Louca Inspiração escrita por Mililika, Bia Kenway


Capítulo 2
O cara é um príncipe!




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Brian chegou em casa e foi direto para o computador. Abriu o arquivo com os episódios do seriado e começou a digitar rapidamente os próximos fatos do episódio em que estava travado, sem se incomodar com erros ou com uma sequência lógica. Foi incrível como tudo saiu com uma facilidade absurda. Era como se ele nunca tivesse passado por um bloqueio. E o que mais o surpreendeu foi conseguir desbloquear após apenas uma noite ao lado de Dawson.

Ele escreveu, escreveu, escreveu até sentir que os dedos estavam dormentes e seus olhos cansados, mas não parou. O dia amanheceu, seu estômago começou a reclamar de fome, contudo nem assim ele parou. Precisava continuar para não perder a rajada de boa inspiração.

Até que lá pelo meio da manhã ele tombou sobre a mesa e começou a cochilar ali mesmo.

Quando Brian acordou, ele estava deitado na cama e havia uma bandeja de café da manhã no criado-mudo. Poucos segundos depois de ele abrir os olhos e se situar, Dawson saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura.

— Peguei emprestada. – Disse despreocupado, se referindo à toalha. – Também fui ao mercado mais cedo e comprei algumas coisas. Você não tinha nem pão em casa. 

Brian sentiu o rosto arder ao encarar o dorso nu e molhado de Dawson.

— Obrigado. – Murmurou enquanto pegava a bandeja e viu que havia o mais variado tipo de frutas ali. – Acho que desde que eu comecei a morar sozinho nunca tomei um café tão reforçado. – Comentou enquanto pegava um morango. Havia banana cortada com granola e iogurte também aparentemente. – Pelo visto você se colocou bem à vontade. Dormiu bem? – Continuou se servindo, sentindo as orelhas quentes e evitando olhar para o cantor.

— Sim, compus duas canções. Foi bem produtivo. Ainda faltam os retoques junto com o resto da banda, mas acho que ficaram muito boas. – Dawson disse com um ar satisfeito. – E você também pareceu bem inspirado, estava perto de amanhecer quando eu fui dormir e você ainda estava escrevendo feito um doido! Agora são três da tarde, não sei se dá pra chamar isso daí de café da manhã. – Riu divertido, indo até a bandeja e capturando uma maçã dali. Deu uma boa mordida e depois se jogou na cama de barriga para cima. 

— Três? – Brian estava no processo de engolir e começou a tossir. – Eu desliguei completamente. Sabe quando você dorme e acorda completamente desorientado? Eu quis aproveitar a inspiração. Estou muito atrasado. Vai que eu deixava pra depois e acordava bloqueado de novo. Não mesmo. – Falou e tomou um gole do suco. – O show ontem foi muito bom. Aliás, a noite toda foi ótima. Obrigado. Me ajudou muito realmente.

— Ótimo! – Dawson se levantou e, sem a menor cerimônia, jogou a toalha na cama e catou suas roupas para se vestir. – Eu tenho um ensaio com a banda daqui uma meia hora. Vou ter que ir. Quando precisar de mim, é só ligar. Estarei por perto. 

Os olhos de Brian dobraram de tamanho enquanto Dawson “desfilava” pelo quarto com tudo a mostra. É claro que o escritor não conseguiu não olhar para o pênis do cantor logo abaixo dos pelos pubianos também loiros e corou pelo tamanho dele.

“Corar por isso é ridículo. Tenho que parar com essa bobagem! Dawson vai ser meu amigo e pra ele esse tipo de situação é normal. Se eu ficar com esse tipo de coisa ele vai acabar achando chato e estranho e pode se afastar!”, Brian pensou após um suspiro exasperado.

— Tudo bem. Eu vou terminar o café-almoço quase jantar, tomar uma ducha e voltar a escrever –  Brian disse fazendo-se de indiferente.

— Certo. – Dawson terminou de se vestir e foi até Brian, dando um beijo estalado na bochecha dele antes de caminhar para a porta com o casaco jogado sobre um dos ombros. – Amanhã eu passo aqui para te pegar de novo. Já tenho tudo planejado. – Disse antes de ir, sem dar-se ao trabalho de informar o que exatamente tinha em mente. A surpresa era bem mais interessante, certo?

Dawson teve um dia cheio, ensaiando com a banda e planejando mais alguns detalhes da turnê que aconteceria dali a seis dias. No entanto, vez ou outra seus pensamentos vagavam para certo ruivinho, e ele se perguntava se ele estaria conseguindo escrever.

O loiro tinha vários planos para Brian, mas sabia que precisava ir aos poucos. Ele fugiu e ficou muito agitado após uma mera proposta de sexo casual com um cara conhecido em uma festa. Isso não parecia nada para Dawson, mas para o ruivo significava muito. O cantor não queria assustá-lo.

Por isso, no dia seguinte, em torno de nove horas da manhã, ele bateu à porta de Brian. Não havia avisado que horas passaria ali. Dawson nunca fora muito regrado com horários, então preferia aparecer de surpresa, na hora que bem desejava.

— Brian! - Chamou, batendo mais uma vez à porta. - Acorde, preguiçoso!

Brian acordou com um sobressalto quando ouviu Dawson batendo na porta do loft. Ele havia dormido (de novo) de qualquer jeito tombado sobre o teclado do computador e acordou com uma senhora dor nas costas.

— Já vou. - Resmungou enquanto andava aos tropeços para atender a porta. - Oi. - Murmurou enquanto dava passagem para o cantor. - Que horas são? 

— Já são nove horas! Até que horas você costuma dormir? – Dawson perguntou como se ele próprio não costumasse dormir até não aguentar mais. – Vá se arrumar, temos de estar lá às dez, porque depois vira um inferno de tanta gente. 

— Eu andei escrevendo muito. – Brian tentou justificar enquanto encarava o chão e ficou todo sem graça. – Posso saber para onde vamos? – Perguntou desconfiado.

— É claro que não! – Dawson exclamou revirando os olhos. – Coloque uma roupa confortável e vamos. Está um sol ótimo lá fora! – Informou energético.

Mais desconfiado do que antes, Brian foi tomar uma ducha e escovar os dentes. Comeu uma fruta, uma torrada que Dawson montou enquanto tomava uma ducha e se vestia, e um um copo de café antes de sair, mas ainda estava se sentindo sonolento enquanto descia até a entrada do prédio ao lado de Dawson. Ele estancou onde estava ao ver que o loiro veio buscá-lo em um “monstro de duas rodas”.

— Eu não vou andar nisso. – Brian deu meia volta para retornar para casa.

Dawson o segurou pelo braço, soltando uma risada.

— Deixa de ser medroso. – Soltou numa provocação. – Eu sou ótimo dirigindo essa belezinha. 

— Não é medo. É ser precavido!

O ruivinho tentou de todas as formas escapar, mas Dawson acabou o pegando pela cintura e o fez montar na garupa da moto. Depois que Brian estava com o capacete, Dawson montou também e arrancou antes que o autor tivesse chance de pensar em descer. Brian deu um gemido, assustado, e se agarrou ao loiro como se ele fosse uma tábua de salvação.

— Segure-se bem! É meia hora até lá! – Dawson avisou. 

O cantor costumava ser meio ousado com a moto, mas como Brian parecia apavorado, ele foi bem comportado e também cuidou para não andar tão rápido. No entanto, às vezes fazia alguma manobra mais impetuosa apenas para sentir o ruivo abraçando-o com força. Era uma sensação gostosa.

O destino era o parque temático Canada’s Wonderland, que ficava pertinho de Toronto, em torno de 50km ao norte do centro da cidade, no subúrbio Vaughn. O lugar tinha 330 acres e, inaugurado em 1981, fora o primeiro grande parque temático do país. Quando chegaram, Dawson parou a moto no estacionamento e esperou Brian descer, antes de fazer o mesmo e tirar o capacete.

Todo o parque era organizado, arborizado, florido e cheio de animais. A entrada era repleta de flores e possuía um chamativo chafariz. O loiro achava o lugar muito inspirador.

— Não sei se já veio aqui. – Comentou botando o capacete embaixo do braço. – Tem dezessete montanhas-russas. Precisamos ir em todas! – Falou animado. 

— Uau! – Brian exclamou, completamente impressionado pela entrada magnífica do lugar e até esqueceu momentaneamente da aventura na moto. – Eu já tinha ouvido falar sobre esse parque, mas nunca tinha tido coragem de vir aqui e... Dezessete? – Parou de falar quando captou a última parte da fala do loiro. – Prefiro andar de volta pra casa no monstro duas rodas! – Murmurou apavorado enquanto tentava dar meia volta.

Dawson voltou a segurá-lo, dessa vez passando um braço por sua cintura e puxando-o contra seu corpo, deixando as costas do ruivo encostarem ao seu corpo.

