The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806749/chapter/5

Nos fundos da cabana, Wanda levantou a porta do que seria a garagem. Olhou para Sam de maneira desconfiada, imaginando se ela havia roubado aquele carro ou se era apenas magia. Ambas as ideias lhe pareciam absurdas, de qualquer forma, e provavelmente pareceram ao amigo também, que apenas levantou as sobrancelhas e se adiantou.

— Eu dirijo. 

Revirou os olhos sabendo exatamente o que aquilo significava enquanto o via tirar a proteção, relevando um modelo sedã preto e discreto. Usando um boné também escuro e os cabelos ruivos por dentro do casaco comprido, Wanda se acomodou no banco do carona quando Sam manobrou para fora da garagem e Bucky se sentou no banco de trás, ignorando o olhar divertido do Falcão. 

Havia uma estrada que seguia pelo sopé da montanha, literalmente na direção oposta pela que chegaram no dia anterior. Tão estreita, e pela forma como Sam seguia lentamente, os fazia balançar a cada pedra que pisava, parecendo tão pouco usada que se perguntou se levaria a algum lugar para além daquela cabana; e, se levava à cabana, a quem o fazia. Como Wanda descobrira aquele lugar? 

Encarou silenciosamente o perfil da jovem, distraidamente mexendo nas pontas dos próprios fios longos, as unhas curtas e limpas, diferente do típico esmalte preto de que se lembrava. Em sua mente, as mãos de Wanda sempre foram distintas demais para serem ignoradas, assim como a cor escura das unhas e da maquiagem. Agora, o rosto dela se encontrava sempre limpo, refletindo olhos cansados, às vezes vermelhos e inchados. Apesar disso, vê-la trajando um conjunto de calça jeans, camiseta preta e coturnos pesados era mais animador em comparação ao pijama largo e meias. 

— Vocês não se cansam do silêncio? – Perguntou Sam com uma careta, no que ambos somente o olharam de volta. – Pegar a estrada de carro e sem música é como... Um sacrilégio para mim.

— Nós não queremos ouvir Marvin Gaye, Sam.

Disse tranquilamente, desviando os olhos para a janela. A paisagem era bonita e ensolarada, talvez até demais, embora fosse fim de verão. Saberia apreciar melhor a Europa Central se não lhe trouxesse tantas lembranças relacionadas a Zemo e o Soldado Invernal. 

— Talvez esse seja um sacrilégio maior. 

— Eu não conheço Marvin Gaye. – Sam quase parou o carro ao se voltar para Wanda, indignado.

— O quê?! – Sentada de lado no banco, a jovem franziu o cenho quando o olhou em confusão, no que Bucky apenas gesticulou com a mão em meio a uma careta. – Marvin Gaye é como... Jesus. Mas negro. 

— Tenho quase certeza que essa não é uma comparação muito adequada. 

— Sim, para Jesus. – Sam gesticulou. – Sabe, Bucky... Sabia que estava fingindo sobre Marvin Gaye por causa do Steve. 

— Eu gosto de Marvin Gaye. 

Aumentou o tom mais farto que podia, enfiando os próprios dedos entre os fios de seu cabelo. Duvidava que aguentaria aquela viagem se durasse mais de duas horas, fechados no mesmo ambiente, sem música. Lidava bem com o carro silencioso e os próprios pensamentos, mas não tinha nada contra música. Além disso, ajudaria Sam a se manter em silêncio, o que o deixava em paz também. 

— Ouça, Wanda... – Ele ignorou o soldado e se voltou para Wanda, de maneira séria. – Isso tem que ser remediado o mais rápido possível. Sendo minha amiga... Não é uma opção que não conheça Marvin Gaye. 

Apertou os lábios, compreendendo exatamente o que ele queria dizer. Sam não faria questão de apresentar algo tão caro a ele, se não considerasse minimamente a pessoa, se não a colocasse em seu rol de amigos. Havia sido assim com Steve, com o próprio James e, agora, com Wanda. Escondeu um riso e se inclinou. 

— Porquê não pergunta a Wanda o que ela gosta, invés de tentar fazê-la captar a essência de Marvin Gaye?

— Oh... Essa é uma boa ideia, na verdade.

Sam não pareceu ofendido ao tirar os olhos da estrada para encará-la rapidamente, mas Wanda pareceu repentinamente desconcertada sob o olhar de ambos. 

