Encontro às cegas escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
A dívida é alta demais! Ou... não...?


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Aburame Shino nunca pensou que seu amigo cobraria uma dívida de “vida ou morte” surgida a alguns anos. Bem, Shino se lembrava de ter recebido ajuda em um projeto na época da faculdade, coisa de um ou dois anos atrás, necessário para que fechasse todas as matérias com maestria. Mas não esperava que Naruto surgisse do nada, sem aviso ou sinal prévio; e pedisse que saísse em um encontro às cegas com um dos amigos de infância do rapaz.

Como Alpha de palavra e sério em seus (supostos) débitos, aceitou a proposta. No máximo teria uma noite curtíssima e desperdiçada antes que pudesse voltar para a casa e encerrar o assunto.

E ali estava ele, sentado à mesa que reservou com antecedência, apreciando um bom gole de vinho tinto e seco, esperando o compromisso da noite aparecer. O rapaz estava com um atraso de quase vinte minutos.

Mal teve esse pensamento e se ouviu um burburinho na porta do restaurante familiar. Só de olhar o Ômega recém chegado Shino teve a certeza de se tratar do par com o qual se encontraria. Lembrou das palavras de Naruto: Clã Inuzuka (marcas vermelhas no rosto), cabelo castanho peculiar e muito sensível a respeito da altura mediana. Faltou apenas mencionar o inusitado conjunto de bermuda cheia de bolsos e blusa do Konoha’s Angels, time de basquete popular.

— Ei, você que é o Shino?! — ele foi logo se achegando à mesa, igualmente certo de quem era o homem arranjado por Naruto. Alpha de óculos escuros e casaco de gola alta, estiloso e cheio de mistério.

— Sim — Shino franziu as sobrancelhas diante da intimidade. O rapaz, que parecia ter a sua idade, foi logo lhe tratando pelo primeiro nome!

— Eu sou o Kiba! Desculpa o atraso — ele sentou-se — O caralho da moto ficou sem gasolina e eu to mais liso que quiabo sem casca. Vim de bicicleta.

Shino notou que ele parecia mesmo sem fôlego, talvez morasse longe dali. E era extremamente expansivo em seus atos e modo de falar, despojado até demais. Detalhes que não cabiam no “Kiba é um cara legal” com o qual Naruto o descreveu…

— Quer beber algo?

— Uma cerveja. Estou dirigindo, mas sem riscos! — e riu da pseudo piada.

O Alpha acenou para o garçom e ambos aguardaram. Enquanto isso, Kiba observava o ambiente, dando olhadas que deveriam ser discretas na direção de Shino, avaliando o outro homem. Nada no semblante de pele amorenada revelava um veredito, pois o sorriso bonito continuava lá.

“Sorriso bonito” foi um pensamento que não surpreendeu Shino. Não era hipócrita ou fingia não ver a realidade. Inuzuka Kiba era um jovem Ômega bonito, simpático até. Embora um tanto selvagem.

— Então você é professor? — Kiba jogou no ar tão logo deu um gole no caneco de cerveja recebido.

— Sim, trabalho na Academia com Naruto.

— É uma profissão ótima, mas não tenho paciência. Ia tentar ensinar aluno burro na base do cascudo e seria demitido no primeiro dia!

Shino não duvidou nem por um segundo daquela afirmativa.

— E você trabalha em uma Clínica Veterinária?

— Correto. Me formei em Medicina Veterinária e comecei a trabalhar com minha família. A gente é especializado em ninken, mas atendemos várias espécies.

— Interessante.

— Vamos pedir? Pedalar até aqui me deu uma fome…

— Claro — Shino divertiu-se com o que ouviu.

Voltou a chamar o garçom, mas antes que solicitasse o cardápio, Kiba se meteu:

— Dois lamen misso, com o dobro de carne. Mais uma cerveja pra mim e… ? — olhou na direção de Shino, indagando com o olhar se ele beberia mais.

— Vinho, por favor — ele veio com um motorista de aplicativo para ter a liberdade de beber. De qualquer forma, não esperava que o encontro durasse mais do que o tempo das apresentações.

O funcionário anotou os pedidos e afastou-se.

— No começo eu fiquei desconfiado do Naruto, você sabe como ele é sacana. Pensei que ele ia me arrumar um par esquisito só de pegadinha — Kiba confessou bebendo o último gole da primeira cerveja — Mas você é um cara interessante!

Shino levou um baque. Era a primeira vez que ouvia um elogio em um encontro às cegas! Sua aparência assustava, por isso foi em poucos, apesar de ser uma prática comum em Konoha. E ele conversava com Kiba a coisa de vinte minutos? Como poderia ser tachado de interessante em tão curto período?

