The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 1
Prólogo




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O sol ainda jazia alto acima deles, fazendo-os franzir o cenho sob os óculos de sol para enxergar à frente enquanto caminhavam num ritmo relativamente lento, quando começou a praticamente ouvir o mal humor do outro estalando em suspiros mal incontidos e resmungos mal humorados.

Não havia estradas no vale inóspito de chão coberto por pedras, pinheiros altos demais e pequenas montanhas ao redor, o que o fazia com que o trajeto se tornasse ainda mais dificultoso e longo. Pelas suas contas, havia ultrapassado ao menos trinta quilômetros andando e, apesar de se sentir perfeitamente bem, sabia que Sam Wilson não tinha a resistência artificial do super soro, embora agora usasse o manto do Capitão América.

Apesar disso, ele não pediu realmente para parar em nenhum momento e Bucky não fez questão de demonstrar bondade. Ainda não sabia quanto mais percorreriam e era melhor que aproveitassem à luz do dia enquanto podiam, o que Sam provavelmente também vinha levando em consideração. 

— Me lembre, mais uma vez, porquê estamos fazendo isso mesmo?

Observando o chão de pedras com uma careta, por um instante, Bucky respondeu de forma linear.

— Steve detestaria se soubesse que abandonamos a garota. 

— Steve perceberia que a garota, claramente, cresceu. – Ouviu Sam bufar novamente, acompanhado do ruído de água do cantil prateado, provavelmente despejando sobre o rosto para tentar se refrescar. Estranhamente, há algum tempo tudo o que os rodeava parecia atipicamente estacado. Desde a brisa, até as folhas das árvores quietas e o lago que vinham contornando... Tudo parecia milimetricamente perfeito, como uma pintura ou uma projeção eletrônica, o que fazia com que a temperatura subisse sob o sol, muito real acima da cabeça deles. – Sinceramente, cara... Wanda é um verdadeiro caos. Ninguém sabe lidar com ela, não acho que tenhamos chances.  

— O quê...? – Parou, indignado, finalmente se voltando ao homem, que agora tinha a face e a camiseta completamente encharcados, além das feições exaustas. – Você teve a ideia de procurá-la!

— Isso foi antes de ter o nosso avião destruído por esse… Campo magnético estranho. 

Sam olhou para cima quase como se pudesse ver a área protegida por um campo de energia realmente anormal. Cobria uma extensão realmente grande e era praticamente transparente acima deles, de forma que não faziam ideia que aquilo estava à frente quando sobrevoaram baixo o local onde suas pistas indicavam que a Maximoff se encontrava. 

Porém, o antigo modelo Cessna 172, que conseguira no acervo de um falecido tio e no qual vinha trabalhando desde que voltara ao Brooklyn, começou a sofrer panes elétricas assim que adentrou a área protegida e, logo, estavam em turbulência, como se houvesse uma tempestade ao redor deles, embora o céu estivesse completamente limpo. 

Por isso, Sam precisou fazer um pouso forçado na água e eles decidiram seguir caminhando. Aquela era a pista de que havia algo, no mínimo, questionável ali, sendo Wanda Maximoff ou não. Pelo o que sabiam, as possibilidades de não ser a garota, considerando o que ela fizera na pequena cidade de Westview, não eram grandes. Também mal humorado, estalou os lábios e simplesmente voltou a caminhar, boné na cabeça e a camisa há muito amarrada à alça da mochila que carregava às costas.

— Podia ter imaginado isso antes de partir nosso avião ao meio na parte mais inóspita da Europa Central. 

Aumentou o tom de voz no final, sem vontade de alimentar alguma paciência com Sam. Ele podia ser como um labrador, o que era irritante; mas também se transformava muito fácil num buldogue esnobe, folgado e reclamão. 