— Er... Okay. – Parecendo resignada, ela se voltou ao som do carro e com um movimento das mãos, uma canção desconhecida começou a tocar. – E depois a gente pode começar com...?

— Trouble man. – Bucky respondeu pelo outro de forma arrastada. 

 Sam encarou o aparelho de som, como se aprovasse, refletindo exatamente os pensamentos de Bucky.

— Isso faz sentido. 

Wanda era jovem, aquele tipo de música lembrava a ambos, jovem demais para tudo aquilo. Porém, assim como a letra da banda americana que mais parecia britânica também apontava, passara por coisas demais desde muito pequena. Mesmo o título era sugestivo o suficiente – e até clichê para a garota que passara dois dias soterrada ao lado de um míssil não detonado das Indústrias Stark. 

Logo em seguida, a primeira parte do disco favorito de Sam começou a tocar e ele suspirou, conforto parecendo se expandir por todo ele. Wanda também notou, com um olhar analisador, apesar de voltar a parecer distraída sobre tudo aquilo rápido demais, encarando a janela com algo próximo a preocupação. Para Bucky, tudo sobre ela era completamente incerto, como se fizesse de propósito, mas ao mesmo tempo também não fizesse questão de abaixar aquela muralha que construída em torno de si mesma.

Ganharam a civilização em poucos minutos, alcançando uma rodovia pouco movimentada até o que pareceu um pequeno conglomerado de pessoas e não realmente uma cidade de fronteira. Antiga e quase que inteiramente baseada em construções históricas, Tanier, como a pequena cidade se chamava, tinha uma avenida movimentada logo ao lado da estação de trem. 

A arquitetura gótica impressionava, tanto pelos detalhes quanto pela grandeza que, nos dias atuais, parecia exagerada. Em algum momento da história, porém, sabia que o ponto de parada fora estratégico para os países vizinhos. Apenas uma grande avenida formava o centro comercial da pequena cidade, por isso, Sam estacionou próximo à Estação e todos eles desceram, observando o vem e vai dos que moravam ali, assim como dos turistas, que andavam animados de um lado, e dos meros viajantes matando o tempo em cafés devido a parada obrigatória entre a Sokovia, a República Tcheca e a Eslováquia.

Seguindo pela calçada clara de paralelepípedo, com as mãos afundadas nos bolsos e uma bolsa de alça comprida pendurada no ombro, Wanda parecia instantaneamente desconfortável por tantas pessoas ao redor. Ainda assim, ela os guiava pelo movimento para onde deveria ser o mercado ou qualquer coisa que não parecesse um restaurante de luxo. Porém, na altura de um dos cafés, a ruiva parou se voltando para eles.

— O melhor sinal de internet que encontrará é aqui. Eles entendem inglês. – Explicou para Sam, antes de se virar para Bucky. – O armazém fica na próxima esquina, você vai encontrar fácil.

— Onde está indo? – Perguntou Sam antes que ela desse às costas a eles. 

— Eu disse... Preciso comprar algumas coisas.

Wanda deu de ombros e apenas saiu, se misturando como podia as pessoas enquanto os dois apenas acompanhavam com desconfiança. 

— Devemos segui-la? – Questionou a Sam, que apenas encarava a garota de boné de maneira desgostosa até que ela realmente sumiu na porta de uma loja qualquer. 

— Não... Vamos dar a ela algum tempo e então... Se ela não aparecer... – Concordou com um aceno, ciente de que a técnica não muito ortodoxa a deixaria com raiva deles. Tudo o que faziam invadia sua privacidade nas últimas horas, poderiam dar a ela algum tempo sozinha, para si mesma e o que quer que quisesse fazer. – Okay, eu fico aqui. Te espero com as compras. 

— O quê?! Odeio ir ao mercado. – Protestou, indignado. 

— Bem, Bucky, eu preciso checar meu trabalho. Você sabe, listras, estrelas...? 

Sam argumentou fazendo questão de já se acomodar em uma das mesas do bistrô, que ficavam na calçada no verão, cobertas por guarda-sol, e abrir a mochila, tirando de lá um notebook e seus diversos dispositivos de comunicação. Então, apenas revirou os olhos sob os óculos e olhou ao redor, preparando-se para seguir até o armazém indicado por Wanda. 

— Eu te odeio.

