Paizão escrita por WinnieCooper


Capítulo 1
Único




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— Tem certeza? - ela perguntou pela enésima vez angustiada.

— Catarina, o que é que é que daria errado? - Petruchio perguntou concentrado ajudando Clara e Júnior a colorir um desenho.

— Tantas coisas. - ela não estava convencida. Júnior não estava bem, estava com tosse e a febre poderia voltar e ela não sabia se ele daria conta de dar remédio se acaso ele precisasse.

— Mimosa e Calixto foram à igreja, vão demorar mais que o costume, pois depois decidiram ir ao cinema como dois adolescentes e Neca está viajando com o marido para o interior na casa de parentes. Não acho que seja a oportunidade perfeita para te deixar em casa com gêmeos de cinco anos de idade.

— Mas Bianca precisa d'ocê, ela acabou de ter bebê e sabe que não é fácil. Vá até a casa de sua irmã. Eu vou ficar bem.

Ela mordeu os lábios angustiada. Iria sair bem na pior hora, quando precisava dar banho nas crianças para dormir, dar o jantar e colocá-los na cama.

— Serão só umas duas horas. Eu não demoro. - disse decidida lembrando que não podia adiar de forma alguma seu compromisso daquele fim de tarde.

Beijou Júnior e Clara no rosto e se aproximou do marido.

— Qualquer coisa, qualquer coisa, eu disse qualquer coisa! Me ligue! Graças aos céus instalamos um telefone aqui na fazenda. - ela lhe deu um beijo rápido nos lábios e pegou sua bolsa esbaforida. - Deixei instruções nesse papel. LEIA!

Petruchio sorriu vendo a mulher sair porta a fora da fazenda e ligar o carro do lado de fora.

Ignorou o papel deixado por ela e olhou Clara e Júnior cúmplice.

— Tamo livres hoje! - ele ergueu os braços no ar comemorando o que Clara o imitou e Júnior desatou a chorar. - O que foi meu filho?

— Mamãe não vai voltá? - ele perguntou com as lágrimas escorrendo de seus olhos. Era mais apegado a Catarina que Clara.

— É claro que vai, são só umas duas horinhas. - ele apalpou o topo da cabeça do filho que ainda fazia bico enquanto as lágrimas caiam.

Sorte o carro ser barulhento, senão Catarina já teria dado meia volta com o choro e esquecido a ida a casa da irmã.

Petruchio ignorou o papel deixado na mesa por ela, se levantou e espreguiçou e disse:

— O que vamo fazer agora? - ele olhou ao redor tentando pensar em algo. - Que tal se a gente fazer um castelo de barro lá fora?

— SIM! - Clara aceitou prontamente quase correndo para a porta de saída da sala, mas Júnior falou.

— Mas tá escurecendo, mamãe não gosta da gente brincano lá fora quando tá escurecendo.

— Mamãe não tá aqui, hoje a gente pode! - Petruchio justificou pegando o filho no colo enquanto Clara já estava do lado de fora indo em direção ao monte de barro perto do chiqueiro.

Petruchio pegou uns copos e talheres que eles sempre brincavam ao redor e se sentou no chão. Clara começou a construir um castelo, e logo estava encenando:

— Não se preocupe princesa, eu estou aqui para salvar você desse monstro terrível! Oh príncipe encantado, obrigada. Vou te dar um beijo. - a garota de cinco anos pegou a colher e um garfo e fez eles se "beijarem". Petruchio olhou aquilo horrorizado.

— O que é que é isso Clara?

— Oras papai, contos de fadas! Nunca ouviu? Mamãe sempre conta uma história pra gente antes de dormir.

— Clara adora porque fala de príncipe encantado. - Júnior fez uma careta como se fosse vomitar.

Petruchio não gostou nada da história de príncipe nem de princesa muito menos da história de beijo. Mas por hora resolveu esquecer momentaneamente. Deixou que eles brincassem. Tudo estava em paz, quando de repente Júnior jogou sem querer um pouco de barro no rosto de Clara e eles começaram uma guerra de lama. Foi tudo tão de repente que ao mesmo tempo que existia as risadas, os choros vieram.

— Foi ele que começou! - Clara apontava pro irmão chorando.

— Mas eu disse que foi sem querer! Ela jogou de volta!

Começaram a rolar na lama entre tapas e socos, Petruchio olhou para o céu e estava laranja com o sol se pondo. Era hora de levar eles para um bom banho.