— Pare com isso! – Disse com um ar de quem se diverte. – Você passou a vida toda deixando a sua família te prender, e deixando você mesmo se prender. Você se segura para não falar o que pensa por medo da reação dos outros, tem medo de se permitir e deixar levar, medo das consequências... Pois bem, decidi te trazer aqui para te dar uma chance de se soltar e esquecer o medo de uma maneira divertida. Pense nisso como seu primeiro passo para a liberdade. Você não quer ser livre, Brian?

Brian olhou de Dawson para a entrada do parque várias vezes. Ele tinha razão no que dizia e o ruivinho ficou até um pouco assustado como o cantor parecia o conhecer tão bem.

— Eu quero. – Murmurou enquanto encarava o cantor e lutou para não corar nem desviar o olhar já que a timidez e o medo estavam gritando “corra!” naquele momento. – Eu quero muito... Mas dezessete montanhas russas é demais. Talvez possamos negociar para duas? – Acrescentou numa tentativa de tentar parecer mais relaxado.

Dawson estufou o peito, vitorioso.

— Vou pensar no seu caso. – Falou antes de segurar-lhe a mão e começar a puxá-lo para dentro do parque. – Mas se iremos apenas em duas... Então iremos nas duas piores. – E sorriu diabólico. 

Brian tremeu tanto de medo pelas montanhas russas quanto pelo modo como Dawson segurava a sua mão. Ainda era cedo e as pessoas que passavam por eles não pareciam dar atenção aos dois de mãos dadas.

— Se vai ser assim, eu escolho ir no Planet Snoopy entre uma montanha russa e outra. – Brian disse após consultar brevemente o mapa que receberam com as atrações. – E se tiver aquelas barraquinhas de tiro, você vai ganhar um Snoopy pra mim. – Falou pra implicar.

— Hmmm, alguém está aprendendo a fazer exigências. – Dawson sorriu de maneira maliciosa. – Gosto disso.

Parando de andar, Brian olhou surpreso para Dawson.

— Você iria mesmo lá se eu quisesse ir? – Perguntou. – Não te imagino muito fazendo um tour por lá já que parece ser algo mais infantil... Mas você iria se eu pedisse?

Geralmente Brian não pedia nada porque estava acostumado a ouvir “não” então pra que pedir? Ao longo da vida ele foi deixando suas vontades para lá por causa disso: ele sempre achava que ia ouvir um “não” em resposta ao que pedia.

— Por que você não tenta pedir, antes de automaticamente assumir que ganhará um não? – Dawson sugeriu. – Quem sabe eu não goste também de coisas mais infantis?

Brian o olhou por um momento com uma expressão cética no rosto.

— O Planet Snoopy não é um lugar que você iria por livre e espontânea vontade. – O autor disse com convicção. – E se for realmente pra pedir alguma coisa eu acho que gostaria de tentar o White Water Canyon. Parece divertido. – Comentou após consultar o mapa das atrações outra vez. – E eu parei de pedir as coisas depois de um tempo quando todos ao meu redor começaram a dizer “não” para tudo o que eu pedia. – Falou como se o fato não fosse nada demais. Era sempre “você não precisa disso”, e “isso não é algo para um garoto de família” e todas essas variantes.

Dawson suspirou e se aproximou de Brian, pegou as duas mãos dele e segurou entre as suas.

— Eu trouxe você aqui para se divertir. Eu vou aonde você quiser ir, e com prazer, porque vai ser em tua companhia, e isso que me importa. Claro, eu exijo algumas montanhas-russas. – O loiro sorriu torto. – E você não deveria parar de pedir, ou exigir certas coisas porque acha que vai receber um não. Olha... Vou ser sincero. Eu passei essa noite inteira pesquisando sobre você. Sabe, você tem até página na wikipedia. – Contou o cantor. – Eu li que você já escreveu dois longa-metragens independentes e um seriado menor com uma produtora amadora antes desse que com a Allen, além claro dos empregos como auxiliar de roteiro. Adam viu potencial em você e aceitou produzir o seu seriado. E isso foi um baita salto na sua carreira! Mas eu também li... Que o seriado está com risco de ser cancelado se não aumentar a audiência na segunda temporada, especialmente por conta da crise com o sumiço de Thomas. – Dawson apertou mais as mãos de Brian ao vê-lo baixar a cabeça. – Você não acha que isso pode estar acontecendo porque você está deixando os co-roteiristas tomarem demais o controle? Algo não parece certo! O diretor mais premiado do Canadá não te contratou porque tudo que você podia escrever era um seriado comum, Brian! Você não pode aceitar as coisas de cabeça baixa porque seus avós foram uns controladores filhos da puta durante quase toda a sua vida.

Brian continuou encarando o chão por alguns segundos antes de erguer a cabeça e encarar Dawson. Suas mãos estavam trêmulas entre as mãos fortes e grandes do cantor.

— Eu escrevo o roteiro, mas depois é enviado para uma equipe que faz modificações. Isso começou a acontecer quando a audiência começou a cair um pouco. Tenho que aprovar as mudanças que eles fazem e... Não consigo me impor diante deles e dizer que eles não devem mexer em nada. Muita coisa do que eu escrevi foi alterado, inclusive na parte do romance do casal principal. Eu odiei o que eles fizeram… – Confessou. – Mas eu não quero falar sobre isso agora porque só vai estragar o nosso dia. Agradeço por você me trazer aqui e o apoio que está me dando nesse momento. – Esboçou um sorriso.

Dawson não sabia por que, mas aquela expressão de menino perdido de Brian mexia com ele. Ele queria abraçá-lo e dizer que tudo ficaria bem. Mas tudo não ficaria bem, se o ruivo não começasse a se impor. E era nisso que o loiro queria ajudá-lo.

— Ok, para te alegrar um pouco, vamos começar pelo parque do Snoopy. Montanhas-russas depois. – Falou e voltou a andar, mantendo uma das mãos de Brian presa na sua. 

Brian acabou rindo pra valer agora e se deixou levar por Dawson.

— Ok. Eu quero mesmo muito um Snoopy. – Disse o ruivo com um ar de criança que ganharia um doce. – Posso chamá-lo de... Daw-Daw. – Falou após uma falsa pausa dramática. – Não consigo pensar em nenhuma forma de juntar Snoopy com Dawson. Então vai ser Daw-Daw.

Dawson fez uma expressão de horror, mas depois ficou sério e pensativo por alguns segundos.

— Hm, me pergunto o que você fará com esse Snoopy no meio da noite. – Seu rosto era todo reflexivo. 

— Por favor, não me diga que está pensando em algo inapropriado para menores. – Brian disse após um gemido, mas Dawson apenas abriu um sorriso safadamente culpado.

Enquanto andavam, Brian ia olhando a paisagem e fazendo algumas anotações mentais para usar alguns daqueles cenários como inspiração para as telas do seu personagem.

— Ah! Tira uma foto aqui! – Entregou o celular para Dawson enquanto desprendia sua mão da dele e ficou diante de uma fonte com uma das montanhas russas ao fundo. – Vou mandar para o Leo e pedir uma pintura. – Explicou.

Dawson primeiro tirou uma foto do ruivo, depois o abraçou e tirou uma selfie dos dois juntos. 

— Temos de tirar muitas fotos hoje. – O loiro falou. – Vou postar uma nossa na sua página da wikipedia com a legenda “O diretor Brian com seu melhor amigo Dawson. Boatos de que os dois mantém uma relação além da amigável.” – Riu da ideia. 

Brian estava olhando para a foto dos dois no seu celular e sorrindo sem nem perceber, mas aí ouviu o que Dawson falou e girou os olhos.

— Se você fizer isso eu nunca mais falo com você! – Resmungou. – E isso é injusto... Vou ler o que tem no Wikipédia sobre você. – Começou a digitar o endereço da página no navegador do celular.

— Vai estar escrito que eu sou o cantor mais bonitão do Canadá. – Dawson estufou o peito. 

Brian girou os olhos.

— Vou mudar para o “mais convencido do Canadá”.

Eles continuaram caminhando, mas volta e meia paravam para tirar fotos ou ver algum brinquedo. Havia um que subia a 70 metros de altura e caia lá de cima a 100 km/h.

— Dá medo só de pensar, mas a vista lá de cima deve ser incrível. – Brian comentou com um frio na barriga, imaginando como seria despencar a uma velocidade daquelas.

— Então vamos nele! Não é montanha-russa, então não entra nas duas que já vamos ir. – Dawson falou empolgado. Ele adorava adrenalina. 

O loiro ignorou os gemidos e resmungos de Brian, e então enfim eles chegaram no "Snoopy Planet". O lugar era para crianças, todo colorido e lúdico. Eles não andaram nos brinquedos, é claro, mas tiraram mais fotos, uma delas com o Snoopy. E enfim acharam uma barraquinha de tiro ao alvo.

Dawson jogou e, todo cheio de pompa, ganhou um Snoopy de pelúcia para o ruivo.

— Pronto, para você se lembrar de mim todas as noites. - Piscou um olho ao entregar o bichinho. 

Os lábios de Brian estavam entreabertos e ele se sentiu um idiota quando seus olhos se encheram de lágrimas.

