The Stranger I Know escrita por Eponine


Capítulo 1
1 de setembro de 1977




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Lílian fitou o nada, destemida a dissociar por três horas ininterruptamente. 

Ela até planejou no que pensar, toda vez que se pegava em como iria se resolveria aquele complexo gancho da última temporada de Doctor Who, ela reprimia rapidamente seu cérebro, focando-se em outra coisa, precisava guardar aquelas coisas para 1º de Setembro de 1977 e as três horas de tortura que teria. E ela tinha muito em que pensar: Que vestido usaria para o primeiro baile do Clube do Slugh, agora que era uma veterana de verdade, como seria sua formatura? Ela ia conseguir terminar de ler Duna neste Natal sem ser interrompida por Petúnia, já que ela esquecera o livro em casa? Eram muitas coisas em que seu cérebro poderia divagar enquanto ela fitava o jardim do Castelo de Hogwarts iluminado apenas pela lua, fingindo atentar-se a qualquer barulho ou qualquer vulto de um aluno fujão enquanto tinha a sua primeira ronda com o Monitor Chefe da Grifinória, James Potter.

            Evans era especialmente transparente, ela não conseguia simular emoções, qualquer um que a olhasse saberia que além de ódio, ela realmente estava magoada por Dumbledore ter dado à James um posto que estava sendo construído e conservado por Remus desde o quinto ano. Lílian comeu o pão que o diabo amassou para que conseguisse receber aquele crachá no verão que precedia o quinto ano, se ela não conseguisse, aquele estresse que curvava suas costas a mataria. Se sequer houvesse a possibilidade dela não receber seu crachá de monitora chefe, Lily seria capaz de matar alguém.

            Apesar do alívio em saber que uma grande parcela da ansiedade e sobrecarga de Remus diminuiria com sua saída do cargo, Lílian não concordava que James poderia ser um bom substituto sendo que era ele quem desgraçou a vida de muitos monitores pelos sete longos anos que estudou ali.

            O garoto parecia sentir o denso ar que rodava ao redor de Lílian, estática no jardim, por isso sequer tentara falar algo quando chegou alguns minutos atrasado para a ronda. A garota ouviu seus passos e olhou de canto de olho a chegada do garoto, ainda anexando o crachá de monitor em sua capa. Lílian apertou seu rabo de cavalo e começou a se dissociar, observando o lago.

            — Nossa, que gelo! — a garota respirou fundo, não acreditando que realmente achou que seria fácil apenas dissociar. Ignorou a voz, mas ele continuou, claro. — É lindo… 

            Lílian o olhou de relance, não entendendo, mas ele apenas apontou para o lago, agora ao lado de Lílian.

            — Olha a luz da lua, como é bonita no lago — Lily focou seus olhos no rastro que a lua iluminava no lago, era como se brilhasse — Eu adoro olhar isso pela janela, na Sala Comunal.. E às vezes aqui embaixo, com métodos que não vou contar por respeito ao crachá — James deu um risinho. — Eu terminei de ler O Grande Gatsby no primeiro dia do sexto ano e a lua estava exatamente assim. E eu estava 100% sóbrio, mas eu fiquei horas olhando esse reflexo, sentindo o que o Gatsby sentia quando via o farol…

            A garota o fitou, curiosa, sentindo uma estranheza cobri-la por completo ao reparar em James pela primeira vez, apesar de ter visto aquele rosto por sete anos. Nunca tinha reparado de verdade em como era seu rosto, muito menos suas sobrancelhas grossas, já que o óculos abafava até mesmo a cor de mel dos olhos. Ele continuou exibindo os dentes levemente tortos enquanto a garota o fitava, confusa.

Você leu Grande Gatsby? — indagou, quase que com um tom de deboche. Ele assentiu simplesmente, cruzando os braços para trás. 

— Não por intelectualidade minha, pode acreditar. Foi presente de uma velha amiga. Literalmente. — riu ele. Quando o garoto a olhou, Lily, desviou os olhos rapidamente e quase como se fosse uma função automática, suas sobrancelhas se juntaram e seu rosto tornou-se pedra de tão fechado. — Li muita literatura trouxa desde que conheci Batilda Bagshot, ela mora de frente pra mim.

Lily ofegou, não segurando o riso de surpresa. Deu alguns passos para trás, cobrindo a boca de nervoso.

