Clube de teatro Filia escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Clube de teatro Filia




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O corredor estava apinhado de alunos curiosos, para saberem o que estava acontecendo na sala do clube de teatro. Entre eles estava Danur, que dava altas risadas falando para seus colegas que os estranhos da turma de teatro estavam ferrados.

Ao ouvir isso, Fae’lyn se aproximou, preocupado. Embora não fossem muito de conversar nos corredores da escola, ele perguntou para Danur o que estava acontecendo. A garota o olhou de cima a baixo, como se não o conhecesse, dando de ombros e falando que o reizinho da escola estava encrencado.

As sobrancelhas de Fae se uniram, e ele abriu caminho para entrar na sala. Não era do clube de teatro, mas seu melhor amigo, Phialas, era um dos entusiastas fundadores, assim como outros amigos, incluindo o seu namorado, Kalir.

Assim que teve a passagem liberada para entrar na sala, Fae’lyn encontrou o capitão do time da escola deitado em cima de duas mesas que foram unidas para que ele coubesse naquela posição.

— O que houve? — A pergunta soou alta e preocupada, fazendo com que todos ao redor de Rieron virassem a cabeça em sua direção. Antes que pudesse fazer mais uma pergunta, o capitão do time sentou-se na mesa e jogou os cabelos para trás, dando um sorriso.

— Desse jeito não vamos conseguir terminar essa cena — Rieron falou, girando as pernas e se levantando. Ele era alto e encorpado, o que combinava com sua posição no esporte.

— Volta para o caixão, Rieron, não terminamos ainda. — Phialas soou sério, segurando um bolo de folhas nas mãos. A julgar pela sua aparência, óculos de leitura e cabelos loiros amarrados, Fae’lyn diria que ele estava dando um de diretor de teatro novamente.

— Vamos fazer uma pausa. — Rieron esticou os braços, alongando o corpo.

— Você quer ou não quer esse papel? — Phialas cruzou os braços, olhando para ele, depois olhou para Fae e pediu para o amigo explicar ao capitão que precisava ensaiar para conseguir o papel.

Fae’lyn já não prestava mais atenção na conversa, desde que notou que aquilo não passava de um engano. Provavelmente alguém viu Rieron deitado e achou que ele estava com algum problema de verdade. E o único problema dele era uma nota baixa que precisava subir até o começo da temporada, ou seja, precisava de um milagre.

Rieron enrolou Phialas e pegou o casaco do time, vestindo-o. Depois pegou a mochila e jogou nos ombros, abrindo a porta da sala. Ao mesmo tempo, Dae’thal estava entrando. Os dois se encararam por tempo o suficiente para que os alunos no corredor murmurassem, fazendo com que o silêncio deles se tornasse estranho.

Dae’thal não disse nada, apenas deu alguns passos para frente, para entrar na sala do clube. Assim como Rieron, que também andou, para sair. Os dois novamente se encararam, ouvindo algumas risadinhas vindas do corredor.

— Vamos fazer assim. — Rieron ergueu as duas mãos e segurou os ombros de Dae, fazendo-o girar para o lado, ficando cada um de lado. — Muito melhor agora.

Rieron piscou para Dae e saiu.

Quando a porta foi fechada, Phialas contou ao primo que Rieron o procurou mais cedo, dizendo que precisava de uma boa nota em quinze dias. E a única atividade disponível era a de teatro.

— Nem pensar. — Dae’thal não se exaltou, mas sua voz soou séria. — Nós passamos os últimos seis meses trabalhando nessa peça, e você quer que ele seja o protagonista?

— Bem... — Phialas passou a mão no cabelo loiro, crispando os lábios. Ele disse que o pai de Rieron poderia investir na peça, e eles teriam um cenário melhor, além de conseguirem comprar as lâmpadas queimadas para iluminar o palco. — Sabe que o diretor Tharee não vai dar dinheiro para a gente, não é? E sem todas as luzes, ninguém vai ver a peça direito.

Dae’thal descruzou os braços e olhou para Fae’lyn.

— Não me olhe assim, eu não faço parte do clube.