— Desculpe. – Disse enquanto pegava o Snoopy, ou melhor, o Daw-Daw, e limpava os olhos com a mão livre. – Eu sempre fui uma manteiga derretida. Não imaginei que você fosse realmente... Você é um bobo, Dawson – Disse meio rindo, meio chorando. – Faz tanto tempo que eu não ganho um presente. – Disse feliz enquanto abraçava o bichinho de pelúcia com força.

Dawson arregalou os olhos ficando completamente assustado. Ele definitivamente não sabia como agir e o que dizer perto de alguém chorando. Desajeitado e meio grosseirão pelo nervosismo,  ele deu um empurrão leve no ombro de Brian.

— Deixa de ser chorão. - Falou em um ar que tentava ser relaxado. - Não foi nada demais, só um bicho de pelúcia feio.

Brian mordeu o lábio inferior com força enquanto apertava o ursinho contra o corpo. Para ele aquele gesto de ganhar a pelúcia e dar para ele significava muito, mas para Dawson parecia ser algo normal e insignificante. E deveria ser mesmo, afinal eles mal se conheciam e Dawson devia estar preocupado com o possível cancelamento do seriado já que isso influenciaria a carreira dele também. Então ele estava se certificando que Brian ficaria bem para que o seriado e as músicas de Dawson continuassem populares. 

Além disso, a forma como Dawson o empurrou (mesmo que de leve) o lembrou quando os garotos do colégio ficavam o empurrando até fazê-lo cair ou chorar. Brian sabia que a intenção de Dawson não era essa, mas foi impossível não lembrar.

— Tudo bem. Já parei de chorar. Foi só um lapso. - Disse com a voz neutra. - Eu vou comprar um algodão doce.

Afasou-se antes de Dawson pudesse se manifestar e entrou na pequena fila.

Enquanto esperava, um menino se aproximou e ficou olhando com cara de pidão para o algodão doce. Brian sorriu e se abaixou para falar com ele.

— Olá. Seus pais não te deixaram comprar um?  - Perguntou.

— Meu papai disse que eu fico elétrico demais quando como doce. - O menino disse com ar de tristeza.

— Ai, Liam! Não me assuste assim! - O pai do menino chegou naquele momento. - Pensei que tinha te perdido de vista. Aqui é muito grande.  Você não pode se afastar assim! Desculpe se ele incomodou.

— Estávamos conversando. Não me incomodou. - Brian sorriu e depois olhou bem para o rapaz negro. - Ah! Eu conheço você…

Ele parou de falar quando Tim levou um dedo aos lábios em um pedido de silêncio. 

— Eu sou o Brian. Trabalho na emissora. - Falou em um tom baixo. - Você estava na festa de lançamento do meu seriado. 

— Sim. Eu me lembro de você agora. - Tim sorriu simpático. - D. foi convidado para fazer uma participação no seu seriado. - Ele evitava falar o nome completo do marido em público para não chamar atenção das pessoas para eles. 

— Sim. Ele ainda não respondeu. - Brian encolheu os ombros.

— Eu não sei direito como anda a agenda dele. - Tim ponderou. 

— Te achei! – Dawson exclamou ao caminhar até Brian. Ele tinha um sorriso enorme no rosto e, ao finalmente parar na frente do ruivo, estendeu outra pelúcia para ele. – ‘Tó. Já que gostou tanto do Snoopy, eu joguei de novo para pegar o Woodstock. Ele é menorzinho e a moça lá falou que dá pra encaixar no colo do Snoopy. – Colocou a pelúcia no braço do outro bichinho e, realmente, ela parou ali. – Erm... Só não precisa chorar de novo. Pessoas chorando é algo que me deixa extremamente nervoso... Uma vez fugi de uma fã porque ela começou a chorar. – Coçou atrás da cabeça com um sorriso totalmente desajeitado e culpado.

Só então ele percebeu a presença de Timothy e do menino que ele carregava no colo, o qual, por sinal, estava com um olho gordo para cima das pelúcias de Brian.

— Pera... Eu te conheço... – Analisou-o. – AH! É o Timothy, esposo do Devon Moreau! – Exclamou e nem percebeu todo mundo que estava por perto se virando na direção deles. – Onde está aquele loiro infeliz? – Xingou de maneira “amigável”, olhando para os lados. – Eu e ele tivemos bons papos na festa do seriado do Brian! 

Brian nem teve tempo de ficar emocionado de novo pelo segundo presente em menos de dez minutos já que Dawson estragou o disfarçe de Timothy e o professor ficou todo sem graça com aqueles olhos curiosos os encarando.

— Ele estava correndo de um brinquedo para o outro com os sobrinhos. Esse aqui fugiu de mim e eu me afastei para procurar. - Tim explicou.

— Eu posso comprar um algodão doce pra esse rapaz simpático? - Brian perguntou enquanto fazia um carinho no topo da cabeça de Liam.

O menino abriu um sorrisão que amoleceu o pai e Tim acabou sem jeito para dizer "não". O professor aprendeu na pele o quanto Damien sofria com isso de negar os desejos dos filhos.

— Um pequeno. - Concordou por fim. - Enfim, vamos procurar pelo Devon para você cumprimentá-lo. - Disse para Dawson.

Dawson concordou e, após a compra do algodão doce para Liam, eles caminharam juntos pelo parque. O loiro passou um braço pelos ombros de Brian enquanto tentava explicar para Liam por que tinha tantas tatuagens e anéis, e porque seu cabelo era comprido. 

— Quando você tiver dezoito anos, te levo pra fazer sua primeira tatuagem! – Dawson decidiu e Liam soltou uma exclamação de animação e correu na frente, já que Devon, junto com os sobrinhos, apareceu no campo de visão.  O ator estava de boné e óculos escuros para tentar não chamar muita atenção.

— Finalmente! – Devon falou. – Não me deixe mais sozinho com essas duas pestes.

— Sai, ele vai do meu lado na montanha-russa!

— Não, ele vai do meu! 

Francis e Henry começaram a disputar Liam, cada um puxando o garoto por um braço. 

— Se vê que são boas crianças já que querem ir na montanha-russa. – Dawson comentou e então cumprimentou Devon. – E aí, cara! Como vai?

— Dawson! De todos os lugares que eu imaginaria te encontrar, esse seria o último. – Brincou o ator, enquanto os dois davam uma “abraço de mano”. – Não me diga que achou algum filho perdido...

— Não, não, nem brinca! – Ele ergueu as mãos, depois apontou para Brian. – ‘Tô aqui de passeio com o ruivo. Aliás, você não respondeu se vai participar ou não do seriado dele. – Já foi perguntando de intrometido, já que escutou o final da conversa entre Tim e Brian.

— Ah... – Devon ficou totalmente desconfortável. – É que... Ando com a agenda cheia e ainda estou pensando no assunto. Me desculpe por isso, Brian. Até o final do mês eu dou uma resposta. – Dirigiu-se ao ruivo. 

Não era mentira que estava com a agenda cheia, mas Eric havia desprezado o convite considerando que o seriado andava meio instável. Devon tinha um nome a manter e já não mais podia aparecer em programas que não fossem de alta qualidade. Não que o loiro se importasse muito, mas ele confiava nas decisões de Eric.  

— Ah. Tudo bem. - Brian murmurou com a voz inalterada, mas é claro que não estava nada bem. Lá no fundo ele ainda tinha esperanças de que Devon fosse aceitar e já tinha todo o episódio da participação especial do grande ator em mente.

O autor pegou um pedaço do seu algodão doce e colocou na boca sem saber mais o que dizer.

— O Liam não vai andar em montanha russa nenhuma! - Timothy exclamou enquanto puxava Liam para o seu colo. - Ele só tem cinco anos! Vocês são mais velhos e aí tudo bem. Convençam o Devon a ir com vocês, gravem tudo no celular e me mostrem os gritos dele depois. - Orientou os sobrinhos.

— Mas tio Timothy! É a montanha russa do Snoopy, ela é especial para crianças. -  Francis explicou. – Nem tem nenhuma queda muito grande.

— Pai, deixa eu ir, por favor, por favor, por favor! – Liam implorou, praticamente dando pulinhos ao redor de Tim.

— Amor, deixa as crianças se divertirem. Não tem perigo nenhum. Pelo que li aqui, essa montanha-russa é pra crianças a partir de cinco anos. – Devon falou com jeitinho, abraçando Tim pela cintura.

Tim ficou com o coração na mão, mas acabou concordando, afinal não podia ficar escondendo Liam “embaixo das suas asas” o tempo todo. As crianças fizeram uma algazarra e quando Tim deu o braço a torcer, os três saíram correndo na frente para pegar um lugar na fila da montanha russa.

— Você vai nas mais altas com eles. – O professor resmungou para o marido. – Ainda quero as gravações com as suas caretas e gritos de medo. – Zombou.

Brian deu uma risadinha, divertindo-se com o jeito de Timothy. Ele começou a lamber os dedos sujos pelo algodão doce e nem se deu conta do que estava fazendo.

Dawson olhou aquilo e não resistiu. Ele pegou o pulso de Brian e levou um dos dedos dele à sua boca, chupando-o ali mesmo, descarado e sem vergonha na cara. Esse era ele. Depois de sentir o gostinho doce, ele sorriu para Brian, que parecia ter virado uma pimenta perplexa.