— Batilda Bagshot mora de frente pra você? — riu Lílian, chocada.

— Dá pra acreditar? Eu não fazia ideia até ela ir no meu jardim me assistir na  função mais humilhante do mundo que é arrancar gnomos — A garota riu mais ainda, mas de forma breve ao perceber a felicidade que estava compartilhando com James Potter. Devagar, Lílian, pensou consigo mesma, segurando os lábios e cruzando os braços. Se irritava por ser uns dez centímetros mais baixa que o garoto, detestava olhar para cima para olhá-lo. James, em compensação, parecia animado em falar sobre sua amiga. — Desde então eu passei vários verões na casa dela, li bastante coisa, e também assisti bastante coisa.

— O que ela gosta de assistir? — perguntou Lily, curiosa.

— Filmes trouxas antigos pra cacete — riu James, em sua característica gargalhada escandalosa. Ela também riu, fitando seus dentes e a forma como sua boca entortava levemente para a direita, como se fosse um charme, mas ela via uma pequena cicatriz perto de sua boca, quase invisível, que parecia repuxar quando ele sorria. As sardas escuras entre nariz e bochechas davam um tom de excentricidade para James, de uma forma que soaria piada se dissessem que ele era tão requisitado pelas garotas de Hogwarts. — Mas que são incríveis! Eu não tenho televiso em casa, então-

Televisão.

— O quê? — Lílian pela primeira vez segurou os olhos de James, quase envergonhada. 

Televisão. Você falou televiso. — explicou, tentando não soar grossa ou arrogante. Ele assentiu lentamente, sorrindo.

— Não acredito que fiquei três meses falando televiso e ninguém me corrigiu. — riu ele. Claro que não, você é James Potter, pensou Lílian, não segurando o escárnio. — Obrigada.

Lily assentiu, voltando a fitar o lago. Passou a mão na testa, extremamente envergonhada: havia conversado com James Potter pela primeira vez após sete anos. Algo parecia queimar dentro dela, o que a irritou. Respirou fundo, não se reconhecendo, seu pai sempre brincou que Lily era um ditador de um metro e sessenta e quatro por ela sempre ter se apoiado firmemente em cima de suas convicções, e se tinha algo que ela se mantinha até mesmo debaixo de tempestade era sobre o mal caratismo de James Potter.

Virou-se para ele bruscamente, ainda de braços cruzados.

— O que você sentiu? — indagou.

A garota o odiou, havia um som ao redor de James, uma película que ela não havia notado antes, quase uma sabedoria. Já sabendo sobre o que ela estava falando, ele apenas deu de ombros, sem olhá-la.

— Nada, se você quer realmente saber.

— Ah, nem mesmo orgulho? — Lílian sorriu, dissimulada.

Orgulho não tem nada com isso — retrucou James, ainda sem olhá-la.

— Você disse a Dumbledore que Remus devia deixar o cargo. Você sabotou seu próprio amigo. — O Potter a olhou, mas Lily não piscou — Orgulho tem tudo com isso.

Quase como gelo, James virou seu rosto para Lílian em uma fúria nos olhos que não se derramava no rosto imóvel enquanto quase sibilava num tom baixo, levemente abaixando o rosto à sua altura. 

— Não aja como se me conhecesse, Evans. — sibilou — Aliás nem mesmo Remus você conhece.

Lílian riu de escárnio, chocada.

— Você é tão arrogante.

Arrogante? — questionou, agora visivelmente irritado. — Talvez tenha sido minha arrogância que salvou um garoto com problemas demais a ter um colapso nervoso só para manter a pose pra um velho de mil anos, pelo amor de Merlin-

Antes que Lily pudesse retrucar, James deu alguns passos para trás, erguendo a mão como protesto.

— Não ouse falar sobre o que não sabe! — cortou, apontando o dedo para Lílian — Porque você não sabe de nada! Eu sei que é difícil pra você acreditar, mas não sabe!

— Você cresceu privilegiado, e esse privilégio te fez arrogante o suficiente pra roubar o cargo do seu amigo e dizer que foi para salvá-lo.

Potter riu para o céu, abaixando a cabeça em seguida, a maneando negativamente para a grama. O vento começou a empurrar Lily, como se ela tivesse desafiado até mesmo o Tempo. Para esconder o reflexo das mãos em punho, as escondeu nos bolsos da calça, agora indo em direção de Lily, que apertou a varinha no bolso da capa, mantendo-se firme, mas a cabeça foi levemente para trás de tão próximo que James ficara.

