Escrito nas cinzas escrita por Catarina Pereira


Capítulo 2
Sacrifício de sangue




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— Não pode ser — sussurrou Helen, fitando a mensagem que queimava em sua mão. Alec não enviaria uma mensagem com essa urgência se não fosse uma informação verdadeira. Imediatamente, ela e Aline foram para o escritório onde os registros eram arquivados para buscar todas as informações possíveis. — Como Jace e Clary simplesmente sumiram?

— Segundo o Alec, eles foram buscar a mesma coisa que nós: havia atividade demoníaca perto do instituto de Nova Iorque. Onde nós fomos, havia sinais de sacrifícios e parecia parte de um ritual— disse Aline enquanto liam. — Você acha que algo ruim aconteceu durante a patrulha?

— Eles não voltaram, então certamente alguma coisa aconteceu. — Helen suspirou, fechando o livro a sua frente. Não havia nada mais ali anotado que constatasse movimentações suspeitas naquela área, exceto o que elas haviam encontrado naquela tarde. — Se o que encontramos é parte de um feitiço, temos poucas pistas. Pode ser que eles tenham encontrado algo parecido, então é inútil procurar aqui, amor. Nós precisamos voltar e explorar mais.

— Concordo, apesar de achar bastante perigoso. Avisamos Alec primeiro, porque ele está comandando toda essa busca, depois faremos outra visita à caverna.

— Precisamos descansar de qualquer forma — constatou Helen, segurando a mão de Aline. — Amanhã passaremos todo o necessário a Alec e o ajudamos a pensar em novas patrulhas e equipes de busca.

As duas separaram o que era necessário para o Cônsul e se despediram do escritório.

 

A manhã seguinte foi ainda mais agitada. Preocupadas com a nova informação sobre Clary e Jace, Helen e Aline enviaram uma mensagem de fogo a Alec relatando todo o necessário sobre as atividades demoníacas nas áreas de Los Angeles e ainda o que encontraram na caverna. Em resposta, Alec fez uma chamada projetada.

— Meninas — ele cumprimentou. — Pelo que entendi, vocês podem ter aí alguma coisa que nos leve a Jace e Clary. Eu sinto que Jace está bem, mas não sabemos até quando e o que está com eles.

Alec parecia preocupado com seu parabatai, mas não deixava o nervosismo tomar conta como um bom líder. Elas podiam ver na chamada os brinquedos dos filhos de Alec e Magnus espalhados a sua volta e como Alec se via à vontade naquela cena, apesar de toda a situação.

— Vamos voltar para coletar mais informações esta tarde — disse Helen, determinada.

— Não — Alec respondeu. — Não é mais uma incursão simples. Precisamos de reforços, não queremos que aconteça algo de ruim a vocês.

— Mark e Tina podem nos acompanhar — Aline sugeriu.

— Levem ainda Julian e Emma. Eles têm pouca idade e bom treinamento e poderão ter uma visão diferente sobre os sinais.

A imagem de Alec desapareceu como um feitiço no ar. Helen se levantou, juntando os papeis que tinham na mesa.

— Vou guardar isso. Aline, o que pode estar acontecendo é muito grave — constatou enquanto se levantava para colocar o livro de volta na estante. — Não me sinto confortável em incluir Mark, Jules e as meninas nisso.

— Eu sei, amor. — Aline disse, pegando a mão da esposa. — Vamos pensar que Alec tem razão e realmente eles podem ajudar a ter outra visão sobre isso, certo? E ordens do Cônsul são ordens, precisamos acatar.

Helen assentiu. Dito isso, elas mandaram uma mensagem de fogo solicitando a cada um dos dois irmãos de Helen que comparecessem ao Instituto ainda no mesmo dia para serem informados de sua próxima missão. No meio tempo, Helen recebeu Tavvy em seus braços, já que ele tinha acordado e ainda estava um pouco sonolento, e preparou seu café da manhã, preparando-o para as aulas com Diana; Aline, por sua vez, separou o que precisariam para retornarem à caverna.

