Feiticeira Escarlate encontra The Boys escrita por MarcosFLuder


Capítulo 8
A dimensão espelhada


Notas iniciais do capítulo

Postado o capítulo 8. Creio que já posso dizer que estamos chegando na metade da fanfic. Este é um capítulo com várias referências a diversos momentos da Wanda no MCU, desde a sua primeira aparição na cena pós-créditos de Capitão América e o Soldado Invernal, passando pelos filmes seguintes, até Vingadores Ultimato. Teremos também referência a acontecimentos da terceira temporada de The Boys. Enfim, espero que a história continue agradando a quem estiver lendo.



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— De onde saiu isso? – a voz de Bruto demonstrando o quanto estava abalado com o que via.



— Acabou de ser postado – é Hughie quem responde – alguém de dentro do laboratório gravou enquanto estava on-line. Acabou de acontecer.



— Pessoal – Francês está olhando para outro vídeo – as coisas lá fora estão ficando ainda mais agitadas – todos saem da van, para se depararem com uma multidão enlouquecida.



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Maria se voluntariou para estar naquela praça assim que a escala foi anunciada. Não era uma atitude comum. A maioria dos policiais evitam, sempre que é possível, participar de operações como essas. A possibilidade é sempre grande, de resultarem em situações imprevisíveis. No entanto, ela queria estar lá. Maria sentia-se em dívida com a mulher que todos chamavam de Feiticeira Escarlate agora. Para a jovem policial, no entanto, ela era apenas Wanda. Era uma mulher jogada num mundo desconhecido, contra a própria vontade, segundo seu próprio relato.

Nos últimos dias, Maria viu e ouviu todo mundo dando a sua opinião sobre essa mulher, pessoas que nunca a viram, mas especulavam sobre suas intenções, até mesmo sua origem. Para a jovem policial, contudo, era a mulher que salvou um grande número de pessoas, incluindo ela própria, de morrerem horrivelmente numa explosão. Era a mesma mulher que dispendeu parte de suas forças, enquanto lutava contra o dito maior super-herói do mundo, para proteger quem nada tinha a ver com aquela luta. Muitas pessoas somente saíram vivas do confronto no hospital por conta dessa decisão. Maria queria realmente ajudar aquela mulher, embora não soubesse como.

Os pensamentos dela para Wanda tiveram de ser deixados de lado. Por algum motivo a multidão começou a enlouquecer, com os dois grupos opostos ficando ainda mais agitados e agressivos. Foi só quando um colega policial mostrou as imagens em seu celular que ela compreendeu a razão. Maria ficou chocada com o que viu, ao mesmo tempo em que notou as mesmas imagens sendo compartilhadas por qualquer um com celular na mão. Todos os policiais presentes tiveram que se desdobrar para que não houvesse um conflito generalizado entre os dois grupos de manifestantes. As evidências de que algo extraordinário tinha acontecido dentro do prédio da Vought ficaram ainda mais fortes quando alarmes soaram. Foi com grande assombro que todos viram as saídas do prédio sendo trancadas por pesadas portas de metal, o mesmo acontecendo nas janelas.

Pouco mais de um minuto se passou e barulhos abafados podiam ser ouvidos de dentro do prédio. Não dava para saber o que eram, mas os primeiros relatos no Twitter informaram que tudo o que era superfície espelhada dentro da Vought estava sendo destruída por um incontrolável Capitão Pátria. O pânico dentro tornando-se generalizado. Do lado de fora, a multidão, antes dividida em dois grupos, tornou-se um único corpo gerador de caos. Um grande número de pessoas, de ambos os grupos agora se misturavam, todas querendo entrar na Vought. Seguindo as ordens de seus oficiais superiores, Maria e os demais policiais formaram uma barreira em torno do prédio, tentando ao máximo conter a multidão. Foram quase quinze minutos de tensão, contendo o que era agora uma turba meio sem propósito, prendendo os mais exaltados. Uma tensão que aumentou ainda mais quando chegaram vários veículos militares, com soldados saindo deles.

A multidão foi parcialmente dispersa pelos militares. Bombas de efeito moral foram jogadas de maneira indiscriminada e mesmo Maria e seus colegas da polícia tiveram que lidar com os efeitos delas. Os militares assumiram uma posição, cercando o prédio da Vought. A multidão recuou, mas se manteve nas proximidades. Maria viu quando um oficial militar veio até o seu comandante para conversar. Mesmo de longe era possível perceber a tensão entre os dois homens. Depois de uma breve discussão, o comandante de Maria deu novas ordens, com ela e os demais policiais tendo que se afastar para dar lugar aos militares na frente do prédio. Ninguém ficou feliz com isso, mas a ordem foi obedecida. Maria e os demais policiais assumiram uma nova posição, como uma primeira linha para manter a multidão afastada do prédio da Vought.