Petruchio pegou os dois no colo. Um de cada lado, ainda ficaram se estapeando até o caminho para o banheiro, pedaços de lama caíram pela sala inteira até chegar ao quarto em que ele dividia com Catarina. Encheu a banheira e temperou com água quente enquanto ambos tiravam a roupa suja. Colocou ambos, um de cada lado da banheira, e entregou dois sabonetes e bucha.

— Comecem a se esfregar.

Obedeceram feito mágica e ele achou ainda que mandava em alguma coisa. Petruchio pegou a roupa suja e levou para o tanque do lado de fora, ao mesmo tempo em que molhava um pano e passou com um rodo no caminho de barro que os filhos tinham deixado dentro de casa.

Enxugou a testa suando e disse a si mesmo.

— Catarina ia ficar orgulhosa de mim. 

Sentou brevemente na cadeira da sala e lembrou que estava escuro, teria que dar jantar para eles. Foi até a cozinha e começou a mexer com as panelas. Viu que tinha um resto de arroz do almoço com feijão temperado, resolveu esquentar e fritar ovos. Estava no meio do "esquentar" da comida quando ouviu gritos.

— PAPAI! PAPAI! SOCORRO! - Petruchio automaticamente saiu correndo da cozinha e se encaminhou para o quarto. Chegou até a banheira e viu Clara amedrontada no canto enrolada na toalha enquanto Júnior estava ao lado pelado mostrando um sapo e chegando perto dela. 

— Júnior, o que é que tá fazendo com sua irmã?

— Mas foi ocê que disse que ia beijar um sapo. - o garoto ignorou o pai e se encaminhou mais perto da irmã.

— Eu não disse nada disso! Só tava contando a história da princesa e do sapo! AHHHHH PAPAI! - ela berrou quando Petruchio tirou o tal sapo da mão do filho.

— Mas isso nem é sapo é rã. - ele disse observando o animal em sua mão.

— Vixe Clara, se ocê beijasse não ia dar certo o feitiço. Ocê na certa que ia virar rã pra namorar o sapo. - ele começou a rir e ela começou a jogar vidros de shampoo que estavam ao seu lado. - PAPAI, ELA TA ME JOGANDO AS COISAS.

Petruchio não disse nada e levou a rã para fora de casa. Quando voltou ao banheiro todos os vidros de shampoo estavam quebrados e Clara estava indo atrás dos de perfumes.

— Ei! Parem de brigar, vamo só terminar de tomar banho. - esperou que ambos se acalmassem e entrassem de novo na banheira. - Lembrei da vez que a mãe d'oceis tava com desejo de comer perninha de rã frita quando tava grávida d'oceis.

— Conta essa história pra gente papai, conta! - Clara pediu e a ordem voltou junto com a paz momentânea. Ambos ficaram prestando atenção no pai contando toda história das perninhas de rãs fritas que Catarina queria comer quando grávida. Passou os restos de shampoo restantes nos cabelos de ambos. E enfim os enxugou. Os levou para o quarto e deixou que escolhessem os pijamas. Quando estava começando a ajudar Clara a pentear os cabelos ele sentiu um cheiro de queimado.

— Mas o que que é que… ahh a janta!

Saiu correndo do quarto dos filhos com eles correndo atrás de si para ver o que estava acontecendo. Ao chegar na cozinha viu que o arroz estava preto, o feijão havia grudado todo no fundo e os ovos tinham virado carvão.

— Arriégua! Arriégua! - tirou as panelas do fogo e levou para pia, jogou água, a fumaça subiu no ar, como o jantar se esvaindo. Olhou para o lado cansado e viu os filhos olhando para ele bravos.

— Estou com fome papai. - Clara reclamou sentando na cadeira e segurando talheres na mão.

— Fome? - Petruchio perguntou. Passou a mão em sua cabeça, o que ia oferecer a eles se só o que sabia fazer era café e queijo? Sim! Queijo! Pegou um queijo na despensa e um resto de broa de fubá do café da manhã. Cortou a broa no meio e colocou uma fatia de queijo. - Pronto! A janta hoje é sanduíche de queijo.

Júnior analisou a comida em seus dedos suspeito. Clara nem segurou na mão, só cruzou os braços na frente do corpo.

— Mamãe sempre diz que a gente tem que comer refeição completa. - Júnior foi em defesa da mãe.

— Refeição completa? - Petruchio questionou sem entender.