O primeiro a chegar foi Julian, algumas horas depois do envio da mensagem de fogo. Com ele, Emma apareceu uniformizada e armada, estando pronta. Helen prontamente deu um abraço em cada um.

— Como estão as coisas com a Mansão Blackthorn? — ela perguntou ao irmão. Julian parecia mais alto do que da última vez que Helen o tinha visto, e mais maduro também. Julian sempre foi prodigioso pela necessidade de cuidar dos irmãos mais novos, porém desta vez Helen o percebia livre das obrigações e pronto para a ação, como um jovem caçador de sombras normal.

— Você sabe — ele começou a explicar, coçando a cabeça e bagunçando ainda mais os cachos castanhos. — Cheia de materiais de reforma por aqui e por ali, um fantasma solto pela casa e uma maldição ainda não resolvida. Tudo normal — ele concluiu, olhando com carinho para Emma, que estava em outro cômodo conversando animadamente com Aline.

Ela riu. Há muito tempo não via o irmãozinho tão relaxado e feliz.

— E como estão as coisas com Emma?

Julian não respondeu, apenas abriu um sorriso e assentiu, dando a entender que estavam bem. Helen não insistiu no assunto e o encaminhou para junto das respectivas companheiras.

— Enfim — dizia Aline. — Eu estava explicando a Emma que vamos retornar à caverna onde encontramos atividade demoníaca. Nós achamos também sinais que podem ser de algum ritual.

— O lugar é grande — completou Helen. — E Alec está preocupado que o problema seja muito maior do que estamos pensando, por isso pediu que chamássemos vocês, Mark e Tina para nos acompanhar e ajudar a checar todo o espaço.

— E o que vocês acham que os rituais pretendiam? — Emma questionou.

— Necromancia, talvez. — Aline respondeu. — Mas certamente não é algo bom. Não é possível que usaram todo aquele sangue num ritual bom.

A campainha do Instituto soou trazendo com ela Mark e Cristina. Os cumprimentos foram feitos e abraços entre irmãos foram dados. Após alguns minutos de atualização sobre como estavam todos, Aline explicou rapidamente qual o intuito do chamado e todos foram se preparar, colocando uniformes, arrumando provisões e armas para a missão que lhes foi incumbida.

A tarde chegou e os seis membros da equipe estavam preparados e devidamente marcados à porta da caverna. Helen foi a primeira a entrar sendo seguida por Aline, Emma, Cristina, Mark e Julian. Os corredores estreitos permitiam que apenas um passasse por vez até que chegaram à primeira nave. Uma grande abertura deu passagem para que eles se dividissem em dois grupos: Helen, Mark e Emma foram pela esquerda; Julian Cristina e Aline pela direita.

Ali naquele cômodo os sinais ritualísticos já eram visíveis como já tinha sido constatado por Aline e Helen no dia anterior, e Emma foi fotografando com o celular cada marca na parede, o púlpito marcado como se há muito tempo tivesse um livro em cima, e uma base de madeira onde provavelmente a magia aconteceria. Fora isso, não havia mais o que ver ali e deveriam seguir pelos corredores para investigar mais.

Aline guiou seu grupo para o primeiro corredor em seu caminho. Novamente, era bastante estreito e trazia uma umidade desconfortável nas paredes, porém sem dificuldades eles ultrapassaram esse caminho e acabaram por desembocar em uma outra nave. Desta ve     z, eles observaram que não havia nenhuma saída exceto o caminho pelo qual vieram.

Demônios passeavam de um lado a outro, totalizando oito figuras. Pareciam guardar o local, como se algo precioso estivesse armazenado ali. Não descobririam, entretanto, se não os tirassem de lá. Mas para isso precisariam traçar um plano. Aline encabeçou a estratégia, inteligentemente colocando cada um dos três com sua melhor habilidade para combate.

