Eternidade — Um Conto da Terra-Média escrita por O Elessar


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Olá, nobre leitor. Seja bem-vindo à minha história. Espero que goste da jornada!
Antes que inicie esta leitura, entretanto, gostaria de fazer alguns avisos:

?” Não recomendo a leitura caso não tenha, ao menos, assistido à trilogia de "O Senhor dos Anéis" de Peter Jackson. Já foi difícil escrever essa história de modo a não exigir conhecimentos sobre O Silmarillion e outras obras do autor; se você não sabe nada sobre o universo, provavelmente ficará perdido.
?” Esta história não se propõe a ser mais do que um exercício de criatividade ligado à obra de J.R.R. Tolkien. Tomei algumas liberdades ao escrevê-la, mas ainda espero honrar o legado do professor. Caso seja um fã "hardcore", não se assuste!



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Esta é a lenda de dois guerreiros da Luz cujos nomes foram engolidos pelo tempo. Seus detratores, arautos da perdição, contariam sua história com ares de tragédia e barbárie; nestas linhas, no entanto, mostro-vos a verdade que se ocultou sob as brumas da maledicência, na esperança de que sua força permita que suas alcunhas ecoem pela Eternidade. 

 

*** 

 

O Leste, poucos anos antes da Guerra do Anel 

 

Nossa história se inicia em pradarias longínquas, muito longe dos reinos outrora tão familiares ao nobre leitor. Estamos a muitas léguas das muralhas de Minas Tirith, em terras onde as bandeiras de Gondor e Rohan já dizem pouco aos olhos dos homens. Esta relva jamais tocou os pés de um Hobbit; as árvores foram abandonadas pelos elfos há eras; e a Paz — tão estimada pelos corações dos ocidentais — não habita a memória nem mesmo do mais vetusto dos anciões. 

Estamos no Leste, nos domínios que caíram sob o controle do Senhor do Escuro antes mesmo de sua primeira derrota sob as lâminas da Última Aliança. Trata-se de um lugar amaldiçoado pela perfídia de seus senhores, cuja traição maculou as forças da Luz ainda durante o reinado de Morgoth — o demônio que inspirou a vilania de Sauron. Seus verões são cálidos como as chamas que ardem sobre seus campos; seus invernos são frios como os corações de seus reis. O solo é infecundo, dando origem a plantações mirradas e escassas; cavalos magros trotam sobre suas planícies. Talvez por isto os homens destas terras jamais tomem morada duradoura, vagando eternamente sobre suas montarias em busca de fartura e conforto — mesmo que precisem tomá-los à força. A fome e a avareza os conduziram muitas vezes à guerra com os irmãos do Ocidente, mas os reis de Gondor sempre foram bem sucedidos em rechaçar suas investidas: embora tivessem números, os orientais eram primitivos, por vezes bestiais — é dito que sua inteligência foi eivada pela perversão de suas almas, resumindo suas tecnologias à herança de seus antepassados. 

Sobre estas planícies castigadas, duas figuras cavalgam devagar, cobertas por mantos azuis como o mar. Um desses homens é mais alto, e tanto seu cabelo quanto sua barba descem à altura do peito, tão cinzentos quanto sua montaria; o outro é menor, e sua barba mais curta, embora completamente branca. Este segundo parece um tanto mais velho, muito franzino e cansado, o peso de seu corpo repousando de forma grave sobre o pescoço do animal — como se o fardo de muitos anos estéreis fosse carregado em sua nuca. 

O sol se põe, tingindo de vermelho os doentes campos amarelados. A brisa suave levanta a poeira do incêndio que houve há pouco, forçando o mais baixo a tossir. Seus olhos cansados e azuis contemplam as ruínas de um vilarejo, os tijolos ainda fumegantes — os cadáveres ainda quentes. 

— É uma trágica ironia que isto se passe ao berço dos primogênitos — afirma o mago mais alto, com voz firme. — Que o Oeste tenha abrigado os primeiros passos da vida, apenas para padecer sob as sombras da morte... 

O menor grunhe, tossindo mais um pouco. 

— Pensa entreter-me ao dizer obviedades, Pallando? — Seu tom é impaciente e ranzinza. — Não finja que teus olhos não contemplam estas mesmas paisagens há milênios. 

Pallando não se volta para o interlocutor, seu semblante ainda impassível. Os dois seguem lado a lado, fitando o horizonte com desinteresse. 

— As Eras passam, mas eu ainda tento animá-lo. Espíritos menos ranzinzas estariam lisonjeados. 

— Como queres que me anime? Olhe em volta... recordar os dias em que estas terras abrigaram os Primeiros Homens não é mais que uma lembrança amarga quando se pode contemplar o que este lugar se tornou, e mesmo isso já esvanece. 

— Não me diga que está pensando em desistir da missão, velho amigo — contesta. 

— Pareço um covarde a você? — rebate o mago menor, seu chapéu azul bambeando sobre os cabelos escassos, o tom de sua voz aumentando. — Que eu jamais desista não significa que estou imune às desilusões e ao desapontamento. Não me diga que te alegras ao pregar para ouvidos moucos... sorri ao ver os homens, tão amados pelo Um, chafurdando na lama de suas perversões? 

— Nunca. Mas espero que enfrente as provações com bravura e entusiasmo. Peço que ria, que oferte a si mesmo algum deleite, e que não permita que teu espírito se torne amargo e cruel. — Suas palavras são intensas, mas seu semblante é caridoso. — Olórin certamente encontra ocasião para festejar, mesmo que sua missão exija muito de seu corpo. 

O menor permanece em silêncio por algum tempo, apertando as tranças de seu cavalo com impaciência. 

— Olórin caminha entre hobbits, homens bondosos e elfos que lhe são gratos. A missão que me acompanha não abre espaço para isto... pregar entre estes selvagens eiva o humor e contamina o espírito. Mesmo o grande Curumo não suportou acompanhar-nos e retornou ao Oeste, não estou certo? 

— Ele tinha seu próprio destino, Alatar. — Pallando soa impaciente. — Você tem o seu. Compreenda que quero apenas ajudá-lo a cumprir este fado. 

Alatar, o mago menor, continua a cavalgar. Seu silêncio parece encerrar o colóquio por alguns minutos. Ele só abre os lábios quando a dupla derrota o planalto que singrava, podendo enfim contemplar as distantes colinas que abrigam mais uma cidade. 

— Eu compreendo e sei que a razão o acompanha, meu amigo — afirma, sua voz rouca soando grave e um tanto afetada enquanto seu olhar permanece distante. — Mas a companhia de teu espírito fugaz não é suficiente para que eu não amargue a solidão. 

A figura de Pallando esvanece conforme sua existência se desfaz. O falecido corpo do mago, embora poderoso, jamais seria capaz de derrotar a morte.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado!
Antes que vá embora, algumas observações:
?” Olórin é o nome original do Mago que você deve conhecer como Gandalf.
?” Curumo, por sua vez, é o tal do Saruman. Tenho motivos para utilizar tais nomenclaturas, o que deve ficar claro àqueles que forem mais estudados nas obras de Tolkien.
?” "O Um" é uma referência a Eru Ilúvatar.
?” Sinta-se livre para comentar com elogios, críticas ou observações. Só tente ser bem-educado!



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