Stone escrita por Cas Hunt


Capítulo 1
Túmulo


Notas iniciais do capítulo

Não tenho ideia se alguém vai acabar lendo isso, mas vinha sentindo um pouco de falta de histórias emocionantes com esses dois, então fui inventar uma. Vou gostar? ?“tima pergunta.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807249/chapter/1

Wei Wuxian tem o costume de perambular por florestas perigosamente inexploradas com vegetações densas e infinitamente passíveis de casos ofensivos à lei. E justamente agora ele tinha nas costas uma mochila que com certeza não supria o básico para fazer trilha. Um litro de energético (o qual ele definitivamente não precisava), uma garrafinha de 500ml de água, duas barrinhas de doces, uma laterna (com as pilhas quase acabando e que ele confiantemente achou que iriam durar a noite inteira), um cobertor térmico surrado que vinha apodrecendo por conta própria e Wei Wuxian não notara quando colocara na mochila e o carregador portátil do celular. Repelente contra insetos? Kit de primeiros socorros? Nem passaram pela cabela dele quando ergueu o traseiro do sofá as plenas 4 horas da tarde e decidiu desbravar a floresta amaldiçoada da cidade.

Jiang Cheng, como um bom irmão, mostrou o dedo do meio e mandou que enfiasse no cu a ideia de trilha da meia-noite. Dividindo o apartamento com Wei Wuxian os dois caíram em um costume de ignorar o quão insano o mais velho poderia ser quando a noite se aproximava. Foi uma sorte Jiang Cheng ter conseguido tirar os dois litros de vodca pura quase 90% da mochila de Wei Wuxian antes que ele saísse. E obviamente, agora que entrava a noite, o Jiang se via preocupado com o irmão. Tentava fingir que não estava, mesmo que andasse de um lado para o outro, papéis da faculdade em mãos, os olhos sendo puxados até a porta esperando o irmão voltar. Ficaria assim a noite inteira.

—Oh. — Wei Wuxian pisca, os olhos ajustando á claridade da lua transpassando pela folhagem densa — Acho que nunca vim por aqui.

Uma ideia de merda. Explorar onde nunca foi antes. Poderia ser assim para a maioria, mas o grande encrenqueiro era esperto. Mesmo sem uma bússola… Sim,  Jiang Cheng tinha motivos muito plausíveis para estar tendo três ataques cardíacos ligando para Huaisang exigindo que Minjue propusesse uma procura imediata da policia na floresta. 

Wei Wuxian sorria, sem uma gota sequer de preocupação. Gostava quando o irmão vinha junto em suas aventuras, mas também apreciava o silencio do desconhecido. Os dois se conheceram quando o Jiang estava na escola, ensino fundamental. Wei Wuxian era uma criança abandonada. Sendo extremamente inteligente facilmente conseguiu uma bolsa dentro de uma instituição particular. Esta, a mesma do filho de Jiang FengMian, o dono da Lótus Pier Inc. 

O começo dos dois foi bem ácido. Jiang Cheng se sentia enciumado pela atenção das professoras no pequeno gênio, Wei Wuxian. E este era como uma máquina de fazer amizades. Em menos de uma semana pelo menos 70% das meninas tinham apreço pelo Wuxian de cinco anos de idade enquanto os meninos o respeitavam pela habilidade nos esportes e genialidade na matemática tal como talento na pintura.

Magoado pela falta de atenção que uma criança mimada geralmente recebia, Jiang Cheng soltou algumas palavras bem duras na direção do outro. “Orfão” e “rejeitado” entre elas. Claramente magoou o outro, mas até como criança Wei Wuxian era extremamente compreensivo. Queria socar o rosto daquele mimado, contudo, se controlou para não arranjar problemas nem a sua bolsa e muito menos ao orfanato. Foi uma tristeza quando o orfanato fechou subitamente. E Wei Wuxian se tornou uma das crianças esquecidas, vivendo nas ruas.

Resumindo, Jiang FengMian o encontrou, adotou e levou para casa. O resto da história pode ser contado depois. Principalmente porque nesse momento Wei Wuxian não percebe que o terreno sobre seus pés está ficando fofo. Houve chuva na noite anterior. Nada além de um grito escapa da garganta do jovem caindo para o que pensa ser sua morte. Caso fosse alguns anos antes essa seria a probabilidade mais forte. Contudo, ervas daninhas e musgo se acumularam não apenas pelas paredes como toda a superficie do chão. Em especial o ponto onde Wei Wuxian caira.

—Eu nunca mais faço trilha! — diz erguendo o tronco subitamente após o susto —Olha isso! Quase três metros de queda? Que merda eu tinha na cabeça? Isso foi o álcool, com certeza. Se não foi o álcool então aqueles brownies do Huaisang. Aquela peste me deu brisadeiro de novo? Só pode ter sido. Eu quase morri. Meu deus.

Enquanto tagarela sozinho, Wuxian ergue o rosto para tentar achar um meio de saída. Não tem. Somente o buraco no teto por onde caiu. Suspirando, WeiWuxian solta um gemido alto de frustração. Algo no seu tornozelo vem latejando levemente.

—Jiang Cheng vai tão puto. Bom, não resta mais nada a fazer.

Ele se senta. O tornozelo não está inchado. Está totalmente virado para o lado oposto ao normal. Wei Wuxian ainda encara o membro retorcido por mais dois segundos. Mesmo se houvesse uma saída ele não conseguiria caminhar por ela. E agora? Rastejar como aqueles zumbis de The Walking Dead? O garoto enfia a mão no bolso, tirando o celular. Tira foto do pé ainda sem dor e envia por mensagem para Jiang Cheng com um “SOS” como legenda. Outra vez a sorte extrema de Wei Wuxian era que havia apenas uma única barrinha de sinal no seu celular, então os dados móveis trabalhavam desesperadamente para jogar a mensagem de Wuxian na rede.

