Louca Inspiração escrita por Mililika, Bia Kenway


Capítulo 5
O melhor que já tive


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=rrJazEYYI1U&ab_channel=efurni



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Efrem tinha um sorriso de orelha a orelha enquanto fazia carinho na mão de um desconfiado (e vendado) Josh ao seu lado.

— Estamos chegando. – Avisou quando o carro parou diante do prédio que comprou para abrir o seu café-pub. Era sábado, então não havia nenhum dos homens que estavam trabalhando na reforma do lugar. Havia sido difícil escolher e levou mais tempo do que Efrem havia imaginado, mas foi bom porque ele pôde começar a estudar mais sobre os drinks, fez cursos de culinária e de recepção. Ele queria estar envolvido em tudo no seu café-pub. Trabalharia mais na parte administrativa, mas sempre que pudesse iria ajudar na cozinha e com as bebidas.

Pouco tempo depois de decidir abrir o café, ele encontrou um apartamento e saiu da casa de Conrad para a alegria do cunhado e do irmão mais novo. Agora era só a reforma do prédio terminar e Josh aceitar trabalhar com ele para poder dar início àquela nova etapa da sua vida.

— Sério, estou com medo do que você possa estar aprontando. – Josh disse sentindo-se bastante vulnerável sem poder enxergar. – Se você estiver fazendo todo esse suspense porque tá me levando para um motel, juro que vai apanhar. 

— Por que eu te levaria para um motel se temos o meu apartamento? – Efrem rechaçou a ideia enquanto ajudava a descer do carro. Guiou-o até a porta do prédio e o ajudou a entrar. Quando estavam do lado de dentro, tirou a venda de Josh. – Então, o que acha? Tá bagunçado por causa da reforma... Mas aqui vai ser o meu café-pub. Decidi abrir um depois que você começou a me ensinar a preparar os cafés e os drinks.

— Você... – Os lábios de Josh partiram. – Você vai abrir um pub-café?! – Perguntou surpreso. – Isso é..! UAU! Isso é demais! Esse lugar é seu?!

— Sim! Eu comprei há algumas semanas. – Efrem disse todo orgulhoso. – Demorou um pouco para que eu conseguisse encontrar o lugar perfeito. Mas enquanto isso fui amadurecendo a ideia, fiz alguns cursos, comecei a procurar funcionários... Porém, meu quadro de funcionários ainda não está completo... Eu quero que você trabalhe comigo. Mas eu quero exclusividade.

Josh estava para dizer que agora tudo fazia sentido, já que ele percebia que Efrem andava mais ocupado, mas o loiro não lhe dizia nada; porém as palavras sumiram ao ouvi-lo convidando-o para trabalhar com ele. 

— Sério? – Sorriu meio emocionado. Depois riu e abraçou o loiro. – Até no trabalho você vai me querer só pra você? – Brincou.

— É claro que eu te quero só pra mim. Sempre. – Efrem sussurrou enquanto segurava o queixo do namorado e deu um leve beijo nos lábios dele. – Mas antes de me responder, vem aqui... – O puxou pela mão e o levou até o piano que estava no meio do salão. – Comprei. – Sorriu enquanto ocupava o lugar diante do instrumento. – Vou tocar de vez em quando... hoje você vai ter uma apresentação só para você, mas sem acompanhamento vocal porque eu sou uma gralha cantando. – Brincou.

Efrem se concentrou enquanto arrumava a partitura diante de si e aí começou a tocar os primeiros acordes da música You're Beautiful do cantor James Blunt.

Josh se apoiou no piano e ficou admirando-o tocar. Os dedos dele fluíam pelas teclas com naturalidade e confiança, envolvendo com a música que surgia quem estava próximo. Em dado momento, Josh deu um jeito de sentar no colo de Efrem enquanto ele tocava e colocou as mãos sobre as dele, bem leves, apenas para senti-lo tocando mais de perto... Era uma sensação ótima. 

— É lindo. – Sussurrou quando ele acabou. 

— Você que é. – Efrem beijou a nuca de Josh. – Então, se você vier trabalhar comigo vai ter muitas outras apresentações como essa... – Deu uma risadinha. – E vai ter mais tempo para a universidade, não vai mais precisar ficar correndo para lá e para cá de emprego em emprego e vai ficar pertinho de mim. São bons motivos?