— Tem razão, vamos reunir o pessoal e fazer uma votação. — Dae se virou e saiu da sala, ouvindo Phialas que o seguiu. Dae decidiu entrar no clube de teatro para ajudá-lo, e ficava apenas nos bastidores.

Era verdade que o diretor não daria dinheiro para eles, e que seu pai não poderia ajudar naquele momento, tendo seus próprios problemas para resolver. A ideia era boa, não poderia negar, mas Rieron não poderia chegar no clube da noite para o dia e se tornar o protagonista. Não era justo com Phialas, que tinha talento o suficiente para carregar o grupo nas costas.

Além disso, ele achava que Rieron estava enganando Phialas, pois a escola possuía muitas outras atividades, e o teatro não era a mais fácil de conseguir nota.

Contudo, quando fizeram a reunião, o clube de teatro votou sim, para que Rieron participasse. Todos eles estavam ansiosos para estrelarem uma peça em um teatro mais bonito e com luz adequada.

— Vamos, Dae, não vai ser assim tão ruim — disse Kalir. — Eu conheço o Rieron, ele é um cara legal.

Dae respeitava a opinião de Kalir, mas algo o incomodava. Principalmente porque aquela não era a primeira vez que eles se encontravam. Rieron estava na sua turma de matemática avançada. Nessa aula, os alunos costumavam se dividir em pequenos grupos para fazer exercícios com jogos de tabuleiros ou outras atividades. E recentemente Dae e Rieron começaram a dividir a mesma mesa.

No entanto, Rieron era falante demais e desconcentrava Dae. Depois, eles passaram a se encontrar nas aulas de Educação Física. Sendo um atleta da escola era até compreensível ver Rieron com frequência no campo, à vontade. Mas Dae achou estranho quando ele passou a participar também das atividades de atletismo, onde Dae fazia corrida com obstáculos.

E, se já não bastassem todas essas coincidências, Dae começou a encontrar Rieron com mais frequência na biblioteca. Aquele era um ambiente que Dae frequentava e conhecia muito bem, desde que entrou para aquele colégio. Ele estava no último ano, prestes a se formar e Rieron também. Em todo esse tempo Dae nunca viu o capitão do time abrir um livro na biblioteca.

Todos aqueles encontros estavam começando a incomodar Dae’thal. Ele saiu do corredor e entrou na sala de teatro, encontrando-a vazia. Não demorou para Rieron também aparecer ali, perguntando se chegou muito cedo. Havia se passado uma semana desde que o capitão do time da escola começou a ensaiar com o clube de teatro, e a aparecer mais vezes na frente de Dae’thal, como se fosse algum tipo estranho de seguidor.

— Você sabe que sim. — Dae respondeu, virando o rosto e se dirigindo para a mesa de produção.

— Então, você é o DJ? — Rieron perguntou, dando uma risadinha nasalada em seguida, mas ao ver o rosto sério de Dae, ele balançou a cabeça e levou as mãos à cintura. — Foi uma brincadeira.

— Eu notei. — Dae olhou para a mesa e tirou alguns cabos da mochila, ele só precisava fazer alguns testes para ver se o som sairia melhor com as caixas que conseguiu arrumar. Comprar novas iria estourar o orçamento que eles sequer tinham condições de pagar.

— Você é primo do Phialas, não é? Ele é um cara muito legal...

Dae continuou fazendo o seu trabalho enquanto Rieron não parava de falar, até que a sala ficou cheia de alunos e eles começaram os ensaios. Dae estava focado na mesa de projeção, só que uma hora ele acabou olhando para Rieron e notou que fez isso muitas vezes não apenas naquele dia, mas ao longo da semana.

Faltava apenas cinco dias de ensaios até a estreia da peça e agora eles podiam fazer os ensaios no anfiteatro da escola. Os alunos responsáveis pelos cenários estavam trabalhando dia e noite para montar tudo. Dae se ocupou com a mesa de projeção, no andar de cima. Ele trocou as lâmpadas queimadas pelas novas e conseguiu uma boa iluminação para o palco, fazendo Phialas bater algumas palmas emocionado.