— Você não ofereceu um pouco do algodão. Tive de pegar por mim mesmo. – O cantor falou dando de ombros. 

— Nós estamos cercados de crianças! – Brian o censurou, mas percebeu que nenhuma delas estava prestando atenção nos dois.

Agora ele só queria que os elefantes que estavam pisando no seu estômago e o deixando nervoso parassem com aquilo naquele exato momento.

— O Dawson pode ir com as crianças em uma das montanhas russas. Ele estava querendo me arrastar, mas eu não sou muito fã dessas emoções fortes. – Brian disse para Timothy e Devon na tentativa de escapar do cantor.

Tim, que ainda estava sendo abraçado por Devon pela cintura, sorriu para o autor do seriado.

— Obrigado, mas nós não queremos estragar o encontro de vocês. Acredite... Esses três são furacões. Se forem batizar novos furacões que surgirem pelo mundo, pode ser com os nomes deles. Vai combinar perfeitamente.

— Não é um encontro! – Brian exclamou todo atrapalhado.

— Claro que é um encontro! – Dawson riu revirando os olhos. – Bem, nós vamos para as montanhas russas maiores. Mas deixa eu te dizer uma coisa, Devon. Não tenho dúvida que quando você estava começando alguém te deu uma chance. Agora que você está no topo, não retribuir o que você recebeu no passado é uma bela de uma atitude de merda. Pense sobre isso. – Falou antes de começar a se afastar, arrastando Brian com ele. 

Devon olhou para os dois e realmente se sentiu culpado.

— Talvez eu devesse aceitar o convite. É afinal um seriado da Allen, e foi o Adam que me ajudou no início. Além disso, Dawson tem razão, eu tive ajuda no início. Não deveria me negar a ajudar os iniciantes de hoje. – Comentou, apertando a mão de Tim. 

Depois, não teve escapatória. Acabou arrastado pelo filho e sobrinhos para irem logo nos brinquedos. 

Brian ficou confuso com o que Dawson falou para Devon, mas esperou estar longe o bastante para falar:

— Ele vai dizer que não vai participar do seriado. E isso, não é? – Murmurou com os ombros caídos. – Não é como se eu já não estivesse esperando por isso.

— Talvez. Mas se ele tiver o mínimo de bom caráter, ele vai aceitar o convite. Se ele não aceitar... – Dawson deu de ombros. – Você não precisa dele. Então, montanha-russa?

Dessa vez o loiro não deu chance para Brian. Quando o ruivo se deu conta, já estavam sentando na primeira fileira do brinquedo. O nome era Leviathan, e era a maior montanha russa do Canadá! 

O ruivinho não teve tempo de pensar sobre a possível negativa de Devon. O carrinho da montanha russa começou a andar bem devagar e Brian agarrou a barra de ferro na frente com ambas as mãos.

— Se eu vomitar, a culpa é sua! – Falou enquanto suava frio.

Dawson apenas riu e então aquele momento de tensão, em que o carrinho sobe lentamente diversos metros acima do chão finalmente acabou. Eles estavam no topo e era possível ver quase todo parque ali de cima. Mas não era momento para apreciar a vista.

A primeira queda era tão angulada, quase vertical, que passava a sensação de uma queda livre. O carrinho avançou e os gritos começaram. Dawson soltou um urro animado e levantou as mãos. Brian do seu lado gritava e parecia quase estar tendo um treco, enquanto os cabelos ruivo-encaracolados estavam totalmente para trás devido ao vento da queda. O loiro só conseguiu achar isso ainda mais engraçado. Ele deu um jeito de pegar o celular, mesmo com o risco de deixá-lo cair, e começou a gravar as reações do autor. Brian gritava, fazia caretas, e Dawson, sacana, gravava tudo.

Quando enfim acabou, depois de muitas subidas e descidas e voltas, Dawson mantinha a risada e Brian parecia acabado ao seu lado, como se um trem houvesse passado por cima dele. 

— Imagina quando eu colocar esse vídeo no instagram. – O loiro balançou o celular na frente do ruivo. 

— Mê dá! – Brian tentou alcançar o celular para apagar a gravação, mas não tinha forças para se mexer. – Ai. Eu acho que o café da manhã e o algodão doce estão realmente querendo voltar... – Murmurou todo dramático.

Dawson guardou o celular e depois ajudou Brian a sair do carrinho. Eles pegaram as coisas deixadas em um cabideiro e voltaram a caminhar pelo parque.

— Ah, foi ótimo. – Dawson respirou o ar puro com gosto. – E agora, qual era o segundo lugar que você queria ir?

— Podemos ir no Timberwolf Falls? Eu gosto desses brinquedos com água. – Brian perguntou empolgado após consultar o mapa e ver que estavam perto do local.

— Você esqueceu que não trouxemos roupas de banho, nem toalhas? - Dawson lembrou ao ruivinho, bagunçando os cabelos dele. - Além disso ' tá dezoito graus com um sol agradável, mas pra entrar numa piscina não é quente suficiente.

Os ombros de Brian caíram e seu sorriso diminuiu um pouco.

— Tudo bem. - Falou. - Você me deu o Daw-Daw. – Apontou para o ursinho em seus braços. - E eu estou feliz com isso. Podemos ir onde você quiser... Menos outra montanha russa. Pelo menos agora. Meu estômago precisa se recuperar.

— Pra falar a verdade, 'tô morto de fome. - O loiro admitiu, sentindo a barriga roncar.

Brian concordou e eles foram até a área onde havia várias lanchonetes. Depois de comer, voltaram a andar pelo parque, Brian acabou sendo arrastado para dentro de outra montanha russa (a que ganhou o título de mais rápida do mundo) e também foi no brinquedo que despencava a 70 metros de altura a 100 km/h. Brian quase morreu de medo e precisou ficar andando apoiado em Dawson depois porque suas pernas pareciam gelatina.

— Olha, eu acho que depois disso voltar para casa no seu monstro de duas rodas é fichinha. Nem vou precisar me segurar em você. – Brian comentou enquanto eles voltavam para o estacionamento ao final do dia.

Dawson o pegou pela cintura e girou-o no ar.

— Tem que se segurar em mim. Imagina se você cai, o que eu vou fazer? - perguntou mantendo os braços rodeando o corpo do menor.

— Dawson! – Brian riu e tentou se soltar, mas ele sentiu o cantor aumentando o aperto em volta do seu corpo e parou de rir enquanto seus olhos focavam nos lábios do loiro. Ok, eles estavam bem próximos e isso fez com que os elefantes voltassem a fazer a festa no seu estômago. – Eu gostei muito do dia. Obrigado. Você realmente me faz esquecer os meus problemas e me dá um gás extra e vontade de escrever. Nunca fui em um encontro antes, mas deve ser como o dia foi hoje.

— Sim. Minha intenção era essa. Assim você sabe como um encontro de verdade é, certo? Vai te ajudar a escrever cenas assim! - o loiro sorriu e o soltou, pegando então o capacete, colocando um e entregando o outro para o ruivo. - Vamos? - Chamou quando montou na moto esperando por Brian.

E lá foram os ombros de Brian caindo de novo para assumir a postura triste. Por algumas horas ele pensou que talvez fosse mesmo um encontro de verdade, mas Dawson só estava fazendo um favor, sendo legal para que Brian conseguisse escrever e o seriado continuasse. Isso não deveria magoá-lo, afinal mal se conheciam, mas foi bem dolorido ouvir aquilo.

“E pensar que eu ia convidá-lo para ir beber alguma coisa no barzinho onde o Josh trabalha”, pensou desanimado enquanto colocava o capacete.

— Vamos. Tenho muitas ideias e quero colocar tudo esquematizado nos meus arquivos para não esquecer nada. – Falou tentando parecer o mais natural possível.

Dawson deu partida assim que Brian subiu na moto e abraçou sua cintura. O vento batia no corpo e gerava frio, mas o contato entre os dois amenizava a sensação. Demorou meia hora e então eles estavam de volta ao apartamento do ruivo.

Brian desceu e tirou o capacete, Dawson tirou o dele, mas se manteve na moto.

— Vou num lugar hoje à noite. Provavelmente você não gostaria de ir ainda, mas pretendo te levar lá quando estiver preparado. - Falou o cantor.

O autor ficou desconfiado, mas não perguntou nada. Dawson não devia qualquer tipo de explicação. Eles já haviam passado o dia juntos e Brian imaginava que o cantor estava doido para ir fazer as próprias coisas.

— Eu e o Daw-Daw vamos pedir uma pizza, escrever um pouco e ir dormir. – Brian esboçou um sorriso tímido enquanto abraçava o ursinho.

Dawson sorriu achando aquele sorriso tão adorável. Por um momento ele desejou deixar seus planos de lado e se escalar para comer pizza e ser abraçado como aquela pelúcia.

No lugar disso, o loiro puxou Brian pela cintura e o beijou na bochecha.

— Sonhe comigo. - Falou antes de soltá-lo lentamente, relutante.