Josh se virou de frente para Efrem ainda no colo dele. Colocou uma mão no queixo e pareceu ponderar.

— Hm... Deixa eu pensar. – Falou. – É claro que são bons motivos! – Riu então e abraçou o namorado. – Vou adorar trabalhar só para você. 

Efrem sorriu e abraçou Josh com força.

— Obrigado. O seu apoio vai ser fundamental... Confesso que estou um pouco apavorado. – O príncipe disse enquanto o apertava em seus braços. – Meus pais não gostaram nada dessa história. É meio ridículo um cara da minha idade ficar com medo por causa da “praga” que os pais estão jogando, mas não consigo evitar. E, bem, com esse negócio funcionando eu vou poder realmente me mudar para Toronto de vez e ficar com você.

— Olha, mesmo que seus pais sejam rei e rainha, eu realmente não consigo me importar, e eles que vão pro espaço, porque eu quero você aqui comigo e vai ser perfeito! – Josh o abraçou mais apertado e depois o beijou.

Efrem gemeu e deslizou a língua para dentro da boca de Josh enquanto suas mãos desciam até as nádegas do namorado. O beijo começou num ritmo lento e quando Efrem se deu conta Josh já estava quase deitado em cima da tampa do piano.

— É claro que vou ficar aqui com você. Ninguém vai me obrigar a voltar para Altai. Eu te amo, Josh. – Efrem murmurou enquanto o fitava intensamente.

— Eu também te amo... – Josh murmurou puxando-o pela camisa. – Acho que não consigo mais viver sem você, então…

Efrem puxou Josh para o seu colo e o fez enrolar as pernas em volta da sua cintura.

— Por mais que eu queira arrancar as suas roupas aqui, o piano não vai aguentar. – O príncipe murmurou enquanto subia as escadas e o levou até a sala onde funcionaria o escritório. O cômodo já estava quase todo pronto. – Comprei esse sofá-cama justamente para nós... Pelo visto ele será bem usado. – Disse num tom  malicioso.

— Parece que você pensou em tudo mesmo. – Josh riu enquanto era deitado no sofá-cama. 

Não demorou nada e os dois estavam quase nus enquanto trocavam beijos. Foi aí que Josh recebeu uma ligação. A despeito das reclamações de Efrem, ele atendeu.

— Oi, Brian! Tudo bem? 

Efrem levantou e, resmungando, foi até o frigobar que havia no canto da sala.

— Desculpa... Interrompi alguma coisa? – Brian murmurou com a voz fraca.

— Esquece isso. O que foi? Sua voz parece péssima. – Josh perguntou preocupado.

— Não estou muito bem... – Brian respondeu de forma evasiva. – Você tem alguma notícia do Dawson? Faz alguns dias que eu tento falar com ele e não consigo... Nós... Nós... Bem, nós transamos e ele sumiu. – Contou. – Acho que eu estraguei tudo e ele não quer mais ser meu amigo.

A primeira reação de Josh foi querer chamar Dawson de canalha, mas ele se segurou.

— Eu não ouvi dele... Mas posso tentar descobrir o que aconteceu e onde ele se meteu. – Disse.

— Acho melhor esquecer. Se ele quisesse ter entrado em contato comigo teria feito isso já. – Brian falou e acabou deixando um soluço escapar. – Estou tão cansado, Josh. Faz dias que eu não durmo. Até nos hospitais eu procurei. Não aguento mais isso. Acho que só tenho que me conformar mesmo que ele se arrependeu e não quer me ver.

Josh sentiu um bolo crescer na garganta.

— Eu sinto muito, Brian. E-Eu incentivei que você... – Suspirou. – Dawson é um cara complicado. É difícil saber o que se passa por aquela cabeça. Mas se algo tivesse acontecido com ele, a gente saberia. Sendo sincero, acho que o melhor é você esquecer a noite que teve com ele e seguir em frente. Teu seriado tá bombando, você é dono de si, e não precisa mais dele. – Tentou consolá-lo.

— Não foi sua culpa, Josh. Eu sabia das consequências quando me entreguei naquele primeiro beijo. – Brian inspirou fundo antes de continuar. – Desculpa ter ligado e por qualquer coisa. Eu vou melhorar. Só preciso de uns dias. Minha tia me convidou para passar uns dias com ela na França. Estou pensando em ir. Mudar de ares um pouco, sabe? 