O choque deve ter ficado evidente nas feições pálidas parcialmente cobertas pelos óculos escuros e gola alta, pois Kiba confessou um tanto sem jeito:

— Fazer o pedido é um teste, sabe? — segredou — Alphas não gostam muito quando Ômegas tomam a iniciativa assim, principalmente em público. Mas não senti que ficou ofendido, é um ponto a seu favor.

— Não, não fiquei — Shino afirmou. A cena anterior ganhou nova proporção em sua mente. Havia mesmo uma cultura arcaica na sociedade, Alphas ainda acreditavam que deveriam estar à frente de várias situações e se melindravam quando isso não acontecia, até mesmo se ofendiam.

A artimanha era inteligente. Usando uma simples fala Kiba era capaz de determinar pontos importantes sobre a pessoa com quem dividiria a noite. E isso dizia muito sobre o passado e a experiência daquele rapaz. Se ele precisava criar uma tática de tal maneira, era por ter passado situações negativas o bastante para sentir que precisava se proteger. E Shino não queria que ele precisasse ter proteção contra si.

— Você também é muito interessante — Shino devolveu com sinceridade.

Pareceu ser o que Kiba queria ouvir, pois ofereceu um sorriso satisfeito em retribuição.

Por fim os pratos chegarem. Kiba pegou o par de hashi de agitou no ar, os olhos selvagens caçando qual seria o maior pedaço de carne para começar a comer. Antes disso, notou que Shino parecia um tanto consternado observando a grande tigela.

— Não gosta?  — o Ômega indagou preocupado.

— Gosto. Mas sou vegetariano.

— Caralho!!! — Kiba gargalhou — E eu fui logo com o dobro de carne! Me dá isso aqui.

Puxou a tigela e acenou para o garçom.

— Pois não?

— Embrulha esse pra viagem por favor. E manda um teriyaki de vegetais e omurice! Obrigado.

Colocou o par de hashi sobre a tigela que restou e aguardou que o prato de Shino viesse. O Alpha apenas observou, encantado em como aquele rapaz gostava de dominar as decisões e comandar. Não conhecia muitos Ômegas assim (na verdade não conhecia nenhum) que fugisse tanto do estereótipo da casta.

— Me perdoa, cara. Nunca ia nem desconfiar que não gosta de carne!

— Sem problemas, eu também não disse nada — na verdade Shino sequer teve tempo de dizer.

— Bom saber. Terei cuidado da próxima vez — lançou no ar, como quem não quer nada. E Shino quase sorriu.

— Perfeito — concordou. A noite estava indo bem, por enquanto a próxima vez era uma possibilidade concreta.

Finalmente a refeição de Shino chegou e eles começaram o jantar. Kiba dominou os assuntos, para surpresa nenhuma do outro, que foi mais um ouvinte atento do que participante do monólogo animado. Não que reclamasse, a voz do Ômega era boa, tinha um timbre agradável, firme e másculo. A atenção serviu como incentivo, pois Kiba sentiu que era ouvido de verdade, que o Alpha não estava ali só de “corpo presente”, com seu discurso entrando por um ouvido e saindo pelo outro. Isso acontecia muito quando se encontrava com Alphas que só queriam levá-lo para a cama e passar a noite. Nada contra, Kiba era um espírito livre e teve sua boa cota de casinhos sem compromisso. Conquanto começasse a querer algo mais estável e duradouro, algo que fosse para a vida toda.

— Caralho, comi demais! Mas isso estava ótimo!

— Sim, a refeição daqui é muito boa. Quer sobremesa? — Shino teve uma intuição sobre a resposta.

— Com certeza! Aceito sorvete de morango!

E Shino pediu apenas uma dose de chá verde.

— Que noite divertida, perdão Naruto, por duvidar da sua boa vontade!

— Não vou te julgar — Shino aliviou. Conhecendo a fama do outro Alpha, podia se esperar de tudo — Então são amigos de infância?

— Irmãos — Kiba brincou com um morango graúdo sobre o sorvete — Ele perdeu os pais muito jovem, minha mãe o criou desde então.

— Não sabia disso — não era como se fossem grandes amigos, na verdade. Shino e Naruto se conheceram ao cursar a faculdade e tiveram boa convivência, que se estendeu ao serem contratados como professores na Academia.

— E conhecendo bem a peça a gente fica com um pé atrás — além disso, Kiba considerava Sasuke, companheiro de seu amigo, um Ômega dissimulado, sem graça e péssima influência. Mas o amor é cego, hum?

Shino concordou com um aceno de cabeça. Apesar de a refeição chegar ao fim, Shino não queria que a noite acabasse ainda.

Assim que saíram do restaurante, Kiba em posse de sua marmitinha, ficaram sem saber como se despedir. Até que Shino resolveu agir como sempre: sendo direto.

— Quer ir lá para casa?