— Mais fácil eu sonhar que estou gritando em uma montanha russa depois de ter passado o dia sendo arrastado de uma para outra desse jeito. – Brian disse após soltar um “hupft!”. – Ah, isso não seria sonho... – Resmungou. – Acho que sonhar com você seria menos ruim, então vou pensar no seu caso. –  Implicou um pouquinho. Amigos faziam isso, não é? Implicar um com o outro.

— Se você sonhar comigo, não vai ser pesadelo. Vai ser coisa muito melhor. – O loiro sorriu de lado de maneira maliciosa antes arrancar com a moto, não dando tempo para que Brian desse alguma resposta àquela provocação.

Brian ficou olhando Dawson sumir na esquina e só então suspirou e tocou de leve a bochecha que o cantor beijou.

Estava se sentindo confuso. O dia havia sido tão bom. Brian se divertiu tanto. E tanto foi que ele não queria que Dawson tivesse ido. Queria passar mais tempo com ele, conhecê-lo mais. Porém, sabia que Dawson já deveria estar entediado.

Também o deixa confuso o fato de que ele havia dito a Dawson para serem apenas amigos, mas Brian quis que ele o beijasse lá no bar. E quis muito um beijo depois do dia de hoje, mesmo sabendo que Dawson só estava fazendo um favor saindo com ele para ajudá-lo a escrever. Brian não ficava magoado por isso, porque foi ele mesmo quem pediu essa ajuda e que estipulou que ficariam apenas na amizade,  contudo ele se sentia meio frustrado agora. E ele sabia que não deveria se sentir assim, que não deveria querer mais do que Dawson estava dando.

Suspirou mais uma vez e subiu para o seu loft. Tomou uma ducha, escovou os dentes, e então largou-se na cama e sem que pudesse evitar um sorriso bobo surgiu nos seus lábios enquanto pensava no dia e em todos os momentos com Dawson, e abraçou o ursinho contra o peito com mais força.

Ficou ali até perder por completo a noção do tempo e acabou por adormecer, esquecendo-se até mesmo de escrever.

XxxX

Efrem arrumou a gola da camisa e passou a mão pelos cabelos antes de entrar no barzinho. Havia ligado mais cedo para Josh e o rapaz deu o endereço de onde ele estaria trabalhando naquela noite. Era um lugar bem mais calmo do que o da outra noite. As pessoas estavam conversando em mesinhas e no palquinho uma pessoa tocava músicas somente acompanhada por um violão.

Depois de muito adular Niko, Efrem conseguiu convencer o irmão mais novo a distrair os seguranças para que ele pudesse sair sem escolta. Niko ficou resmungando e dizendo que não tinha motivo para ajudar já que desde que chegou Efrem andava sendo um pé no saco, mas no final das contas o loirinho cedeu e inventou que queria ir ao cinema levando os quatro seguranças que ficavam grudados neles junto. Efrem disse que ficaria em casa e como havia o sistema de segurança instalado no apartamento os seguranças o deixaram sem se preocupar. Depois que eles saíram, Efrem desativou as câmaras e escapou. O príncipe se sentia um adolescente fazendo esse tipo de coisa, mas ele realmente não queria ninguém grudado nele enquanto ele conversava com Josh (ou pelo menos ficava lá por perto dele enquanto o observava trabalhar).

— Boa noite. – Cumprimentou o rapaz de cabelos azulados enquanto ocupava um dos banquinhos do balcão. Josh estava de costas preparando algum drink e por isso não o viu chegando e Efrem não resistiu a dar uma boa olhada na bunda do barman que estava bem evidenciada pela calça colada que ele usava.

— Efrem! – Josh quase deu um pulo se virando na direção do loiro. Estava concentrado no drinque e levou um susto com a aparição repentina do outro. Ao encará-lo, o de cabelos azuis sentiu as bochechas esquentarem de leve. – Chegou cedo... – Mordiscou o piercing. O príncipe estava bonitão arrumado para a noite, Josh não pôde deixar de reparar. 

— Aproveitei a ajuda do Niko para fugir dos seguranças e também quis chegar logo para ver se conseguia te monopolizar um pouco antes do lugar lotar. – Efrem sorriu enquanto se inclinava um pouco no balcão e segurou o queixo de Josh o olhando com ar de dúvida se deveria ou não beijá-lo, afinal Josh já estava trabalhando e o príncipe não queria prejudicá-lo.

Josh sorriu e se aproximou um pouquinho mais. Mas no lugar de beijá-lo, deixou seus narizes roçarem no típico “beijo de esquimó”. Depois se afastou tentando ignorar as batidas rápidas no peito. Aquelas sensações eram tão gostosas. Ele adorava quando se sentia assim com algum “rolinho” novo. E fazia tempo desde a última vez em que se sentira assim: corado, ansioso e meio nervoso, um pouco tímido e um pouco risonho demais. 

— Acho que não vai lotar muito hoje, então teremos bastante tempo para... Nos conhecer melhor. – Disse meio incerto. – Quer que eu te faça algum drinque?

— Eu gostei do clima daqui. É bem mais tranquilo do que os outros em que nos encontramos antes, – Efrem comentou enquanto olhava para os lados, mas logo voltou a sua atenção para o barman outra vez. Claro que ficou um pouquinho frustrado por não ter beijo, mas aquela ansiedade era uma novidade para o príncipe e ele estava adorando cada segundo do que estava acontecendo. – Você deve ser meio psicólogo aqui. Até imagino as coisas que já ouviu, – Riu um pouco. – E, sim, eu aceito um drink. Algo leve por enquanto porque eu pretendo ficar aqui a noite toda. 

— Ah, sim. – Josh riu e começou a preparar algo para o loiro beber. – É cada história de bêbado. A maioria é história de dor de cotovelo. Chega a dar dó de alguns. – Suspirou. – Eu estou longe de ser um bom psicólogo, mas eu tento. – Contou. – E sobre você...? Como era sua vida lá em Altai? Aposto que com essa aparência vivia cheio de garotas penduradas no seu pescoço. 

— Não posso negar que aprontei muito... Não sou um prato cheio para os tabloides como o meu irmão Georgiy, mas fiz a alegria de algumas moças e paparazzis. – Efrem encolheu um pouco os ombros. – Mas no geral minha vida lá era bem chata. Meus pais sempre foram muito rígidos na nossa criação... Sabe, aprender etiqueta, equitação, música, saber pelo menos três línguas além do russo, aulas particulares e tudo mais o que possa imaginar. Como eu sou o segundo na linha de sucessão tive que estudar administração e tudo mais que o meu irmão Alek estudou, mas ele é um líder nato e quando for a hora será o melhor rei que Altai poderia ter. Já eu sempre me sentia sufocando um pouco lá... Aí surgiu essa desculpa de vir ficar de olho no Niko. E como um certo rapaz de cabelos azuis não me saía da cabeça desde que eu o conheci, resolvi me mudar de vez e quem sabe, com um pouco de sorte, reencontrá-lo... 

Josh sentiu uma sequência de batidas descoordenadas no peito, e sorriu meio corado. Ele empurrou o drinque simples e não tão alcoólico que havia feito na direção do loiro, inclinando-se no balcão.

— Quem diria que você teria essa sorte. – Brincou mantendo o sorriso. – Que outras línguas você sabe falar? É russo e inglês, obviamente. Sabe francês? Além do inglês e francês eu estudei japonês quando era adolescente, mas não consegui aprender muito. Difícil demais. – Fez uma careta. 

— Se eu não tivesse te reencontrado pelo acaso iria dar um jeito. Ser príncipe tem suas vantagens... E eu falo pouco de francês. Só o básico mesmo. O Conrad e o Niko ficam conversando em francês quando não querem que eu entenda as conversas pervertidas que o Niko começa na mesa de jantar. – Fez uma careta de leve. – Eu sou fluente em mandarim, russo e inglês. – Efrem respondeu antes de beber um gole da bebida. – Isso tá muito bom... Você tem que me ensinar os seus segredos qualquer hora dessas. Saber preparar drinks assim é bem mais útil do que tocar piano.

— Piano?! Você toca piano?! – Perguntou admirado. – Isso é definitivamente mais legal do que preparar drinques! Quando eu era mais novo pensava em aprender a tocar algum instrumento e o que eu achava mais interessante era o piano. Ainda acho. Mas dizem que é muito difícil. E mandarim deve ser difícil também! Você é cheio dos talentos. – Riu apoiando os cotovelos no balcão e o queixo nas mãos. – E hoje mesmo eu posso te ensinar alguns drinques, desde que você toque piano pra mim algum dia... 

— Hum... Posso tocar quando você quiser. Só vamos ter que arrumar um piano porque o meu não cabia na mala. – Efrem brincou. – O piano foi outra imposição dos meus pais, mas não posso dizer que odeio tocar. É divertido tocar para o Niko dançar. Fazíamos muito isso. Eu tocando, Niko dançando e Alek e Georgiy assistindo – Falou um ar carinhoso, mas logo sua expressão se tornou maliciosa. – E eu mal posso esperar pelo final da noite para que você me ensine alguns drinks. – Disse com um sorriso nos lábios já imaginando algumas coisas que poderia fazer.

