Orgulho e Preconceito - Perdida no século XVIII escrita por Aline Lupin


Capítulo 38
Capítulo 38




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Lizzy acordou cedo, sendo despertada pelo cantar dos pássaros, algo que fazia alguns meses não acontecia, afinal, Londres era uma cidade movimentada e ela podia apenas ouvir o barulho dos carros passando do lado de fora. Dificilmente escutava um pássaro cantar, a não ser que fosse para uma região arborizada. Sua mão tocou os lençóis macios ao toque, muito diferentes dos seus. Os cheiros, os sons, tudo era diferente. Estar em Pemberley era diferente e algo inusitado. Nunca se imaginou em um lugar como aquele. E muito menos, nunca imaginou que estaria noiva de Darcy.

Alguém bateu na porta, a despertando dos seus devaneios. Ela se cobriu, apropriadamente, afinal, estava com uma camisola muito diferente das que se utilizavam naquela época. Não queria causar constrangimento a ninguém e muito menos, uma sincope. Com certeza, Darcy seria capaz de ter uma, caso ela aparecesse a frente dele com aquelas roupas indecentes. Ela deu uma risadinha consigo mesma e escutou as batidas na porta novamente.

— Entre – ela convidou.

A porta se abriu, revelando Georgiana, que estava com um robe cheio de babados, de um tom rosa pálido. Imediatamente ao vê-la, Lizzy ficou emocionada e se colocou de pé, dizimando a distância entre as duas. Ela a abraçou, sendo envolvida também pelos braços de Georgiana.

— Senti tanta saudade – Georgiana disse, com a voz abafada, contra o ombro de Lizzy.

— Eu também – Lizzy disse, fungando. Estava realmente emocionada por ver a jovem.

As duas se afastaram, uma olhando para a outra, como se estivessem se avaliando. Lizzy percebeu que Georgiana parecia mais madura, mesmo ainda tendo traços infantis em seu rosto delicado.

— Sei que ainda é cedo e Darcy me pediu para esperar para vê-la, mas estava muito ansiosa. Soube da sua chegada ontem à noite – Georgiana disse, apertando as mãos uma na outra. Os olhos de Lizzy automaticamente perceberam algo brilhante, no anular esquerdo. Ela reconheceu ser m anel de noivado. Logo, presumiu que Georgiana deveria estar noiva de Richard – E eu sei que você deve estar cansada, pois veio da Escócia, mas não consegue não vir vê-la. E espero não a ter acordado. Eu só...bom...

Lizzy sorriu para ela, que retribuiu de volta, parecendo hesitante.

— Está tudo bem, Georgie. Eu estava com saudades também e acordei antes que você viesse ao meu quarto – Lizzy garantiu – Agora, me conte, quem lhe deu esse anel tão bonito?

Georgiana corou e estendeu a mão para Lizzy, para que ela pudesse ver o anel. Era feito de ouro, com pedras de diamante cravejadas ao redor. Um exemplar de anel de noivado muito refinado.

— Richard fez o pedido, mas...- Georgiana mordeu os lábios, parecendo triste.

— Mas...? – Lizzy incentivou, sem soltar a mão da cunhada.

— Ele...eu não sei – Georgiana soltou o ar, parecendo, de repente, muito pálida. O que acionou um alerta na mente de Lizzy. Algo não ia bem entre o casal – Ele parece relutante, sabe? – Lizzy assentiu – Bom, ele não parece tão entusiasmado com o casamento. E receio que não me ame o suficiente, não tanto quanto eu o amo.

— Com certeza, ele a ama. Veja que lindo anel ele lhe deu.

Georgiana balançou a cabeça, negativamente, parecendo magoada.

— O anel não é nada além de uma mera formalidade e pertenceu a avó dele – Georgiana explicou, com ar melancólico. O que fez Lizzy pensar em alguma resposta para tentar apaziguar a expressão de dor nos olhos azuis de Georgiana, contudo, nada vinha a sua mente. Nada que pudesse acalma-la – Eu não contei a você o que aconteceu na biblioteca, naquela noite...eu...