— É papai, carboidrato, uma proteína e salada ou legume. Não um pão com queijo. - Clara explicou.

— Mas arriégua! Querem mais completo que isso? Carboidrato? Tá no pão! Proteína? Mais proteína que o queijo que a gente faiz aqui na fazenda?

— E o legume? Salada? - Clara não deixou de questionar.

— A salada a gente pula porque hoje é dia de folga da mãe d'oceis e ela não tá aqui pra ver que oceis não tão comendo coisa verde.

Júnior sorriu concordando dando uma mordida no sanduíche improvisado, Clara parecia mais resistente, mas gostou da ideia de se livrar do verde em uma refeição e saboreou o sanduíche que o pai havia feito. Petruchio ficou pensando consigo o quanto os filhos eram educados e levavam em consideração tudo o que a mãe deles lhe falava. Foi quando o telefone, recém instalado na sala, tocou.

Ele foi correndo atender e não se surpreendeu com a voz que ouviu do outro lado da linha assim que a telefonista passou a ligação.

— Petruchio como estão as coisas por aí?

— Como haveria de tá, na mais perfeita ordem e paz, tudo bem meu favo de mel.

— Tem certeza Petruchio? Está seguindo minha lista? Essa hora as crianças já deviam estar indo dormir.

— Estão na cama, tava fazendo elas dormir.

— Jantaram bem? Sabe que odeio quando não comem direito.

— Comeram tudo.

— Deu febre no Júnior? Ele não estava bem essa manhã.

— Deu não, tá com uma saúde de ferro como sempre.

— Não estou me sentindo completamente segura com essas suas falas nada convincentes.

— Favo de mel, fique em paz. Ajude sua irmã aí e quando voltar tudo estará na mais perfeita ordem.

Catarina suspirou do outro lado da linha.

— Vou atrasar um pouco mais que o combinado, já era para estar saindo daqui, mas… é por isso que estou te ligando.

— Fique o tempo que for preciso, tá é tudo sob controle.

Quando Petruchio disse isso ouviu um barulho de algo sendo jogado na cozinha, seguido de gritos.

— Que gritos e barulhos são esses?

— Eu, eu que derrubei um copo de água que Clara pediu no chão sem querer, ela gritou assustada.

— Julião Petruchio, se estiver mentindo para mim!

Petruchio ouviu mais coisas sendo quebradas e as vozes dos filhos alteradas na cozinha.

— Eu preciso desligar, tchau favo de mel.

Não esperou que ela se despedisse do outro lado da linha, colocou o telefone no gancho e correu para a cozinha. Se deparou com a cena dos filhos jogando ovos um no outro.

— Mas Arriégua! Oceis não ficaram sozinhos nem cinco minutos!

Ambos estavam cheio de ovos, da cabeça aos pés.

— A Clara que começou!

— Não fui eu não! Ele que falou que tava com fome e queria um ovo frito. Dei um ovo na cabeça dele já que a cabeça dele tava quente.

— Mas minha filha. - Petruchio disse reparando que na cozinha inteira tinha cascas de ovos, a cesta antes cheia de ovos estava vazia.

— Minha cabeça tá quente memo. - confirmou Júnior. Petruchio reparou no menino, tinha os olhos baixos e as bochechas vermelhas. Correu para relar sua mão nas bochechas e pescoço dele.

— Mas tá com febre. Os dois de volta pra banheira!

Começou o processo que já havia feito anteriormente, encheu a banheira de água, temperou com água quente e deixou que os filhos entrassem para tirar o cheiro de ovo e que a febre de Júnior baixasse. Ele estava com os olhos ainda baixos e parecia que podia dormir a qualquer momento. Relava de dois em dois minutos sua mão em sua testa preocupado. Lembrou que as febres do filho eram sempre muito súbitas, que uma vez ele quase teve convulsão do quanto havia subido. Desta forma, Catarina garantiu um vidro de remédio para febre na prateleira de primeiros socorros do quarto de ambos para ocasiões como aquela. O problema é que ele não se lembrava a dosagem. Será que se ligasse para ela e dissesse que era um péssimo pai, que não tinha dado conta de ficar com os filhos por míseras duas horas sem por fogo na casa e que não sabia a dosagem do remédio seria covardia demais?
Enquanto Clara pegava o shampoo do chão que havia quebrado no banho anterior e lavava seu cabelo pela segunda vez no dia, Petruchio se lembrou do bilhete de Catarina. Por sorte ela havia deixado na sala.