— Jules, pela esquerda — sussurrou. — Tina, você pela direita, pega aqueles dois ali — ela gesticulou. Julian e Cristina assentiram, tirando as armas de longo alcance das bainhas. — Eu vou pelo meio e ataco aqueles — ela apontou. — Vamos ver de uma vez o que está acontecendo.

Com um meio sorriso de quem está determinada a cumprir com seu trabalho, Aline avançou com os dois em seu percalço. O primeiro demônio não percebeu nada até de fato ser atacado.

— Canael — Ela disse, ativando sua lâmina serafim e atacando em seguida.

Todo o grupo finalizou rapidamente o ataque a estes demônios, olhando a volta e se perguntando se haveria mais para combater. Em vez disso, para sua surpresa, perceberam que o que os demônios guardavam eram celas.

 

O grupo liderado por Helen seguiu pelos corredores restantes. Diferentemente, o corredor que havia para a esquerda levava a várias câmaras, e cada uma delas guardava algo diferente. A primeira continha o que pareciam ser provisões. Caixas e mais caixas cerradas com os dizeres que indicavam alimentos. Inspecionaram a câmara e fotografaram os detalhes, abandonando-a em seguida. A segunda guardava um exército.

— O que é isso? — Murmurou Helen.

— Parecem robôs — Mark sussurrou, tocando em um dos seres com cuidado.

— Autômatos — concluiu Emma. — Jem me contou sobre eles e há tempos não eram vistos.

— Pelo Anjo, o que está acontecendo? — Disse Helen, inspecionando a câmara com atenção e mantendo em sua frente a lâmina serafim, que iluminava o local.

— Seja o que for — Emma disse — não é boa coisa. Jem disse que eram ativados com magia demoníaca.

— Vamos seguir — Helen ordenou assim que Emma terminou de fazer as fotos. — Parece que temos mais a ver por aqui.

O grupo avançou novamente pelo corredor e parou assim que ouviu um ruído. Helen desativou sua lâmina a fim de não chamar atenção com a luz e ouviu. Eram vozes. Com cuidado, aproximaram-se mais da câmara seguinte.

— Temos todo o tempo do mundo — dizia uma voz masculina e sarcástica. — Podemos terminar isso aqui quando você quiser. É só me dizer.

Helen avançou um pouco mais na tentativa de ver o que estaria acontecendo e quem seria o dono da voz. Avistou uma cadeira simples na qual uma mulher de cabelo comprido e castanho estava amarrada de costas para o corredor. Candeeiros estavam acesos à sua volta e um homem a rondava portando uma faca suja de sangue. A mulher cuspiu sangue aos pés do seu captor.

— Como eu disse — ele repetiu, dando um passo mais à volta dela e fazendo, assim, um som metálico. — Nós podemos ficar aqui quanto tempo for preciso. E quanto mais tempo, mais você se machuca — concluiu, arrastando a faca pelo rosto da mulher, a qual gritou.

— Onde fica o portal? — Ele perguntou, dando mais alguns passos metálicos até estar por detrás da mulher e de costas para o corredor. Helen aproveitou para dar mais um passo para dentro da câmara, sentindo Mark segurar um de seus braços tentando impedi-la. Esse pequeno avanço permitiu que tivesse uma visão melhor do local.

Havia, além da cadeira onde estava amarrada a moça, e os candeeiros, uma legião de demônios encostados às paredes, incontáveis. Helen estreitou os olhos ao perceber ainda que o corpo do homem que torturava a mulher capturada ainda era feito de metal, tal qual os autômatos inanimados da câmara anterior.

Ela voltou para trás.

— Temos que sair daqui — anunciou. — Temos que sair rápido daqui.

 

Aline aproximou-se de uma das celas, avistando os cabelos cor de fogo de Clary. Ao seu lado estava um Jace com ar convencido como sempre, porém por detrás desta máscara se podia perceber que estava aliviado.

— Graças ao Anjo — rogou Clary. — Precisamos sair daqui o mais rápido possível.