Tudo o que ouviu foi a breve risada do soldado antes de começar a se desviar das pessoas. Como de costume, olhou ao redor numa varredura, tentando identificar comportamentos ou presenças suspeitos, mas não havia nada que parecesse fora de ordem no que parecia um típico cenário. 

Tudo tão tranquilo daquela forma fazia algo dentro dele se agitar em expectativa pelo momento onde as coisas desandariam. Não sabia lidar com tanta calmaria, por isso se perguntava com tanto afinco como Wanda conseguia se manter sozinha naquele lugar inóspito, ouvindo apenas as próprias conjecturas. Para Bucky, isso soava aterrorizante demais. 

O mercado antigo, com duas pilastras rodeando a pesada porta de madeira de duas folhas, iluminado por dentro com luzes amareladas realmente não foi difícil encontrar. Era uma construção bonita de esquina que, de fora, parecia até modesta, mas por dentro se abria uma rústica taberna com prateleiras repletas de itens essenciais, mas também produtos que só se encontraria em Sokovia. 

Com uma cesta em mãos, optou por se manter no seguro, comprar o necessário para algumas refeições normais, mais saudáveis do que o que poderiam cozinhar com o que havia na cabana, e apenas alguns doces que não conhecia – Wanda deveria saber do que se tratava. Terminou as compras relativamente rápido e deixou o armazém após pagar, examinando as vitrines das lojas enquanto seguia até onde Sam estava.

No caminho, felizmente, encontrou uma livraria onde pôde garantir alguns calhamaços, que ainda não lera. Sentia que teria tempo suficiente para isso naquele lugar. Resolveu levar tudo até o carro e guardar observando, não muito longe dali, Sam digitar algo no teclado no notebook com atenção e voltar a falar no celular. Terminando de abaixar a tampa traseira, notou repentinamente o modo como o clima ao redor mudou e se virou com pressa apenas para, no instante seguinte, ter seu braço firmemente seguro por uma senhora. 

Muito mais baixa em estatura do que ele, a mulher possuía os olhos mais azuis que já tinha visto. Da forma e ângulo que o encarava, pareciam quase sobrenaturais e aterrorizantes. Tinha o rosto completamente enrugado pelo tempo, vestia roupas normais, com um chale sobre a blusa verde, e tinha os cabelos platinados num corte sem gênero. No pescoço, usava uma estrela de Davi ao fim de um cordão comprido, porém, o que o mais encabulava era o fato de que a senhora apertava seu braço de metal como se fosse nada, sem se surpreender pela estranheza do material. 

— Afaste-se dela. 

— Quem é você? – Tentou soltar o braço, mantendo os bons modos, mas ela o segurou ainda mais forte sobre a jaqueta de couro. – Do que está falando?

— Você está com ela, não é? A garota da montanha? – Bucky franziu o cenho e ante ao seu silêncio praticamente confessional. – Precisa deixá-la para trás.  

— Por quê diz isso? 

No entanto, ela apenas o soltou e saiu, murmurando que se afastasse dela. Franziu o cenho em completa confusão, tentando compreender o que acabara de acontecer. Embora não houvesse duvida que a Garota da Montanha se tratasse da Maximoff, porquê uma completa desconhecida o abordaria daquela forma, como se soubesse mais do que deveria sobre ele – sobre ela – para mandá-lo se afastar? 

Então, quando levantou os olhos, eles imediatamente recaíram na figura tensa e hesitante de Wanda, sob o boné, parada a uma esquina completamente oposta de onde sumira há uma hora. Aparentava ter acompanhado toda a movimentação da senhora com Bucky, parecendo saber exatamente do que se tratava pela maneira como movimentava os próprios dedos ao redor da bolsa em nervosismo, invés de simplesmente magia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, eles saíram da cabana!

Até agora apenas perguntas e tudo um mistério, principalmente para Bucky. É uma escolha deliberada explorar tudo isso a partir do ponto de vista dele, porque toda a magia que rodeia a Wanda é muito diferente pra qualquer um, além do fato de acho que pode existir muita empatia.

Enfim, espero que tenham gostado de todas as interações aqui e esse final heim! Acho que já deixou uma pulguinha atrás da orelha dele!

Muito obrigada a todos que estão acompanhando e, principalmente, aqueles que estão se manifestando. Vamos conversar mais a respeito! ♥

Até breve ♥