Sabia, entretanto, que Sam apenas pensava em desistir da garota porque estava bravo com ela, não porque magicamente havia deixado de precisar de ajuda. Ninguém ficava bem isolado e ela vinha fazendo exatamente isso, desde Westview. Vira as fotos que mostravam a realidade que ela construiu por si própria naquela pequena cidade: parecia ser um mundo inteiro centrado em si mesma, embora não soubesse com base em quê que a garota o projetara. Agora, talvez estivesse fazendo a mesma coisa, mas ali, naquele lugar distante, onde talvez as agências governamentais dos Estados Unidos não pudessem atrapalhá-la. 

Apesar de não compreender totalmente como Wanda podia ser capaz daquilo, uma semana atrás Sam jogara os relatórios conseguidos com a S.W.O.R.D. na mesa de centro de seu apartamento e decretara que precisavam encontrá-la. Seu contato com a garota não havia sido muito prolongado, o único elo que os ligava era Steve e o fato de, anos antes, ter ajudado a resgatá-la de uma penitenciária de segurança máxima – o que não os fazia amigos em nenhum sentido, mas minimamente conhecidos.

Porém, tanto ele quanto Sam sentiam ter algum tipo de dever com ela em nome de Steve, pois conheciam o carinho fraternal que os envolvia. Embora fosse complicado imaginá-la se abrindo com qualquer um, não havia pessoa melhor para tanto quanto Steve Rogers e sua complacente alma incorruptível. Entendia também a facilidade com que ela se afeiçoara ao seu amigo – mesmo a fria e distante Agente Romanoff o fizera: ele não precisava de muito para colocar as pessoas no lugar, apenas a própria convicção e sinceridade latentes. 

Continuaram em silêncio, percorrendo o aclive de uma colina relativamente pequena enquanto as árvores pareciam rarear ao redor deles para dar espaço à uma vegetação brilhante e rasteira. Vez em quando, ouvia Sam murmurar a letra de alguma música, tentando se distrair, até que chegaram ao topo, surpreendendo-se com a paisagem se abrindo do lado oposto do vale. 

Era ladeado por uma parte mais modesta do lago de tonalidade esverdeada, como se terminasse ali, assim como montanhas mais altas ao fundo e ao lado direito. Lá embaixo, no entanto, se erguia de maneira quase trivial uma casa de arquitetura tradicionalmente sokoviana, mas simples, exalando quietude em todas as fibras da madeira de sua construção. As portas estavam abertas, o que fez Sam retirar os óculos escuros levantando uma sobrancelha. 

— É, é isso. 

Estreitou os olhos, quase convencido de que ele pensava mais em abrigo e formas de se comunicar com o mundo exterior do que qualquer outra coisa. A aparente quietude, então, foi quebrada pela figura minúscula surgida sob o batente da porta, encarando diretamente o local onde se encontravam, ainda que parecesse longe demais para que ela os houvesse localizado tão facilmente. 

Por um instante, foi como se algo ao redor de Wanda, já na varanda estreita da casa, houvesse ondulado em rubro enquanto meneava a cabeça, como que analisando-os com os olhos estreitos. Porém, foi rápido demais para que seus olhos realmente registrassem e o provassem que fosse real. Sequer teve tempo de questionar se Sam também vira o relance sobrenatural sobre ela quando o outro assobiou.

— Você viu o que eu vi? – Ele tateou o próprio dispositivo que o mantinha conectado à red wing, acostumado à tecnologia. Porém, foi mais pelo costume do que qualquer outra coisa, pois o campo em torno deles impossibilitava o funcionamento de qualquer dispositivo eletrônico. – É, acho que terá que ser old school até o final. Não gosto disso. 

— Pare de ser supersticioso. – Seguiu à frente novamente, ansiedade contida crescendo em cada poro seu à medida que os passos o deixavam mais perto da casa. Estavam pisando num terreno que se mostrava totalmente incerto e até letal. Por mais que jamais fosse admitir em voz alta, Wanda era realmente perigosa e não passavam de dois humanos sem grandes poderes de verdade. – É só uma garota e ela nos conhece.