— Clara cuide de seu irmão! Não deixa ele dormir na banheira!

Júnior continuava com o olho baixo, precisava dar remédio para ele rapidamente. Achou o bilhete na sala e começou a ler:

"As crianças precisam continuar na rotina, senão te darão muito trabalho. Então:

1 - Não deixe eles brincarem de uma brincadeira muito agitada antes do banho, só irá acender mais eles. Deixe que monte quebra-cabeça ou que brinquem de carrinho e boneca na sala. Nada de ir pra fora e brincar em lama.

2 - O banho deve ser impreterivelmente depois do jantar, o que significa que não deve ser feito o contrário. Não deixe eles sozinhos comendo em menos de dois minutos, podem colocar fogo na casa. Eles têm a mania de brigarem por qualquer coisa.

3 - Dê banho neles depois do jantar, não lave o cabelo da Clara, não há necessidade.

4 - Se o Júnior começar a esquentar já dê uma colher do remédio que temos na nossa prateleira de primeiros socorros. Não demore pois a febre dele sobe muito rápido.

5 - Coloque eles para dormirem na cama DELES, não na nossa, eles não podem se acostumar a dormir na nossa cama, conte uma história e eles dormem em menos de dez minutos se seguir esses passos.

Qualquer coisa, eu disse qualquer coisa, me ligue que volto!"

Petruchio deixou o bilhete de lado e foi pegar uma colher do remédio para febre na prateleira de primeiros socorros. Voltou para o banheiro e viu Júnior dormindo dependurado com a cabeça para fora, segurado por Clara que parecia fazer muita força.

— Papai ele é muito pesado.

Petruchio sentiu seu coração pesar quando viu o filho dormindo, ainda muito quente da febre. Segurou o pescoço dele e abriu a boca para que ele engolisse todo o remédio. Trocou ambos chateado e com medo de que o menino piorasse ainda mais. Pensou em mais uma vez que era um péssimo pai, que não havia reparado que ele estava ficando quente antes, que não conseguiu dar um jantar decente a eles, que não soube dar um banho sem que eles destruíssem todos os potes de shampoo e agora quase chorava ao colocar o filho de cinco anos na cama já dormindo, com seu pijama, ainda muito quente. Clara se trocou sozinha e viu o pai triste no canto. Pegou sua escova de cabelo e entregou a ele.

— Papai me ajuda a pentear meus cabelos?

Petruchio concordou com a cabeça sentando ao lado da cama de Júnior, não ia tirar os pés de lá enquanto ele não melhorasse da febre. Começou a passar os pentes pelo cabelo da filha que havia sentado em seu colo. Ela falava sem parar sobre a história da Rapunzel que tinha os cabelos tão longos que ficava horas penteando tudo para desembaraçá-los. Por fim, quando terminou a tarefa de pentear os cabelos da filha, esta levantou e lhe deu um beijo na bochecha.

— Não fica triste papai, Júnior vai ficar bem. Você ainda é o melhor pai do mundo.

Petruchio quis chorar quando a filha lhe beijou no rosto e seguiu para guardar a escova em sua cômoda. Petruchio relou a mão no rosto do filho e percebeu que ele estava menos quente. Suspirou aliviado.

— Leia uma história pra mim papai?

Clara lhe entregou um grosso livro, estava escrito na capa contos de fadas.

— Gosto da Cinderela! - ela folheou o enorme livro e achou a página titulada Cinderela. Petruchio olhou torto para aquele título, mas resolveu ler. Clara sentou em seu colo e ele leu. Enquanto avançava na leitura ficou horrorizado com as atrocidades ali encontradas. Uma garota posta a trabalhar a força numa casa que antes era dela com uma madrasta má, uma fada madrinha que transforma abóboras em carruagens e ratos em cavalos, um baile que a moça dança com o príncipe com hora contada para o encantamento acabar. E o final trágico dela terminando a história com o príncipe só porque ele achou o pé perfeito para o sapato de cristal.

— Não é romântico papai? - Clara suspirou quando ele leu a última frase da história.

— Romântico?

— Ter alguém que se apaixona por você, que te beija, casa e vive feliz para sempre.

Petruchio piscou os olhos três vezes seguidas tentando ver que se aquilo que sua filha tinha dito havia saído dela mesmo.

— Clara Batista Petruchio, ocê tem cinco anos, não pode tá é já pensando em príncipes encantados!