— Concordo. Te fará bem, você deveria aproveitar. – Josh incentivou. – E pode sempre me ligar quando precisar, não é incômodo nenhum. – Garantiu. - Aliás, podemos nos ver antes de você ir para França!

Brian concordou e desligou, e Joshua socou uma das almofadas.

—Eu vou quebrar a cara daquele canalha! - Exclamou revoltado. 

— Pra você estar querendo bater em alguém o problema foi sério. – Efrem disse após um suspiro enquanto puxava Josh para os seus braços e apenas o manteve lá enquanto o namorado continuava resmungando irritado. Para distraí-lo do problema, Efrem começou a dizer o que estava pretendo fazer e pedindo a opinião de Josh e deu certo porque aos poucos a carranca mal humorada dele foi suavizando. – Vai ser incrível quando estivermos funcionando. Mal posso esperar. Os meus irmãos vão vir para a inauguração, aí você vai conhecê-los.

— Vou adorar conhecer todos eles. – Josh garantiu, apesar do leve nervosismo que sentiu com a ideia.

Eles continuaram conversando por um bom tempo. Depois pediram comida e acabaram transando em cima da mesa. Já que no piano não dava... Enfim, foi uma tarde mais do que agradável.

XxxX

A temporada na França havia sido boa. Pelo menos Brian havia conhecido lugares diferentes, pessoas diferentes e se distraído por um tempo. Sua tia, Pâmela, o recebeu de braços abertos e com certeza conversar com ela levantava o astral de Brian.

Com os dias ocupados, o ruivinho não pensava em Dawson. Mas de noite, quando deitava para dormir, era impossível não pensar no cantor, na noite que passaram juntos, os beijos, os sorrisos, as carícias…

Havia sido tudo tão perfeito e Brian não conseguia entender onde havia errado. Ele não havia se declarado, não exigiu nenhum tipo de promessa por parte de Dawson. Mas mesmo assim Brian acordou sozinho de madrugada no apartamento de Maggie.

Quando acordou, Brian se vestiu e foi procurar pelo cantor pensando que talvez ele houvesse voltado para a festa e apenas o deixado dormindo um pouco mais, mas Maggie falou que Dawson havia ido embora mais cedo sem falar com ninguém. Brian ficou confuso e pensou que talvez ele tivesse recebido alguma ligação urgente ou algo assim e foi para casa. Esperou um dia, dois, três dias... E nada de Dawson aparecer. No quarto, Brian tentou ligar para o cantor, mas o celular só caía na caixa postal. Uma semana depois o ruivinho já estava desesperado procurando pelos hospitais. Mas nada. Dawson parecia ter desaparecido.

Brian ficava em casa esperando que Dawson aparecesse. Não conseguia dormir direito, comer nem escrever. Mas aí depois de ligar para Josh o rapaz resolveu desistir. Não adiantava ficar naquela fossa. Estava doendo muito, porém ele não podia se entregar. Tinha que erguer a cabeça e continuar. Pelo menos tinha as boas lembranças dos momentos naquele quarto…

Era isso o que Brian repetia para si o tempo inteiro, mas lá no fundo a dor estava o matando. Dawson havia prometido que não se afastaria e na primeira oportunidade que teve havia desaparecido.

Quando o avião pousou, Brian foi um dos últimos a descer. Foi pegar sua mala na esteira sem muita pressa e depois pegou um táxi para casa. Durante o caminho foi olhando as fotos que havia tirado com a tia. Ela o fez prometer que retornaria em breve.

Ao chegar no apartamento, Brian jogou a mala no sofá e caiu na cama de barriga para baixo. Só queria dormir. Dormindo ele não pensava em Dawson.

Assim como quando deixou o quarto naquela noite há três meses, Dawson também sentia a mão tremendo ao erguê-la para tocar a campainha. Ele respirou fundo, tentando criar coragem. Ele sabia que as maiores chances eram que Brian nunca mais quisesse vê-lo na vida, depois de seu sumiço, sem nenhuma notícia, nada. Ele só esperava que o ruivo entendesse…

Tocou a campainha e esperou com o coração batendo a mil.