Ela com certeza teria terminado, mas uma criada entrou no quarto, interrompendo a conversa. Georgiana soltou a mão de Lizzy e olhou para o chão, com as bochechas afogueadas.

— Senhorita, trouxe suas...- Quando a criada olhou diretamente para Lizzy, corou violentamente e desviou o olhar. Segurava com força uma muda de roupas, em tom azul claro.

— Pode deixar em cima da cama, por favor – Lizzy pediu, fingindo não perceber que a criada estava desconfortável com a quantidade de roupas que estava vestindo.

— Mas, senhorita...preciso...vesti-la – ela quase gritou, como se fosse muito difícil falar e estar na presença de Lizzy.

— Eu mesma a ajudarei, Senhorita Anelise – Georgiana disse.

— Senhorita Georgiana, eu não posso permitir tal coisa – a criada protestou.

— Está óbvio, Anelise, que a quantidade de roupas que estou usando, está a escandalizando – Lizzy debochou.

— Oh...bom...eu não estou acostumada com as modas de Paris – Anelise murmurou, sem olhar para Lizzy. Era visível que ela desejava que o chão se abrisse debaixo dos seus pés e a engolisse – Normalmente, as damas usando camisolas longas, e coloco os vestidos por cima delas. Quando estão sujas, são retiradas para lavar...bom...eu a deixarei agora. Com licença.

Ela se afastou, fazendo uma leve reverencia e fechou a porta atrás de si. Lizzy deu uma gargalhada. Georgiana acabou rindo em seguida

— Realmente, suas roupas são...bastante peculiares – Georgiana zombou.

— Elas são a última moda de Paris – Lizzy brincou – Não é linda minha camisola?

— Linda e indecente. Um pecado – Georgiana disse, rindo – Mas, Anelise não está acostumada a isso. Ela é muito tímida. É um sofrimento até para tomar banho. Ela quer que eu faça com roupas. Então, peço que ela saia, para eu poder terminar.

— É estranho uma criada não estar acostumada com a nudez – Lizzy comentou, indo para perto da cama e analisando a roupa que fora deixada. Era um vestido azul claro, com espartilho e anáguas. Lizzy suspirou, fazendo uma careta. Se ela pudesse, nunca mais usaria espartilhos.

— Bom, deveria ser acostumada – Georgiana concordou – Mas, suas roupas são um escândalo. Não saia assim do quarto, tudo bem?

— É claro que sim. Agora, me ajuda a me vestir, sim?

Entre risos, conversas bobas, Georgiana ajudou Lizzy a se vestir adequadamente e a arrumar os cabelos. Depois, Georgiana chamou novamente Anelise, apenas para ajeitar melhor o penteado de Lizzy, afinal, haveria um casamento aquela tarde e Lizzy precisaria estar elegante. O vestido que ela trajava era rodado, com um espartilho deixando a sua silhueta mais fina, como ampulheta. Ela colocou luvas sem dedos, de renda branca e por cima, um chapéu azul com penas brancas. O cabelo estava elegantemente trançado e fora arrumado em coque na nuca, deixando apenas alguns cachos na parte da frente. Lizzy sentia falta daquilo e não sabia. Sentia-se muito bonita.

Então, Georgiana a convidou para fazer o desjejum, mas não tocou no assunto quanto ao seu noivado com Richard. E Lizzy não a forçou a fazer isso. Mas, logo iria investigar. Algo estava errado. E tudo tinha relação com a noite em que Darcy encontrou os dois na biblioteca.

Quando chegou na sala para tomar o café da manhã, Lizzy percebeu que não estaria a sós com Georgiana. Havia mais algumas pessoas, desconhecidas para ela, em uma mesa de doze lugares, de madeira em tom mogno, com castiçais no meio. Mas, algumas pessoas ela conhecia. Lady Catherine de Bourgh, Jane Bennet, Darcy e Richard. Por algum motivo, Bingley não estava presente. Lady Catherine, que estava sentada ao lado de uma jovem magra, muito pálida e loura, o fulminou com o olhar, mas não abriu a boca para dizer bom dia. O restante das pessoas a mesa, a cumprimentaram e Darcy se levantou, apenas para apresenta-la com sua noiva. Ele tocava levemente o cotovelo dela, enviando arrepios por todo seu corpo. O desejo dela, naquele instante, era toca-lo. Ao menos, dar um beijo que fosse, mas sabia que estavam sendo observados.