Dae sorriu fraco, achando bobo como o primo ficava feliz com coisas tão simples, mas ele não poderia negar que seria deprimente o espetáculo sem aquela iluminação mais dramática.

No último dia de ensaio, Dae’thal estava muito focado, assim como todos os outros alunos. Rieron, no centro do palco, parecia um dos mais atentos às falas, ele quase não errou nenhuma naquele dia. Mesmo assim, ainda precisava se lembrar de algumas palavras que escapavam, mas Vaella sempre o ajudava, assoprando algumas palavras. Ela era uma atriz com um futuro formidável, ou pelo menos era uma pessoa muito meticulosa que decorava os textos de todos.

Dae’thal observava a cena final, onde Rieron morria nos braços de Vaella. Nesse momento, a luz se tornaria mais fria, e a máquina de fumaça seria ligada para dar ao ato o tom de dramatização necessário. No entanto, quando a maquina foi ligada ao lado do palco, ela começou a soltar faíscas e deu pane, queimando em seguida.

Dae desceu para o palco alarmado, perguntando se Loriel estava bem. Ela pediu desculpas, dizendo que não sabia o que tinha acontecido, porque a máquina simplesmente pifou.

— Está tudo bem, é muito antiga. — Dae falou, segurando a mão dela, perguntando novamente se ela se sentia bem, ou se houve algum machucado.

Com o semblante envergonhado, Loriel disse que estava bem. Dae então moveu a cabeça e pegou a máquina de fumaça.

— Acha que tem concerto? —Phialas perguntou, preocupado.

— Talvez, eu preciso levar isso na casa de um amigo, mas não sei se vai dar tempo. — Dae falou, vendo a expressão de todo mundo se tornar mais tensa.

— Calma, é apenas uma máquina de fumaça, ainda podemos fazer isso, certo, pessoal? — Phialas esfregou as mãos e pediu para que todo mundo se reunisse no palco em quinze minutos, para um último ensaio.

Dae olhou para a máquina, ele pensou que até poderia resolver aquilo, mas era melhor não mexer, para não piorar as coisas. Notou que Rieron se aproximou, e isso o deixou um pouco mais tenso. Seus ombros se enrijeceram e os olhos dele não conseguiram mais desviar do rosto do capitão do time.

— Se quiser, eu posso levar você para resolver isso. — Rieron disse, comentando em seguida que ele não tinha carro, mas o tio que o buscava todos os dias, sim.

— Não é preciso, eu posso pegar um ônibus. — Dae falou sério, mas Rieron insistiu.

— Olha, eu só quero ajudar, não é melhor resolver isso logo? — Rieron voltou a perguntar e Phialas ouviu, dizendo que era uma ótima ideia. — Eu vou ligar para meu tio, daí ele passa aqui e leva a gente.

Dae ficou incomodado, mas depois achou que não era um problema. O tio de Rieron era tão falante quanto ele e Dae’thal se viu respondendo “Sim” e “Não” para várias perguntas. Quando eles chegaram ao endereço do amigo de Dae, ele saiu do carro acompanhado dos dois. O amigo de Dae era, na verdade, um de seus primos mais velhos.

Almon trabalhava a noite, e fazia faculdade de manhã. Ele estava saindo para o trabalho quando Dae’thal chegou acompanhado. A conversa foi rápida e Almon não soube dizer se conseguiria resolver aquele problema até o outro dia, pois estava bastante ocupado. Dae não quis demonstrar desânimo e agradeceu ao primo, mas Rieron e o tio dele foram mais insistentes, perguntando se Almon poderia pelo menos tentar.

Dae’thal ficou envergonhado, mas Almon acabou aceitando ajudar. É claro que precisaram justificar a sua falta no trabalho, e o tio de Rieron garantiu que ele não seria prejudicado, já que Almon era entregador de uma das pizzarias da família de Rieron.

— Não é engraçado como tudo isso foi uma coincidência? — Perguntou Rieron, quando se sentou ao lado de Dae’thal. Era início de noite e Almon trabalhava no concerto da máquina de fumaça na garagem de casa.

Rieron e Dae estavam sentados no banco do gramado do quintal, observando-o de longe, enquanto o tio de Rieron fazia algumas ligações mais afastado.

