Feiticeira Escarlate encontra The Boys escrita por MarcosFLuder


Capítulo 6
O jogo de Chthon


Notas iniciais do capítulo

Acabei de chegar em casa agora a pouco, vindo da seção eleitoral. Ainda fiz compras depois. Por isso mesmo que atrasei um pouco a postagem da fanfic. Mas aqui estou. Esse é um capítulo com referências, tanto ao MCU como à terceira temporada da série de TV The Boys. Para terminar, quem ler já vai notando a mudança da capa. Foi um oferecimento muito generoso de uma criatura abençoada que se apresenta como MirtleGirl. Espero que quem está lendo continue gostando da história.



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CIDADE DE NOVA YORK

WANDA MAXIMOFF NO MUNDO DE THE BOYS

DIA 3

SEDE DA VOUGHT



Wanda ainda permanecia naquela situação em que não sabia se estava sonhando ou alucinando. Seu corpo permanecia inerte, ainda que sua consciência permanecesse alerta ao que acontecia em seu entorno. Era capaz de sentir as mãos que extraiam dela sangue e fluídos, podia ouvir breves murmúrios, palavras soltas e movimentos em torno de si. Sabia que estava sendo examinada, observada e estudada. Sua inércia física não se aplicava ao que sentia em seu inconsciente. Imagens continuavam surgindo, mas ela não conseguia distingui-las. Podiam ser lembranças ou puras alucinações, talvez parte de algum sonho. Wanda lutava para voltar a consciência, queria deixar aquele lugar, qual fosse. seu desejo era voltar ao mundo real, mesmo aquele em que foi jogada contra a sua vontade. Ela precisava se concentrar, relaxar a sua mente. Era necessário usar tudo o que aprendeu, todo o poder que descobriu em si.

Aos poucos sua mente se acalma. À medida que o tempo passa, as imagens ganham contornos mais nítidos. A sensação de desorientação vai lentamente se dissipando. Algo que parece uma luz surge à sua frente, talvez um caminho de saída. A sensação de estar flutuando é substituída por ela agora em pé. Nesse momento, é uma escuridão que toma conta do seu entorno. Ao menos é um ambiente palpável, onde caminha com cuidado, mas de maneira decidida. A luz à sua frente ainda é a referência, e Wanda trata de ir em sua direção. Enquanto caminha, essa mesma luz ganha em dimensão, até envolvê-la inteiramente. Menos de um minuto se passa e a luz vai se dissipando. O ambiente que se revela não é conhecido, ao contrário da figura que está parada agora diante dela.



— Como está se sentindo, Wanda? – a figura de Chthon, ainda emulando a aparência do Visão, olha para ela com uma expressão no rosto que Wanda não consegue definir muito bem.



— Onde nós estamos? Que lugar é esse?



— Não é o mundo para onde te enviei, menos ainda a minha dimensão de exílio – ele responde para Wanda – é um lugar especial, entre o sonho, a imaginação, o delírio e a alucinação. Um lugar que pouquíssimos seres em qualquer universo seriam capazes de alcançar – ele sorri para ela, com Wanda notando até mesmo um traço de orgulho nele – mas eu sabia que você conseguiria alcançar esse lugar.



— Por que você fez isso? Por que me mandou para aquele mundo? – ela não chega a gritar, mas a irritação em sua voz é visível – tudo isso porque eu não quis fazer a sua vontade?



— Você insiste em me rebaixar, Wanda – ele retruca, embora não aja nenhum sinal de irritação em sua voz – primeiro me apresenta àqueles mortais estúpidos como um reles demônio, e agora acha que eu me comportaria como um amante contrariado. Eu estou muito acima disso, minha cara.



— Então por quê?



— Meus motivos se revelarão com o tempo, Wanda. Em verdade, eu confio que você mesma será capaz de entender as minhas razões sem que eu precise enunciá-las – ele tenta uma aproximação, mas para ao vê-la assumir uma posição de ataque – Oh Wanda, quando você perceberá que nada tem a temer comigo? Em verdade, você deveria mesmo era se preocupar com aqueles humanos estúpidos do mundo para onde te mandei. Eles sim é que aproveitariam qualquer chance para abusar de você.



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A doutora Harris liga o gravador, enquanto segue monitorando Wanda. “Gravação número 10. verificando as condições neurológicas da paciente. Ela permanece inconsciente, embora tenhamos detectado sinais de grande atividade cerebral em nossos aparelhos. Por insistência do Capitão Pátria, foram feitos muitos exames para determinar possíveis fraquezas da paciente. Após todos os exames feitos nela, nada detectamos que pudesse explicar os seus poderes, uma vez que ela não possui o Composto-V em seu organismo. Sua fisiologia é perfeitamente humana, nada indicando origem alienígena”. A doutora Harris desliga a gravação, pois é interrompida por um de seus assistentes.