Brian soltou um gemido irritado quando ouviu a campainha. Levantou-se e arrastou-se até a porta achando que poderia ser uma das vizinhas que havia ouvido o movimento no apartamento e estava querendo dar boas vindas. Mas, ao abrir a porta, sentiu toda a cor sumir do seu rosto e suas pernas fraquejarem.

— O que está fazendo aqui? – Perguntou num tom ferido.

— Brian. – Dawson suspirou, sentindo um peso enorme nos ombros. – Eu não deveria ter sumido. Eu vim... Tentar explicar e pedir desculpas. 

Brian soltou uma risada nasalada. Ele não conseguia nem olhar para Dawson. Seu coração estava acelerado e aquele maldito frio na barriga estava lá só por tê-lo diante de si e o ruivinho não queria sentir aquelas coisas.

— Três meses depois? Eu não quero saber, Dawson! – Brian tentou fechar a porta, mas Dawson o impediu. – Você já pisou demais nos meus sentimentos. Não vou passar por isso outra vez.

— Brian, apenas me dá uma chance de explicar! Se depois do que eu falar você nunca mais quiser olhar na minha cara, eu juro que me mudo de Toronto e você nunca mais vai me ver. – Falou num tom sincero, ainda que houvesse certo desespero com a ideia de Brian não aceitar ouvi-lo. 

Uma parte de Brian gritou para que ele fechasse aquela porta na cara de Dawson, mas a outra ficou em dúvida. Ele sabia que iria se arrepender pelo resto da vida se não ouvisse. Por fim, após vários minutos em conflito, acabou dando passagem para o cantor e o deixou entrar no loft.

— Acabei de chegar de viagem. – O autor disse para justificar os móveis empoeirados e a zona na sala.

Dawson entrou no apartamento sentindo-se parcialmente aliviado, mas a parte difícil vinha agora. Ele andou de um lado para o outro, sem saber como começar. Havia treinado aquele discurso mil vezes antes de procurar por Brian. Havia voltado para Toronto há uma semana e conseguido convencer Josh a lhe avisar quando Brian retornaria de viagem. Assim que soube, viera ter com ele.

Precisava se concentrar ou tudo que queria falar sairia embolado e apressado e…

— Eu te amo. – Disparou de maneira totalmente atrapalhada. Depois fechou os olhos e se xingou mentalmente. Não era assim que queria começar. Mas, agora que começara... – Naquela noite... Aquela noite em que a gente transou... Eu percebi isso. Percebi que estava apaixonado. Brian, eu entrei em pânico... E-Eu... Eu nunca senti isso por ninguém antes. – Se aproximou dele e segurou-lhe mãos contra seu peito. – Eu saí no meio da noite querendo colocar a cabeça no lugar. Ela estava uma bagunça... Eu sou uma bagunça, Brian. Eu até mesmo havia prometido para mim mesmo que te protegeria, e isso incluía te proteger de mim! De tão bagunçada e ferrada a minha vida é. Eu simplesmente... Eu não queria te arrastar pra dentro dessa bagunça. Então, eu... Eu fugi. 

Brian abriu a boca para falar algo, provavelmente xingá-lo e dizer que aquilo não justificava nada, que o magoara e fora um covarde, mas Dawson colocou um dedo sobre seu lábio, impedindo-o de estourar.

— Por favor, me deixa terminar. – Pediu. E suspirou. Era tão difícil explicar tudo. – Eu nunca te contei, mas há anos eu estava brigado com a minha família. Por conta das drogas. Eu estraguei a relação que eu tinha com meus pais, meus irmãos... Nós não nos falávamos há anos. Além disso, eu tinha brigado com o pessoal da banda e tudo estava uma bagunça. Durante a turnê, eu cheirei, Brian. O pessoal continuava com a mesma merda, e eu, o viciado idiota, acabei cheirando a ponto de ter uma overdose. Eu parei no hospital, mas o caso foi abafado. Felizmente sai vivo, obviamente. Mas, cara, olhe toda a porcaria... Samuel morreu e eu quase fiz o mesmo comigo, mesmo depois de prometer que iria parar, de te ligar tantas vezes e fingir que tudo estava bem. Eu vi que precisava sair desse círculo vicioso e saí da banda. Eu queria me rearranjar, mas então rolou entre a gente, e eu percebi que estava apaixonado e, droga, eu não queria te meter em tudo aquilo, porque não era apenas sexo, e se não era apenas sexo eu não podia mais esconder as partes erradas e tortas de mim. – Dawson apertou mais as mãos do ruivo. – Eu tive medo. Medo de estragar tudo, de te perder de vez, de você ver através de mim e não querer alguém como eu na sua vida. Então eu fui atrás da minha família. Minha primeira meta foi fazer as pazes com eles e colocar todos os pratos na mesa. Foi difícil, mas eles viram que eu estava sério quando... Decidi internar. Uma clínica de reabilitação. Eu simplesmente não podia continuar com esse vício se eu queria “me ajeitar” pra ficar com você... – Dawson abaixou o olhar. – Eu estou limpo há um pouco mais de três meses e esse é o maior tempo em vários anos. Eu queria que você soubesse… 