— Você sabia, não sabia? — Dae’thal perguntou, olhando seriamente para Rieron, que passou a mão nos cabelos.

— Bem, eu ouvi uma vez ele falar que tinha um primo na mesma escola que eu, mas juro que não sabia que ele concertava coisas. — Rieron sorriu, um pouco envergonhado, mas não demorou muito para ele voltar a falar normalmente.

Depois de mais duas horas, Almon deu uma boa notícia para eles. A máquina foi arrumada e não precisou repor nenhuma peça, felizmente ele tinha tudo o que precisava ali mesmo. Depois de testar a máquina, e a garagem ficar cheia de fumaça, eles foram embora.

O tio de Rieron pagou um valor simbólico para Almon, que se recusava em aceitar dinheiro. Mas acabou aceitando aquele para poder trocar algumas peças de sua bicicleta.

Assim que o carro estacionou na casa de Dae’thal, ele desceu e viu Rieron fazer o mesmo.

— Está tudo bem, posso ir sozinho até minha casa. — Dae disse, sentindo-se um pouco agitado porque Rieron estava muito perto.

— Eu só quero ter certeza. — Rieron sorriu para ele e parou diante da porta de entrada da casa. Depois de um silêncio constrangedor, Rieron desejou boa noite para Dae e combinou de encontra-lo no outro dia.

Dae’thal fechou a porta e foi para seu quarto. Ele sentia o coração mais acelerado e a respiração forte. Seu pai perguntou onde ele esteve e o chamou para jantar. Mais tarde, Dae estava em sua cama e pegou o celular. Ele não era muito ligado em redes sociais, mas possuía um ou outra conta, que às vezes usava para divulgar alguma atividade do teatro. Quando acessou a conta, viu o pedido de amizade de Rieron, na outra rede social, viu que ele o seguia e também viu várias notificações de ele ter curtido suas fotografias. As publicações eram antigas, chegando até uma fotografia de Dae com Phialas e Kalir quando estavam no ensino fundamental. Olhando bem a foto, Dae pôde ver que havia alguns colegas da antiga escola. Entre eles, Rieron estava com um pescoço esticado, aparecendo só uma parte da cabeça nos fundos da foto.

Dae’thal riu, mas achou estranho o porque de não se lembrar dele. Contudo, naquela época, Dae era muito mais fechado e tinha poucos amigos, ele havia passado por uma fase difícil, após perder a mãe e isso o abalou bastante.

Curioso, ele acessou o perfil de Rieron e viu uma diversidade de fotos divertidas e com legendas maliciosas na maioria das vezes. Eram fotos com os colegas do time, da escola e também com os amigos novos do grupo de teatro. Naquele momento, Rieron atualizou com uma publicação convidando as pessoas a participarem da estreia da peça da escola.

Dae sorriu, achando que tinha sido um pouco rude com Rieron, ao pensar que ele estava usando a boa vontade de Phialas. Dae suspirou. Ele abriu o chat de mensagens e enviou uma para Rieron.

Dae_: Obrigado por hoje.

Dae_: Agradeça a seu tio por mim.

Rieron está digitando...

Rier0n: Não precisa agradecer, eu realmente queria ajudar e o meu tio gostou bastante de você e do Almon. Disse que posso levar vocês para comerem pizza quando quiserem.

Dae_: Obrigado.

Rieron está digitando...

Rier0n: Eu achei que você estava bravo comigo, ou sei lá, pensei que não gostava de mim...

Rieron está digitando...

Rier0n: Talvez eu dei motivos para você pensar que eu sou algum esquisitão.

Rier0n: Se bem que

Rier0n: As vezes eu sou esquisito

Rier0n: rsrs

Dae_: Não acho você esquisito.

Dae_: Só foi estranho ver você em todos os lugares nos últimos tempos.

Rier0n: Ah! Sobre isso

Rier0n: Talvez foi você que finalmente percebeu que eu sempre estive lá.

Dae_: É, talvez.

Dae_: Amanhã eu acordo cedo, é melhor eu ir dormir.

Rier0n: Certo.

Rier0n: Eu também vou.

Rier0n: Boa noite.