— Você acha que sabe, mas você não sabe nada nem sobre mim, nem sobre Remus. E se pra você é sinal arrogância interromper a destruição completa da saúde mental do próprio amigo, então já sabemos quem você é — Fitou o rosto do garoto pela primeira vez em sete anos.

— Remus não precisa de você cuidado dele!

— E precisa de você? — replicou James, quase rindo. — Quem é você? Quem você acha que é?

— Eu sou amiga dele, mais amiga que vo- — James gargalhou, o que foi a gota d’água para Lílian — Ah claro, novamente estou tentando ensinar matemática para o cavalo, o que você poderia saber sobre as bases de uma amizade, ou seja, respeito, cumplicidade…

— O que você sabe sobre amizade? Andar com um Comensal da Morte que te acha imunda só porque você brincou de carrinho com ele na infância? Me poupe.

Lílian abriu a boca apenas para o silêncio. Seu cérebro parecia ter desligado assim que James terminou a frase. Ignorou o aperto que empurrava seus órgãos vitais para que conseguisse manter a pose, se negava chorar na frente de James Potter, mostrando-se o crápula que sempre fora. Continuou com as mãos suadas dentro de sua capa, virando-se novamente para o lago, em completo estado de ausência. Sentiu o vento gelado arranhar seu rosto quente enquanto engolia seco um vácuo em sua garganta que era capaz de engasgá-la e derrubá-la em choro: noites de escritos em diário, caminhadas, choros ou qualquer forma de exorcização daquele assunto não foram o suficiente, estava tendo a prova naquele momento. 

Observou o garoto caminhar um pouco mais para frente sentando-se na grama, de frente para o jardim. Lily respirou pela primeira vez e então pegou o relógio, apenas para constatar que ainda tinha mais de duas horas com aquele infeliz. Observou à sua volta, não acreditando que a mesma pessoa que lhe dera o maior presente de sua vida também era a mesma que havia lhe dado a maior facada, manchando uma grande parte das bonitas memórias que aquele Castelo havia impregnado em sua mente. Severus seria pra sempre um assunto mal resolvido? Lílian respirou fundo, quase como se sentisse seus os canais lacrimais se encherem.

A tortura de sua mente foi interrompida por um barulho no corredor. James levantou-se em segundos, mas Lily já estava a caminho do barulho. Pegou sua varinha, acionando um Lumus, mas uma mão a abaixou. Olhou o garoto fazendo sinal de silêncio com o dedo indicador próximo a boca, adentrando a escuridão em acender a luz. Idiota, xingou mentalmente, o seguindo, sem conseguir enxergar nada. 

Deu alguns passos desastrados, tentando guiar-se pela parede, até que não houvesse mais parede para se guiar. Sentiu medo, pois conseguia sentir que havia pessoas ali. Sem entender por que seguiu uma ordem de James, apenas pegou sua varinha novamente. Antes que gritasse, sua boca foi tapada por alguém, mas Lily não atacou, de alguma forma sabia que era James. O mesmo soltou sua boca lentamente, e a garota sentiu sua respiração perto do ouvido esquerdo.

“Sou eu”, sussurrou. Em um arrepio, ela virou-se em sua direção e o garoto, invisível pela escuridão, pegou em sua mão e a guiou, como se pudesse enxergar naquele lugar sem luz, exceto pela iluminação da lua em alguma das janelas maiores. Deram mais alguns passos silenciosos e o pavor de não enxergar sequer fez Lílian perceber que estava de mãos dadas com James. Quando o mesmo apertou sua mão, Lily quase gritou ao mesmo tempo que Bertha Jorkins.

Puta que pariu! — gemeu Lílian, tendo uma descarga de adrenalina. Rindo, James sacudiu o braço e as tochas se acenderam, iluminando o corredor vazio exceto por Bertha, com óculos escuros. Os óculos de James também estavam como se fosse de sol, mas ele apenas bateu a varinha no mesmo, que voltou ao normal.