O loiro ficou frustrado e o soltou, virando de costas e passando a mão pelos cabelos, que estavam um pouco mais compridos.

— Droga, falei tudo embolado... - Reclamou mais para si mesmo, com a voz baixa.

Brian ficou tão chocado com tudo aquilo que precisou ir até o sofá e sentar para tentar absolver o que havia escutado. Ele ficou olhando para Dawson, que ainda estava de costas, com os lábios entreabertos e o coração acelerado.

— Você quase morreu? – Murmurou com a voz rouca. Lágrimas começaram a despencar dos olhos do rapaz sem que ele conseguisse impedir. – Droga, Dawson! Por que você não me procurou? Eu queria estar ao seu lado quando você fosse procurar a sua família, quando você fosse se internar... Eu pensei... Pensei que você estivesse arrependido, que não quisesse mais me ver! E você... – A voz de Brian se partiu e ele afundou o rosto nas mãos sem conseguir parar de chorar. – Naquela noite eu quis dizer que te amo, mas me faltou coragem. Pensei que estragaria tudo se dissesse…

Assim que percebeu que o ruivinho começara a chorar, Dawson foi rapidamente até ele e se ajoelhou, voltando a segurar suas mãos.

— Me perdoa. Eu sou um idiota. Eu... Não sei lidar muito bem com esses sentimentos. Mas eu queria ser um “cara decente” quando admitisse todos eles. – Ele estendeu a mão e limpou a lágrima que escorria pela bochecha do ruivo. – Todos os dias... Eu pensava no quanto eu queria que esse momento chegasse. Me desculpa por te deixar preocupado e pensando um monte de coisas nesse período. – O loiro abaixou a cabeça e suprimiu as lágrimas que também quiseram surgir em seus olhos. – Eu tinha medo do fracasso e ainda tenho, de fracassar em melhorar para ficarmos juntos e por isso não te avisei nada, não queria que você me visitasse e visse minhas crises de abstinência. Me desculpa. Eu prometo que nunca mais vou fazer você sofrer se me der uma chance…

Antes que Brian pudesse responder, Dawson se levantou num rompante.

— Espera. Eu tenho outra coisa pra te mostrar. – Ele foi pro quarto de Brian e voltou dali com o violão que deixara no apartamento dele quando ficara morando ali alguns dias. – Eu compus uma música pensando em você... Queria que escutasse. – Pediu e se sentou no sofá.

Olhou para Brian cheio de esperança, então começou a dedilhar. Sua voz saiu um pouco tremida no início, mas logo ganhou força e encheu todo o apartamento. Nela, ele explicitava todo o arrependimento e culpa que sentia, e o quanto queria que as coisas voltassem a dar certo entre eles.

Now I know I messed up bad

You were the best I ever had

I let you down in the worst way

It hurts me every single day

I'm dying to let you know

Now I'm here to say I'm sorry

And ask for a second chance

Cause when it all comes down to the end

I could sure use a friend

So many things I would take back

You were the best I ever had

I don't blame you for hating me

I didn't mean to ever leave you

You and I were living like a love song

I feel so bad, I felt so bad when I were gone

Now I know you're the only one that I want

I want you back, I want you…

Quando terminou, Dawson respirou fundo e encarou o loirinho. 

— Então... – Segurou a mão dele. – Você me perdoa?

— Você é um bobo... Idiota... – Brian tentava falar. Estava tão emocionado que sua voz estava saindo fraca e baixa. – Como eu posso não te perdoar? Eu te amo. Te amo demais. Mesmo que você tivesse me dito tudo isso antes... Eu não deixaria te amar. Eu teria ficado do seu lado e te ajudado, mas você conseguiu superar e eu quero estar ao seu lado a partir de agora. – Ele parou de falar e se atirou braços de Dawson o abraçando com força, mas logo se afastou e procurou a boca dele para um beijo. 