Josh estava pensando no quanto deveria ser bom ter um monte de irmãos, todos carinhosos uns com os outros daquela forma. Niko era sortudo, apesar de Efrem ser um “empata foda”. Mas ao ver a expressão do loiro tornar-se maliciosa, Josh ficou vermelho.

— O que diabos você está imaginando? – Perguntou pegando um pano e usando para bater no braço do príncipe. 

— Josh, chegaram alguns clientes na mesa sete. – O dono do lugar avisou, e o rapaz teve de ir rapidamente colher os pedidos, não tendo tempo de ouvir as ideias que Efrem estava tendo. Ele não tinha certeza se queria ou não escutar. Ficar pensando em certas coisas durante o trabalho não era algo muito profissional.

Josh colheu os pedidos da maneira simpática e energética de sempre, apesar de seus pensamentos estarem no loiro esperando-o no balcão enquanto bebia um drinque. Quando se afastou da mesa, um dos rapazes se levantou e segurou-o pelo braço a alguns passos.

— Não posso pedir você como prato principal? – Ele perguntou de uma maneira sensual.

— Não estou no cardápio. – Josh sorriu falsamente e voltou a se afastar. 

Como quase sempre trabalhava em lugares alternativos, era comum receber vários flertes durante o trabalho. 

— Sabe. – Começou a dizer quando retornou ao balcão para entregar os pedidos à cozinha e fazer os drinques. – Por um lado esse teu jeito cavalheiro é bom. Você estava certo... Você é diferente dos caras com quem eu já me relacionei. Tem esse ar sofisticado e sério ao seu redor. – Admitiu rindo de leve. – É sexy. 

— Está falando isso por causa da cantada de quinta que o cara lá da mesa tentou passar? – Efrem ergueu as sobrancelhas. É, ele tinha levantado quando viu que o cara ia abordar Josh, mas logo voltou sorrindo para o seu lugar ao ver que o barman conseguia se virar bem sozinho. – Abordar as pessoas daquela forma não é o meu estilo. Gosto de... Você vai rir, mas, enfim, eu gosto de cortejar, de conquistar. E eu estou pisando em terreno novo com você porque, como eu te disse, comecei a prestar atenção em outros caras depois de conhecer você. O Niko deu um empurrão ao sair do armário, mas certamente você também me fez repensar a minha orientação sexual. Aliás, me fez repensar a vida porque isso de definir orientação é um porre. Homossexual, hetero, bi... Tanto faz. É só um nome que dão e a gente não precisa ficar dando nomes para o que somos ou o que sentimos.

Josh piscou impressionado, Efrem elaborava facilmente seus pensamentos. Depois sorriu sentindo uma sensação boa se espalhando pelo corpo, algo como um calor, um aconchego.

— Eu demorei anos pra me aceitar. Cinco, para ser mais exato. Dos meus doze aos meus dezessete. – Josh murmurou. – E o mais engraçado é que não tenho parentes preconceituosos, na verdade nenhum deles deu muita bola para isso quando ficou sabendo. Mas eu apenas não queria ser diferente. Tinha medo do preconceito. É mais fácil ser o que se espera que a gente seja. Mas com dezessete eu acho que saí da fase complicada e cheia de inseguranças da adolescência, e me assumi. Comecei a trabalhar, conheci outras pessoas, outras formas de ver a vida. Passei a pintar o cabelo e fugir dos padrões, não me importar e não me rotular. Eu demorei cinco anos e você o quê? Alguns meses? – Riu divertido. – Você realmente me impressiona, Efrem. O que mais será que você esconde por trás desse seu jeito galante? – Perguntou de maneira sugestiva, enquanto habilidosamente terminava mais um drinque.   

Efrem esticou a mão e tocou a de Josh que estava sobre o balcão.

— Imagino o quanto foi difícil para você. Às vezes assumir para si mesmo é muito mais complicado do que assumir para os outros. Mas você conseguiu. E eu realmente gosto da sua coragem de se vestir como bem quer. – Efrem falou enquanto fazia um carinho de leve na mão do menor. – No meu caso, ver o Niko se assumir daquela forma me deu coragem. – Efrem admitiu. – Se não fosse por ele não teria sido tão rápido. Eu fico imaginando tudo o que ele sofreu, calado... E nós não percebemos nada. – O brilho nos olhos do príncipe diminuiu um pouco enquanto ele dizia isso. Ele amava tanto o irmão mais novo e não pôde ajudá-lo nessa fase difícil da vida. Isso lhe corroía a alma. – E por trás do meu jeito galante...? Bem, você saberá mais quando for me ensinar a preparar os drinks. Eu preciso de um pouco de coragem pra fazer tudo o que tenho em mente, então pode caprichar na dose alcoólica do próximo. – Brincou. Ele não precisava de coragem, mas o álcool o ajudaria a se soltar e deixar um pouco a formalidade (que era praticamente inata a sua personalidade) de lado.

Josh sentiu aquele calor sutil se espalhar da sua mão para o resto de seu corpo. Os toques de Efrem eram tão bons... Passavam uma sensação de conforto, de algo que se sente falta quando se perde. 

— O Niko foi muito corajoso. – Josh concordou. – Mas você também por seguir o exemplo dele. Se eu tivesse nascido em um país preconceituoso, estaria no armário até hoje. – Sorriu sem-graça. Era algo difícil de admitir. Que ele não era tão corajoso quanto parecia. Que aprendera a se livrar das amarras com muito custo e muita ajuda. – Vou servir aquela mesa e já volto pra te preparar um drinque mais forte. – Apertou a língua entre os dentes com uma expressão tranquinas antes de se afastar com as bebidas. 

Efrem suspirou enquanto virava no banquinho para observar Josh se afastando. O príncipe sentiu um pouquinho de ciúme ao vê-lo sorrir para as pessoas da mesa, mas logo afastou a sensação. Josh estava apenas sendo simpático com os clientes.

— Talvez você tivesse saído do armário ao me conhecer como o Niko saiu quando conheceu o Conrad e eu saí ao conhecer você. Bem, eu não posso dizer exatamente que saí porque nem sabia que estava lá, mas você entendeu. – Efrem falou assim que o rapaz retornou.

Josh sorriu e se aproximou do loiro, ficando bem perto, e largou a bandeja das bebidas no balcão.

— Alguém está sendo convencido. – Brincou com um jeitinho implicante, enquanto deixava os dedos roçarem no braço forte do loiro. – Mas você tem razão. Se eu ainda estivesse no armário, um loiro bonitão e gostoso certamente me ajudaria a sair dele rapidinho. 

Efrem soltou uma gargalhada e acabou, involuntariamente, atraindo alguns olhares.

— Bem, eu seria bem insistente e eu sou chato quando quero ser. Pode perguntar a qualquer um dos meus irmãos. – Contou. – O seu chefe não para de olhar feio para cá. Acho que é melhor eu ir para uma mesa e deixá-lo trabalhar.

Josh olhou para Peter, seu chefe pela noite, e mostrou a língua para ele. Peter balançou a cabeça e mandou-o ir atender as mesas, antes de voltar para a cozinha, já que era ele que preparava os aperitivos junto com alguns ajudantes. 

Ao contrário do que Josh esperava, o lugar lotou e ele passou umas boas três horas alternando entre atender as mesas, preparar drinques, entregar os pedidos e passar na mesa onde Efrem sentou para paquerar um pouquinho. Para não deixar Efrem totalmente sozinho, quando dois amigos e uma amiga seus apareceram por ali, ele os colocou sentados junto com o príncipe. Os três eram fáceis de papo e logo envolveram o príncipe, ajudando-o a se distrair. 

— Não é possível, Josh sempre arranja uns bonitões! – Reclamou Alysson quando Efrem admitiu para os três quais eram suas pretensões com o de cabelos azuis. 

— Deixa de ser invejosa. – Hugo a provocou, cutucando-a. – E lembre-se que você sempre tem a mim. 

Alysson bufou.

— Você tem irmãos, certo? Se algum deles estiver solteiro, pode passar o meu número! – Ela teve a ideia genial.

— Não repare, isso é a Síndrome da Encalhada. Ela já chegou em um ponto em que está disparando para todos os lados. – Brincou Valentin. 

— Olha quem fala. Vive pegando tudo que vê pela frente, e depois eu tenho que ouvir os choros pelos foras que recebe. – Alysson abanou a mão.

Efrem sorriu enquanto terminava a bebida e ouvia os três “discutirem” amigavelmente.

— Se você não se importa em se tornar rainha um dia, pode tentar o Alek. – O príncipe falou divertido. – Mas sabe como é vida de realeza e com certeza não seria fácil ser namorada do Alek. E o Georgiy... Eu não recomendo namorá-lo de jeito nenhum. Ele é o pior de todos nós em relacionamentos. Já perdi a conta de quantas namoradas ele teve. Mas... E o Josh? Vocês acham mesmo que eu tenho chance? – Perguntou um pouco tímido e temeroso com a resposta. 