— O que foi, Patrick?



— Estão chamando a senhora no último andar, doutora – Patrick é um homem de estatura média e que desperta a desconfiança da cientista. Ela não gosta da ideia de deixar uma paciente inconsciente a sós com ele, mas também não quer correr o risco de desagradar seus chefes, principalmente o Capitão Pátria. Ela sai da sala de imediato.



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SEDE DOS THE BOYS



— Desligue a droga dessa TV – Bruto se dirige a Francês, enquanto mantém sua arma apontada para Victória Neuman – temos coisa mais importante com que nos preocupar aqui.



— Eu vim aqui oferecer uma aliança – Victoria mantém suas mãos levantadas – nós temos um inimigo comum, vocês não percebem isso?



— Você tinha algum tipo de acordo com Stan Edgar e o traiu – Annie demonstrava uma grande indignação em sua voz – agora tem um acordo com o Capitão Pátria e quer traí-lo também. Isso parece um padrão para mim, Victória.



— O Capitão Pátria está planejando um golpe de Estado – a informação é jogada sem cuidado, mas tem o impacto pretendido. As armas são abaixadas, e Victoria sente-se segura para abaixar suas mãos também.



— Você se baseia em que, para jogar essa bomba nas nossas mãos? – é Leitinho quem pergunta.



— Ele tem feito sondagens com pessoas no exército, entre grandes magnatas e na comunidade de inteligência – Victoria deixa extravasar uma preocupação que vem acumulando a um bom tempo – por sua vez, cada entrevista que ele dá é uma preparação, um chamado aos seus seguidores. Cada opinião que ele emite, sobre a situação econômica do país, sobre nossos inimigos externos, tudo soa como alguém se preparando para assumir o controle de tudo – ela viu Kimiko fazendo sinais em sua direção e olhou em volta, buscando ajuda para entender o que ela queria dizer. Foi Francês quem falou.



— Ela está perguntando por que o governo não age contra o Capitão Pátria, se ele está planejando derrubá-lo? – um ligeiro sorriso surge no rosto de Victoria.



— Por favor, entrar em guerra com ele é algo que deixa aqueles velhos enrugados no Pentágono quase a ponto de mijar nas calças – ela responde – ele sozinho é praticamente um exército, sem falar no apoio que teria junto a boa parte da população. A Guerra de Secessão ia parecer uma briga num jardim de infância.



— Poderiam usar o Soldier Boy para tirar os poderes dele – a voz de Bruto tinha um ar meio sarcástico.



— Pelo amor de deus, Bruto – Leitinho quase grita com seu companheiro de armas – sai dessa.



— No quadro atual, é mais provável que o Soldier Boy fizesse um acordo com o Capitão Pátria – é Hughie quem fala agora – o que já é ruim iria piorar ainda mais.



— Você tem razão, Hughie – Victoria se dirige a seu antigo colaborador – só que agora tem um novo jogador na área, ou melhor, uma nova jogadora.



— Já tem dois dias que ela está nas mãos da Vought – Bruto se dirige a Victoria – talvez ela nem mesmo esteja mais viva.



— Ela está viva sim, eu garanto – Victoria retruca de imediato.



— Como você pode ter certeza? – é a vez de Annie perguntar. Victoria responde com um sorriso.



— Porque eu tenho um espião na Vought.



SEDE DA VOUGHT



A doutora Harris tem vivido dias muito estressantes. Ela pensa nisso enquanto se encaminha para os aposentos particulares do Capitão Pátria, esperando ter mais gente quando chegar lá. A ideia de ficar sozinha com aquele homem lhe causa uma mistura de náusea com arrepios de pavor. Tudo nele exala ameaça, intimidação e medo. O tom de voz, o olhar, o sorriso maníaco. Todo dia, vindo para o trabalho, ela pensa se este não deveria ser o seu último dia na Vought. A coragem para sair, contudo, sempre se perde, assim que atravessa os portões de vidro da empresa. Nos último dias, a curiosidade científica também contribui para mantê-la presa. Estudar o corpo da mulher no laboratório, tentar entender a sua fonte de poder, se tornou muito excitante para ela como cientista. A batida na porta se dá com a vã esperança de não ter ninguém, mas a voz do Capitão Pátria indica que ela pode entrar.



— Justamente quem faltava – a voz e o sorriso estavam lá, assim como a sensação de perigo que exalava de tudo isso. Para seu alívio, havia mais pessoas no lugar – acabei de informar a todos os presentes que a nossa garota irá ficar conosco. Nada do governo vir tirá-la de nós.