Dawson o abraçou e segurou-lhe a nuca, aceitando e aprofundando o beijo. Seu coração batia forte e ele estava sentindo um alívio e felicidade sem igual, que chegou a chorar também. Ele abraçou Brian tão forte que com certeza chegou a deixá-lo sem ar. Depois passou a distribuir beijos pelo rosto e pescoço do ruivo, sem conseguir parar.

— Tenho outra coisa para contar... – Ele disse ainda beijando-o. – Fechei contrato com uma gravadora canadense. Vou iniciar carreira solo, e essa é a música que vai me lançar no mercado. 

— Sério? – O rosto de Brian se iluminou. – Tenho certeza que será um sucesso. A música é linda... E não digo isso só porque ela foi feita pra mim. – Mordeu o lábio inferior. – E dessa vez quando você for sair em turnê eu vou junto. – Foi se convidando. – Eu confio em você e sei que você vai ser forte. Não é por isso que eu quero ir. Quero ir porque eu quase morri de saudade...

Dawson sorriu e fez carinho no rosto do ruivo.

— Eu vou adorar. – Falou e voltou a abraçá-lo. – Eu também estava morrendo de saudades. Eu não quero ficar longe de você por um bom tempo. Vou ser mais grude que chiclete. 

Brian sentou no colo do loiro e afundou o rosto na curva do pescoço dele.

— Estou com medo de estar sonhando... 

— Não está. Até porque se alguém estiver sonhando aqui, esse alguém sou eu. – Dawson falou de uma maneira carinhosa, antes de beijá-lo. 

O beijo aprofundou a ponto de os dois acabarem na cama e matarem toda a saudades nos braços um dos outro. Foi ainda mais intenso que da primeira vez. Dessa vez, ambos tinham certeza de seus sentimentos e não precisavam escondê-los. Cada toque do cantor era carinhoso, mas cheio de desejo e paixão, urgência, e sua maior preocupação era o prazer do ruivo. Eles não cansavam de repetir que se amavam e fazer outras várias promessas. 

Horas depois, eles continuavam deitados na cama, abraçados, trocando carinhos e conversando. Dawson contou tudo sobre a família dele, sobre os dias na clínica e todos os seus planos para o futuro. 

— Quero comprar um apartamento pra gente morar junto. Aqui no seu muquifo não dá, e eu dividia um apartamento com o Travis antes, então... 

— Eu não tenho horário fixo, quando começo a escrever esqueço do mundo, sou a desorganização em pessoa... – Brian enumerou os seus “defeitos” e enquanto falava o ruivinho ouvia as batidas calmas do coração de Dawson. – Se você me quiser mesmo assim, a gente pode procurar um apartamento.

— Como se eu já não conhecesse seu jeito quando entra no modo “escritor”. – Dawson murmurou, beijando-o no ombro. – Começaremos a procurar o quanto antes. Amanhã até! – Falou energético. – Eu não quero ficar mais nenhum minuto separado de você. – Falou deslizando a mão pela lateral do corpo do ruivo. – Você é meu e não quero ninguém pensando diferente. – O puxou para mais perto, abraçando-o e inspirando fundo o cheiro em seu pescoço.

Brian riu e, mordendo o lábio, girou o corpo e ficou por cima do cantor. 

— Concordamos nisso então. – Sussurrou com os lábios bem próximos aos dele e não demorou muito para que estivessem se amando mais uma vez.

XxxX

Finalmente havia chegado o grande dia da inauguração do café-pub de Efrem. O príncipe estava nervoso observando as pessoas conversarem nas mesinhas. No palquinho um pianista tocava acompanhado por uma violinista. Tudo era bem simples, mas de bom gosto e com um clima aconchegante e familar.

Mas, apesar de as pessoas estarem aparentemente curtindo o lugar, Efrem estava uma pilha de nervos e só para piorar Josh estava atolado com vários pedidos do mais novo drink “Príncipe de Altai” que estava fazendo sucesso entre os clientes. E que inclusive eles haviam patenteado.