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— Agora mesmo é que não vamos conseguir entrar nesse prédio – Bruto e os demais estavam no meio da multidão agora.



— Eu não tinha a menor ideia de que esse tipo de dispositivo de segurança estava instalado no prédio da Vought – Annie evitava ao máximo ser reconhecida, usando um sobretudo com capuz, máscara e óculos escuros.



— O Twitter está enlouquecido pessoal – Hughie afirmou, enquanto Francês e Kimiko estavam voltados para seus respectivos celulares – tem fotos e relatos do Capitão Pátria destruindo toda e qualquer superfície espelhada dentro da Vought.



— O desgraçado está tentando encurralar a mulher, para onde quer que ela tenha ido – Bruto afirma – é difícil acreditar que eu vi aquilo.



— Eu ainda continuo não acreditando – é Leitinho quem fala agora. Ele se volta para Annie – tem certeza de que isso não é um truque de publicidade?



— Se for é o mais desastroso que a Vought já promoveu – Annie responde. Ela olha para um Bruto mais afastado, falando no celular, e vai até ele – você está falando com a tal da Malory?



— Tudo bem, eu falo com os outros – ele desliga o celular. Os demais do grupo já estavam em volta também – a Malory disse que pode arranjar um local seguro e até uma nova identidade para ela.



— Isso não vai adiantar de nada se ela já tiver escapado, sabe lá para onde – Hughie pretendia falar mais, até que reparou em Kimiko, fazendo gestos desesperados para Francês.



— Mon Die – ele grita, mas com sua voz já abafada pelos gritos da própria multidão. Todos os demais olham na mesma direção e ficam igualmente chocados com o que estavam vendo.



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— Computador! – é o Capitão Pátria quem grita – coloque todo o prédio em Lockdown



— Pelo amor de deus, Capitão – Ashley grita desesperada – isso vai ser um desastre de relações públicas para a Vought.



O Capitão Pátria ignora o que a CEO da empresa diz e começa a destruir toda a superfície espelhada que vê. As pessoas presentes se jogam no chão apavoradas. Depois que não sobra mais nenhuma superfície espelhada no laboratório, o Capitão Pátria sai. As pessoas no chão ainda ficam um bom tempo na posição em que se encontram, antes de se levantar. Enquanto isso, o homem que se considera o mais poderoso do mundo, continua destruindo superfícies espelhadas por todo o prédio da Vought. Ele faz isso por alguns minutos até parar, ordenando à equipe de segurança que continue o seu trabalho; uma ordem que ele dá de sua forma mais intimidadora. É respirando com dificuldade que chega aos seus aposentos. Ao ver o seu próprio reflexo no espelho, se prepara para destruir este também.



“O que pensa que está fazendo, amigão?” – o Capitão Pátria vê a imagem dele mesmo no espelho perguntando.



— Ela não pode voltar – é um apavorado Capitão Pátria quem responde – ela fugiu por um espelho, não pode voltar por outro. É melhor que ela fique, onde quer que tenha ido.



“Qual é o seu problema?” “Para de ser um frouxo. Não somos frouxos”



— Você não viu o que eu vi – a imagem do terror estava estampada no rosto dele – ela sumiu para dentro de um espelho.



“Pare de se comportar como um bebê chorão. Não é de admirar que nosso próprio pai tenha te rejeitado”.



— Não fale dele – agora era raiva que estampava o rosto dele – o desgraçado tentou me matar, matar o próprio neto.



“O Ryan, o nosso Ryan” – a figura no espelho sorria ao dizer isso - “Com a ajuda dele nós acabaremos com aquela vadia escarlate” – o Capitão Pátria também sorri ao ouvir isso de si mesmo. A atenção dele é desviada quando ouve o som de uma ligação.



— É melhor que seja importante, Ashley



— O senhor precisa ver o que está acontecendo lá fora – havia um quê de terror na voz dela que só ele parecia capaz de provocar. A tela da TV é ligada e todo o terror que sentiu no laboratório volta a tomar conta dele outra vez.