Alysson coçou a bochecha.

— O Josh é meio imprevisível. Uma chance você obviamente já tem. Agora se vai dar certo? Isso não tem como prever, em início de nenhum relacionamento. – A garota falou sincera. 

— Mas o Josh gosta de caras carinhosos. Você tem jeito, então... – Valentin contou. – Mas ele também gosta de pegadas fortes. Recomendo que durante o sexo pegue ele no colo e faça sexo em pé. Ele adora. 

— Não fica falando essas coisas, trouxa! O cara é um príncipe! – Alysson ralhou e deu um tapa na cabeça dele.

Hugo gargalhou alto. Estava já meio afetado pelo álcool.

— Valentin diz isso porque o Josh quando fica bêbado adora contar das peripécias sexuais dele. Depois fica morrendo de vergonha quando ‘tá sóbrio e a gente implica com ele. – Falou o rapaz. 

— Admito, eu adoro quando ele conta essas coisas. Acho que sou meio pervertida. – Alysson ponderou bebericando a bebida com ar reflexivo.

— Você só acha? – Valentin retrucou com uma careta.

— Eles estão sendo chatos e inconvenientes como eles sempre são? – Josh se aproximou naquele momento e perguntou. Aproveitou e largou as bebidas que os quatro haviam pedido. Efrem já deveria estar no sexto copo, mas mesmo assim ainda parecia controlado, apesar das bochechas meio avermelhadas pelo álcool. 


— Longe disso. – O príncipe respondeu enquanto pegava o seu copo e fazia um carinho discreto de leve na mão de Josh. – Seus amigos são muito divertidos e estão me dando ótimas dicas. Mal posso esperar para colocar tudo em prática. – Piscou para Valentin de forma cúmplice. 

— Meu Deus, o que você estão contando pra ele, seus desgraçados?! – Josh ficou vermelho. Aqueles amigos da onça! Falando as coisas que dizia quando estava bêbado, tinha certeza! Josh tinha essa péssima mania de falar demais, principalmente quando alcoolizado. 

— Apenas que você adora uma pegada forte. – Valentin comentou tranquilamente. – Ou estou mentindo? Sabe, eu prefiro um sexo mais carinhoso e calmo.

— Ninguém está interessado no que você gosta, e parem de falar sobre mim! – Josh determinou. – Ou ficarão sem bebidas!

Os três chiaram em desaprovação, mas Josh os ignorou e se afastou.

— Então você prefere os carinhosos? – Hugo perguntou curioso. – Por isso você nunca mais quis nada comigo depois daquela única noite.

Valentin deu de ombros. 

— Você é um ogro.

— Como assim!!! Vocês transaram e nunca me contaram!?!?! – Alysson ficou toda interessa, mas os dois desconversaram totalmente depois disso, para infelicidade da garota. 

Eles deram mais algumas dicas para Efrem, como por exemplo, que Josh amava ir ao cinema, mas detestava sair para jantar a dois, pois achava a coisa “formal demais”, e preferia sair para algum pub ou coisa do gênero. Que ele adorava sorvete de chocolate, mas não gostava de chocolate, o que soava bem absurdo, e tinha um fraco por caras usando jaleco, ou seja, se algum dia Efrem quisesse se fantasiar de alguma coisa, a fantasia perfeita seria de médico, para dar uma boa examinada no garoto.   

Efrem ouviu tudo com devota atenção e fazendo anotações mentais do que poderia fazer para conquistar Josh. Quando eles contaram sobre a fantasia ele começou a rir e tentou se imaginar vestindo algo do tipo para agradar Josh e a visão da coisa toda parecia bem mais engraçada do que sexy.

— Espero que ele não quebre o meu coração me trocando por um médico bonitão do hospital depois. – Falou num tom de brincadeira, mas lá no fundo ficou com um pouco de receio de que isso acontecesse. – Mas é como a Alysson disse... Não dá pra prever como vai ser o relacionamento sem nem começar.

O lugar começou a esvaziar e só então Efrem percebeu como era tarde. A noite passou voando e ele nem se deu conta disso.

— Precisamos fazer isso mais vezes. – O príncipe disse enquanto erguia o copo e propunha um brinde.

Os três também ergueram os copos e brindaram, combinaram de se encontrar mais vezes, o que certamente seria o caso se Efrem começasse a namorar com Josh, e depois, meio desequilibrados, se levantaram para pagar a conta. Pegariam um uber juntos para rachar a grana. 

Josh recém havia terminado de recolher uns copos e riu dos três patetas se equilibrando um no outro para chegarem no caixa.

— Hei, Josh! Nós aprovamos, pode pegar o príncipe bonitão! – Alysson exclamou erguendo a mão para o alto.

— E quem disse que eu preciso da aprovação de vocês, seus três gambás? – Josh perguntou colocando uma mão na cintura.

— Você sabe que precisa, do contrário, fazemos da sua vida um inferno. – Valentin sorriu largamente, mas depois soltou uma exclamação de susto quando Hugo lhe deu um apertão na bunda. – Filho da puta! – E empurrou o amigo.

— Estava apenas checando se continua igual! Você andou malhando, huh? Está mais durinha. – Implicou, mas Valentin apenas soltou um “hunf” e foi pagar sua parte da conta.

— Hugo, sinceramente, é assim que você quer conquistar o Val? – Alysson perguntou com um suspiro.

— E quem disse que eu quero conquistar aquele chato? – Hugo deu de ombros.

Josh riu balançando a cabeça e procurou Efrem, encontrando-o voltando do banheiro. 

— Acho que daqui uma meia hora já não tem mais ninguém aqui. Aí serei todo seu. – Falou para o loiro e mordiscou o piercing, enrubescendo. 

Efrem, lembrando-se da dica sobre Josh gostar de caras com pegada, passou um dos braços em volta da cintura do menor e o puxou um pouco para cima enquanto sorria torto.

— Gosto de como isso soa. – Murmurou com os lábios próximos aos dele.

Josh sentiu o ar fugir dos pulmões enquanto o coração dava uns pulos dentro do peito. 

— P-Parece que o álcool te deixou mesmo mais soltinho. – Comentou com um sorriso no canto dos lábios. – E eu pensando se teria de preparar mais alguns drinques pra te deixar no ponto. – Brincou.

— Eu vou querer mais alguns drinks exclusivos, mas só quando estivermos totalmente sozinhos. – Efrem mordiscou o lábio inferior de Josh e sorriu ao senti-lo estremecer em seus braços. – E seus amigos realmente deram algumas dicas... Falaram que você gosta de pegadas assim e de homens de jaleco. Então tenho que ser menos príncipe com você, o que é um pouco difícil porque eu sempre acho que estou sendo desrespeitoso... Mas se eu passar dos limites você pode me bater.

— Eles falaram do jaleco?!? – Josh perguntou perplexo e depois ficou morrendo de vergonha, e tapou o rosto. – Estou com medo do que mais eles podem ter falado. 

Efrem riu.

— Isso você só vai descobrir depois. – Efrem soltou Josh para que ele pudesse ir terminar de atender as pessoas que ainda insistiam em continuar bebendo até o sol raiar. – Mas eu e o jaleco... Quem sabe um dia? Eu usando só o jaleco... – Falou num tom de provocação.

Josh sentiu um calor subir até as orelhas e soltou uma risada.

— Safado! – O beliscou na lateral do abdômen antes de se afastar. 

Demorou um pouco menos de uma hora, mas enfim o lugar encontrava-se totalmente vazio.

— O pub vai fechar, mas eu pedi pro chefe pra ficar mais um pouco. Quero criar uns drinques novos e, como ele me conhece há um tempão, permitiu. Só temos que chavear antes de sairmos. – Josh disse animado ao se aproximar do príncipe de novo.  

Efrem não aguentou. Ao se ver sozinho com Josh, o pegou e o colocou sentado no balcão e, sem qualquer aviso ou pedido, o beijou. Com desejo e vontade que estavam acumuladas desde o começo da noite.

Josh gemeu com a pegada e beijo repentinos e passou os braços pelos ombros do loiro, entregando-se completamente àquilo. As mãos do príncipe apertaram sua cintura de uma maneira que espalhou um arrepio pelo corpo do mais novo. Ele guiava o beijo da maneira que Josh gostava, ditando o ritmo, mal deixando-o respirar. 

O de cabelos azuis precisou ser forte para se afastar, do contrário, acabaria com a mente completamente nublada e desejando transar bem em cima daquele balcão.

— Se Peter nos flagrasse assim... – Disse e suprimiu um risinho levado. – Que tal eu te ensinar a fazer alguns drinques? Duvido que um príncipe saiba fazer esse tipo de coisa de plebeu.

Efrem, um pouco relutante, se afastou e ajudou Josh a descer do balcão.

— Você trabalha em quantos lugares? Parece cansativo. – O príncipe comentou enquanto observava Josh se mover habilmente e pegar o que precisava para começar a preparar os drinks. – E isso de plebeu e príncipe... É bem século passado. O Niko que adora provocar o Conrad com essas coisas. Ele chama o Conrad de velho... só pra irritar. Mas eu não fico muito atrás do Conrad e se aquele pentelho começasse a pentelhar pra cima de mim eu daria umas palmadas nele. – Resmungou. Quando começava a falar no irmão mais novo, Efrem sempre terminava em algum resmungo.