— Mano, relaxa. – Georgiy chegou por trás e deu uma “gravata” no pescoço do irmão mais velho.

— Não vi vocês chegando. – Efrem falou enquanto tentava se livrar dos braços de Georgiy.

— Você estava muito ocupado se borrando de medo do negócio ser um fracasso, mas relaxa! Tem uma fila enorme de espera lá fora! – Georgiy falou.

— Eu adorei! – Foi a vez de Niko pular em cima do irmão e abraçá-lo. – Com certeza eu e o Conrad seremos clientes assíduos. 

— Estou louco para provar o tal drink que todos tanto comentam... – Alek disse num tom mais polido e contido.

Efrem sorriu para os três irmãos. Era muito importante para ele que os três estivessem com ele naquele momento.

— E o seu namorado, Niko? – Efrem perguntou.

— Ficou perto do barzinho conversando com o Josh. Vamos até lá. Alek e Georgiy estão loucos para conhecê-lo. – Niko disse enquanto puxava Efrem pela mão.

Georgiy começou a tagarelar sobre a decoração enquanto Niko falava com Alek sobre alguns assuntos burocráticos da embaixada e, enquanto atravessavam o lugar, várias cabeças viraram para dar uma espiada nos quatro príncipes de Altai juntos.

— Josh... – Efrem chamou o namorado assim que se aproximou. Conrad estava de pé ao lado do balcão e Niko foi direto para os braços do loiro assim que o viu.

Josh sorriu após receber um beijo breve e então, sem nem perceber a
presença dos outros, mostrou empolgado para Efrem uma nova bebida que havia inventado nos intervalos entre os atendimentos.

— Experimenta! Eu vinha pensando numa nova bebida já há alguns dias e
fiz uns testes em casa, mas hoje me inspirei e dei um toque final! Essa não é tão doce. Misturei kiwi e limão, com a Vodka Belvedere  Orange, e um pouquinho de Chambord! - Entregou o copo para ele. Tinha um tom laranja-ouro com o fundo mais escurecido. - O que você acha?

— Muito bom. – Efrem sorriu e tomou mais um gole. – Você vai ser a sensação do pub. Cada drink é mais gostoso do que o outro.

— Eu também quero! – Georgiy pegou o copo das mãos do irmão e tomou um gole generoso. – Puxa... Já experimentei muitas bebidas por aí, mas essa aqui... Uau... Quero mais! – Disse todo empolgado para Josh.

— Georgiy! – Efrem o repreendeu.

— Acho que o Georgiy vai carregado pra casa hoje. – Niko riu enquanto Alek girava os olhos.

— Georgiy não tem educação nenhuma. – Alek disse e se virou para Josh. – Muito prazer. Sou Alek e aquele é o Georgiy. 

— Mais? – Georgiy estendeu o copo vazio para Josh com um olhar de pidão.

Niko gargalhou enquanto Efrem dava um cascudo na cabeça de Georgiy.

— Ai, desculpa, ‘tava tão empolgado que nem vi vocês! – Josh riu e aceitou os cumprimentos. Um aperto de mão em Alek e Georgiy, e um abraço em Niko. – E eu já faço mais um desses, mas vocês precisam ajudar com um nome! Sugestões?

— Se você quiser dar o meu nome fique à vontade. – Gerogiy disse todo apresentado e levou outro peteleco de Efrem.

— Por que você não vai circular e deixar de falar bobagens? – Efrem perguntou.

— É mais divertido te ver todo emburrado. – Georgiy sorriu. – E eu quero experimentar todos os drinks! E você poderia chamar esse de “inspiration”. Mas ainda acho que você pode criar um drink com o nome de cada um de nós. Aposto que o drink Georgiy é o que vai vender mais porque eu sou o mais legal, descolado e gostoso, claro.

— Georgiy! – Niko e Efrem saltaram em cima do irmão e começaram a enchê-lo de petelecos enquanto Alek só suspirava e dizia um “não mudam”.

— Efrem, você não ia tocar? – Alek perguntou para o irmão.

— E eu vou dançar! – Niko se animou todo.

Josh estava rindo, mas ele realmente gostou do nome “Inspiration”. Era simples, mas descolado e passava uma primeira impressão boa. 

— E eu tenho que continuar servindo! O lugar ‘tá lotado e, olha, o Dawson e o Brian finalmente apareceram! – Ele sorriu ao ver o ruivo e o cantor entrarem. 