— O que aconteceu? — Aline perguntou enquanto Julian desenhava um símbolo de abertura nas grades da cela.

— Fomos capturados, aparentemente — Jace disse. — Mas o mais engraçado é que os demônios não nos atacaram. Apenas nos agarraram e trouxeram para cá.

Eles ouviram um ruído do outro lado da câmara e viraram imediatamente para verificar.

— Tem mais gente aqui? — Cristina disse, agarrando um canivete.

— Tem mais algumas pessoas prisioneiras. Nós não os conhecemos, mas sabemos que são Nephilim — Clary explicou.

— E digo mais: antes de sairmos, vocês precisam se esconder porque uma das prisioneiras foi levada e deve retornar logo — Jace completou, com ar preocupado. — Vamos, entrem aqui como se nada estivesse acontecendo. Assim que o cara se for, nós liberamos todos.

Aline não discutiu, puxou Cristina e Julian consigo para dentro da cela.

— Que cara?

— O que nos provoca todo o tempo perguntando onde está o portal — ele disse. — E não sabemos nem que portal é esse.

Dito isso, um novo barulho foi escutado. Passos e algo sendo arrastado, cada vez mais perto da câmara onde se encontravam. Uma figura passou acompanhada por um corpo machucado sendo arrastado logo atrás. Aline e os outros se esconderam nas sombras da cela, prendendo a respiração para não serem notados. A cela do outro lado da câmara foi aberta e o corpo atirado lá dentro. Uma voz gritou algo, parecia suplicar.

— Não adianta — a figura disse. Um homem, Aline pensou. — Enquanto não me disserem como eu tenho acesso ao portal, coisas assim continuarão acontecendo. Um a um até que me digam.

Virou de costas e se foi, retornando pelo corredor deixando para atrás apenas o som metálico de suas passadas.

Aline escutou com atenção até considerar seguro sair das sombras e começar a evacuar a cela. Atravessou a nave com a estela em mãos e desenhou um símbolo de abertura rapidamente, assim, abrindo a cela. Dentro dela haviam seis pessoas que ela nunca tinha visto mas, sem dúvidas, caçadores de sombras. Um dos três homens sustentava o corpo dilacerado de uma mulher, que respirava com dificuldade. Aline adentrou, agachando em frente a eles.

— Jia... Ela precisa de Iratzes — o homem constatou. — Não podemos ir sem isso.

Aline assentiu e posicionou a estela, desenhando o mesmo símbolo algumas vezes para acelerar a cura da mulher. Então levantou-se.

— Precisamos ir — disse ela com uma voz firme.

Todos eles a seguiram, a mulher carregada pelo homem, e os outros caminhando e eles foram atrás de Jace, Clary e os outros pelo corredor.

 

Helen aguardava ansiosamente o retorno do grupo de Aline, caminhando à porta da caverna de um lado a outro, desgastando o chão de terra. Julian e Cristina apareceram primeiro sendo seguidos por Jace e Clary.

— Jules! — Ela exclamou, segurando a mão do irmão mais novo. — Vocês demoraram. O que houve? Onde está Aline?

— Está vindo com os outros prisioneiros — Julian respondeu com calma. — Encontramos celas e Jace e Clary estavam presos com mais outros caçadores de sombras.

Mark pareceu confuso se desvencilhando do abraço de Cristina para perguntar:

— Como assim? Alec não disse nada sobre outros Nephilim desaparecidos.

— Não disse, de fato — Helen concordou. — Mas devemos ajuda a eles de qualquer forma.

Aline ultrapassou a entrada indo diretamente para os braços da esposa.

— Todos bem? — ela perguntou.

Todos assentiram.

Helen observou o grupo que vinha acompanhando Aline e imediatamente prendeu a respiração. Aline segurou sua mão com olhar inquisitivo, mas Helen não disse nada além do anúncio:

— Precisamos voltar ao Instituto antes de conversar.


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