— É uma bruxa, Bucky. Uma bruxa de verdade, como Monica confirmou. – Praticamente pôde imaginá-lo fazendo um sinal cristão, mas Sam não seria tão ofensivo. Bastava o novo colar prateado com pingente de cruz que, de repente, estava em seu pescoço. Bucky, por outro lado, nunca se sentira tão cristão quanto Steve e, agora, Sam. Embora os valores estivessem presentes em sua criação, toda essa questão fora deixada de lado há tempo demais em sua vida para que dispendesse muito tempo pensando sobre a proteção divina. – Espero que agora não venha me dizer que o Grande Trio não existe.

Revirou os olhos, mas acabou sendo mais para si mesmo, pois se aproximavam mais e mais da casa, onde Wanda voltara a aparecer na varanda, de braços cruzados, analisando-os milimetricamente. Sua memória costumava ser praticamente perfeita devido ao Soro de Zola, por isso tinha certeza que os cabelos dela nunca haviam sido tão ruivos quanto agora, nem suas feições tão ferinas. Antes, parecia apenas uma jovem assustada que não sabia lidar direito com tanto poder nem com os traumas pelos quais passara; agora, a jovem mulher à sua frente tinha uma postura totalmente diferente, como se os desafiasse a fazer mais do que simplesmente cumprimentar.

— O que estão fazendo aqui? – Ela perguntou de maneira abrupta, assim que estiveram perto o suficiente.

— Olá, Wanda. – Sam corrigiu e se adiantou, ousadamente subindo os degraus da varanda para abraçá-la, como se o gesto fosse completamente normal e não estivesse receoso cinco minutos antes. Novamente, notou algo em tom vermelho cintilar nos olhos dela, mas a ruiva abraçou o amigo de volta, apesar da desconfiança. – É bom te ver denovo. 

Ela se afastou, o casaco de linho fino escorregando pelo braço, sem realmente responder, antes de se voltar para ele, levantando-o uma sobrancelha. 

— Ei, Bucky. 

— Como vai, Wanda? – Viu o leve franzir de cenho, especialmente quando percorreu os olhos por cada um deles por um instante. 

— Então...? – Sam apertou os lábios e Wanda voltou a cruzar os braços, sem fazer questão de convidá-los para entrar, apenas aguardando uma desculpa para estarem ali. 

— Er... – Observou o outro procurar as palavras por um momento, simplesmente esperando, enquanto Sam juntava as mãos e o olhava em busca de uma ajuda que nunca daria. Afinal, o que diria à garota? Certamente, não era o melhor modelo de controle psicológico que tinham em seu círculo. Sequer deveria estar ali, se levasse em consideração que seria um péssimo e monossilábico conselheiro. – Ouvimos sobre o que aconteceu. Estivemos preocupados com você.

Viu Wanda ainda encarar o outro soldado, antes de deslizar os olhos sobre ambos com certa apatia, como se repentinamente decepcionada.  

— É claro. 

O tom resignado foi tudo o que ouviram antes que ela se virasse para adentrar a casa sem dar mais explicações. Sam o olhou sem entender e Bucky deu de ombros, seguindo-o pelos degraus da varanda pelo mesmo caminho por onde a bruxa sumira.


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Notas finais do capítulo

Olá!

Volto aqui mais uma vez explorando essa interação que eu adoro. Acredito que Wanda e Bucky têm muito em comum, mas também muito a percorrer para, talvez, chegar numa escala mais ~romântica.

Todos os acontecimentos aqui foram pensados a partir do final das séries deles, desconsiderando os acontecimentos do recente Dr. Estranho, e exploram muito mais o trauma de Wanda depois de tudo o que ela fez em Westview, que é desde quando eu venho escrevendo essa história. Daí, surgiram as outras one shots que eu postei, mas o foco maior sempre foi essa, que será uma looonga jornada.

Espero que goste e, se gostou, deixe um comentário pra eu saber como foi sua experiência. É sempre importante receber incentivos e muito legal ver outra perspectiva da história.

Até breve para a continuação! ♥



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