Foi primeiro até eles pulando em cima dos dois para um abraço.

— Que bom que vieram! E é tão bom ver vocês dois juntos e acertados! – Falou sem restrições. – Vocês tem que se sentar ao balcão! Tem dois lugares reservados para vocês ali. Assim podemos conversar mais. E agora o Efrem vai tocar, e eu preciso correr ali para a mesa sete!

— Esse garoto é tão elétrico que eu mal consigo acompanhar. – Dawson brincou seguindo Josh com o olhar. Em questão de segundos ele já estava na mesa sete pegando os pedidos. 

— Eu vim mais por consideração a ele. Estava tão bom ficar sentado no sofá com você me abraçando enquanto a gente se entupia de pipoca. – Brian apertou a mão de Dawson com mais força enquanto eles andavam até o balcão.

— Também acho. – Dawson o abraçou por trás quando chegaram no balcão. – Mas quando voltarmos vamos fazer muito mais do que apenas nos abraçar. E eu vou comer outra coisa. – Brincou todo malicioso. 

Brian se arrepiou inteiro e riu enquanto virava nos braços do namorado.

— Eu vou cobrar essa promessa. – Falou enquanto passava os braços em volta do pescoço dele.

No palco, Efrem fazia um discurso sobre o quanto estava agradecido pela presença de todos e dedicou a música que tocaria aos irmãos e Josh. Ele começou a tocar When I was your man do cantor Bruno Mars. Niko o acompanhou dançando e Georgiy, de última hora e sem combinar nada, subiu no palco e começou a cantar.

Vários casais levantaram e começaram a dançar.

— Dança comigo? – Brian murmurou.

Dawson apenas sorriu e o guiou até onde as pessoas dançavam. 

— Agora que chegou o verão, deveríamos ir de novo no Canada’s Wonderland. Você ficou todo chateado aquele dia porque não pudemos ir no parque aquático. – O loiro lembrou no meio da dança.

— Você vai me arrastar para todas as montanhas russas de novo! – Brian fingiu fazer drama, mas logo começou a falar todo empolgado sobre os brinquedos que poderiam ir e ficou tagarelando boa parte do tempo enquanto dançavam. 

No palco, Efrem terminou a música e foi procurar por Josh. Georgiy continuou cantando todo empolgado acompanhado da banda que estava começando a sua apresentação.

— Você foi ótimo! – Josh pulou em cima de Efrem. – Em comemoração ao sucesso da noite, vamos transar lá em cima enquanto todo mundo está distraído aqui embaixo! – Sugeriu animado. 

Efrem deu uma gargalhada e, depois de conferir se tinha alguém olhando para eles, puxou Josh em direção das escadas.

Depois de dançar mais duas músicas, Brian e Dawson voltaram para os seus lugares no balcão, mas Josh não estava por lá então os dois acabaram indo procurar uma mesa para poder conversar com mais privacidade já que o balcão estava bem lotado.

— Sabe. – Brian começou a dizer para o namorado. – Depois da sua turnê aqui pelo país, nós podíamos copiar a ideia do Leonard e do Tommy e sair pelo mundo.

— Ideia fantástica! – Dawson exclamou abrindo um sorriso enorme. – Viu como eu te ensinei bem a como aproveitar a vida? – Falou se gabando.

Brian girou os olhos, mas sorriu enquanto se mexia um pouquinho para o lado e acabou sentado no colo de Dawson.

— Tem alguém aqui que é muito convencido... Acho que ficaria ainda pior se eu dissesse que você é a minha inspiração. – O ruivinho murmurou com os lábios próximos aos do namorado.

— Correção: - Dawson levantou um dedo e abriu um sorrisinho maroto. – Eu sou a sua louca inspiração. – Disse, antes de apertá-lo em seus braços e dar-lhe um beijo apaixonado. 

 


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Notas finais do capítulo

Eu amo essa música do State of Shock e acho que caiu perfeitamente com a história, e vocês?
É isso minha gente querida, se alguém chegou até aqui, eu e a Bia agradecemos de coração, espero que tenham se divertido! Eu me diverti muito relembrando estes dois casais, são muito fofinhos e agora eu sou mais velha e extremamente romântica e babona em fofuras hahaha
Um grande beijo!



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