— Parabéns, Jorkins, é por pessoas como você que minha marca faliu — Pegou gentilmente os óculos de Jorkins e colocou deu para Lilian, que ainda não tinha entendido o que acontecera. Como um sopro de péssimas memórias, tudo fez sentido: mais uma invenção maldita de James e Sirius quando eram obcecados em ser pegos fora da cama de madrugada. Nunca admitiu, mas comprou através de amigos um copicola enfeitiçado pelos dois, muito potente, que quebrou depois de três anos, diferente dos que eram vendidos convencionalmente que quebravam em menos de meses.

— Não me culpe pelo mal negócio, Potter — sorriu Bertha, envergonhada por ter sido pega. — E pra ser sincera, esses óculos já estão falhando, se a marca fechou e não tem reposição, o justo é um reembolso.

— Nem fodendo, minha querida. Isso é mal uso seu, esses óculos são poderosíssimos, deve dar pra enxergar até debaixo do mar escuro — Os dois começaram a caminhar e Lílian manteve-se em silêncio, querendo ver se James iria se lembrar de fazer as anotações e direcionar Bertha para o lugar certo.

— Fiquei sabendo que vai se formar como primeiro da classe. — comentou Jorkins.

James deu uma breve olhada para trás, mas Lily fingiu distração, morta de ódio em saber que as apostas estavam 100% em James e que realmente sem pessoas saberem se ele realmente tinha médica global para tal. Ela sabia que tinha tempo e que algumas matérias, como Poções, estavam a seu favor para que conseguisse o primeiro lugar, porém, ainda assim sentia-se derrotada só de perceber que as pessoas já estavam dando o troféu para ele.

— Vamos ver. — replicou, visivelmente constrangido.

— Bom, então você conseguiu focar suas compulsões em algo produtivo — Lílian fitou as costas de James antes que ele olhasse Bertha, caminhando lentamente ao lado dela — Para mim, sobra o título de esquisita.

Ele realmente tem algum distúrbio, constatou Lílian, quase sentindo prazer em saber que não era normal alguém conseguir estudar tanto.

— Sua personalidade também não ajuda muito — debochou James enquanto os três subiam as escadas, porém, parecia ter um desconforto em seu corpo. — E para a sua informação, muito provavelmente vai ser disputado esse posto de primeiro da classe.

            Novamente, James deu uma breve olhada para trás, parecendo querer apaziguar a briga que tiveram momentos atrás. Bertha riu, também olhando para trás e então para James.

— James Potter que eu conhecia estava preocupado com excelência, com o primeiro lugar e não em levantar o ego de uma nascida trouxa

— Bertha, você quer levar uma maldição? — James parou no meio da escada, mas Lílian continuou andando até chegar no corredor onde estavam os monitores responsáveis por separar as detenções.

— Boa sorte — disse Lílian para Bertha, assistindo a garota ir rumo aos monitores. James respirou fundo, fitando Evans, mas a mesma apenas começou a refazer o caminho. Pegou seu caderno de anotações, colocando o nome de James Potter.

— Por que está escrevendo meu nome?

— Você não devolveu o material confiscado, — Lily o olhou de cima, já que o garoto correu para alcançá-la e a impediu de continuar, corporalmente bloqueando a passagem. — logo, se você tiver prestado atenção no treinamento que lhe foi adaptado, já que esse nem é o seu cargo, saberia que isso é desvio e diminui pontos da sua avaliação.

James arregalou os olhos para o sorriso dissimulado de Lílian, que o tirou de sua frente em um empurrão.

— Apaga isso agora, eu já ia devolver, pelo amor de Merlin eu tinha esquecido!

— Ah verdade, outra anotação pra você: Não fez sua anotação de Monitor e não deixou ninguém lá embaixo de reserva enquanto você escoltava o aluno. Uau, o que a falta de experiência faz.

James correu escadas abaixo, atrás de Lílian, enquanto os quadros assistiam um filme de sete longos anos que parecia estar apenas no começo. Quando finalmente pisou no hall, seu braço direito foi puxado para trás, a fazendo esquivar-se bruscamente, soltando-se de James.

— Evans, você tinha que supostamente me ensinar as coisas, isso não é justo-

— Justo? — interrompeu Lily. — Você quer falar de justiça?

Os dois se fitaram com a densidade de uma história longa demais para ser encurtada. Ouviu o garoto chamá-la diversas vezes, mas começou a andar tão rápido que não sentiu mais a presença dele atrás dela. 