— Isso é um alívio, Capitão – havia uma certa sinceridade na doutora Harris em dizer isso – ainda tem tanta coisa a descobrir sobre ela.



— Uma coisa que eu certamente quero descobrir é sobre possíveis fraquezas dela – ele se aproxima da doutora Harris, que faz o seu melhor para manter uma postura tranquila – você sabe... se ela resiste a altas temperaturas, baixas temperaturas, fogo... coisas assim.



— A pele dela não ofereceu qualquer resistência para extração de sangue e fluídos – a doutora Harris disse. Ela então reparou numa tela junto à janela, com uma imagem que chamou a sua atenção – o senhor pode monitorar o laboratório daqui?



— É claro que posso – responde o Capitão Pátria – eu quero saber tudo o que vocês fazem com ela, em tempo real.



— O que aquele idiota está fazendo? – a doutora Harris quase grita. O tom indignado de sua voz chamando a atenção de todos – eu sabia que não podia confiar naquele cretino.



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— Não temos razão para confiar em você, Victoria – o tom de voz de Annie é firme e resoluto – você quer que a ajudemos a acabar com o Capitão Pátria, mas e depois disso?



— O que você quer dizer com “e depois?”



— O que a Annie quer dizer é que você irá nos trair, do mesmo jeito que fez com outros antes de nós – Hughie demonstra um certo temor em sua voz, mas se mantém firme também.



— Por favor, Hughie – Victoria sorri para ele – esse tipo de desconfiança eu também tenho o direito de ter a respeito de vocês. E mesmo assim, aqui estou eu, oferecendo essa aliança contra um inimigo comum.



— Nós quase acabamos com o Capitão Pátria antes, e sem a sua ajuda – Bruto faz questão de invadir o espaço pessoal de Victoria – podemos fazer isso de novo.



— Com a ajuda da tal Feiticeira Escarlate, como tentaram antes com o Soldier Boy? – Victoria não se intimida com o avanço de Bruto, dirigindo a ele um sorriso de desafio – vocês nunca chegarão até ela sem a minha ajuda.



— Nunca é uma palavra muito forte, Deputada – Leitinho tem um tom de voz calmo ao falar – é verdade que com a sua ajuda isso ficaria muito mais fácil, mas a falta dela não irá nos impedir.



— Olhem, eu estou correndo um risco muito grande só de fazer esse contato com vocês – a expressão no rosto de Victoria ganha um tom diferente – se o Capitão Pátria souber, a primeira a morrer será a minha filha. Pensem bem sobre o que eu disse, pois de agora em diante eu só poderei manter contato com o Hughie – ela diz isso e vai embora.



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— Tudo isso porque eu o chamei de demônio na frente de outras pessoas? – Wanda procura afetar um certo sarcasmo ao falar.



— Você realmente me ofende, Wanda, ao me tratar como um amante rejeitado e ofendido – a voz de Chthon é tranquila, mas seu olhar deixa claro o que ele realmente sente – demônios são criaturas inferiores, meros servidores de quem está muito acima deles. Mais uma vez você mostra o quanto ainda está apegada às tolas superstições humanas, suas tolas noções maniqueístas. Eu sou um deus, Wanda. Um deus cruel sem dúvida, mas ainda sou melhor que a maioria dos deuses espalhados pelo universo. Depois de tanto tempo, a maioria deles nem cruéis e nem benevolentes são. Tornaram-se apenas indiferentes.



— Você não vai me dizer o porquê de ter me jogado naquele mundo, não é mesmo?



— Eu confio que você mesmo irá descobrir, Wanda – ele volta a sorrir para ela – do mesmo jeito que confiei que você seria capaz de chegar a esse plano. Agora que você conseguiu isso, poderemos nos comunicar melhor. Espero que em nosso próximo encontro você já possa me dizer o que descobriu – ele começa a desaparecer no ar.



— Espere, espere – Wanda começa a gritar – como eu volto a acordar? – a voz dele é ouvida por Wanda.

“Eu confio que você será capaz de conseguir isso sozinha, Wanda – a cada segundo a voz dele vai diminuindo, como que se diluindo no ar – aliás, é bom você conseguir logo, seu corpo está numa situação muito vulnerável”.



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Patrick Baker sempre teve um fetiche por mulheres em posição de vulnerabilidade. Um fetiche que ele jamais deixou de querer satisfazer. Se até hoje conseguiu escapar ileso de suas transgressões, isso se deu contando com a sorte, e com o tipo de mundo onde homens como ele sempre contam com uma certa rede de proteção. No caso de Patrick, se trata de um pai muito influente, mas que olha para ele com uma mistura de nojo e decepção. Foi esse pai influente que lhe arranjou esse trabalho na Vought, mas deixando claro ao filho que este não contará mais com sua proteção. Por conta disso, Patrick tem sido obrigado a conter seus apetites desde então.