Dae_: Boa noite.

O clube de teatro estava dispensado das aulas no outro dia para preparar o teatro para a grande estreia. Todos estavam eufóricos, principalmente porque a máquina de fumaça funcionou no ensaio geral. Rieron parecia mais afiado com Vaella, e ela não precisou assoprar muitas de suas falas.

Antes de iniciar a apresentação, Phialas fez um discurso emocionado sobre como eles trabalharam duro e agradeceu a cada um. Dae’thal estava ali apenas para dar apoio ao primo, mas logo foi para o seu lugar na mesa de projeção. Ele olhou para o auditório, que estava mais cheio do que costumava ser. Muitas vezes, apenas as famílias dos participantes do clube apareciam. Dessa vez, o lugar estava cheio, até com pessoas sentadas no chão e encostadas nas paredes.

As cortinas se abriram e a peça iniciou com Phialas, no papel de um arauto. As cenas foram se desenrolando e todos os participantes estavam indo muito bem. Dae’thal recebeu Fae’lyn, e pediu para ele o ajudar com a mesa, enquanto movia a luz em direção ao ato final.

No palco, Rieron finalizava suas falas e fechava os olhos. A canção dramática iniciou e a luz fria focou o rosto do jovem, enquanto Vaella chorava sua morte sobre seu peito. O palco foi tomado por uma névoa e todos aplaudiram, quando as cortinas se fecharam.

Dae’thal sorriu orgulhoso, quando as cortinas se abriram novamente e o grupo agradeceu. Phialas estava no meio deles, contente e balançando as duas mãos na direção de onde Dae e Fae estavam.

No final do espetáculo, o grupo decidiu comemorar e Rieron convidou todos para irem na pizzaria da sua família. Depois deles comerem e beberem muito, Dae’thal se levantou para olhar o cardápio no balcão. Ele estava com vontade de tomar um sorvete.

— Você pode pedir lá na mesa mesmo. — Rieron apareceu ao lado dele, apoiando os cotovelos sobre o balcão.

— Não quero abusar, acho que seu pai e o seu tio já teve bastante despesas por uma noite. — Dae falou, ao se virar e ver o ambiente tomado por estudantes do grupo de teatro e alguns amigos de Rieron, do time que ele era capitão.

— Não tanto quanto o meu time, quando vencemos uma partida. — Rieron sorriu para ele e piscou, pressionando os lábios. — Se quiser uma sugestão, você vai gostar do sorvete de abacaxi com hortelã, ou o de maçã com canela...

Dae ponderou e decidiu pelo de maçã com canela, enquanto Rieron pediu o outro.

Eles se sentaram nos bancos do balcão, enquanto conversavam sobre a peça de teatro. Rieron falou que foi mais difícil do que marcar pontos nos jogos, mas gostou muito de participar e acha que vai continuar.

— Achei que era somente pela nota... — Dae comentou, ele não queria ser rude novamente, mas não resistiu a fala.

— Eu realmente precisava, só que estou animado com as novas ideias do Phialas, ele quer fazer a última peça do ano a maior de todas. E como esse também é o meu último ano na escola, acho que seria uma forma legal de fechar com chave de ouro. O que acha?

Dae moveu a cabeça, concordando, enquanto experimentava o sorvete. O grupo estava bastante animado, mas chegou a hora de partir. O pai de Dae foi busca-lo, e aproveitou para levar Phialas também. Na porta da pizzaria, Dae parou e viu Rieron se despedir de Phialas com um abraço e um aceno animado. Depois, ele se virou e sorriu para Dae.

— Será que é ainda muito cedo... — Rieron se aproximou com alguns passos e o encarou com um sorriso cativante. — Ou eu já posso convidar você para sair um dia desses?

Dae’thal engoliu em seco e sentiu as mãos suarem. Ele ficou olhando para os olhos de Rieron, que estavam fixos nos seus, esperando por uma resposta. Dae não soube quanto tempo passou, mas seu pai começou a buzinar, o chamando.