Clara desmanchou o sorriso na cara assim que ouviu seu pai bravo. Arrependido de ter gritado com ela, Petruchio pegou em sua mão e começou a explicar.

— Desculpe anjinho, é que é que papai não quer que ocê acabe com um príncipe encantado.

— Por quê? – perguntou num sussurro.

— Príncipes podem parecer bonzinhos, mas na verdade escondem é a mardade em seu coração.

— Maldade papai? – perguntou não entendendo.

— Pense... Raciocina comigo meu anjinho. Se o príncipe fosse assim tão bonzinho como ocê diz, por que ele não se apaixonou pela tal da Cinderela antes dela ficar linda por causa do encantamento da fada madrinha? Ele só gostou dela pela aparência. Nois ama uma pessoa pelo o que ela é por dentro e não por sua aparência, então pode concluir que…

— Ele foi interesseiro – respondeu Clara raciocinando com o pai.

— Outra coisa, quando ele pega o sapato de cristal e passa a procurar no reino inteiro a dona, era de se esperar que ele a reconhecesse, certo? Mas não, precisa colocar o sapato em todas as moças até encontrá, aliás essa parte do sapato não entendi direito, todo o feitiço acaba e não o sapato de cristal? Mas no final tudo isso mostra que ele é…

— Um insensível que não conseguiu nem se lembrar do rosto dela, rosto que ele havia se apaixonado na noite anterior – respondeu Clara nervosa.

— Exato – exclamou Petruchio feliz – e então concluí que…

— Os príncipes não existem – terminou a garotinha.

— Não! – negou o pai balançando a cabeça – Concluí que os homens são horríveis e não merecem mulhe nenhuma, portanto meu anjo, nunca pense em beijar alguém.

— Eca! – a menina exclamou – beijo é nojento.

Petruchio sorriu feliz pela reação da filha.

— Tô aqui pensando como sua mãe, do jeito que é, permite que ocê conheça essas histórias. - ele coçou a cabeça pensativo.

— Agora tô triste, nenhuma história romântica que gosto é real! - Clara cruzou os braços na frente do corpo, chateada e brava.

— Mas eu conheço uma real que dá rasteira nesses conto de fada! A história de Catarina e Petruchio.

Clara sorriu imaginando sobre o que o pai falava.

— Me conte papai, me conte.

— Deite na sua cama que conto pr'ocê.

Enquanto Clara se ajeitava na cama, Petruchio aproveitou para relar a mão na testa de Júnior e para seu alívio percebeu que a febre tinha baixado.

— Era uma vez uma mulher linda, mas tão linda que no primeiro encontro apareceu com uma melancia na barriga fingindo que tava grávida… - Clara sorriu para o jeito que o pai contava e imaginou a mãe se encontrando com ele pela primeira vez com uma melancia na barriga. - Ali eu percebi que tava perdido, que não tinha mais jeito de não me apaixonar por ela, quer dizer do príncipe não se apaixonar por ela. Mas ela era enfezada, enfezada demais jogando as coisas, ela não queria ser obrigada a casar, era só um jeito dela se defender, mas quanto mais ela tacava coisa ni eu, mais eu me apaixonava no nariz enrugado dela…

Petruchio continuou a contar a história, contou sobre um casamento desastroso, camas separadas e quando começaram a se entender.

— …Foi quando eu descobri que ela tava grávida que descobri o amor por completo, era como ver que conto de fadas não existem, mas viver um amor de verdade valia muito mais a pena…

Petruchio olhou para a filha, que dormia com um sorriso no rosto, suspirou aliviado ao ver que ambos estavam limpos, alimentados e dormindo. Saiu de fininho do quarto e foi para a cozinha, faminto.

Fez um sanduíche de pão com queijo para si e comeu. Ignorou a cozinha de caos. Não conseguiria limpar tudo e resolveu tomar um banho, estava se sentindo exausto. Chegou no quarto e enquanto tirava suas botinas acabou deitando na cama e dormindo sem o banho. Foi quando alguns minutos depois sentiu alguém lhe cutucar.

— Papai tive um pesadelo. - Júnior olhou choroso para ele e Petruchio deixou que deitasse do seu lado.

Logo Clara apareceu falando que não conseguia dormir sozinha. Petruchio deixou que ela deitasse do outro lado, abraçando ambos com os braços, ignorando a ordem do bilhete de não deixar que dormissem na cama de casal.