Negou-se a olhar para trás, mas depois de uns cinco minutos fitando o lago, teve que olhar, e realmente, ele não estava lá. Sentou-se na grama em silêncio, fitando a luz tornar-se cada vez maior, como se alguém estivesse puxando com uma corda. Sentia um asco de James que a impedia de ficar mais de cinco minutos perto do garoto. Com sete anos de convivência, muita coisa foi traduzida por pessoas engajadas politicamente, e apesar de Lily concordar e incentivar o discurso de muitos, ela não sabia dizer se era por esse motivo que ela também se juntava ao extenso clube de odiadores profissionais de James Potter.

Assim como ele, havia muitos bruxos puro sangue pelo Castelo, e muitos que também eram milionários, que exibiam a pele de um berço de ouro, Sirius Black era um grande exemplo, entretanto, as pessoas costumavam ignorar isso por Sirius ser o ponto fora da curva, a ovelha negra, um corajoso herdeiro que negou (de verdade) o dinheiro sujo que o seguia.

Mas James Potter nunca fora assim. Ele respirava privilégio: vinha de anos de acampamentos para pequenos bruxos, chegando em Hogwarts ele já sabia tanto quanto uma criança do segundo ano. Seus amigos antes de Remus, Peter ou Sirius eram garotos desses acampamentos tão arrogantes quanto ele, em treinamento para tomar o posto do pai. Lily ria de Marlene, mas de certa forma ela também tinha a habilidade da garota de conseguir identificar uma pessoa rica: a pele era diferente, o cabelo, as mãos, tudo gritava que o trabalho e o sacrifício não haviam tocado aquelas mãos sedosas, ou aquela pele que nunca fora castigada pelo sol que queimava os funcionários.

Remus e Marlene passavam horas conversando sobre os privilegiados, sobre o quão massacrante era assistir seu esforço ser o mínimo, e o deles, que já estavam quase que em cima da linha de chegada, ser vangloriada.

Deixar James atravessar aquela linha de chegada era a morte de Lílian, ela ressentia tudo sobre ele. Por ter sabido que era um bruxo assim que saiu de dentro de sua mãe, por ter convivido com outros bruxos, por não ser discriminado como ela.

James entraria no St.Mungus já renomado, enquanto Lílian, terá que pavimentar todo o seu caminho até lá.

 

BADBADNOTGOOD - HEDRON

 

Sentiu a grama sendo pisada e respirou fundo, não movendo um músculo sequer quando James sentou-se ao seu lado, em silêncio. O garoto segurou os joelhos com os braços, cruzando as mãos na frente, parecendo ansioso para dizer algo.

— Eu... — James abaixou a cabeça, suspirando. — Eu sei que consigo ser o maior idiota do mundo, mas acredite, não é minha intenção.

— Idiota? Você tem muita compaixão consigo mesmo. — replicou Lily. James a olhou e a garota conseguia sentir sua língua inchar de veneno, cada vez que os dois trocavam uma palavra ou um olhar tinha um peso de ressentimento que era capaz de achatá-los sem dificuldade. — James, você foi expulso do programa de treinamento da enfermaria por falta de paciência e compaixão básica. Essa foi literalmente a sua avaliação.

—  Eu ainda acho um absurdo essa carta e eu tenho certeza de que foi um engano. — Lily virou para ele bruscamente, chocada com o quão egóico o garoto conseguia ser, mas ele rapidamente se conteve. —  Ok, eu não sou uma pessoa muito… Querida —  assumiu James.

— Mas, ainda assim, você já tem o seu posto no St.Mungus te esperando no fim do ano que vem, você vai fazer todo o seu treinamento no melhor hospital bruxo de Londres, mesmo sendo um... — A boca de Lily se conteve ao ver os olhos de James, aparentemente vulneráveis, fitando a lua. Quase assombrada, levantou-se, não acreditando que pela primeira vez na vida estava tendo a oportunidade de dizer, em uma conversa franca e à dois, o que realmente achava de James Potter. — Eu trabalhei com você no quinto ano, naquele maldito projeto de Herbologia, e você assinou aquele maldito papel me colocando como uma assistente quando enviou para a avaliação internacional, NÓS ganhamos, VOCÊ levou o título, aquele troféu no hall tem apenas o SEU nome. Todos esses anos, ficando quase vinte e quatro horas sem dormir para ganhar Ótimo em alguma prova e ter um reconhecimento de merda sendo que você já estava na minha frente antes mesmo que eu soubesse que era uma bruxa, eu nunca quis ser sua assistente eu queria SER você.