Ele olhou para o lado, vendo o pai no banco do motorista, fazendo um sinal de que já deu a hora e ao lado dele, no banco do passageiro, estava Phialas fazendo gestos de quem beijava uma pessoa invisível. O pai de Dae fez uma careta, ao olhar para o sobrinho, e Phialas começou a gargalhar.

Rieron também sorriu, ele enfiou as mãos dentro dos bolsos da calça, ainda esperando uma resposta de Dae’thal.

— Eu... eu... — Dae suspirou, não entendo porque estava tão nervoso. Era somente uma pergunta, bastava dizer sim ou não. — Eu acho que podemos sair um dia desses.

— Ótimo, podemos marcar depois. — Rieron se aproximou mais e Dae’thal sentiu o coração acelerar com a proximidade. — Eu mando mensagem.

Dae concordou, balaçando a cabeça e se virou, entrando no carro.

— Quem é aquele? — Perguntou Othorion, seu pai.

— O novo namorado do Dae. — Phialas falou dando algumas risadas.

— Namorado? — Othorion perguntou surpreso. — Quando você ia me contar?

— Ele não é meu namorado, pai. — Dae’thal disse, mas sua atenção estava em Rieron, que ainda olhava para ele da calçada.

Quando chegou em casa, Dae foi para o quarto e viu que havia uma mensagem de Rieron.

Rier0n: Se não for muito em cima da hora, amanhã vai lançar a sequência daquele filme legal que o pessoal estava comentando, você quer ir comigo no cinema?

Dae_: Eu não vi o primeiro filme.

Rieron está digitando...

Rier0n: Está de brincadeira, você não assistiu Os Elfos da Floresta? É o melhor filme que já lançaram nos últimos anos. Eu diria que você poderia começar lendo os livros da saga, são cinco livros, mas o filme é muito bom. Foi a melhor adaptação, ganhou até o Oscar de efeitos especiais e figurino.

Dae_: Phialas é fã, mas eu nunca me interessei.

Rier0n: Então vem aqui em casa que nós podemos ver o primeiro filme juntos, o que acha?

Dae_: Pode ser.

Dae achou divertido como Rieron ficou empolgado com um simples filme e aceitou assistir com ele. No outro dia, seu pai estava trabalhando, por isso Dae teria o dia de sábado livre. Ele se encontrou com Rieron na parte da tarde e os dois foram para o quarto dele.

A ideia de ir ver o filme foi uma surpresa, e por isso Dae estava suspeitando de que Rieron o chamara ali apenas para eles ficarem sozinhos. E, embora ele tivesse ficado nervoso com o convite para sair, Dae’thal não era ingênuo e também já tivera seus momentos de convidar alguém para ir ate sua casa quando o pai não estava.

— Meu pai viajou com minha madrasta e meu tio está na pizzaria. — Rieron falou, ao abrir a porta do quarto e entrar. O lugar estava pouco iluminado, com as cortinas fechadas. Mas era um ambiente bem arrumado e parecia preparado para eles assistirem ao filme. — Meu irmão também saiu, então somos apenas nós.

Rieron ofereceu para Dae salgadinhos e bebidas. Dae aceitou a bebida, mas preferiu suco. Eles se sentaram nas almofadas grossas que estavam espalhadas no chão e Rieron avisou que eram três horas de filme, mas se quisesse, podiam ver a versão estendida com mais quinze minutos de extra.

— E é algo importante? Se eles cortaram do filme não parece ser necessário para a historia. — Dae comentou, mas percebeu que havia dito algo grave, para Rieron reagir com as duas sobrancelhas erguidas.

— Está brincando, eles cortaram a melhor parte, quando o cavaleiro de armadura de bronze chega no vale do infinito... melhor eu não falar nada, ou vou te dar spoiler.

Rieron apertou o play e Dae’thal entendeu que ele não estava usando aquele convite para segundas intenções. Ele realmente queria ver o filme com Dae e foi o que eles fizeram. Rieron estava tão animado que, no final do filme, ele se levantou e olhou no relógio.

— Ainda dá tempo de a gente pegar a sessão das sete, o que acha?

Dae estava cansado, ele nao achou o filme ruim, mas não aguentaria ficar sentado por mais três horas vendo um filme.