—Hum… Alguns arranhões — avalia os próprios braços — Espero não ter nada no rosto. Acabaria me matando caso…

O garoto caiu em silêncio. Os olhos tentavam avaliar a escuridão e tinha quase certeza da presença de uma figura no espaço. Analisando melhor, percebia como as paredes eram muito bem lapidadas para serem uma construção da natureza. Semicerrando os olhos, Wei Wuxian liga a lanterna do celular gastando a bateria que deveria ser usada para buscar socorro. Direciona até os quatro cantos do cômodo. Um salão. Pequeno, mas ainda sim um salão. Há vigas em ruínas próximo de si, boa parte já nem sustentando o teto. Escadas na sua direita que levam a um posto elevado. Uma estátua, olhando para cima com um instrumento em mãos está no pedestal.

A garganta de Wuxian fica subitamente seca. É a estátua mais linda que já viu na vida. Sendo um estudante de artes o próprio já pintou corpos nus magníficos e nenhum deles chegava aos pés do que via na sua frente. Um homem, belíssimo, retratado com maestria. Havia ainda alguns traços de rachaduras na pele devido o tempo, porém a emoção transpassava no rosto estóico. De alguma forma Wei Wuxian sentia todo o sofrimento em cada uma das feições. Roupas arcaicas tomavam o corpo de ombros largos e visivelmente forte. Uma centelha ascendeu o coração de Wuxian. Ele fica sem ar, admirado.

Esquecendo totalmente o pé ferido, o garoto tenta se colocar de pé. Manca terrivelmente, mesmo com caretas, até a estátua. Parecia tão real. Alguns resquícios de musgo haviam crescido aqui e ali na superfície, porém não tirava a beleza da arte. Seus dedos se estendem até o rosto. Deus, olhando de perto até mesmo as mãos e as cordas no intrumento pareciam delicadas e fortes. Como seria possível conseguir algo assim no mármore? Wuxian afagou a superfície. Havia um certo teor de areia e umidade, porém a maciez era impressionante.

—Surreal.

O bolso de Wuxian vibra. Piscando para sair da hipnose, o garoto leva a mão até o celular. Nem havia considerado que estando um pouco mais elevado o sinal do celular melhoraria. Isso por estar tão absorto na estátua desde o momento que pôs os olhos nela. Nem precisou perguntar “quem é” antes de escutar um grito do outro lado.

—ONDE PORRA VOCÊ SE ENFIOU, WUXIAN?

—Olá, querido irmãozinho.

—Irmãozinho meu cu! Qual o caminho que pegou? Fala logo porra!

—Se você deixar eu falo.

—WUXIAN!

No fundo da chamada está um caos. Barulho de sirene, Huaisang chorando, Minjue brigando com o irmão, Jiang Cheng puto consigo e já tendo visualizado a imagem do pé torcido de Wei Wuxian. Era caótico e até certo ponto divertido ter algo assim.

—Sabe aquele caminho esquisito da trilha que a gente seguiu semana passada e você não quis passar?

—Você foi por ele.

—Exatamente.

—SEU GRANDE IM-

Wuxian desliga antes de ficar surdo. Sorrindo, nota o celular instantaneamente ser bombardeado por mensagens e vibrar outra vez. Nesta, porém, é Huaisang ligando.

—Boa noite.

—Wei-xong, pelo amor de Deus não faz isso de novo. Jiang-xong jogou o celular pela janela e tá quase espumando.

—Me dá essa merda de celular, Huaisang!

—Não, Jiang Cheng! Não joga o meu fora também! Ele foi muito caro!

—Vai a merda!

—Vocês dois, já chega! — a voz forte e vibrante de Minjue sobrepõe o caos.  —Wuxian! Você passou pela grade de segurança e foi na direção do rio ou da montanha?

—Montanha.

Ótimo.

—E caí numa vala esquisita. Parece um lugar de um culto. Se não chegarem logo posso ser feito de sacrifício.

—Vou matar esse merda!

—Vão me encontrar fácil. Depois da grade de proteção com a placa grande de PERIGO. Passando aquele carvalho enorme, sabe? Aquele que eu subi e flagrei o Wen Chao caindo de boca no Zhuliu. Pronto, alguns metros subindo a montanha. Vai ter um buraco no chão do tamanho da boca do Jiang Cheng. Eu caí nele.

O suspiro alto de Minjue veio seguido de todos os xingamentos humanamente conhecidos por Jiang Cheng. Já de costas para a estátua Wei Wuxian planeja propositalmente descer as escadas para perder o sinal do celular e ficar em paz. A dor no seu tornozelo vem aumentando gradativamente, latejante.

—Vocês vão demorar muito?

Já estamos chegando. Se segura aí, Wuxian.

Não tem muito o que eu fazer além disso, pensa. Sua mente está nublando com a dor, sem conseguir reprimir uma ou outra exclamação. Do outro lado da chamada ainda está um caos. Fazendo careta, pressiona os lábios pensando em pedir que ligassem para uma ambulancia que sua pressão estava baixando e ficando hipotérmico.

—Wei… Ying?

A voz masculina e aveludada parecia ter vindo das suas costas. Um par de arrepios percorre toda a coluna de Wei Wuxian, os olhos saltando da órbita. Assombrado pela ideia de um fantasma ou de alguém sinistramente lhe observando no escuro, o garoto vira na direção que escuta o farfalhar de roupas. Um corpo cai contra si levando o de Wuxian pelo caminho, ambos rolando as escadas e deixando para trás o celular. O caos na chamada piora ainda mais pelo súbito som do que pensam ser um ataque.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Stone" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.