Para piorar sua situação, ela precisou sentar ao lado de um completo desconhecido. Ele fora apresentado como Lorde Clifton. E pela forma como lady Catherine conversava com ele, eles pareciam amigos. Era um rapaz loiro, de olhos verdes intensos. Muito bonito. Contudo, havia algo inquietante sobre ele. O cavalheiro a olhava com olhos perspicazes e depois, mirava os olhos em Georgiana, que estava a sua frente, sentada ao lado de Lady Catherine e entre Anne de Bourgh, sua prima, que gaguejava, tentando chamar a atenção de Darcy, o que estava realmente piorando o humor de Lizzy.

— A senhorita parece estar sem apetite – ela escutou a voz suave de Lorde Clifton. E ele estava encostando a coxa na dela, de forma muito invasiva.

— Estou perfeitamente bem – ela disse, entredentes, se afastando dele, tentando puxar a cadeira no processo, mas tinha esquecido que cadeiras como aquelas eram pesadas demais para serem arrastadas facilmente. Mesmo assim, ela tentou impor a distância. Contudo, parecia que o cavalheiro em questão não iria deixa-la tão facilmente. Ele encostou a mão no joelho dela, por baixo da mesa, fazendo a chutar algo no processo.

Alguém disse ai, e Lizzy olhou para os lados, envergonhada e assustada. O susto era por ter sido pega desprevenida. Mas, conhecia muito bem homens como Lorde Clifton. E estava disposta a ensinar a ele uma lição.

— Está tudo bem? – Jane perguntou, com um sorriso ameno.

— Sim, eu só...deixa pra lá – Lizzy respondeu, corando.

— Uma dama não deve chutar os outros por baixo da mesa – Lady Catherine murmurou, olhando feio para ela.

— Como se eu pudesse evitar – Lizzy sussurrou, irritada, tentando focar o olhar em seu café da manhã.

Ela não percebeu que estava sendo observada atentamente por Darcy, que tentava desviar a atenção de sua prima, Anne, mas era quase impossível. Seu monologo era desinteressante e ele apenas tentava interrompe-la, sem sucesso.

— A senhorita tem uma beleza cativante – Lorde Clifton disse, colocando a mão de leve na base da coluna dela.

Dessa vez, Lizzy não se mexeu, estava paralisada e tudo devido ao pavor. Ao pavor de ser tocada quando não desejava a atenção de um homem.

— Um espécime muito agradável – ele sussurrou para ela – Gostaria de conhece-la e poder saber o que fez o Sr. Darcy a desposa-la.

— Tire suas mãos de mim – ela disse, entredentes, olhando para o cavalheiro, com um olhar raivoso.

Ele a fitou com um sorriso nos lábios, parecendo não se importar com a raiva dela, mas retirou a mão.

— Eu não fiz nada, senhorita – ele sussurrou – Eu apenas não consegui me controlar diante de tamanha beleza.

Lizzy bufou, pensando que não conseguiria comer ovos e bacon, pois com certeza teriam gosto de serragem, devido a companhia daquele homem ao seu lado. Mas, Lorde Clifton não parecia ter desistido. Novamente ele desceu a mão pela coxa de Lizzy, então, ela pulou, batendo os joelhos contra a madeira da mesa, fazendo-a tremer. E derrubando os castiçais, xicaras e copos de vidro no processo. Ela se levantou, ao mesmo tempo, gritando, com o dedo em riste, com o cavalheiro que não sabia onde colocar suas mãos.

— Escuta aqui, seu almofadinha, me toque mais uma vez, que eu...- ela parou de gritar, olhando para o lado. Todos a fitavam, mortificados.

Lorde Clifton a fitava, parecendo mortalmente pálido. O que era muito injusto. Parecia que Lizzy não teria como se defender daquilo. Com toda a certeza, ninguém acreditaria nela e no fato de que ele a estava apalpando, usando a mesa como escudo para suas ações libidinosas. Então, ela simplesmente tentou sair da sala e acabou esbarrando com um criado no processo, que carregava uma bandeja de prata, com travessas de comida.