— Sinto muito, preciso ir para casa. — Ele viu o semblante de Rieron perdeu um pouco do brilho. — Podemos ver semana que vem?

O sorriso de Rieron iluminou novamente seu rosto e ele concordou. Dae sorriu também, os dois estavam sentados na mesma almofada, muito próximos quando o braço de Rieron e o dele se esbarraram. Os dois se encararam mais uma vez, em silêncio, até que Dae inclinou o rosto mais para frente e o beijou.

O beijo não foi planejado, mas não se arrependeu depois que sentiu os lábios de Rieron pressionarem contra os seus lábios. O beijo foi curto, mas depois de mais uma troca de olhares, eles se beijaram novamente. Dessa vez foi mais longo, e os dois se abraçaram, as mãos apertando os corpos um do outro, animados com a situação.

Eles não ouviram o som da porta abrir, nem quando Ridon, o irmão de Rieron, o chamou. Apenas perceberam que não estavam mais sozinhos, quando a porta do quarto de abriu e Ridon ergueu as duas mãos.

— Opa! Eu não vi nada, já estou saindo. — Ridon se virou, fechando a porta rapidamente, enquanto Dae’thal se sentava na almofada, puxando a camiseta para baixo. Ele arrumou os cabelos, enquanto Rieron ria baixo, pedindo desculpas para Dae.

— Acho melhor eu ir. — Dae disse, ao se levantar.

— Só espera um minutinho que eu já acompanho você. — Rieron disse, sentindo o rosto esquentar, enquanto Dae notava que ele estava juntando as pernas. Ele deu um sorriso e acabou mudando de assunto, para que Rieron se distraísse também.

Antes de ir embora, Dae’thal foi apresentado para Ridon. O irmão de Rieron era muito parecido com ele, e estava na cozinha, sentado em um dos bancos enquanto bebia refrigerante. Rieron comentou que eles estavam assistindo filme e Dae corou, ao ver Ridon rindo dos dois.

— Melhor eu ir, já está tarde. — Dae’thal comentou e Rieron o acompanhou até a porta. Eles se olharam mais uma vez, sem saber o que falar. — Te vejo na escola segunda-feira.

— Certo, a gente se vê. — Rieron falou. — Ou, podemos sair amanhã, você gosta de patinar? Andar de bicicleta? Skate?

Dae’thal riu, achando engraçado como Rieron se esforçava para encontrar alguma coisa em comum entre eles.

— Amanhã vou sair com meu pai, mas podemos marcar de andar de bicicleta outro dia.

Dae deu alguns passos para sair, mas Rieron o segurou pelo braço, aproximando-se mais um pouco.

— Sabe... — Rieron falou baixinho. — Talvez eu tenha me esforçado mais do que nos outros anos, para que você me notasse...

Dae o olhou nos olhos.

— É, eu acho que eu percebi. — Ele sorriu, recebendo um beijo como resposta.

Dae se afastou, mas, antes de virar na direção da calçada, ele ainda olhou mais uma vez para trás, onde Rieron estava recebendo o irmão na porta. Ridon bagunçava os cabelos dele, enquanto Rieron tentava se desvencilhar.

Dae’thal sorriu, acenando para Rieron, quando ele acenou de volta. Ele chegou em casa, e não foi surpresa ver mensagens de Rieron no celular. Dae sorriu, demorando um pouquinho para responder, mas passou o resto do sábado e quase todo o domingo conversando com Rieron.

No começo da semana, o corredor da escola estava apinhado de pessoas. Dessa vez Fae’lyn não estava preocupado, quando passou na frente da porta e viu Phialas conversando com os alunos que queriam entrar para o clube de teatro.

— Parece que Rieron trouxe um pouco de emoção para o clube. — Fae comentou com Dae’thal.

— É, acho que sim. — Dae sorriu para o amigo, enquanto observava todas as pessoas animadas para entrarem no clube.


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Notas finais do capítulo

@Melloishy espero que tenha gostado!!! Foi muito engraçado escrever sobre Rieron e Dae'thal, embora eu tenha me contido muito kkkk da próxima vez vou fazer eles no universo original, com o Dae provando o sorvete de Akrobor. Beijos!



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