a planta no mesmo local de antes.— Como foi a sua visita a Witte House?

A expressão no rosto de Elizabeth passou rapidamente de preocupação para desânimo, já mostrando a Alfred que não foi a melhor visita do mundo.

  — A Srta. Ives não é como eu pensava que ela fosse.— E Elizabeth pensava o que exatamente? Melhor ainda...

 — E como ela é?— Elizabeth deu de ombros e foi em direção a uma poltrona para sentar.

 — A Srta. Ives tem muitas qualidades, e ela certamente é muito gentil. Mas...— Mas? Elizabeth estava tão exasperada ao falar do assunto.— O modo como ela fala do próprio povo, Alfred. Você deveria ter ouvido, eles são uma propriedade, simplesmente negros e pretos. Ela vende, compra, castiga, como se tivesse esquecido que a própria mãe também era uma escrava!

Elizabeth soltou tudo que pensava, e quando acabou estava respirando com muita dificuldade. Alfred teria que pensar muito bem no que falaria, o ser humano era muito complicado, em todos os aspectos.

 — Infelizmente, Elizabeth. As coisas acontecem assim, nas colônias ter escravos é um sinal de riqueza. A Srta. Ives, embora seja filha de uma escrava, também aprendeu assim.

  — É uma barbaridade isso sim!— Elizabeth ainda estava muito agitada por antes. Alfred foi então até a jarra de água que estava sob uma mesa e colocou para Elizabeth.— Obrigada.

Alfred observou Elizabeth beber a água, até que ela sinalizou para ele falar.

  — Realmente, é desumano. Mas é uma desumana barbaridade que é legal, perante a lei dos homens.— Embora na Grã-Bretanha a escravidão não fosse legal, não havia lei impedindo alguém ir para as colônias e voltar com escravos.— Mas não podemos nada em relação a isso.

Elizabeth olhou para Alfred, e seu olhar se perdeu nele por um momento, ela estava pensando e fazia isso intensamente. Mesmo não desejando, Alfred fez uma leve careta ao perceber isso.

  — Será mesmo que não há nada que possamos fazer? Eu discordo, existe sim. Mas de fato, não será nem eu, e muito menos você.— Como? A careta de Alfred se transformou em uma de confusão. Elizabeth se levantou da poltrona, e começou a andar pelo escritório.— Certa vez você me disse que sua avó, a marquesa Catherine, era antiescravista, o que mudou nessa família?

  — O que aconteceu foi que vovó morreu, e mamãe tinha muitas preocupações para se importar com a escravidão.— Primeiro houve a Guerra de Maria Theresa, depois o levante de 1745, seguido pela impopularidade da família, e a Guerra dos Sete anos.— E infelizmente eu devo dizer que não quero mais essa fonte de problemas.

  — Mas eu quero!— Depois de ouvir a recusa do marido, Elizabeth se aproximou o encarando. Alfred deveria ter imaginado que isso aconteceria. Elizabeth o olhava com olhos tão suplicantes.— Se não for causar nenhum problema em nossa família, eu posso me juntar ao movimento abolicionista?

 — Você sabe que não existe um movimento abolicionista muito consistente, não sabe?— A marquesa inclinou a cabeça para o lado, mas logo em seguida assentiu.

  — Eu crio o meu próprio movimento.

Havia um brilho de determinação nos olhos de Elizabeth, Alfred não sabia, e não tentaria saber, motivo para isso tudo, mas que assim fosse.

  — Faça como bem desejar.— Elizabeth sorriu agradecida e abriu a boca para falar algo, mas Alfred sinalizou para ela ficar calada.— Apenas não chame muita atenção, nossa família nunca pôde se dar ao luxo de ter inimigos poderosos, e não será agora que teremos.

Mesmo assim o sorriso se Elizabeth não morreu, ele ficou maior. Ela pulou nos braços de Alfred e o abraçou fortemente, era ele que ganhava então. O marquês enrolou seus braços envolta da cintura de Elizabeth, era tão bom sentir o abraço o corpo dela contra o dele. Até mesmo o estresse começava a esvair-se.

  — Obrigada, Alfred. Você não sabe a alegria que você me dá.— Elizabeth se afastou e olhou para ele sorrindo.— Além do bem que faz a humanidade, é claro.

  — Mas eu imagino essa alegria, eu vejo o seu sorriso. E ele me alegra, faz-me bem.— Levando sua mão até o queixo de Elizabeth, ele o segurou na sua direção, Alfred queria deixar bem gravado na sua mente o sorriso de Elizabeth.— Como você fará?

  — Talvez uma espécie de sociedade, como o Comitê de Ajuda aos Órfãos e Pobres.— Antes mesmo de um beijo, Elizabeth se afastou de Alfred, ela estava tão animada que nem mesmo percebeu.— Irei chamar algumas de minhas amigas e conhecidas, sem falar de cavalheiros, precisamos de cavalheiros, sem eles ninguém vai nos dar importância.

Alfred não conseguiu se segurar e riu levemente de Elizabeth, ela estava realmente animada.


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