Catarina parou o carro na fazenda e já percebeu a lama que havia caído no hall de entrada, começou a andar pela sala e não viu nada muito fora do lugar. Chegou na cozinha e viu o caos instaurado. Panelas queimadas na pia, cascas de ovos por todos os lados. Foi para o quarto dos filhos e não viu eles dormindo lá, correu para o seu quarto agoniada quando se deparou com uma das cenas mais lindas que já tinha visto nos últimos tempos. Petruchio dormindo no meio abraçando ambos. Olhou para o banheiro e viu os restos de ovos escorrendo na banheira e todo o estoque de shampoo quebrado no chão. Olhou para Carijó no canto e cúmplice perguntou a ela:

— Tudo em ordem e na mais perfeita paz não é?

Começou a perguntar o que tinha acontecido na sua ausência para a amiga de penas quando Petruchio levantou e viu a esposa no quarto.

— Eu juro Catarina, fiz eles dormirem no quarto deles, mas aí eles vieram aqui e eu tava exausto e…

Catarina chegou perto dele que parecia agoniado e o calou com o dedo em seus lábios.

— Não fale alto para não acordá-los. Tudo estava na mais perfeita ordem, Julião Petruchio?

Petruchio deu um sorriso amarelo e coçou a nuca.

— Da próxima vez eu leio seu bilhete antes de ficar sozinho com eles.

Catarina se aproximou dele e lhe deu um beijo suave nos lábios. Petruchio puxou ela para mais junto de si e aprofundou o beijo lhe fazendo carinho por seu rosto.

— Você é um pai maravilhoso…

— Isso porque ocê não viu a bagunça na cozinha.

— Eu vi sim. - ela sorriu.

— Então não quer se separar de mim e ir pras europa?

— Não, por hora não. - ela sorriu de lado.

— E como que é que tá Bianca?

— Bianca? Não sei, ao certo.

— Como que não sabe Catarina, ocê foi lá pra vê ela e ajudar com a bebê.

— Era só uma desculpa… uma desculpa e um teste.

Petruchio olhou para ela sem entender nada. Catarina puxou sua mão delicadamente até o corredor iluminado, queria ver todas as expressões do rosto dele quando contasse.

— Já faz um tempo em que você me pediu outro filho… e eu… eu não me sentia completamente pronta até… - Petruchio sentiu seu coração se acelerar, piscou várias vezes tentando entender as meias palavras dele. - Parabéns papai, confirmei com meu médico agora que estou grávida pela segunda vez.

Catarina ergueu dois sapatos de crochê vermelho na altura de seu ventre e Petruchio sentiu seus olhos embargarem. Se ajoelhou e começou a beijar a barriga da Catarina.

— Obrigado, obrigado, obrigado, por tá me dando outro presente, obrigado Catarina.

Catarina sentiu lágrimas caírem de seus olhos quando ele se levantou do chão e a pegou nos braços a rodando no ar e selando seus lábios no dela ainda agradecido.

— A prova de fogo de hoje não te deixou com medo de ter outro bebê nessa casa?

— O que? Eu quero é mais que um bebê, pode ser gêmeos de novo que tô preparado!

Eles só sabiam rir e se beijarem.

— Mas olha Catarina, a gente precisa conversar sério sobre uma coisa. Como ocê permite que Clara se interesse por aquela atrocidade de conto de fadas?

— O que está dizendo?

Petruchio explicou todo o desenrolar da história da Cinderela e Catarina quis rir.

— Foi Bianca que mostrou o livro para ela um dia e ela se encantou. Também não gosto muito dessas histórias.

— Ah agora tudo tá explicado. Vou conversar sério com Bianca.

— Ah Petruchio não vá perturbar ela agora no puerpério.

— O que? Ela fica colocando essas porcarias de príncipes encantados na cabeça da minha filha e não posso dizer nada?...

Ambos começaram a discutir, como era esperado. Tudo estava no curso normal na vida de casal de ambos, brigas, muitas histórias para contar, mais brigas e é claro, a certeza de que ainda seriam muito felizes juntos.

Catarina tinha certeza que não poderia ter escolhido pai melhor para seus filhos, aquela noite comprovou isso. O amor estava o tempo todo com eles, apesar das brigas e discussões. Afinal, Petruchio havia se apaixonado a primeira vez por ela por causa de uma melancia na barriga, o destino foi traçado no primeiro encontro, ele era um pai antes de ser e nada mudaria o destino de paizão que Petruchio tinha em sua vida.


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Notas finais do capítulo

Espero que quem leu tenha gostado



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