Mesmo com as mãos trêmulas, a garota apontou o indicador para o garoto, que finalmente a olhou, parecendo estar em êxtase.

— É de matar saber que tem muitos outros melhores que você, eu inclusa, mas que vão ter que matar e morrer para te ultrapassar-

— Você já disse isso, você terminou?

NÃO! — retrucou, sentindo ódio o suficiente para socá-lo. Manteve-se trêmula, mas firme, em silêncio. O lago parecia ter se acalmado para que Lily dissesse, mas o poder de calá-lo era tudo que ela precisava. James tinha os olhos embargados e por mais que fosse conhecido pela petulância, manteve-se em silêncio, trêmulo. Abaixou o braço, completamente mergulhada em serenidade. Engoliu a bola de choro em sua garganta e assentiu, em paz.

— Agora eu terminei.

James levantou-se, visivelmente derrotado, e sequer envergonhou-se em olhá-la com o rosto molhado. Assistiu o garoto apertar a cintura com as duas mãos, respirando fundo.

— Eu realmente queria sair desse lugar com isso — e apontou para os dois rapidamente. — Limpo. Esclarecido.

Antes que Lílian pudesse debochar, James a cortou.

É minha vez, Evans. — interrompeu, educado. — E eu te chamo de Evans, porque por três anos você deixou bem claro que é assim que eu deveria te chamar. Eu sei que sou um filho da puta, eu venho de uma família de desgraçados, o que você esperava de mim? Pureza? — James esboçou um sorriso. — Eu sei que você me acha um verme, e não é por falta de motivos. Eu realmente estou numa posição muito melhor que a sua desde a hora que eu nasci, mas por favor, não... Não fale que não teve suor meu nisso. Porque é uma mentira que eu não posso deixar ninguém falar sobre mim. O seu não privilégio te ausentou de grande parte da construção daquele projeto de Herbologia, porque você tinha coisas para se preocupar, eu não tenho nada, e por isso minha presença estava lá. Eu nunca olhei pra você como uma inimiga, mas como uma competição.  Você me... — James vacilou, deixando Lílian sem ar por um segundo. — Você me consome tamanho... terror. Você é a pessoa mais inteligente que eu já vi, isso que você vê em mim, em Charles, em todos os outros garotos de acampamento, é o que você fala mesmo, é o privilégio, o acesso, eu já nasci bruxo. Mas assistir alguém que se tornou bruxo aos onze anos se transformar em você, Lílian Evans.... é de assustar qualquer um. Especialmente por você sentir que não tem o reconhecimento que merece e realmente, talvez você não tenha, mas saiba que ninguém nesse Castelo é idiota o suficiente para te desafiar e achar que pode sair impune.

Lílian respirou ar puro pela primeira vez, como se alguém tivesse lhe empurrado moléculas de oxigênio recém feitas, intocadas.

— Você é a pessoa mais competitiva, teimosa, desafiadora que já conheci e eu… eu não consigo perder um segundo seu.

A lua foi a única testemunha daquele momento, ela sentia-se revigorada, paga, justiçada. Passou longos sete anos de sua vida juntando mágoa e ressentimento de uma pessoa que não entendia e sinceramente, não estava disposta a entender.

Lílian e James se fitaram por alguns segundos antes do garoto desviar o olhar, fitando o chão.

— Você não devia dizer isso. — a voz de Lily saiu mais tremida do que ela gostaria.

— Quando eu gosto de alguém eu deixo isso claro — ela precisava assumir, a petulância era algo a parte do garoto, conseguir dizer aquilo sem sequer piscar, ela não tem a mesma coragem.

Quase esboçou um sorriso, contendo os lábios rapidamente. James aproximou-se lentamente, erguendo a mão esquerda em sua direção.

— James Potter. — apresentou-se. — Pode me chamar de James.

A garota focou seus olhos na mão por alguns segundos, e como se o vento a empurrasse, apertou a mão, quente e espaçosa, confiante.

— Lílian Evans. — apresentou-se. E sorriu, pela primeira vez. — Pode me chamar de Lily.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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