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A dor, seja física ou emocional, sempre esteve presente na vida de Wanda Maximoff. O medo e a raiva também. A bomba que destruiu o seu lar de infância, matou seus pais, deixando-a e o irmão sozinhos no mundo, foi o seu primeiro momento de dor e medo na vida. Os dias terríveis que os dois passaram sobre os escombros do prédio onde viviam, o medo da bomba explodir enquanto esperavam o resgate. Muitos outros dias assim vieram depois. Os anos horríveis no orfanato, o medo e a raiva que sentia por não poder revidar os abusos que ela e o irmão sofriam. As terríveis experiências feitas pela Hidra, vendo cada um dos que estavam com eles morrendo. O medo que ela sentiu, mais pelo destino do irmão do que seu. Wanda não estava presente quando Pietro morreu, mas ela sentiu a dor no mesmo instante, e junto a essa dor também veio a raiva. O breve interlúdio com os Vingadores, e depois com o Visão, não foram capazes de apagar toda a dor, medo e raiva que foram acumulados desde a infância.

E veio então a Batalha de Wakanda, a terrível escolha que teve de fazer. E no final foi uma escolha inútil. Ela matou o homem que amava para nada. Apenas para ser obliterada da existência, junto com metade do universo. O pior de tudo foi voltar 5 anos depois e descobrir que o homem que se ofereceu em sacrifício para salvar todos, teve como recompensa ser tratado como um maquinário descartável. No funeral de Stark ela buscou informações sobre o destino do corpo do Visão, mas ninguém soube informar. Clint foi o único que se importou de fato, graças aos seus contatos ela descobriu o que aconteceu. O ódio que ela sentiu pelos Vingadores que ficaram, por terem permitido que o Visão tivesse aquele destino indigno, foi imenso. Foi a muito custo, principalmente em consideração a Clint, que se conteve.

Nada daquilo foi justo, nem para ela, menos ainda para o Visão. Foi esse inconformismo que a fez criar Westview, ainda que não fosse algo intencional e premeditado. Viver aquela vida idealizada foi o que lhe restou, no meio do desespero em que se encontrava. Maior ainda foi a surpresa ao se descobrir grávida numa realidade que até então não conseguia entender como se formou. A dor do parto transformada em alegria, por poder segurar aquelas criaturas tão pequenas. A dor que sentiu ao ter de abrir mão de tudo, da família que criou, pois sabia que nada daquilo poderia continuar. De que adianta alguém como Stephen dizer que não eram reais? A felicidade que sentiu enquanto convivia com o Visão e os filhos eram bem reais para ela. Da mesma forma, muito real foi a dor que sentiu, ao ter de abrir mão deles.

Wanda conhecia a dor e o medo. Ela sente tudo isso agora, enquanto caminha pela dimensão espelhada, tentando encontrar a saída daquele lugar. A caminhada é difícil, agonizante, excruciante. Wanda não entende o porquê dessa dimensão ser sempre uma câmara de tortura para ela. Como da outra vez, sente seu corpo sendo rasgado, sua pele como que atravessada por adagas de vidro e seu sangue escorrendo por toda a parte. Ela sabia que precisava tentar isso, que não podia permanecer naquela prisão. Wanda tinha consciência de que seus poderes estavam sendo afetados nesse mundo onde fora jogada. No Kamar Taj, quando caiu na armadilha de Stephen, também foi difícil escapar da dimensão espelhada. Foi sangrento e doloroso. Ela saiu de lá cheia de ódio. A dor foi intensa, seu corpo estava cheio de cortes e sangramentos, mas ela se curou rápido. Não houve medo. As coisas estão diferentes dessa vez.

O tempo que passou estudando o Darkhold encheu Wanda de confiança nas suas habilidades, na sua capacidade de superar qualquer obstáculo. No entanto, desde que foi jogada nesse mundo, sente algo que desconhecia desde então. Ela começou a sentir medo. Era o que estava sentindo agora, junto com toda a dor. A ex-Vingadora estava com medo de ter dado um passo maior do que a perna, com medo de ter sido ousada demais. Wanda sente crescer nela, o temor de não conseguir escapar dessa vez. A ex-Vingadora fecha os olhos e tenta se concentrar, tenta encontrar um ponto de referência, uma forma de voltar, mas não para a prisão onde estava. Ela precisava encontrar um lugar de onde pudesse escapar. No entanto, aquele era um mundo estranho para ela, não havia ninguém que conhecesse, com quem pudesse se conectar.



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Maria Alvarado não imaginava que enfrentaria duas situações limites num intervalo tão pequeno de tempo. Ela e seus colegas policiais estava tendo uma enorme dificuldade em controlar a multidão, agora toda misturada, desde fãs do Capitão Pátria até os que protestavam contra ele. Muitos ali seguravam faixas pedindo a liberdade da Feiticeira Escarlate. Numa das faixas estava escrito o nome estranho que Wanda citou no hospital, antes daquela voz apavorante ser ouvida por todos. Pouco mais de 50 metros adiante, bem na frente do prédio da Vought, as forças militares permaneciam paradas, apenas observando a polícia tendo que conter a multidão.