Ela não parou para pedir desculpas, nem ajudá-lo, ela apenas tentou encontrar a saída. E começou a correr. Correu para a saída, porque a humilhação queimava seu rosto e seus olhos. Eles pinicavam, com certeza, tentando liberar uma torrente de lágrimas, mas ela não iria chorar. Ah, não mesmo. Ela iria dar um jeito de dar uma lição naquele lorde almofadinha, que se achava no direito de toca-la, com certeza, se valendo da sua posição social. Então, sentiu braços em volta do seu corpo e ela teria caído de joelhos no chão, se quem a estivesse segurando, a deixasse cair.

— Ei – a voz grave de Darcy ressou em seu ouvido, de forma que enviou um choque em todo seu corpo. Ouvi-lo tão próximo a ela era como sofrer uma descarga elétrica, tão a atração que ela sentia por ele – O que houve?

Ele a virou para si, segurando-a pelos cotovelos. Seu olhar demonstrava toda a aflição que sentia. Sorte a deles que estavam em corredor afastado da sala do café da manhã. Com certeza, alguém viria para testemunhar a proximidade impropria em que os dois se encontravam. Mas, de fato, Lizzy pouco se importava com isso. Ela apenas queria sentir a presença de Darcy. E queria se sentir protegida. Amada e protegida.

— Eu...só...- ela engoliu as palavras, pois não sabia como explicar. Sentia-se tão humilhada. E temia que ele não acreditasse nela.

— Me diga, por favor – ele pediu, com a voz suave, mas seu olhar era cheio de aflição – O que Lorde Clifton fez a você?

— Ele...eu...só...- ela respirou profundamente, sentindo-se insegura.

— Ele falou algo desagradável? – Darcy perguntou, com um olhar intenso, que demonstrava que ele estaria disposto a arrancar a cabeça de Lorde Clifton. O que deixou Lizzy receosa.

— Eu não quero falar sobre isso agora...só quero...quero ir para o quarto – ela pediu.

Darcy negou com a cabeça.

— Apenas diga sim, Lizzy e eu o farei ir embora agora mesmo.

— Não! – Lizzy exclamou, fazendo com que Darcy franzisse o cenho, confuso e desconfiado – Eu quero dizer...eu...não seria ruim para você fazer isso? Não seria perder o apoio dos seus pares na sociedade?

— Eu não me importo. Quero ele fora da minha casa, desde que ele pisou nela – Darcy disse, com uma voz sombria – Ele é um libertino costumas, um jogador inveterado e está afundado em dividas. Quero ele longe da minha família. Não sei por que deixei que minha tia o trouxesse.

— Eu achei que sua tia estivesse doente – Lizzy disse, confusa. Afinal, Darcy havia dito que fora visitar Lady Catherine, por saber que ela estava doente.

— Parece que ela se recuperou milagrosamente e veio junto com Georgiana – Darcy disse, com amargor – Eu esperava que esse dia fosse tranquilo, pois é o casamento de Bingley e da Srta. Bennet, mas ao que parece, não será.

Lizzy se sentiu mal por vê-lo tão furioso e angustiado. Era visível que ter a tia sobre o mesmo teto, estava deixado Darcy chateado. Ela não queria causar mais problemas.

— Darcy, acho que é melhor você voltar. Eu vou dar uma caminhada, respirar um pouco – ela disse.

— Então, eu vou com você – ele disse, levando a mão ao rosto dela, tocando em uma caricia que a deixou sem ar.  Mas, fora tão rápido, que ela acreditou ter imaginado isso – Vamos? - Ele a soltou, se colocando a lado dela e puxando a sua mão, para colocar na dobra do seu braço.

— Sim, por favor.

Os dois caminharam para fora da mansão e enquanto eles caminhavam, Lizzy ainda pensava que algo estava errado com aquele homem. Lorde Clifton não parecia ser só um libertino costumas e Lizzy ficaria de olhos abertos na presença dele, enquanto aquele dia durasse.


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