Kiba sorriu, fazendo um pouco de charme:

— Minha bicicleta…

— Não moro longe. Vim com um motorista de aplicativo apenas por comodidade.

O Ômega perdeu alguns segundos analisando a face misteriosa. Gostou daquele Alpha? Para um caralho. Achou o homem bonito, elegante, muito calmo e com um toque de mistério.

— Shino, cara, quero deixar tudo muito claro. Eu não to atrás de casos de uma noite…

Deu um passo à frente, invadindo o espaço pessoal do outro. Shino era um homem prático, que não perdia oportunidades. Passou a grande mão pela nuca do Ômega e inclinou-se de leve para beijá-lo nos lábios, pouco preocupado em ser discreto por estarem na rua.

A correspondência foi imediata, Kiba entreabriu a boca e permitiu que a carícia se tornasse mais íntima, um beijo calmo e profundo, de conhecimento. Talvez de reconhecimento, com Alpha e Ômega se sondando como prováveis companheiros compatíveis.

Ao se separarem, ambos estavam sem fôlego. Shino se deu conta de que desejava aquele beijo desde o primeiro instante que viu o sorriso de dentinhos pontiagudos. Assim como notou um sentimento inédito. O de posse. De ter aquele Ômega ao seu lado o quanto pudesse. Talvez para sempre.

— Nem eu — o Alpha respondeu depressa, ocultando o fato de que não estava atrás de caso nenhum até conhecê-lo. Só foi até ali porque seu amigo “cobrou um favor”, e o resultado disso estava no fato de não querer que aquele Ômega bonito, animado e cheio de vida fosse embora da sua — Isso não tem que ser apenas uma noite. Pode ser o tempo que você quiser.

Terminou a frase dando um beijo de leve na mão daquele rapaz, gesto carinhoso que se tornaria recorrente na relação plantada ali.

O rosto de Kiba, ainda corado, ficou um tiquinho mais vermelho, até as beirinhas das orelhas. Ele aproveitou se ajeitar entre os braços alheios e apoiar a bochecha contra o peito cujo coração batia tão rápido quanto o seu.

— Caralho! — o queixo de Kiba caiu um pouco — Você é bom com as palavras, Alpha!

— Obrigado.

— Vou pegar a bicicleta. Você mostra o caminho.

Shino concordou com um aceno. Ambos eram adultos e sabiam como terminaria aquela noite, destarte a magia estava no que vinha através da manhã seguinte e dos outros dias. Pareciam dispostos a tentar algo a sério, do encontro às cegas do qual nenhum dos dois colocou expectativas.

 

***

 

— E não saiu nada como eu planejei!! — a voz alta de Naruto ecoou na pequena sala do apartamento. O bebê que Sasuke segurava resmungou incomodado e fez o Ômega de cabelos negros lançar um olhar de alerta para o companheiro.

— A gente sabe disso, Naruto — Kiba bocejou.

Tinha acabado de chegar do hospital, onde passou pelo segundo parto. Kaoru veio ao mundo como um belo Beta de quase quatro quilos (sendo metade disso concentrado nas bochechas gordinhas!). Agora estava meio deitado no sofá, recebendo as primeiras visitas.

Naruto não fazia questão nenhuma de esconder o que motivou inventar aquele encontro às cegas: estava simplesmente cansado de ouvir Kiba se gabar de como era um Ômega pica das galáxias gostoso que conquistava todo mundo… então inventou (exagerou) uma dívida que Shino tinha e o obrigou a se encontrar com o amigo. Eram duas pessoas tão diferentes e opostas que terminariam a noite sem qualquer afinidade, ao menos na cabeça de Naruto.

Expectativa: Kiba aprenderia a ser humilde e Shino sairia um pouco, tirando a cara do serviço e respirando o ar da noite.

Realidade: os dois se apaixonaram e aquele “Quer ir lá pra casa?” virou um “Quer ficar na minha vida?” na manhã seguinte, logo evoluindo para um casamento, o prêmio da primeira filha, Aburame Masako, Alphazinha encantadora de quatro anos e agora o recém-nascido e muito bem-vindo, Aburame Kaoru.

O plano maléfico de Naruto foi frustrado e resultou numa das mais belas famílias que se conhecia.

Naquele instante Shino entrou na sala, trazendo uma bandeja com chá para oferecer aos convidados. Masako veio junto, com uma bandeja menor cheia de biscoitos de gengibre. Era tão parecida com o pai Alpha que surpreendia (e era piada recorrente na boca de Kiba: quase nove meses carregando peso pra sair a fuça do Shino!!).

— Parabéns, caras! — Naruto desejou com sinceridade, cutucando de leve a bochecha gorducha de Kaoru, que resmungou e rendeu outra careta de Sasuke.

Seu plano falhou, e tal falha não poderia ter sido mais abençoada!


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Notas finais do capítulo

até a próxima ♥



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