— Eu sei, estou brincando com você. – Josh riu por Efrem ter achado que ele estava falando sério. – Eu trabalho em uns dez lugares diferentes... A maioria pubs, mas algumas boates também. Mas prefiro os pubs já que fecham mais cedo. – Contou tranquilo. Depois olhou para ele com as sobrancelhas franzidas. – Mas como assim não tem muita diferença de você pro Conrad? Quantos anos você tem?

— Dez lugares? Não sei como você dá conta e ainda consegue assistir aula. – Efrem exclamou surpreso enquanto olhava atentamente Josh começar a preparar o drink. – E eu tenho 32. Pra o Niko isso já é um ancião... Ele me disse outro dia. Obviamente ele disse isso na frente do Conrad. Aquele peste.

— Trinta e dois?! – O queixo de Josh caiu. – Nossa... Você parece ter... Sei lá, uns vinte e seis. – Falou. – E eu pensando que você só tinha jeito de velho careta. – Provocou com um sorrisinho travesso.

 Efrem estreitou os olhos e pegou o drink recém terminado das mãos de Josh. Deu a volta no balcão e, arrancando uma mistura de gritinho com risada do mais novo, colocou-o sentado lá outra vez.

— O velho careta vai provar o drink. – O príncipe falou enquanto fazia com que Josh se inclinasse e ficasse meio deitado no balcão.

Depois, sem cerimônia alguma e certamente mais desinibido pelo monte de bebida que já tinha tomado naquela noite, ergueu a camisa do menor e derramou um pouquinho da bebida no umbigo dele e, então, lambeu e chupou a região. Josh levou o dorso da mão até a boca, tapando-a e tentando refrear o arrepio ainda mais forte que o atingiu.

— Está bom. Mal dá pra sentir o gosto do álcool. – Comentou em um tom controlado como se não tivesse feito nada demais.

— E-Eu vou ter que experimentar também. – Josh disse e, controlando o tremor no corpo, sentou-se, pegou o copo, segurou o queixo de Efrem e o fez beber mais alguns goles. Depois aproximou o rosto e tomou os lábios dele, sorvendo o gosto da bebida dali. Ele gemeu ao perceber que Efrem o segurara firme e quase o deitava no balcão, enquanto apertava sua coxa. 

— Acho que eu acabei de me embriagar de vez e não foi pelo álcool do drink. – Efrem murmurou com os lábios rentes ao de Josh. Guiou a mão do menor até o seu peito e mostrou a ele o quanto seu coração estava acelerado. – Nunca bateu tão forte antes.

Josh sentiu o seu bater mais forte também, mas pelo que o loiro falou. 

— A-Acho que vou acabar gostando do seu jeito careta. – Josh brincou com a voz um pouco alterada pela timidez que o acometeu perante o olhar intenso e apaixonado do loiro. Acariciou o rosto dele, sentindo com a ponta dos dedos os contornos daquele rosto bonito e angulado, de queixo forte e olhos marcantes. – Você parece mesmo um príncipe de conto de fadas. Só um pouco mais safado, claro.

Efrem sorriu, puxou-o para um abraço e afundou o rosto na curva do pescoço dele.

— Seus amigos disseram que você gosta de caras carinhosos. Isso eu sempre fui. – Falou enquanto deslizava as mãos pelas coxas dele. –E geralmente sou mais controlado em relação a ser safado, mas perto de você... Meu mundo virou de ponta cabeça depois que eu te conheci, Joshua. – Afastou-se um pouco para poder encará-lo.

Josh se sentiu ficando ainda mais vermelho. Ninguém nunca havia falado esse tipo de coisa daquela maneira tão aberta e sincera com ele antes. Ou saído do armário por sua “culpa”. Ou vindo de outro país com a esperança de encontrá-lo. Nunca tinha namorado antes, e tivera apenas rolinhos breves. 

Não porque não gostasse da ideia de namorar, pelo contrário! Mas depois que se assumiu sua vida virou de cabeça para baixo, ele entrou na faculdade e começou a trabalhar, não tinha tempo para quase nada e sempre acabava deixando a ideia de um relacionamento para depois. Mas agora... Sua vontade era ter todo o tempo do mundo para conhecer Efrem cada vez mais. 

— Aqueles desgraçados dos meus amigos... Me entregaram por completo. – Josh murmurou baixinho, mordiscando o piercing. Desviou o olhar por um momento, tentando conseguir botar um pouco de oxigênio de maneira adequada nos pulmões, porque do jeito que sua respiração estava ficava difícil. – Eu não sou tímido, nem sou de ficar sem palavras, mas você ‘tá conseguindo isso de mim. – Confessou, e então conseguiu encará-lo de novo. – Eu não sei se isso é bom ou ruim, mas eu quero muito que isso que a gente começou continue pra eu descobrir. 

O coração de Efrem acelerou ainda mais e ele não conseguiu conter o sorriso enorme que surgiu em seus lábios. Ele beijou Josh outra vez, o apertando contra o seu corpo como se quisesse mantê-lo ali o máximo de tempo que conseguisse.

— Obrigado. – Murmurou quando seus lábios se desencontraram. – Você não vai se arrepender por me dar essa chance.

Sem querer forçar qualquer situação naquele momento, Efrem recuou um pouco.

— Esse drink que você preparou agora estava muito bom. Me ensine mais. – Pediu e estava realmente interessado em aprender. Parecia divertido todo aquele processo de criação. – Depois eu quero tentar fazer meus próprios drinks. Vou batizar o primeiro bom que eu fizer de “Josh”. – Falou todo feliz.

Josh gargalhou da ideia do outro e desceu do balcão. Começou a ensiná-lo coisas básicas, como drinques já existentes, e depois os que ele próprio havia criado. Mostrou também algumas técnicas para “impressionar a clientela” na hora de preparar a bebida, mas Efrem na primeira tentativa derrubou o copo e eles tiveram que limpar com a maior cara de culpados que não se arrependiam de nada. Depois Josh podia repor aquele copo. 

Os dois ficaram mais de uma hora naquilo, até que Josh conseguiu criar duas bebidas novas.

— Hm, vou batizar essa de “Príncipe de Altai”. – Falou divertido. A coloração da bebida era azul-amarelada. – Seus olhos azuis misturados com seu cabelo loiro. Perfeito. – Sorriu satisfeito. – Essas bebidas que eu crio... Eu guardo as ideias. Quero ser enfermeiro, mas outro lado meu gostaria de abrir um pub.

Efrem fez um carinho na bochecha de Josh enquanto uma ideia se desenhava em sua mente. Mas como não sabia se teria condições de colocá-la em prática preferiu guardá-la para si e, se tudo saísse como estava pensando, fazer uma surpresa para Josh.

— Ficou um drink muito bom e eu gosto de saber que tenho exclusividade sobre ele. - Efrem disse bem humorado. Agora já está tarde. Ou cedo, dependendo do seu ponto de vista. Vou levá-lo para casa. Você precisa dormir um pouco, não é? Niko deve estar em casa soltando foguetes por ter se livrado de mim por uma noite inteira. Imagine a reação dele quando eu aparecer.

Josh riu.

— Você fala tanto do Niko que eu vou ter que conhecer ele melhor qualquer hora. – Josh disse e concordou sobre precisar ir para casa dormir. Afinal, tinha aula de manhã cedo e já passava das duas da madrugada. Estava acostumado a dormir umas quatro horas por dia, mas se dormisse menos do que isso ficava sonolento o dia inteiro. – Vamos arrumar as coisas só. 

Os dois arrumaram o bar e depois saíram, fechando tudo. Pegaram um táxi e, quando chegaram em frente ao apartamento de Josh, eles trocaram um beijo não muito demorado.

— Vou estar livre esse sábado. Podemos fazer alguma coisa de tarde. – Disse o de cabelos azuis.

Efrem sorriu gostando bastante que Josh estivesse o convidando para fazer alguma coisa.

— Então podemos ir assistir um filme e depois voltar para casa e pedir uma pizza ou algo assim. Mais uma dica dos seus amigos: nada de jantar a dois por ser formal demais. – O príncipe comentou. – E aí você me ensina a fazer mais alguns drinks e eu posso provar – Murmurou enquanto seus dedos se infiltravam pela roupa de Josh e roçaram de leve a pele do menor.

Josh sorriu ao perceber que Efrem estava fazendo tudo para agradá-lo. Depois se aproximou e deixou um beijo casto nos lábios do loiro.

— Combinado. - Murmurou sentindo a respiração do príncipe em seus lábios úmidos. - Até sábado e boa noite.

Sorrindo, porque parecia difícil parar de sorrir, ele desceu do carro e entrou no prédio.


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Notas finais do capítulo

Meus bebês! Sim, decidi postar toda a fic de uma vez porque né? Porque não? hahahaha Se gostou, comente!



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