Seu pai lhe arranjou esse emprego na Vought como uma forma de forçá-lo a escapar de tentações que poderia sofrer em outros ambientes, mas tudo se perdeu nos últimos dias. Desde que a mulher de vermelho foi trazida inconsciente pelo Capitão Pátria, ele vive o descontrole de emoções a tanto tempo reprimidas. Patrick não consegue evitar o desejo envolvendo-o numa onda. Ver a mulher deitada na mesa, tão exposta e vulnerável, é irresistível para ele. Sua mão treme ao tocar-lhe o colo delicado. O contato com a pele nua o deixa inebriado. O seu desejo é por mais contato, mas aos poucos sente também a pele da sua mão que toca em Wanda formigar. Poucos segundos se passam e a mesma pele começa a arder. Logo Patrick tenta, sem sucesso, se desvencilhar da mulher deitada na mesa. A sensação agora é como se sua mão estivesse tocando em ferro incandescente.



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Wanda foi deixada sozinha por Chthon e tudo que lhe restava era descobrir como voltar ao mundo da consciência, retomar o controle sobre seu corpo, acordar finalmente. Esse mundo em que foi jogada ainda é cheio de mistérios para ela. Algo nele parece inibir os seus poderes. Wanda sente isso a cada vez que os usa, para isso sendo necessário um dispêndio de energia que jamais precisou antes. É o que sente nesse momento, onde cada tentativa de retorno é um esforço demasiado para ela. Esse mistério que envolve o mundo onde fora jogada preocupa Wanda, quase tanto quanto o que ela fará para retornar ao seu mundo.

A ex-Vingadora deixa esses pensamentos de lado, enquanto se prepara para mais uma vez retomar a sua consciência. Por muito tempo seus poderes sempre lhe pareceram como se o dado da sorte finalmente caísse a seu favor. Entre tantos que foram submetidos às experiências da Hidra, somente ela e o irmão sobreviveram. Durante muito tempo ela acreditou que foram essas experiências que ativaram os seus poderes. Foi preciso uma Agatha Harkness e meses de leitura do Darkhold, para que ela finalmente percebesse a sua herança mágica, um poder que sempre esteve dentro dela. Aprender isso não foi nada fácil para Wanda. Aceitar-se como a Feiticeira Escarlate, abraçar tudo de bom e de ruim que veio junto, teve, tem e certamente terá um preço.

Esses encontros com Chthon, por sua vez, apenas serviram para acrescentar um peso a mais em tudo isso. Se o que ele falou se concretizar, significa que Wanda terá uma longa caminhada à sua frente, uma que tenderá a ser cada vez mais solitária. O pensamento em Chthon é deixado de lado. Ela continua se esforçando para retomar sua consciência. A sensação é de que horas já se passaram. Ainda assim, Wanda permanece na mesma posição de meditação. Calma e paciência é o que a ex-Vingadora precisa, tudo para que ela finalmente encontre um ponto de referência, um guia para que possa acordar de vez. De repente, uma estranha sensação toma conta dela, um incômodo, uma sensação de violação. Sua mente se concentra e o que ela consegue perceber à sua volta a deixa enojada. A sensação de ser violada é terrível, algo que só chegou a sentir durante os experimentos da Hidra. Um ódio cresce dentro dela. Wanda sente um desejo que queima a partir de si mesma, um calor intenso que gostaria de espalhar pelo seu entorno, queimando tudo ao redor.



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A sensação de que seu mundo estava em chamas toma conta de Patrick. A dor é algo que nunca sentira antes. Ele grita desesperado, enquanto lágrimas caem sob seu rosto. Em desespero, continua tentando se soltar da mulher que agredia a menos de um minuto atrás, mas não consegue. Alguns gritos distantes são ouvidos por ele, mas os olhos inundados de lágrimas deixam sua visão desfocada. No entanto, Patrick é capaz de sentir algo pouco abaixo de seus ombros, uma sensação de corte seguido dele caindo no chão. Patrick se encontra em estado de choque agora, o que não o impede de ver um de seus braços no chão, pouco a frente dele, o mesmo braço que estava tocando a mulher na mesa. Essa mesma mulher que ele vê agora, devidamente acordada, lançando sobre ele um olhar de puro ódio.


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Notas finais do capítulo

Capítulo 6 postado como prometido. No próximo domingo teremos o capítulo 7. Aguardem.