O silêncio se deu de repente, com os gritos de protesto se encerando. Como estavam de frente para a multidão, tanto Maria como seus colegas não entenderam quando muitas pessoas pegaram seus celulares e apontaram adiante, para além deles. Mais estranho ainda foram as expressões nos rostos das pessoas, parecendo uma mistura de pavor e admiração. Foi então que alguns policiais começaram a gritar também. Maria ainda estava de frente para a multidão quando ouviu os passos marcados dos militares que estavam em frente ao prédio da Vought. Ela foi um dos últimos a se virar, para ver algo que nunca imaginou ser possível ver antes.



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A dimensão espelhada estava ligada ao mundo onde Wanda fora jogada contra a sua vontade. A ligação foi estabelecida assim que a ex-Vingadora fez o feitiço. Ela se concentrou com todas as suas forças, ignorando a dor e o medo, a fraqueza que já se insinuava com a perda do sangue. Sua mente se concentrou no mundo de onde tinha acabado de escapar. Wanda precisava de algo que servisse de referência, mas tudo que veio à sua mente foi a mulher com quem conversou no hospital, que a socorreu e ficou do seu lado, enquanto estava inconsciente. A mulher que mesmo sem poderes, tentou protegê-la do Capitão Pátria. Aos poucos o medo se foi, embora a dor ainda fosse intensa. Na mente daquela que é conhecida como Feiticeira Escarlate, as imagens começam a se formar. Ela vê um grande tumulto, um espaço aberto em frente ao prédio da Vought. A figura de uma mulher em uniforme de polícia aparece, e Wanda se permite sorrir. Esse sorriso se alarga mais quando ela vê uma superfície espelhada a alguns metros de Maria. Era tudo o que Wanda precisava.

A dor que sentiu foi tão intensa quanto da vez anterior, no Kamar Taj. Wanda atravessou a superfície espelhada com muita dificuldade. Embora muito focada em escapar, ela podia ouvir os gritos em volta. Sua visão ainda estava meio turva, ainda assim, percebeu que estava do lado de fora do prédio da Vought. A ex-Vingadora saiu da superfície espelhada de uma placa de publicidade, para logo se ver cercada por todos os lados. Alguns flashs distantes indicavam a ação de celulares sobre ela. A mulher conhecida como Feiticeira Escarlate olhou o seu entorno e viu uma tropa de militares, tendo um homem de uniforme coberto de medalhas por trás de todos. Uma olhada para o outro lado a fez vislumbrar a figura de Maria vindo em sua direção, enquanto seus colegas tentavam manter a multidão contida.



— Wanda, Wanda – a voz de Maria tinha um tom tranquilizador – está tudo bem, nós só queremos te ajudar. Vai ficar tudo bem.



— Fale por você, policial – a voz do homem de uniforme cheio de medalhas se faz ouvir. Tanto Wanda quanto Maria se voltam para ele, mas é a jovem policial que toma a inciativa de falar.



— Está tudo bem General – Maria tenta contemporizar – me deixe falar com ela.



— Afaste-se já dela, policial – o homem faz um gesto e suas tropas imediatamente apontam suas armas para Wanda – mãos para cima e fique de joelhos, bruxa.



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— Computador, suspenda o estado de lockdown do prédio – o Capitão Pátria grita, mas nada acontece. Ele liga para Ashley – por que o prédio ainda está em lockdown se eu dei a ordem para o computador suspender tudo?



— É uma situação excepcional, Capitão – a voz de Ashley ainda mantém o tom assustado – vai levar alguns minutos para o computador suspender o lockdown



— Merda – o grito do Capitão Pátria soa como uma britadeira nos ouvidos de Ashley.



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— O que o cretino desse general está fazendo? – Leitinho observa a multidão protestando contra os militares – ele vai acabar provocando uma tragédia.



— Aquela policial que está se colocando entre a Feiticeira Escarlate e os militares – é Hughie a observar o fato – creio que ela estava no hospital também.



— O que acha, loirinha? – Bruto se dirige à Annie – talvez seja hora de voltar a ser super-heroína outra vez?



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— Por favor, general, isso não é necessário – Maria tenta ao máximo contemporizar com o militar.



— Não vou repetir de novo, policial, trate de se afastar – o homem se volta para Wanda – e quanto a você, bruxa, vou dizer pela última vez, mãos para cima e fique de joelhos. Faça isso imediatamente ou meus homens tem ordens de atirar, em 3, 2, 1.


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Notas finais do capítulo

Capítulo postado como prometido. Domingo que vem teremos o capítulo 9. Aguardem.